quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Preço da gasolina vai aumentar ainda este ano

Governo planeja autorizar novo reajuste para evitar mais perdas no balanço

Companhia também estuda alterar política de pagamento de dividendos, o que deve elevar ganho de investidores estrangeiros, da União e do BNDES

O prejuízo de R$ 1,3 bilhão da Petrobras no segundo trimestre deste ano fez com que o governo decidisse rever sua estratégia de continuar usando a estatal como arma para segurar a inflação. O que se planeja é autorizar um novo reajuste de preços de combustíveis para diminuir a defasagem com o mercado internacional, que já encosta em 20%. O último reajuste de diesel e gasolina foi dado em junho, mas seu impacto nas bombas foi menor porque o governo zerou a Cide, contribuição sobre combustíveis. Se for aprovada nova política de dividendos, a União e o BNDES, detentores de ações ordinárias, receberão mais R$ 741 milhões.

Novo reajuste nas bombas à vista

Após prejuízo da Petrobras, governo deve autorizar aumento de combustíveis este ano. Inflação baixa permitiria correção

Geralda Doca

SOB PRESSÃO

BRASÍLIA - Diante do megaprejuízo de R$ 1,346 bilhão que a Petrobras teve no trimestre, o governo já cogita um reajuste dos combustíveis nas bombas para ajudar a companhia a reduzir parte das perdas, diminuindo a desfasagem de preços em relação ao mercado internacional. Embora ainda não esteja decidido quando e como será feita a recomposição, ou se o aumento vai pesar mais no diesel ou na gasolina, há chances reais de que a correção ocorra ainda este ano, já que o cenário de inflação em baixa não colocaria em risco a política de queda dos juros.

Além disso, existe forte apelo para aumentar investimentos, não só da estatal, mas também do setor produtivo.

- Essa questão do preço tem de ser corrigida em algum momento. Não há como continuar desse jeito e a oportunidade para fazer isso é neste ano, com cenário benigno para a inflação - disse um interlocutor da área econômica do governo. - Autorizar o reajuste seria importante para aumentar os investimentos. Daria uma sinalização positiva de que a estatal tem uma política saudável. Um balanço negativo é muito ruim.

A alternativa para evitar o reajuste dos combustíveis seria o governo oferecer algum tipo de subsídio à Petrobras, mas na visão da área econômica, isso não seria "salutar" para uma empresa do porte da estatal, ressaltou o interlocutor.

Defasagem já beira os 20%

Também há uma avaliação de que as eleições municipais não deverão ser empecilho para o reajuste nos preços, apesar do temor de alguns integrantes do governo de um eventual uso político da medida.

Nas contas do governo, a defasagem nos preços dos combustíveis está entre 10% e 15%. Falta bater o martelo se há necessidade de recompor toda a perda ou apenas alinhar os preços à realidade do mercado internacional.

Há nove anos, o preço da gasolina está congelado nas bombas para evitar uma pressão inflacionária. Nesse período, o governo reduziu a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), o imposto sobre os combustíveis,para amenizar o impacto do descolamento dos preços no caixa da empresa, que importa petróleo mais caro e vende mais barato os combustíveis no mercado interno. Em junho, o tributo foi zerado e a munição do governo acabou.

No mês passado, o governo autorizou a Petrobras a reajustar o diesel em 6% nas refinarias, com impacto para o consumidor, mas manteve o preço da gasolina inalterado.

Para Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), a situação tornou-se insustentável. Ele afirmou que a atual direção da Petrobras não terá condições de mudar a situação da empresa e recolocá-la no nível de excelência de antes se o governo, como acionista majoritário, não alterar a política adotada em relação à estatal.

- A nova direção da Petrobras não tem como melhorar a performance da empresa a curto prazo - disse Pires, acrescentando que não é possível contar, no momento, com dois fatores que seriam positivos, a alta no preço do petróleo e o câmbio.

Para ele, medidas como a melhoria da eficiência operacional só surtem efeito a médio e longo prazos. Pelas contas do consultor, a defasagem média, entre abril e junho, é de 16% na gasolina e de 21,7%, no diesel. Mas, na sua opinião, dificilmente haveria espaço para um reajuste nessas proporções, uma vez que o impacto seria muito elevado para os consumidores.

Ele avalia, contudo, que repor apenas parte das perdas - um reajuste entre 8% e 10% - já seria suficiente para animar o mercado e minimizar os efeitos da intervenção estatal na empresa.

- O mercado espera isso há nove anos - disse Pires.

Compra externa sobe 370%

Segundo o analista do BB Investimentos, Nataniel Cezimbra, o reajuste seria bem-vindo, já que o que os investidores miram nesse momento é "a parte boa da empresa", a distribuição, a revenda da gasolina.

- Se vier um reajuste, o mercado vai se animar e as ações vão subir - disse.

Cezimbra destacou que o lado ruim da companhia são as projeções para a produção, que não deverá crescer até 2014, o que vai elevar as despesas da estatal com importação de combustível, diante do crescimento da demanda, puxada pela ampliação da frota de automóveis.

De acordo com dados do CBIE, no primeiro semestre deste ano, as compras externas subiram 370% na comparação com o mesmo período de 2011.

FONTE: O GLOBO

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