domingo, 28 de outubro de 2012

PSB e PT medem forças

Enquanto as atenções se voltam para a briga entre PT e PSDB, socialistas correm por fora para fortalecer projeto de Eduardo

Sérgio Montenegro Filho

Aos olhos de analistas políticos, a grande briga travada neste segundo turno das eleições municipais, que acontece hoje, ainda envolve PT e PSDB. Mas em paralelo, uma disputa velada coloca frente a frente petistas e socialistas, até agora aliados no bloco governista. Pavimentando o terreno para um voo nacional daqui a dois anos, o governador Eduardo Campos (PSB) fez questão de marcar presença nas principais eleições em que o PSB está envolvido pelo País, numa estratégia que não visa apenas ampliar o poder dos socialistas, mas também ajudar a “descolar” a imagem de Eduardo da do PT e lhe garantir espaço para trabalhar seu projeto.

De acordo com o cientista político Túlio Velho Barreto, da Fundação Joaquim Nabuco, as eleições municipais preparam o terreno para o pleito seguinte, medindo as condições de cada partido e dos seus eventuais candidatos a governador. O conjunto da disputa nos Estados, por sua vez, desenha o cenário da eleição presidencial. Baseado no exemplo de São Paulo, onde o petista Fernando Haddad enfrenta o tucano José Serra, Velho Barreto avalia que o principal confronto ainda é travado entre esses dois grandes rivais. “Agora, na centro-esquerda há uma disputa paralela, entre PT e PSB. Mas não é possível prever ainda se isso é para valer ou só para marcar posição”, afirma.

É claro que para o PT, um clima de paz com os socialistas seria o cenário mais confortável. Já para o PSB, os confrontos pontuais com os aliados têm servido para demarcar terreno e fortalecer o partido, que sonha em lançar a candidatura de Eduardo Campos a presidente ou vice em 2014. Mas também servem para cacifar a sigla dentro do próprio bloco governista, liderado pelo PT, que hoje têm o PMDB como principal coadjuvante.

Quanto aos planos de Eduardo, Velho Barreto prefere não fazer prognósticos, e acredita que nem o governador poderia fazê-lo neste momento. Mas lembra que ele passou os últimos dois anos anunciando apoio à reeleição do prefeito do Recife, João da Costa (PT), e, entanto, às vésperas da eleição vislumbrou uma chance para o PSB e a agarrou, emplacando o afilhado Geraldo Julio na PCR. “Eduardo também sinalizava que a reaproximação com Jarbas Vasconcelos só se daria em 2014. Mas viu a chance de antecipá-la e garantir o apoio do PMDB a Geraldo. Então, mesmo que ele mantenha o discurso de apoio a Dilma em 2014, o que garante que mais adiante não mude de posição?”, questiona.

O estudioso argumenta que o PSB foi um dos partidos que mais se fortaleceram, e lembra a afirmação de Eduardo, ao final do primeiro turno, de que a legenda estaria no jogo de 2014. “Enquanto os principais atores políticos do Estado jogavam damas, Eduardo jogava xadrez. E ele joga de acordo com as circunstâncias, sem movimentos aleatórios. É esse estilo que vai levando para o plano nacional”, conclui.

Clima tenso

A relação dúbia entre PSB e PT no segundo turno mostrou os socialistas como aliados fiéis em algumas cidades, reclamando de que não receberam a recíproca dos petistas. Um balanço feito na semana passada pelo próprio Eduardo Campos revelou o apoio do PSB a 11 candidatos do PT pelo País, ao tempo em que os petistas apoiaram apenas um dos oito candidatos socialistas na disputa. E mesmo assim, por força de uma determinação da direção nacional do partido.

O desabafo do governador foi interpretado por correligionários como mais um sinal de advertência aos petistas, e alimentou as especulações sobre um eventual rompimento no caminho de 2014. O que, na opinião de aliados, reforçaria a autoridade de Eduardo para assumir as rédeas da sua própria sucessão e, acima de tudo, reivindicar para o PSB uma maior participação nas articulações da disputa presidencial.

Fonte: Jornal do Commercio  (PE)

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