segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Mensalão: Joaquim tem dia de estrela


Lewandowski não comenta processo; Dirceu se cerca de petistas e Genoino ofende imprensa; Jefferson não vota

Roberto Kaz, Leandra Lima, Thiago Herdy, Marcia Abos e Thais Britto

RIO e SÃO PAULO - Para quem olhasse de longe, o pequeno alvoroço - com pedidos de autógrafo, foto, beijo e abraço - poderia dar a impressão de que havia, ali no meio, uma estrela do rock. Para quem olhasse de perto, uma palavrinha, ao fim de cada elogio gritado ("Parabéns!", "Sou sua fã") mostraria que não: "ministro". A celebridade em questão era ele mesmo, o ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa, relator do mensalão, que votou às 11h15min no Clube Monte Líbano, na Lagoa, onde fica 17ª Zona Eleitoral do Rio. O revisor do processo, Ricardo Lewandowski, e réus do mensalão também chamaram a atenção dos eleitores ontem.

Barbosa aguardou por um minuto na fila, antes de votar. Foi o tempo para que surgisse um grupo de tietes entre 50 e 80 anos. A primeira a se aproximar foi a professora aposentada Leonor Carvalho, que após pedir o combo abraço/foto/autógrafo, parabenizou o ministro "pela honestidade e pelo belo trabalho".

- Quero que meus filhos (advogados) sejam assim que nem ele: dureza.

Leonor estava com a tia, Altair Masplê, que diz ver o julgamento todos os dias, como novela:

- Acho ele excepcional.

Perguntado pela imprensa se estava se habituando à vida de estrela, o ministro desconversou:

- As pessoas me acompanham há muito tempo. Não sou estrela. É carinho - disse Barbosa, ao lado de um segurança e de um motorista.

O supervisor da 17ª Zona, Luiz Henrique Leão Vieira, de 49 anos, tirou uma foto com o ministro, e postou no Facebook. Escreveu: "Esse me dá orgulho de ser brasileiro!!".

- Hoje ele é "o" cara - disse Vieira.

"segundo turno é sempre bom"

Nos quinze minutos em que ficou no local, Barbosa não negou um único pedido de foto. Disse que seu voto atual é secreto. Perguntado se gostaria que houvesse segundo turno na cidade, disse:

- Segundo turno é sempre bom.

Perguntado onde iria comemorar seu aniversário - por coincidência, ontem - respondeu que já o havia feito, na noite anterior, com a família (seu filho Felipe, de 26 anos, mora no Rio).

A advogada Claudia Beauclair se emocionou e mandou mensagem aos filhos: "Uau!!! Votei, e quem estava na minha seção? O meu herói! O ministro Joaquim Barbosa!!! Tirei foto com ele num gesto de tietagem explícita!!!"

Eleitor em São Paulo, o revisor do processo, o ministro do STF Ricardo Lewandowski disse estar com a consciência tranquila quanto a seus votos - ele foi o único dos quatro ministros que já votaram a absolver os petistas José Dirceu e José Genoino da acusação de corrupção ativa. O ministro pediu esquema de segurança e entrou pelos fundos do colégio onde vota, no Brooklin, na zona sul de São Paulo.

- Estou com a consciência absolutamente tranquila, cumpri meu dever. Críticas fazem parte do processo democrático - disse.

Dois dos principais réus do mensalão tiveram reações diferentes ao votar, em São Paulo. Logo cedo, o ex-presidente do PT José Genoino perdeu o controle e xingou jornalistas. Já o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu trocou de domicílio eleitoral e cercou-se de militantes. Esta semana, deve ser concluída no Supremo parte do processo que diz respeito a Genoino e Dirceu.

Antes de votar, Genoino respondeu a perguntas de jornalistas gritando. A irritação o fez ir embora de seu colégio eleitoral, no Butantã, zona oeste de São Paulo, sem votar. Meia hora depois, voltou e votou.

- Vocês são urubus que torturam a alma humana. Não podem ficar aqui. Não falo com urubus. Vocês fazem igual aos torturadores da ditadura. Só que agora não têm pau de arara, têm a caneta - gritou, com as mãos trêmulas.

Pizzolato "sob efeito de remédios"

Sob o aplauso da militância petista e cercado por seguranças, Dirceu votou no fim da tarde no Bosque da Saúde, região sul da capital paulista. Ele trocou o domicílio eleitoral para evitar ser hostilizado. O novo local fica numa região de classe média-baixa, reduto petista, segundo assessores. O ex-ministro foi cercado por militantes que cantavam mensagens de apoio. Seguranças e aliados empurraram jornalistas.
Já João Paulo Cunha, ex-presidente da Câmara, votou em Osasco, na Grande São Paulo. Entrou e saiu rapidamente da sala de votação, sem dar declarações. Cunha era candidato a prefeito pelo PT na cidade, mas desistiu após ser condenado por corrupção e peculato.

Também já condenado (corrupção passiva, peculato e lavagem), o ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato votou na Escola Municipal Cícero Pena, em Copacabana, no Rio. Apático, entrou e saiu sem chamar atenção dos eleitores, que não o reconheceram.

- Ele não está em condições de falar, está sob efeito de remédios- disse uma mulher que o acompanhava.

Aguardado na 3ª Zona Eleitoral, em Botafogo, no Rio, o ex-deputado Roberto Jefferson, também réu e com condenações por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, não votou. Segundo sua assessoria, o presidente do PTB não se sentiu bem durante a semana e, após alguns dias com febre, resolveu ficar em casa, em Levy Gasparian.

Fonte: O Globo

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