Sérgio Montenegro Filho
Aos olhos de
analistas políticos, a grande briga travada neste segundo turno das eleições
municipais, que acontece hoje, ainda envolve PT e PSDB. Mas em paralelo, uma
disputa velada coloca frente a frente petistas e socialistas, até agora aliados
no bloco governista. Pavimentando o terreno para um voo nacional daqui a dois
anos, o governador Eduardo Campos (PSB) fez questão de marcar presença nas
principais eleições em que o PSB está envolvido pelo País, numa estratégia que
não visa apenas ampliar o poder dos socialistas, mas também ajudar a “descolar”
a imagem de Eduardo da do PT e lhe garantir espaço para trabalhar seu projeto.
De acordo com o
cientista político Túlio Velho Barreto, da Fundação Joaquim Nabuco, as eleições
municipais preparam o terreno para o pleito seguinte, medindo as condições de
cada partido e dos seus eventuais candidatos a governador. O conjunto da
disputa nos Estados, por sua vez, desenha o cenário da eleição presidencial.
Baseado no exemplo de São Paulo, onde o petista Fernando Haddad enfrenta o
tucano José Serra, Velho Barreto avalia que o principal confronto ainda é
travado entre esses dois grandes rivais. “Agora, na centro-esquerda há uma disputa
paralela, entre PT e PSB. Mas não é possível prever ainda se isso é para valer
ou só para marcar posição”, afirma.
É claro que para o
PT, um clima de paz com os socialistas seria o cenário mais confortável. Já
para o PSB, os confrontos pontuais com os aliados têm servido para demarcar
terreno e fortalecer o partido, que sonha em lançar a candidatura de Eduardo
Campos a presidente ou vice em 2014. Mas também servem para cacifar a sigla
dentro do próprio bloco governista, liderado pelo PT, que hoje têm o PMDB como
principal coadjuvante.
Quanto aos planos de
Eduardo, Velho Barreto prefere não fazer prognósticos, e acredita que nem o
governador poderia fazê-lo neste momento. Mas lembra que ele passou os últimos
dois anos anunciando apoio à reeleição do prefeito do Recife, João da Costa
(PT), e, entanto, às vésperas da eleição vislumbrou uma chance para o PSB e a
agarrou, emplacando o afilhado Geraldo Julio na PCR. “Eduardo também sinalizava
que a reaproximação com Jarbas Vasconcelos só se daria em 2014. Mas viu a
chance de antecipá-la e garantir o apoio do PMDB a Geraldo. Então, mesmo que
ele mantenha o discurso de apoio a Dilma em 2014, o que garante que mais
adiante não mude de posição?”, questiona.
O estudioso argumenta
que o PSB foi um dos partidos que mais se fortaleceram, e lembra a afirmação de
Eduardo, ao final do primeiro turno, de que a legenda estaria no jogo de 2014.
“Enquanto os principais atores políticos do Estado jogavam damas, Eduardo
jogava xadrez. E ele joga de acordo com as circunstâncias, sem movimentos
aleatórios. É esse estilo que vai levando para o plano nacional”, conclui.
Clima
tenso
A relação dúbia entre
PSB e PT no segundo turno mostrou os socialistas como aliados fiéis em algumas
cidades, reclamando de que não receberam a recíproca dos petistas. Um balanço
feito na semana passada pelo próprio Eduardo Campos revelou o apoio do PSB a 11
candidatos do PT pelo País, ao tempo em que os petistas apoiaram apenas um dos
oito candidatos socialistas na disputa. E mesmo assim, por força de uma
determinação da direção nacional do partido.
O desabafo do
governador foi interpretado por correligionários como mais um sinal de
advertência aos petistas, e alimentou as especulações sobre um eventual
rompimento no caminho de 2014. O que, na opinião de aliados, reforçaria a
autoridade de Eduardo para assumir as rédeas da sua própria sucessão e, acima
de tudo, reivindicar para o PSB uma maior participação nas articulações da
disputa presidencial.
Fonte: Jornal do Commercio (PE)
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