domingo, 19 de agosto de 2012

Pacote não evita pibinho em 2102

Programa de concessões de rodovias e ferrovias ao setor privado sinaliza retomada mais firme dos investimentos, mas efeitos sobre a atividade só virão a longo prazo

Sílvio Ribas

O pacote de concessões federais de rodovias e ferrovias, anunciado na semana passada com um orçamento estimado de R$ 133 bilhões para um período de 30 anos, terá contribuição praticamente nula para a meta do governo de colocar a economia num ritmo de crescimento anual de 4% neste ano e no próximo. Empresários e especialistas, contudo, aplaudem o ousado plano de investimentos, sobretudo como reconhecimento da incapacidade estatal de tocar grandes empreendimentos com custo e velocidade razoáveis.

Mas eles também lamentam que a iniciativa tenha chegado tarde demais para impedir que 2012 se torne mais um ano, o segundo consecutivo, de fraco desempenho, com pouco impulso para 2013. Depois dos 2,7% de 2011, a economia dificilmente atingirá 2% neste ano, conforme ficará explícito no próximo dia 31, quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgar oficialmente a evolução da atividade no segundo trimestre.

A percepção realista da necessidade de fortalecer a produção e não apenas o consumo se distancia cada vez mais da euforia com a expansão de 7,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2010. Na nova postura também está presente a compreensão de que os obstáculos burocráticos e de gestão do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) precisavam ser driblados, injetando agilidade da iniciativa privada. Mas, mesmo assim, o pacote logístico será insuficiente para garantir que o PIB de 2013 apresente crescimento de 4%.

Competitividade. Outro ponto destacado foi o argumento explícito da presidente Dilma Rousseff de que os projetos visavam atacar, ao mesmo tempo, dois fatores estruturais de inibição da expansão do PIB: o nível de investimento ainda abaixo do ideal e os gargalos que retiram competitividade das empresas, o chamado Custo Brasil.

Segundo analistas, o principal resultado prático do pacote logístico acabou sendo a sinalização ao mercado de uma retomada mais firme do ritmo de investimentos, duramente afetado pelo adiamento de projetos de grandes empresas. Apesar de o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) apostar que a taxa de investimento vá crescer nos próximos meses acima do ritmo da economia, o fraco desempenho do primeiro semestre do ano, inclusive do PAC, impedirá recuperação frente a 2011, quando atingiu a marca de 19,3% do PIB.

Paulo Godoy, presidente da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), espera que o programa ajude o país a elevar a taxa de investimento na área de transportes para o percentual ideal de 1,6% do PIB, mais do dobro do atual (0,74%). Ele considerou acertada a aposta na parceria com o setor privado, torcendo para que o governo procure o equilíbrio entre realização rápida de projetos de qualidade, sem perder de vista o retorno financeiro aos investidores. "Não adianta fazer cálculos que apontem valores de pedágio nas estradas pouco atraentes ou que tornem investimentos inviáveis no longo prazo", sublinha.

Modelos diferentes. O pacote logístico do governo prevê impacto significativo na economia só depois de 2013. Serão leiloados ao setor privado 7,5 mil km de rodovias e 10 mil km de ferrovias. Cerca de 60% dos investimentos ocorrerão no período de cinco anos após a assinatura dos contratos. No modelo para rodovias, vai operar quem propuser menor pedágio, a ser cobrado só quando 10% das obras estiverem prontas. Nas ferrovias, o modelo de parceria público-privada (PPP) define que construção, manutenção e operação ficam em mãos privadas. Mas o governo vai comprar, por meio da Valec, toda a capacidade de transporte dos trechos, revendendo esse direito a terceiros.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

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