terça-feira, 30 de outubro de 2012

Para PT, urnas 'abafaram' uso do mensalão


Raphael Di Cunto

SÃO PAULO - Passadas as eleições municipais, o PT começa a reagir à condenação de ex-dirigentes do partido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por crimes no mensalão. Em nota divulgada ontem para exaltar o resultado eleitoral do partido, a executiva da sigla em São Paulo afirmou que a sociedade "falou em alto e bom tom" que "o PT não está e nunca esteve no banco dos réus". "A resposta a todos os ataques que sofremos foi dada pela população através da manifestação democrática: o voto", diz o texto.

Na análise do diretório estadual, a vitória em cidades importantes, como a capital São Paulo, mostra que "as urnas abafaram as vozes que tentaram fazer do julgamento um instrumento de desgaste e até, como muitos alardearam, de destruição do PT". Também aponta derrota "dos setores da imprensa que partidarizaram a leitura dos fatos".

A executiva nacional do PT também prepara uma nota, a ser divulgada após reunião na quinta-feira, com uma avaliação do resultado eleitoral e críticas ao "julgamento político" feito durante as eleições.

O presidente nacional do partido, Rui Falcão, disse ontem que não é possível precisar qual influência o julgamento teve na eleição. Destacou, porém, que o PT cresceu em número de prefeituras, enquanto o PSDB caiu. "O importante é que, a despeito da campanha que foi feita, fomos o partido que obteve o maior numero de votos no primeiro turno e somos o partido que vai governar o maior número de eleitores a partir de 2013", afirmou.

Para Falcão, o objetivo em 2013 será aprovar a reforma política, com ênfase no financiamento público de campanha. Ele nega que esse debate sirva para desviar o foco do resultado do julgamento pelo STF, que condenou dirigentes petistas por compra de apoio no Congresso com dinheiro público - os advogados dos réus defenderam a tese de que os recursos eram caixa dois de campanha.

Para destacar o enfraquecimento dos tucanos, o presidente do PT destacou a perda de influência no Estado de São Paulo, governado pelo PSDB desde 1994. Embora ainda seja o partido com maior número de prefeituras, com 27% das 645 cidades, houve queda em relação a 2008, além das derrotas do ex-governador José Serra (PSDB) na capital e em São José dos Campos, que era administrada pela legenda há 16 anos.

"[São José dos Campos] É a porta de entrada do Vale do Paraíba, reduto do governador Geraldo Alckmin [PSDB] e onde tínhamos dificuldade de entrar. Tínhamos duas prefeituras da região e agora passamos para nove", pontuou Falcão. O PT também manteve os prefeitos da segunda maior cidade do Estado, Guarulhos, e da quarta, São Bernardo do Campo.

A nota divulgada pela executiva estadual do PT classifica o resultado como "a pior derrota da história" para o PSDB e aliados.

Para o petista, isso consolida o partido no Estado e reforça a candidatura ao governo. Falcão evitou apontar favoritos para ser o candidato - há uma disputa velada entre os ministros da Educação, Aloizio Mercadante, da Cultura, Marta Suplicy, e Saúde, Alexandre Padilha, além do prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho.

O presidente do PT também desconversou se, com a vitória de Haddad, a tendência é o partido apostar em outro nome pouco conhecido eleitoralmente pra concorrer ao governo - seguindo modelo iniciado com a candidatura da então ministra-chefe da Casa Civil, a hoje presidente Dilma Rousseff, em 2010.

"Vamos fazer essa discussão no ano que vem, com análise do nosso programa e do que a população quer", afirmou. "A vitória do Haddad mostra que o PT tem capacidade de criar novos quadros, ao mesmo tempo que mantém como referência lideranças fortes, como o presidente Lula."

Falcão disse, porém, que o PT pode abrir mão de disputar o Senado em 2014 - na vaga que hoje é de Eduardo Suplicy- para um partido aliado, em troca de apoio na disputa pelo governo.

"Como em 2014 só tem uma vaga para o Senado, é provável que seja usada para uma composição", afirmou. Há setores que defendem essa troca com o PMDB, do deputado federal Gabriel Chalita, ou o PSD, do prefeito da capital, Gilberto Kassab, que é presidente nacional da sigla e já ensaia adesão à base aliada da presidente Dilma.

O PT deve investir nessa relação com o PSD, segundo Falcão. "Quanto mais ampla puder ser a aliança nacional, dentro do programa que a gente defende, melhor", afirmou, ao comentar que a prefeita reeleita de Ribeirão Preto (SP), Darcy Vera, recebeu apoio do PT com a promessa de que fará campanha para Dilma em 2014.

O dirigente petista diz ainda que o resultado desta eleição consolida a definição de candidatos por consenso, sem passar por prévias, instrumento em que os filiados escolhem o candidato. "[O modelo será] Primeiro, a busca de acordo. Segundo, realização de disputa no âmbito do encontro de filiados, e por último, a realização de prévias", pontuou.

O PT tem reduzido a importância das prévias desde 2011, quando aprovou regra para que, com apoio de dois terços dos delegados do partido, o pré-candidato seja escolhido sem passar por votação de todos os filiados.

O abandono das prévias causou celeuma na disputa em São Paulo, onde o ex-ministro da Educação Fernando Haddad, hoje prefeito eleito, foi alçado à candidatura contra a vontade da senadora Marta Suplicy. Pressionada por Lula a desistir de concorrer, Marta afastou-se da campanha por quase um ano - só declarou apoio no meio da eleição, e dois dias depois foi nomeada para o Ministério da Cultura.

Por outro lado, em Recife, onde houve prévias, o clima radicalizou-se. O atual prefeito, João da Costa, não apoiou o senador Humberto Costa depois de ser impedido pela direção nacional de concorrer à reeleição e a legenda foi para a disputa desunida. O PT foi derrotado já no primeiro turno para o PSB, do governador Eduardo Campos, possível candidato à Presidência.

Rui Falcão disse que pretende propor, no Congresso Nacional do PT em 2014, mudança no estatuto para que não ocorram prévias nas cidades onde o prefeito do partido disputa a reeleição, exceto nos casos em que "houver problema de natureza ética" ou o prefeito não quisar concorrer. "Só a chance de derrota não pode ser motivo", afirmou. Isso faria voltar a tese do "candidato nato", que o diretório nacional do PT vetou em outubro de 2011.

Fonte: Valor Econômico

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