segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Os incomodados que mudam - Melchiades Filho


Pesquisas nos grandes municípios apontam que os eleitores nunca estiveram tão voláteis, trocando de candidato durante a campanha sem a menor cerimônia -para entusiasmo e, ao mesmo tempo, muita aflição dos institutos.

A tendência foi instantaneamente interpretada como um sinal de desalento do brasileiro e, até mesmo, de fadiga do sistema representativo. O cidadão, por essa leitura, se cansou de tudo e de todos na política. Daí a atração por nomes que desconhecia antes da propaganda.

Tudo isso pode ser verdade. Mas é verdade, também, que desqualificar o eleitor é a saída mais confortável sempre que as preferências contrariam prognósticos e interesses.

Se o eleitor estivesse tão indiferente, contudo, ele não faria o mais simples, apenas referendando ou rejeitando nomes que lhe são familiares? E, se de fato desiludido, não haveria voto nulo em larga escala?

Talvez o ato de pular de galho em galho, de aderir e abandonar, signifique outra coisa: a disposição de experimentar. Se não há "coerência", é porque não houve sucesso na procura de quem honre compromissos assumidos. Emendar Jânio Quadros, Luiza Erundina, Paulo Maluf, Celso Pitta, Marta Suplicy, José Serra e Gilberto Kassab sugere inquietude, e não acomodação.

Certa vez um réu petista do mensalão, num desabafo que infelizmente preferiu não tornar público, me disse acreditar que a política está hoje em todo lugar, exceto nos partidos, cada vez mais ensimesmados e atolados em intrigas palacianas e desde sempre avessos à autocrítica.

O desempenho surpreendente de "anticandidatos" como Celso

Russomanno (PRB, São Paulo), Ratinho Júnior (PSC, Curitiba), Daniel Coelho (PSDB, Recife), Carlos Amastha (PP, Palmas), Edivaldo Holanda Júnior (PTC, São Luís) e Edmilson Rodrigues (PSOL, Belém) não parece indicar a falência da política, mas de quem se julgava dono dela.

Fonte: Folha de S. Paulo

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