sábado, 27 de outubro de 2012

Atrás nas pesquisas, Vanessa mira evangélicos

Assembleia de Deus faz reuniões pedindo voto para comunista

Segundo turno. Panfleto apócrifo distribuído em reunião de Vanessa com a Assembleia de Deus

Fernanda Krakovics

MANAUS - Depois que a presidente Dilma Rousseff foi pessoalmente a Manaus pedir votos para a candidata do PCdoB, senadora Vanessa Grazziotin, na última segunda-feira, a comunista oscilou positivamente apenas um ponto percentual, de acordo com pesquisa Ibope/Rede Amazônica divulgada ontem. Ela está com 30% das intenções de voto, enquanto o candidato do PSDB, o ex-senador Arthur Virgílio, lidera com folga, com 62%. Quanto pior seu desempenho, mais a comunista investe no eleitorado evangélico, que representa, de acordo com o Censo 2010, 35,5% da população da capital amazonense.

Do último sábado até a noite de anteontem, a Assembleia de Deus fez nove reuniões para pedir votos em Vanessa, reunindo de 700 a mil fiéis cada uma, de acordo com o presidente da igreja, pastor Jonatas Câmara.

Panfletos sobre aborto

Mirando esse público, a campanha da senadora está distribuindo panfleto na qual a candidata é apresentada como "casada há 29 anos com Eron Bezerra". E Vanessa, "em nome da verdade", reafirma crer "em Deus como bem maior do Universo". Também diz ser pessoalmente contra o aborto, apesar de defender a legislação atual, que permite a interrupção da gravidez em casos de risco para a mãe, estupro ou feto com anencefalia (sem cérebro). Ela também se compromete, no panfleto, a votar contra quaisquer projetos de lei "que visem promover afrontas à família".

E, em uma guinada, a senadora, que já defendeu a urgência para o projeto de lei que criminaliza a homofobia, compromete-se agora a votar a favor somente dos artigos que "não violem a liberdade da família, crença, fé pessoal, grupos sociais, culto, expressão".

Ela já abordou o assunto na propaganda eleitoral na TV. E justifica:

- Imaginava que o projeto era para punir intolerantes. Conversei com o senador Magno Malta (PR-ES, uma liderança evangélica) e descobri que o projeto promove a discriminação, principalmente contra os evangélicos.

A senadora diz não ver contradição entre o fato de ser integrante do Partido Comunista e fazer uma campanha tão atrelada à religião:

- No meu partido, ninguém é obrigado a fazer nada. A fé de cada um é de cada um. No meu partido, há vários evangélicos. Eu sou católica.

Na reunião de Vanessa com a Assembleia de Deus na noite de anteontem, também foi distribuído um panfleto apócrifo com ataques ao adversário Arthur Virgílio. O folheto explora declaração do tucano, publicada em um jornal local, de que ele derrotaria a Assembleia de Deus. O tucano disse que sua declaração foi distorcida e que sua afirmação foi que derrotaria Vanessa na Assembleia de Deus.

Em 2010, o pastor Jonatas Câmara apoiou Virgílio para o Senado, quando ele foi derrotado por Vanessa. O pastor não vê problema em ter mudado de lado, mas admite que o fato de a senadora estar alinhada com o governo federal e com o governo do estado - no qual sua igreja indicou os titulares de três secretarias - pesou em sua escolha.

Já o candidato do PSDB, apesar de perseguir os votos evangélicos, inclusive da Assembleia de Deus, esnoba o apoio do pastor Jonatas:

- Ele dá azar.

Mas Vanessa não é unanimidade entre os pastores evangélicos. Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, causou rebuliço em Manaus ao divulgar vídeo no qual prega contra o voto em comunistas, porque eles dizem que "Deus não existe" e onde governam "não tem liberdade de expressão nem religiosa".

- Ele está falando de um contexto antigo e de um país que não é democrático como o nosso - justificou o pastor Jonatas.

Fonte: O Globo

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