sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Quando setembro vier - Míriam Leitão

Está longe a solução do problema europeu. É o que pensa José Roberto Mendonça de Barros. Há riscos imediatos, como o de que a Corte Constitucional Alemã, em setembro, decida contra a participação da Alemanha no fundo de ajuda aos países em crise e no socorro à Espanha, através de empréstimo aos bancos. Mês que vem também será divulgado o relatório da troica sobre a Grécia.

Setembro é sempre um mês marcado na economia. Várias crises estouraram nesse período, como a da dívida latina, em 1982, e a da quebra do Lehman Brothers, em 2008. Não há nada assustador no calendário deste ano, exceto os dois momentos de stresse acima e muitas reuniões agendadas, como o encontro anual do FMI, que será em Tóquio. É tão aziago o mês que a Europa deve remarcar para outubro uma grande reunião da zona do euro.

- A crise europeia não é tão aguda quanto a do fim do ano passado, mas tem piorado nos últimos tempos. Nos dados do PIB da zona do euro no terceiro trimestre, até a Alemanha pode estar no negativo e o endividamento do país deve ser de 100% do PIB no fim o ano - disse José Roberto.

Ontem, em Berlim, François Hollande e Angela Merkel se reuniram com Antonis Samaras, o primeiro-ministro grego. A Grécia está pedindo "um pouco de ar para respirar", ou, em outras palavras, mais tempo para cumprir as metas fiscais. "A expulsão da Grécia da zona do euro pode ser um pesadelo que vai além das fronteiras da Grécia", alertou Samaras.

José Roberto disse que analistas que consideravam simples a saída da Grécia da zona do euro começam a mudar a avaliação, temendo o contágio. Há uma particular preocupação com a fuga de capitais. Quando sai ¬ 1 milhão da Grécia para a Alemanha, por exemplo, o que ocorre é que o banco grego fica devendo ao Banco Central Europeu ¬ 1 milhão, e isso vira credito do Bundesbank. E se a Grécia sair do euro? Hoje, os países maiores têm créditos de ¬ 1 trilhão, e, desses, ¬ 800 bilhões são devidos ao banco central alemão, explicou Mendonça de Barros.

O impasse dentro da Europa continua. O ministro das Finanças holandês, Jan Kees De Jager, em artigo escrito para ser publicado nesta sexta-feira, disse que a Alemanha tem que permanecer firme e não ceder às pressões gregas. "Adiar a decisão correta não ajuda a ninguém, nem aos gregos. Nossa ajuda não é incondicional. As pessoas da Holanda e da Alemanha adotaram medidas muito difíceis e ainda estão fazendo isso, e esperamos o mesmo retorno."

O ministro holandês disse o que se diz na Alemanha frequentemente.

- A Alemanha está certa a médio prazo e tem razão de achar que a festa da uva no sul da Europa foi exagerada, mas o fato é que a Itália está fazendo o que pode. Mário Monti tem enfrentado Merkel, dizendo isso. O ministro do trabalho dele tem que andar com escolta pelas ameaças que recebe por ter comandado mudanças na legislação trabalhista. Todos estão tentando fazer ajustes, mas não basta. Se não houver ajuda aos países em crise, a situação se agrava - afirmou José Roberto.

Mário Monti tem que conduzir eleições na Itália até abril do ano que vem. E Angela Merkel disputa no segundo semestre o seu terceiro mandato.

- Ela não pode ser ousada porque corre o risco de perder a eleição, mas a crise está se aprofundando. A Grécia está chegando a 30% de desemprego, a Espanha, a 25%, e a Itália, a 13%. O BCE no fim do ano passado evitou o pior, mas o sistema continua frágil - disse o economista.

Há vários setembros à frente antes que se possa dizer que haverá bom tempo.

FONTE: O GLOBO

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