Segundo turno. Panfleto apócrifo distribuído em reunião de Vanessa com a
Assembleia de Deus
Fernanda Krakovics
MANAUS - Depois que a presidente Dilma Rousseff foi pessoalmente a Manaus
pedir votos para a candidata do PCdoB, senadora Vanessa Grazziotin, na última
segunda-feira, a comunista oscilou positivamente apenas um ponto percentual, de
acordo com pesquisa Ibope/Rede Amazônica divulgada ontem. Ela está com 30% das
intenções de voto, enquanto o candidato do PSDB, o ex-senador Arthur Virgílio,
lidera com folga, com 62%. Quanto pior seu desempenho, mais a comunista investe
no eleitorado evangélico, que representa, de acordo com o Censo 2010, 35,5% da
população da capital amazonense.
Do último sábado até a noite de anteontem, a Assembleia de Deus fez nove
reuniões para pedir votos em Vanessa, reunindo de 700 a mil fiéis cada uma, de
acordo com o presidente da igreja, pastor Jonatas Câmara.
Panfletos sobre aborto
Mirando esse público, a campanha da senadora está distribuindo panfleto na
qual a candidata é apresentada como "casada há 29 anos com Eron
Bezerra". E Vanessa, "em nome da verdade", reafirma crer
"em Deus como bem maior do Universo". Também diz ser pessoalmente
contra o aborto, apesar de defender a legislação atual, que permite a
interrupção da gravidez em casos de risco para a mãe, estupro ou feto com
anencefalia (sem cérebro). Ela também se compromete, no panfleto, a votar
contra quaisquer projetos de lei "que visem promover afrontas à
família".
E, em uma guinada, a senadora, que já defendeu a urgência para o projeto de
lei que criminaliza a homofobia, compromete-se agora a votar a favor somente
dos artigos que "não violem a liberdade da família, crença, fé pessoal,
grupos sociais, culto, expressão".
Ela já abordou o assunto na propaganda eleitoral na TV. E justifica:
- Imaginava que o projeto era para punir intolerantes. Conversei com o
senador Magno Malta (PR-ES, uma liderança evangélica) e descobri que o projeto
promove a discriminação, principalmente contra os evangélicos.
A senadora diz não ver contradição entre o fato de ser integrante do Partido
Comunista e fazer uma campanha tão atrelada à religião:
- No meu partido, ninguém é obrigado a fazer nada. A fé de cada um é de cada
um. No meu partido, há vários evangélicos. Eu sou católica.
Na reunião de Vanessa com a Assembleia de Deus na noite de anteontem, também
foi distribuído um panfleto apócrifo com ataques ao adversário Arthur Virgílio.
O folheto explora declaração do tucano, publicada em um jornal local, de que
ele derrotaria a Assembleia de Deus. O tucano disse que sua declaração foi
distorcida e que sua afirmação foi que derrotaria Vanessa na Assembleia de
Deus.
Em 2010, o pastor Jonatas Câmara apoiou Virgílio para o Senado, quando ele
foi derrotado por Vanessa. O pastor não vê problema em ter mudado de lado, mas
admite que o fato de a senadora estar alinhada com o governo federal e com o
governo do estado - no qual sua igreja indicou os titulares de três secretarias
- pesou em sua escolha.
Já o candidato do PSDB, apesar de perseguir os votos evangélicos, inclusive
da Assembleia de Deus, esnoba o apoio do pastor Jonatas:
- Ele dá azar.
Mas Vanessa não é unanimidade entre os pastores evangélicos. Silas Malafaia,
da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, causou rebuliço em Manaus ao divulgar
vídeo no qual prega contra o voto em comunistas, porque eles dizem que
"Deus não existe" e onde governam "não tem liberdade de
expressão nem religiosa".
- Ele está falando de um contexto antigo e de um país que não é democrático
como o nosso - justificou o pastor Jonatas.
Fonte: O Globo
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