terça-feira, 30 de outubro de 2012

Estação 2014 - Tereza Cruvinel


É prematuro apostar na candidatura presidencial do governador Eduardo Campos, do ascendente PSB. E vice, garante um político de sua intimidade, ele não será. Nem de Dilma nem de Aécio

Contados os votos, no cronômetro político a ampulheta será agora invertida e começará a contagem para a eleição presidencial de 2014. Para a presidente Dilma, dentro de dois meses estará começando o segundo biênio de seu mandato, período crucial para quem disputará a reeleição. Para produzir resultados, na verdade, ela só terá um ano, porque o segundo será consumido pela campanha. O pleito municipal colocou na roda outros dois nomes. O senador Aécio Neves (MG) só não será o candidato do PSDB se não quiser, mas é prematuro apostar na candidatura do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do ascendente PSB. E vice, garante um político de sua intimidade, ele não será. Nem de Dilma nem de Aécio. O resultado da eleição de domingo comportou as mais diferentes avaliações, mas, com vistas a 2014, o que importa é saber quem ganhou mais músculos para a corrida rumo a 2014.

Uma leitura do pleito sugere que a dispersão partidária não deu hegemonia a nenhum partido. Essa aparência enganosa deriva do fato de que 11 partidos dividirão o comando das 26 capitais. Ou do falso equilíbrio entre PSB, que conquistou cinco, PT e PSDB, que ganharam quatro cada um. Mas, olhado sob outros prismas, a eleição confirmou a hegemonia do bloco governista e a predominância de três partidos: juntos, PT, PMDB e o oposicionista PSDB governarão localmente metade dos brasileiros. Com vistas à eleição presidencial, o que importa é saber quem terá mais prefeitos e vereadores (e deputados federais) puxando votos, quem vai gerir mais recursos públicos e vai governar mais eleitores, mediando as necessidades locais e o acesso aos cofres federais. O cidadão vive é no município, gostava de dizer Ulysses Guimarães. Então, vejamos por essa ótica.

Para começar, a recandidatura de Dilma não será pelo PT, mas pela coligação PT-PMDB, ainda que outros partidos estejam nela, como satélites. Visto assim, um sinal da hegemonia é dado pela votação obtida nos dois turnos. O PT foi campeão, com 17,2 milhões de votos, seguido do PMDB, com 16,7 milhões, e do PSDB, com 13,9 milhões. PT e PMDB juntos receberam 33,9% dos votos válidos. Em número de prefeitos eleitos, o PMDB foi campeão, com 1.024, e isso é um dos ativos que o valorizam como aliado. O PSDB ficou em segundo lugar (702), seguido do PT (635). Juntos, os partidos de Dilma terão 1.659, ou 29,8% do total. Prefeitos são cabos eleitorais importantes num país como o Brasil, mas quais são essas prefeituras? As do PMDB são mais interioranas, cobrindo áreas aonde o PT só começou a chegar em anos recentes. As do PT refletem o Brasil mais urbano e somam recursos orçamentários da ordem de R$ 77,7 bilhões. As do PMDB, R$ 60,3 bilhões. As do PSDB, R$ 42,6 bilhões, e as do PSB, R$ 37,9 milhões. A vida é dura para quem está na oposição por isso mesmo: é difícil competir com quem tem a verba e a caneta. E, por fim, buscando olhar o "bloco de Dilma" e não apenas o PT, verifica-se também a hegemonia no que diz respeito ao número de eleitores governados. Pelo menos no grupo das 85 cidades com mais de 200 mil eleitores, incluindo capitais. Também nelas verifica-se a predominância dos três maiores partidos (PT, PMDB e PSDB), mas com nítida vantagem para os da coalizão dilmista. As prefeituras petistas nesse grupo de cidades somam mais de 15 milhões de eleitores, e as do PMDB, cerca de 7 milhões, totalizando 22 milhões, fora as que serão governas por outros partidos aliados. As prefeituras tucanas congregarão 6 milhões de eleitores e as do PSDB, 7 milhões.

Em matéria de eleitores, máquina e recursos, as urnas ampliaram a hegemonia do bloco de poder construído sob o governo Lula. Mas como a política não é aritmética, esses números indicam apenas que Dilma parte para 2014 com um equipamento vantajoso, fora a alta aprovação de seu governo. Se máquina fosse tudo, Lula não teria sido eleito em 2002, desalojando os tucanos do governo federal. Apesar desses números, os eleitores mandaram mensagens alentadoras também para a oposição: estão querendo renovação na política e votando segundo critérios muito próprios. Em algumas capitais, derrotaram os governadores e até mesmo Lula.

Com que roupa?

O PSB está em festa e não é para menos. O pequeno partido que desde 1989, com o PCdoB, compunha a Frente Brasil Popular para apoiar Lula – que perdeu com ele em 1989, 1994 e 1998, e com ele ganhou em 2002 e 2006 –, agora entrou para o clube das grandes siglas. Mas, apesar da festa, o tom da conversa é cauteloso em relação a 2014 e ao papel do governador Eduardo Campos. "Em breve, ele vai nos reunir para começarmos a discutir as linhas estratégicas do partido dentro da nova configuração que saiu das urnas. Por ora, apenas uma coisa é certa: o PSB sente-se credenciado pelo povo brasileiro a participar das grandes decisões nacionais", diz o senador Rodrigo Rollemberg.

Isso pode significar qualquer coisa. Que Eduardo pode ser candidato a presidente pelo PSB ou que será um aliado de Aécio Neves em 2014. Ou que está aberto a uma recomposição com Lula, Dilma e o PT, desde que reconheçam seu peso, bem como o de seu partido. Num primeiro momento, esse parece ser o cenário mais provável, pelo menos para os próximos meses, até que o quadro sucessório ganhe contornos mais nítidos.

Fonte: Correio Braziliense

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