terça-feira, 6 de novembro de 2012

Dilma chama o PMDB de olho na reeleição

Presidente se reúne hoje com caciques peemedebistas e petistas para aparar as arestas e acertar a manutenção da chapa na disputa eleitoral de 2014

Paulo de Tarso Lyra

A presidente Dilma Rousseff inicia hoje as articulações oficiais para a própria reeleição em 2014. Em um jantar no Palácio da Alvorada, Dilma vai receber as cúpulas do PT e do PMDB, as lideranças de ambos os partidos no Congresso e do governo, além do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para sacramentar a chapa que disputará a eleição daqui a dois anos. Dilma vai avisar que não quer mais brigas entre os dois principais partidos da base para que o governo funcione azeitado nos dois anos que restam desse primeiro mandato.

A presidente não quer problemas porque sabe das dificuldades para o próximo biênio, como mostrou o Correio na edição de domingo. Para que as turbulências econômicas internacionais não sejam maiores do que as atuais, que fizeram o Brasil patinar, Dilma sabe que precisa de tranquilidade na base aliada e no Congresso. Para reforçar o caráter institucional do encontro, ela convidou o ex-presidente Lula, patrocinador da dobradinha na chapa presidencial em 2010, para unificar ainda mais as duas legendas.

Dilma vai defender que os dois partidos precisam superar as disputas internas. O Planalto já conformou-se com o fato de que o PMDB presidirá a Câmara e o Senado a partir de fevereiro de 2013, respectivamente com Henrique Eduardo Alves (RN) e Renan Calheiros (AL). Na Câmara, Henrique ainda enfrenta algumas resistências de parte dos petistas, que temem que o governo fique refém do PMDB se o partido comandar as duas Casas do Congresso.

O presidente da Câmara tem sob seu controle um orçamento de R$ 4,9 bilhões, além da possibilidade de nomear 46 cargos. No caso do Senado, o montante sob controle da caneta presidencial é de R$ 3,5 bilhões, além de um quadro de 35 vagas para livre nomeação. Além disso, os dois têm sob seu comando a pauta de votações das Casas, podendo agradar, ou tensionar, ao Planalto ao definir quais projetos serão colocados para apreciação dos parlamentares. Por fim, o presidente da Câmara é o terceiro na linha sucessória presidencial. Neste mês, por exemplo, tanto a presidente Dilma quanto o vice Michel Temer viajarão para o exterior e o país será presidido, momentaneamente, pelo atual presidente da Câmara, Marco Maia (RS).

“Marolas”

Para evitar que os petistas atrapalhem o processo sucessório no Congresso, Dilma convidou, no início do ano, o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) para assumir a liderança do governo na Câmara. Quis, assim, evitar que o petista apresentasse seu nome para concorrer com Henrique Eduardo Alves. Alguns integrantes do PT acham que, se o deputado do PSB, Júlio Delgado (MG), confirmar a candidatura avulsa, os petistas poderiam ter alguma chance para apresentar uma terceira via para a presidência da Câmara. “Dilma está incomodada com esses movimentos de seu partido”, confidenciou um peemedebista ao Correio. “Ela sabe quem está fazendo essas ‘marolas’ e vai dizer claramente que isso tem de terminar”, completou o mesmo interlocutor.

Para aceitar o PMDB nas duas presidências, o PT já encontrou outra brecha para pirraçar com o aliado. A legenda defende que os três líderes do governo no parlamento sejam filiados ao partido. Hoje, o PT tem a liderança do governo na Câmara (Arlindo Chinaglia) e no Congresso (José Pimentel, do Ceará). Mas o PMDB ocupa a liderança do governo no Senado, com Eduardo Braga (AM).

Os nomes devem ser trocados, já que Dilma avisou que pretende promover um rodízio nos líderes do governo. Mas ainda não há sinais de quando isso ocorrerá e se ela aceitará a pressão do PT para ocupar os três cargos. Também é pouco provável que a presidente sinalize nesta noite a oferta do Ministério de Ciência e Tecnologia para Gabriel Chalita. Quem não quer nem saber de 2013 é o presidente do Senado, José Sarney (AP), que deixa o cargo em fevereiro. “Ninguém está discutindo isso porque não querem me ver pelas costas”, brincou ele.

Embates

Confira alguns pontos de divergência entre petistas e peemedebistas

» O PT reclama que o PMDB quer mais ministérios do que merece. O PMDB acredita que está subdimensionado e culpa o PT por ter cargos demais

» PMDB quer comandar as duas Casas do Congresso (Câmara e Senado). O PT acha perigoso o mesmo partido ter tanto poder assim

» O PT, em troca de abrir mão de disputar as presidências das duas Casas, quer ficar com as três lideranças do governo: Câmara, Senado e Congresso

» A bancada do PMDB, majoritariamente ruralista, votou diversas vezes contra o Código Florestal proposto pela presidente Dilma Rousseff

» Em diversos municípios, PT e PMDB estiveram em campos opostos durante as eleições para prefeito. O caso mais emblemático foi em Salvador, onde Geddel Vieira Lima apoiou ACM Neto no segundo turno

» Dilma cobrou recentemente do vice-presidente Michel Temer explicações sobre ACM Neto afirmar que ele, e não ela, seria o interlocutor do demista com o governo federal

» O PMDB, sobretudo a bancada fluminense do partido, é contra o projeto de distribuição de royalties defendido pelo Planalto

PSB só depois

A presidente Dilma Rousseff e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), devem se encontrar na sexta-feira, durante a reunião do Fórum dos Governadores do Nordeste, que será realizado em Salvador. Oficialmente, no entanto, será uma pauta administrativa: a seca que aflige a região.

Hoje, Dilma recebe o governador da Bahia, Jaques Wagner, para uma audiência exclusiva no Palácio do Planalto. Tratarão de investimentos em infraestrutura no estado, mas também farão um balanço das eleições municipais. O PT venceu em São Paulo, mas foi derrotado nas três maiores capitais nordestinas: Salvador, Fortaleza e Recife. Nas duas últimas, pelo PSB de Eduardo Campos.

O Planalto sabe que o governador Eduardo Campos emite sinais ambíguos, que poderão desaguar em uma candidatura própria à Presidência em 2014. Admite também que o PSB cresceu nas eleições municipais, especialmente no Nordeste, roubando um espaço antes ocupado pelo PT.

Mas esse crescimento, na avaliação de governistas, deu-se, sobretudo, sob o guarda-chuva do governo federal. O bom resultado no Nordeste decorre de o Ministério da Integração Nacional — uma das pastas mais atuantes na região — estar sob a tutela do PSB, comandado por um afilhado de Eduardo Campos, o ministro da Integração, Fernando Bezerra. Mas Dilma não quer romper com Eduardo. Sabe que, se chamar o governador pernambucano para uma conversa nesse momento, terá de colocá-lo na parede e cobrar uma definição. Prefere sentar-se à mesa com ele mais à frente, quando o PSB perder um pouco desse “sorriso de vitória”, como definiu um aliado da presidente.

Fonte: Correio Braziliense

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