Raphael Di Cunto
SÃO PAULO - Passadas as eleições municipais, o PT começa a reagir à
condenação de ex-dirigentes do partido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por
crimes no mensalão. Em nota divulgada ontem para exaltar o resultado eleitoral
do partido, a executiva da sigla em São Paulo afirmou que a sociedade
"falou em alto e bom tom" que "o PT não está e nunca esteve no
banco dos réus". "A resposta a todos os ataques que sofremos foi dada
pela população através da manifestação democrática: o voto", diz o texto.
Na análise do diretório estadual, a vitória em cidades importantes, como a
capital São Paulo, mostra que "as urnas abafaram as vozes que tentaram
fazer do julgamento um instrumento de desgaste e até, como muitos alardearam,
de destruição do PT". Também aponta derrota "dos setores da imprensa
que partidarizaram a leitura dos fatos".
A executiva nacional do PT também prepara uma nota, a ser divulgada após
reunião na quinta-feira, com uma avaliação do resultado eleitoral e críticas ao
"julgamento político" feito durante as eleições.
O presidente nacional do partido, Rui Falcão, disse ontem que não é possível
precisar qual influência o julgamento teve na eleição. Destacou, porém, que o
PT cresceu em número de prefeituras, enquanto o PSDB caiu. "O importante é
que, a despeito da campanha que foi feita, fomos o partido que obteve o maior
numero de votos no primeiro turno e somos o partido que vai governar o maior
número de eleitores a partir de 2013", afirmou.
Para Falcão, o objetivo em 2013 será aprovar a reforma política, com ênfase no
financiamento público de campanha. Ele nega que esse debate sirva para desviar
o foco do resultado do julgamento pelo STF, que condenou dirigentes petistas
por compra de apoio no Congresso com dinheiro público - os advogados dos réus
defenderam a tese de que os recursos eram caixa dois de campanha.
Para destacar o enfraquecimento dos tucanos, o presidente do PT destacou a
perda de influência no Estado de São Paulo, governado pelo PSDB desde 1994.
Embora ainda seja o partido com maior número de prefeituras, com 27% das 645
cidades, houve queda em relação a 2008, além das derrotas do ex-governador José
Serra (PSDB) na capital e em São José dos Campos, que era administrada pela
legenda há 16 anos.
"[São José dos Campos] É a porta de entrada do Vale do Paraíba, reduto
do governador Geraldo Alckmin [PSDB] e onde tínhamos dificuldade de entrar.
Tínhamos duas prefeituras da região e agora passamos para nove", pontuou
Falcão. O PT também manteve os prefeitos da segunda maior cidade do Estado,
Guarulhos, e da quarta, São Bernardo do Campo.
A nota divulgada pela executiva estadual do PT classifica o resultado como
"a pior derrota da história" para o PSDB e aliados.
Para o petista, isso consolida o partido no Estado e reforça a candidatura
ao governo. Falcão evitou apontar favoritos para ser o candidato - há uma
disputa velada entre os ministros da Educação, Aloizio Mercadante, da Cultura,
Marta Suplicy, e Saúde, Alexandre Padilha, além do prefeito de São Bernardo,
Luiz Marinho.
O presidente do PT também desconversou se, com a vitória de Haddad, a
tendência é o partido apostar em outro nome pouco conhecido eleitoralmente pra
concorrer ao governo - seguindo modelo iniciado com a candidatura da então
ministra-chefe da Casa Civil, a hoje presidente Dilma Rousseff, em 2010.
"Vamos fazer essa discussão no ano que vem, com análise do nosso
programa e do que a população quer", afirmou. "A vitória do Haddad
mostra que o PT tem capacidade de criar novos quadros, ao mesmo tempo que
mantém como referência lideranças fortes, como o presidente Lula."
Falcão disse, porém, que o PT pode abrir mão de disputar o Senado em 2014 -
na vaga que hoje é de Eduardo Suplicy- para um partido aliado, em troca de
apoio na disputa pelo governo.
"Como em 2014 só tem uma vaga para o Senado, é provável que seja usada
para uma composição", afirmou. Há setores que defendem essa troca com o
PMDB, do deputado federal Gabriel Chalita, ou o PSD, do prefeito da capital,
Gilberto Kassab, que é presidente nacional da sigla e já ensaia adesão à base
aliada da presidente Dilma.
O PT deve investir nessa relação com o PSD, segundo Falcão. "Quanto
mais ampla puder ser a aliança nacional, dentro do programa que a gente
defende, melhor", afirmou, ao comentar que a prefeita reeleita de Ribeirão
Preto (SP), Darcy Vera, recebeu apoio do PT com a promessa de que fará campanha
para Dilma em 2014.
O dirigente petista diz ainda que o resultado desta eleição consolida a
definição de candidatos por consenso, sem passar por prévias, instrumento em
que os filiados escolhem o candidato. "[O modelo será] Primeiro, a busca
de acordo. Segundo, realização de disputa no âmbito do encontro de filiados, e
por último, a realização de prévias", pontuou.
O PT tem reduzido a importância das prévias desde 2011, quando aprovou regra
para que, com apoio de dois terços dos delegados do partido, o pré-candidato
seja escolhido sem passar por votação de todos os filiados.
O abandono das prévias causou celeuma na disputa em São Paulo, onde o
ex-ministro da Educação Fernando Haddad, hoje prefeito eleito, foi alçado à
candidatura contra a vontade da senadora Marta Suplicy. Pressionada por Lula a
desistir de concorrer, Marta afastou-se da campanha por quase um ano - só
declarou apoio no meio da eleição, e dois dias depois foi nomeada para o
Ministério da Cultura.
Por outro lado, em Recife, onde houve prévias, o clima radicalizou-se. O
atual prefeito, João da Costa, não apoiou o senador Humberto Costa depois de
ser impedido pela direção nacional de concorrer à reeleição e a legenda foi
para a disputa desunida. O PT foi derrotado já no primeiro turno para o PSB, do
governador Eduardo Campos, possível candidato à Presidência.
Rui Falcão disse que pretende propor, no Congresso Nacional do PT em 2014,
mudança no estatuto para que não ocorram prévias nas cidades onde o prefeito do
partido disputa a reeleição, exceto nos casos em que "houver problema de
natureza ética" ou o prefeito não quisar concorrer. "Só a chance de
derrota não pode ser motivo", afirmou. Isso faria voltar a tese do
"candidato nato", que o diretório nacional do PT vetou em outubro de
2011.
Fonte: Valor Econômico
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