terça-feira, 2 de outubro de 2012

A crise econômica - Sérgio C. Buarque


A crise econômica nas economias capitalistas cria um ambiente sócio-político favorável para as forças políticas de esquerda assumirem o poder, como agora na Europa. A estagnação da economia, o desemprego e a inflação, sintomas de desorganização do capitalismo, abrem o caminho para propostas de transformação no sistema, seja através de uma ressurreição revolucionária, no passado longínquo, seja pelo voto no sistema democrático, as massas são atraídas por alternativas que recuperem a dinâmica e a estabilidade da economia, o emprego e a renda.

O problema vem depois: o que fazer para enfrentar a crise econômica? Depende da natureza e dos determinantes da crise. Numa recessão econômica, a ampliação dos gastos públicos em obras tem resultados na recuperação e na criação de emprego, combinando reanimação da economia com melhoria social. Foi assim no New Deal, programa econômico de Roosevelt na crise econômica dos Estados Unidos no início da década de 20 do século passado, antecipando a fórmula anticíclica de Keynes.

Embora não se possa dizer que o governo Roosevelt tenha sido de esquerda, era uma alternativa diferente dos esquemas tradicionais do liberalismo econômico dominante na época, combinava recuperação econômica com redução da pobreza. No entanto, quando a desorganização da economia capitalista está associada também a uma dramática crise fiscal com elevado endividamento público e déficits fiscais elevados, as políticas de esquerda são inadequadas. A generosidade social da esquerda combina apenas com a ampliação dos gastos públicos, nunca com ajuste fiscal, mas este aumento de gastos tende a acelerar a crise com falência dos sistemas fiscais e monetários e com pressões inflacionárias, ambos fenômenos econômicos de impacto social negativo.

Nas últimas décadas do século passado, alguns governos social-democratas, beneficiados eleitoralmente pela crise, tiveram que executar políticas de ajuste fiscal e controle de gastos públicos, medidas consideradas conservadoras e de direita. A Espanha de Filipe Gonzales fez isso e deu um excelente resultado no médio prazo, depois da superação da crise, governo de esquerda com política macroeconômica, digamos, de direita. No Brasil, recentemente, o ex-presidente Lula seguiu este modelo, embora o Brasil já não tivesse a desorganização inflacionária. O governo francês do socialista François Hollande vai enfrentar esta dificuldade para lidar com uma crise fiscal mas ele parece não se dar conta da dramática situação das finanças públicas da França como de quase toda a Europa. Pensar que a esquerda europeia possa correr da austeridade fiscal para se diferenciar da direita é uma grande ingenuidade, um populismo de alto risco no futuro.

Para se provar de esquerda, o governo francês decidiu baixar a idade mínima de aposentadoria de 62, aprovado antes com muita confusão, para 60 anos, além de não ter nada de esquerda, a decisão é demagógica e ridícula num país com uma expectativa de vida de 80 anos, o déficit vai aumentar e as gerações futuras vão pagar a conta. Socialismo (e socialdemocracia) é outra coisa e requer medidas estruturais de reorganização da sociedade não estas maquiagens irresponsáveis e eleitoreiras.

Sérgio C. Buarque é economista e consultor

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

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