domingo, 28 de outubro de 2012

O pleito de hoje - Tereza Cruvinel


Agora começa outra etapa. A presidente da República deve ajustar seu governo ao novo tabuleiro político, o Congresso renovará suas Mesas Diretoras e a agulha da bússola começará a apontar para a eleição parlamentar e presidencial de 2014

O resultado de uma eleição é uma fotografia que precisa ser olhada e analisada sob perspectivas diversas, que se complementam para a produzir a imagem mais objetiva possível: número de votos obtidos, número de prefeitos eleitos, força das máquinas conquistadas, contingente de cidadãos governados e dimensão dos orçamentos a serem administrados. No pleito de hoje, é pacífico que o troféu mais importante é a prefeitura de São Paulo. Dizem as pesquisas que o candidato do PT, Fernando Haddad, tem expressiva vantagem sobre o adversário tucano, José Serra.

A capital paulista é a cidade com o maior número de eleitores e seu orçamento, estimado em R$ 39 bilhões para 2013, é o terceiro maior do país. À frente, só o da União e o do estado de São Paulo. Trata-se, por tudo isso, de uma das mais poderosas “máquinas” de poder do país, o que explica a disputa encarniçada. Um fato que ilustra a força desta máquina: não sendo um político de expressão nacional nem sendo portador de algum projeto especial para o país, o prefeito Gilberto Kassab, a partir dela, conseguiu montar um partido nacional, o PSD, e assim entrar no jogo político nacional. Daí a importância de sua reconquista pelo PT ou de sua preservação ou perda pelo PSDB. Serra era um prefeito bem avaliado, mas deixou o cargo para o vice Kassab em 2006, quando se elegeu governador. Não concorreu à reeleição para disputar a presidência com Dilma. É certo que a baixa avaliação do atual prefeito o prejudicou. Uma eventual derrota hoje será danosa para a trajetória e para o futuro do PSDB. A eventual vitória de Haddad será consagradora para Lula, que bancou sua candidatura inicialmente desconcertante, por sua origem técnica e inexperiência eleitoral, assim como a eventual derrota iria para a conta do ex-presidente. No quesito máquina, São Paulo é o que importa.

No primeiro turno, o PT terminou como o partido mais votado, recolhendo 17,3 milhões de votos. Foi seguido do PMDB, PSDB e do PSB. O número de votos pode ter razões diversas, inclusive locais, mas expressa principalmente a aprovação às políticas públicas deste ou daquele partido. Considerado o fato de que o segundo colocado, o PMDB (16,7 milhões), é aliado nacional do PT, juntos eles tiveram mais que o dobro do maior partido de oposição, o PDSB (13,9 milhões). O quarto mais votado foi o PSB (8,5 milhões), que neste momento não é peixe nem carne. Participa do governo Dilma, acalenta a candidatura presidencial de Eduardo Campos e flerta com os tucanos. Mas o número de votos também não é tudo.

Prefeitos são figuras importantes para eleição futura de governadores, deputados federais e senadores, bem como na eleição presidencial. No primeiro turno, o PMDB elegeu o maior número deles: 1.016, contra 726 do PSDB, 628 do PT e 494 do estreante PSD. Ainda que não ganhe em nenhum dos 50 municípios onde haverá eleição hoje, o PMDB manterá a primeira posição. Mas, em relação aos resultados de 2008, o PMDB encolheu 14% e o PDSB, 12%. O PT cresceu 14% e o PSB, embora na sexta posição, com 436 prefeituras, teve o maior crescimento: 42%.

Em matéria de prefeituras, há que se ver a quantidade, mas também a relevância. No primeiro turno, sete partidos elegeram prefeitos em nove capitais. PMDB e PSB elegeram duas cada, os outros apenas uma. Com esta dispersão, todos puderam soltar foguetes. Hoje, o pleito ocorre em 50 grandes cidades, 17 delas capitais, que concentram as maiores populações e os maiores orçamentos. Embora 15 partidos estejam na disputa, as pesquisas sugerem que pode haverá agora uma concentração, acentuando a polarização tucano-petista. O PT liderou as pesquisas na reta final em cinco grandes cidades, três delas capitais.

O PSDB vem liderando também em cinco, sendo apenas uma delas capital. Mesmo que o equilíbrio numérico seja mantido, o PT terá mais a celebrar, se as pesquisas se confirmarem. Especialmente se ganhará em São Paulo. Durante toda a campanha a sigla foi malhada no julgamento do mensalão e os prognósticos eleitorais foram os piores possíveis. Já o PSB, festejado como grande vitorioso no primeiro turno, deve colher hoje resultados mais modestos.

E cumprido este rito democrático, começa outra etapa. A presidente da República deverá ajustar seu governo ao novo tabuleiro político, o Congresso renovará suas Mesas Diretoras e a agulha da bússola começará a apontar para a eleição parlamentar e presidencial de 2014.

Penas

O Supremo Tribunal Federal condenou Marcos Valério a 40 anos de prisão. A defesa de José Dirceu pediu atenuação da pena a ser fixada, por conta de sua atuação na resistência à ditadura e na consolidação da democracia. O Código Penal prevê atenuantes e agravantes, segundo a personalidade e trajetória do réu. O procurador-geral Roberto Gurgel contra-atacou pedindo penas severas. O Tribunal de Nuremberg, ao julgar o alto comando nazista, condenou 12 réus à morte e três à prisão perpétua (penas que o Brasil não adota). Dois dirigentes foram condenados a 20 anos de prisão, um a 15 anos e outro a 10.

Fonte: Correio Braziliense

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