terça-feira, 18 de setembro de 2012

Governo prepara fidelização de votos - Raymundo Costa

O retrato da nova classe média brasileira será mostrado amanhã na Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE). É a primeira etapa de um projeto em que serão realizadas pesquisas primárias em 10 mil domicílios, anualmente, a fim de mapear os anseios da nova classe média, formatada em documento chamado "Vozes da Classe Média", a ser lançado nesta quarta-feira, 20.

A nova classe média é o assunto atual de cabeceira da presidente Dilma Rousseff, além das desonerações de impostos ou o mensalão do PT. No momento, ela está lendo o livro" It"s The Middle Class, Stupid!", de James Carville. Mas é um livreto de pouco mais de 40 páginas que resume o que o governo pensa e projeta para a nova classe média.

O diagnóstico a ser mostrado é otimista: "Nos últimos dez anos, 35 milhões de pessoas entraram na classe média, que passou de 38% para 52% da população, somando hoje mais de 100 milhões de pessoas".

Planalto monitora protagonismo da nova classe média

O texto reconhece que os programas sociais implementados nesse período foram "eficazes para reduzir a pobreza e promover a inclusão produtiva". Mas deixa claro que outras razões contribuíram e que a discussão sobre o assunto, agora, deve mudar de patamar.

"A questão que se coloca neste momento é se esse mesmo leque de programas permanecerá sendo a melhor opção, agora que a extrema pobreza foi reduzida a menos da metade e a classe média passou a representar mais da metade da população"- avalia a Comissão Ministerial para a Definição da Nova Classe Média, coordenada pela Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE).

"O elevado crescimento da classe média deve-se ao processo de crescimento combinado com a redução na desigualdade", diz o ministro da SAE, Wellington Moreira Franco.

Conforme a comissão da SAE a divisão da sociedade brasileira em três grandes grupos (classes baixa, média e alta) "em termos de renda familiar per capita é providencial para que se possam descrever as profundas transformações sociais por que tem passado a sociedade brasileira".

Segundo esse critério, foram considerados pertencentes à classe baixa "todos aqueles com alta probabilidade de permanecerem ou passarem a ser pobres no futuro próximo (renda per capita inferior a R$ 291,00 por mês); na classe média foram alocados aqueles com baixa probabilidade de permanecerem ou passarem a ser pobres (renda entre R$ 291,00 e R$ 1.019,00, numa verificação empírica) e, na classe alta, "todos aqueles com possibilidades irrisória de passarem a ser pobres no futuro próximo, famílias com renda per capita acima de R$ 1.019,00 por mês).

Por esses critérios, estima que o tamanho da classe média brasileira, ao final de 2012, será de 53% da população (104 milhões de pessoas). Seria o 12º país mais populoso do mundo, logo depois do México.

Ao passar de 38%, em 2002, para 53%, em 2012, o aumento da classe média não se limitou a acompanhar o crescimento populacional do país. Hoje ela tem 37 milhões de pessoas a mais do que há uma década. "Desse total, oito milhões são resultado do crescimento vegetativo da população e 29 milhões se devem à entrada de pessoas na classe média - em outras palavras, quase 80% do crescimento deveu-se ao aumento na sua participação relativa no total da população (de 38% para 53%).

"O alargamento da classe média brasileira é muito mais um resultado da queda na desigualdade do que propriamente do desenvolvimento econômico", diz o documento.

Mantidas as atuais taxas de crescimento e a tendência de queda na desigualdade dos últimos dez anos, "a classe média deverá abranger 55% da população brasileira em 2022". Para o ministro Moreira Franco, "Se o grau de desigualdade deixar de cair, o tamanho da classe média permanecerá estável nos atuais 53%".

Outros números consolidados pela comissão da SAE: "Enquanto 57% da população brasileira em idade ativa estão ocupados, na classe média a proporção já alcança 61%"; a classe média já responde por 48% da renda e por 42% do consumo das famílias. "No contexto mundial, o Brasil representa hoje o 8º mercado consumidor, logo após a Itália; à medida em que a classe média responde por 42% do consumo das famílias brasileiras, se ela fosse um país representaria o 15 mercado consumidor mundial, logo abaixo da Espanha e a Áustria e acima da Rússia".

A combinação de crescimento econômico e redução de desigualdades proporcionou um crescimento de 3,5% ao ano na renda daqueles que hoje formam a classe média, enquanto a renda média das famílias brasileiras, no mesmo período de dez anos, cresceu 2,4% ao ano. Em relação ao consumo, a atual classe média aumentou seus gastos em 3,8% anuais, contra 2,7% das demais famílias brasileiras.

"Vozes da Classe Média" também já esboça um desenho do que essa maioria da população quer. "Ao contrário da população pobre, que tem de dedicar grande parte de sua atenção à formulação de estratégias de sobrevivência, a classe média já dedica a sua à visualização do futuro, ao desenho de estratégias voltadas à preservação de ganhos alcançados ou à continuidade de seu processo de ascensão".

O documento propõe duas abordagens para identificação do que quer a nova classe média: padrão de consumo e a demanda por serviços privados. Por exemplo: a porcentagem de estudantes da classe média em instituições privadas (14%) é quatro vezes maior que a correspondente na classe baixa (3%) e quatro vezes menor que na classe alta (59%). O mesmo ocorre em relação à saúde, embora o crescimento não seja linear (a classe média fica mais próxima da classe alta, devido aos planos de saúde particular, entre outros motivos pela maior incidência do trabalho formal na classe média.

O estudo trata ainda do que quer a classe média em relação à casa própria, educação, meio ambiente. "É (a classe média) protagonista de "um novo Brasil, seja pelo seu peso na população (100 milhões de pessoas), seja pelo seu peso econômico, já que movimenta aproximadamente um trilhão por ano.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

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