quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Lá vem o Patto !!! - Urbano Patto


Vê-se sob a sombra da condenação dos réus do mensalão, uma onda de argumentos retrógrados, raivosos, conservadores e revisionistas que algumas pessoas têm veiculado nas redes sociais e na imprensa tentando vincular os crimes hoje julgados com a existência dentre os condenados de alguns que tem em seu passado o envolvimento direto com a luta revolucionária e armada contra a ditadura militar, tentando fazer crer que uma coisa tem a ver necessariamente com a outra. Não têm.
 
Primeiro porque, dos vinte e tantos condenados, consta que apenas dois tem alguma história nessa seara da luta armada: Genoíno e Zé Dirceu. Os demais condenados filiados ou dirigentes do PT, Delúbio, Pizzolato, Cunha, dentre outros, tem origem, formação e práticas políticas mais atuais, notadamente, e com enorme peso, nas deformadas estruturas sindicais brasileiras e na burocracia partidária. De comum à época dos fatos do mensalão é que estavam no poder e com a chave de alguns cofres, no mínimo conforme já comprovado e julgado, com a do cofre da verba de publicidade do Banco do Brasil alocada no fundo VisaNet e da Câmara dos Deputados.

Os demais condenados, vinculados ao PP, PMDB, PTB, PR - no núcleo político e os banqueiros, corretores, executivos e publicitários nos outros núcleos da quadrilha, salvo raríssimas exceções, tem turvas e pouco expressivas histórias pessoais fazendo parte dos pragmáticos, ousados e politicamente amorfos "empresários capitalistas", "profissionais apartidários" ou "políticos profissionais", resistentes e persistentes carrapichos do poder - de quem nele estiver - e incansáveis sanguessugas do Estado.

Ora, o mensalão só fez juntar a fome com a vontade de comer e deu no que deu. Não há nada mais nesse processo que a clara demonstração da falta de limites para o que se pode fazer com poder e dinheiro para manter e ampliar o dinheiro e o poder, ou vice-versa. Uns gostando mais do dinheiro, outros gostando mais do poder.

Por outro lado, há que se ressaltar que essa lenga-lenga entoada pelo PT, destacadamente por Zé Dirceu, Genoíno, Falcão e Lula, de que tudo não passa de complô das elites conservadoras, de uma campanha orquestrada da mídia contra o PT e de politização do Supremo Tribunal Federal, pode até convencer alguns mais desavisados, que possuem um infantil esquerdismo, para quem a questão democrática é secundária na luta política e para que se atinja os supostos fins de dar sustentação a um suposto "governo dos pobres", quaisquer meios seriam válidos.

De comum na construção desta argumentação ideológica auto-intitulada como de esquerda, de hoje, resta a justificativa, de ontem, de que para derrotar a ditadura militar e/ou fazer a revolução valeria qualquer meio, inclusive a luta armada, divergindo de outros pensamentos e práticas da época que afirmavam que o caminho seria a resistência e a luta institucional e de massas. Nas duas situações, de ontem e de hoje, o que se sacrifica é a democracia como valor básico e universal. 

No presente caso do mensalão, alguns chegam a alegar que o que foi feito - roubar dinheiro público e utilizá-lo para corromper parlamentares e partidos - seria uma mera circunstância, chegando outros ao extremo de comparar isso a um ato de heroísmo pessoal, tudo para manter "o povo" no poder. Chegaram até a produzir um slogan absurdo: Zé Dirceu, herói do povo brasileiro. Puro escárnio e a mais deslavada mistificação.

Ocorre que nem o argumento de que se trata de uma luta de resistência ou libertação se sustenta nos dias de hoje, a não ser que fosse a de resistir ou libertar-se de si próprios, já que estão no poder. Pura esquizofrenia.
__________

Urbano Patto é Arquiteto-Urbanista, Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional, Secretário do Partido Popular Socialista - PPS - de Taubaté e membro Conselho Fiscal do PPS do Estado de São Paulo. Comentários, sugestões e críticas para urbanopatto@hotmail.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário