É prematuro apostar na candidatura presidencial do governador Eduardo
Campos, do ascendente PSB. E vice, garante um político de sua intimidade, ele
não será. Nem de Dilma nem de Aécio
Contados os votos, no cronômetro político a ampulheta será agora invertida e
começará a contagem para a eleição presidencial de 2014. Para a presidente
Dilma, dentro de dois meses estará começando o segundo biênio de seu mandato, período
crucial para quem disputará a reeleição. Para produzir resultados, na verdade,
ela só terá um ano, porque o segundo será consumido pela campanha. O pleito
municipal colocou na roda outros dois nomes. O senador Aécio Neves (MG) só não
será o candidato do PSDB se não quiser, mas é prematuro apostar na candidatura
do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do ascendente PSB. E vice, garante
um político de sua intimidade, ele não será. Nem de Dilma nem de Aécio. O
resultado da eleição de domingo comportou as mais diferentes avaliações, mas,
com vistas a 2014, o que importa é saber quem ganhou mais músculos para a
corrida rumo a 2014.
Uma leitura do pleito sugere que a dispersão partidária não deu hegemonia a
nenhum partido. Essa aparência enganosa deriva do fato de que 11 partidos
dividirão o comando das 26 capitais. Ou do falso equilíbrio entre PSB, que
conquistou cinco, PT e PSDB, que ganharam quatro cada um. Mas, olhado sob
outros prismas, a eleição confirmou a hegemonia do bloco governista e a predominância
de três partidos: juntos, PT, PMDB e o oposicionista PSDB governarão localmente
metade dos brasileiros. Com vistas à eleição presidencial, o que importa é
saber quem terá mais prefeitos e vereadores (e deputados federais) puxando
votos, quem vai gerir mais recursos públicos e vai governar mais eleitores,
mediando as necessidades locais e o acesso aos cofres federais. O cidadão vive
é no município, gostava de dizer Ulysses Guimarães. Então, vejamos por essa
ótica.
Para começar, a recandidatura de Dilma não será pelo PT, mas pela coligação
PT-PMDB, ainda que outros partidos estejam nela, como satélites. Visto assim,
um sinal da hegemonia é dado pela votação obtida nos dois turnos. O PT foi
campeão, com 17,2 milhões de votos, seguido do PMDB, com 16,7 milhões, e do
PSDB, com 13,9 milhões. PT e PMDB juntos receberam 33,9% dos votos válidos. Em
número de prefeitos eleitos, o PMDB foi campeão, com 1.024, e isso é um dos
ativos que o valorizam como aliado. O PSDB ficou em segundo lugar (702),
seguido do PT (635). Juntos, os partidos de Dilma terão 1.659, ou 29,8% do
total. Prefeitos são cabos eleitorais importantes num país como o Brasil, mas
quais são essas prefeituras? As do PMDB são mais interioranas, cobrindo áreas
aonde o PT só começou a chegar em anos recentes. As do PT refletem o Brasil
mais urbano e somam recursos orçamentários da ordem de R$ 77,7 bilhões. As do
PMDB, R$ 60,3 bilhões. As do PSDB, R$ 42,6 bilhões, e as do PSB, R$ 37,9
milhões. A vida é dura para quem está na oposição por isso mesmo: é difícil
competir com quem tem a verba e a caneta. E, por fim, buscando olhar o
"bloco de Dilma" e não apenas o PT, verifica-se também a hegemonia no
que diz respeito ao número de eleitores governados. Pelo menos no grupo das 85
cidades com mais de 200 mil eleitores, incluindo capitais. Também nelas
verifica-se a predominância dos três maiores partidos (PT, PMDB e PSDB), mas
com nítida vantagem para os da coalizão dilmista. As prefeituras petistas nesse
grupo de cidades somam mais de 15 milhões de eleitores, e as do PMDB, cerca de
7 milhões, totalizando 22 milhões, fora as que serão governas por outros
partidos aliados. As prefeituras tucanas congregarão 6 milhões de eleitores e
as do PSDB, 7 milhões.
Em matéria de eleitores, máquina e recursos, as urnas ampliaram a hegemonia
do bloco de poder construído sob o governo Lula. Mas como a política não é
aritmética, esses números indicam apenas que Dilma parte para 2014 com um
equipamento vantajoso, fora a alta aprovação de seu governo. Se máquina fosse
tudo, Lula não teria sido eleito em 2002, desalojando os tucanos do governo
federal. Apesar desses números, os eleitores mandaram mensagens alentadoras
também para a oposição: estão querendo renovação na política e votando segundo
critérios muito próprios. Em algumas capitais, derrotaram os governadores e até
mesmo Lula.
Com que roupa?
O PSB está em festa e não é para menos. O pequeno partido que desde 1989,
com o PCdoB, compunha a Frente Brasil Popular para apoiar Lula – que perdeu com
ele em 1989, 1994 e 1998, e com ele ganhou em 2002 e 2006 –, agora entrou para
o clube das grandes siglas. Mas, apesar da festa, o tom da conversa é cauteloso
em relação a 2014 e ao papel do governador Eduardo Campos. "Em breve, ele
vai nos reunir para começarmos a discutir as linhas estratégicas do partido
dentro da nova configuração que saiu das urnas. Por ora, apenas uma coisa é
certa: o PSB sente-se credenciado pelo povo brasileiro a participar das grandes
decisões nacionais", diz o senador Rodrigo Rollemberg.
Isso pode significar qualquer coisa. Que Eduardo pode ser candidato a
presidente pelo PSB ou que será um aliado de Aécio Neves em 2014. Ou que está
aberto a uma recomposição com Lula, Dilma e o PT, desde que reconheçam seu
peso, bem como o de seu partido. Num primeiro momento, esse parece ser o
cenário mais provável, pelo menos para os próximos meses, até que o quadro
sucessório ganhe contornos mais nítidos.
Fonte: Correio Braziliense
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