Presidente se reúne hoje com caciques peemedebistas e petistas para aparar
as arestas e acertar a manutenção da chapa na disputa eleitoral de 2014
Paulo de Tarso Lyra
A presidente Dilma Rousseff inicia hoje as articulações oficiais para a própria
reeleição em 2014. Em um jantar no Palácio da Alvorada, Dilma vai receber as
cúpulas do PT e do PMDB, as lideranças de ambos os partidos no Congresso e do
governo, além do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para sacramentar a
chapa que disputará a eleição daqui a dois anos. Dilma vai avisar que não quer
mais brigas entre os dois principais partidos da base para que o governo
funcione azeitado nos dois anos que restam desse primeiro mandato.
A presidente não quer problemas porque sabe das dificuldades para o próximo
biênio, como mostrou o Correio na edição de domingo. Para que as turbulências
econômicas internacionais não sejam maiores do que as atuais, que fizeram o
Brasil patinar, Dilma sabe que precisa de tranquilidade na base aliada e no
Congresso. Para reforçar o caráter institucional do encontro, ela convidou o
ex-presidente Lula, patrocinador da dobradinha na chapa presidencial em 2010,
para unificar ainda mais as duas legendas.
Dilma vai defender que os dois partidos precisam superar as disputas internas.
O Planalto já conformou-se com o fato de que o PMDB presidirá a Câmara e o
Senado a partir de fevereiro de 2013, respectivamente com Henrique Eduardo
Alves (RN) e Renan Calheiros (AL). Na Câmara, Henrique ainda enfrenta algumas
resistências de parte dos petistas, que temem que o governo fique refém do PMDB
se o partido comandar as duas Casas do Congresso.
O presidente da Câmara tem sob seu controle um orçamento de R$ 4,9 bilhões,
além da possibilidade de nomear 46 cargos. No caso do Senado, o montante sob
controle da caneta presidencial é de R$ 3,5 bilhões, além de um quadro de 35
vagas para livre nomeação. Além disso, os dois têm sob seu comando a pauta de
votações das Casas, podendo agradar, ou tensionar, ao Planalto ao definir quais
projetos serão colocados para apreciação dos parlamentares. Por fim, o
presidente da Câmara é o terceiro na linha sucessória presidencial. Neste mês,
por exemplo, tanto a presidente Dilma quanto o vice Michel Temer viajarão para
o exterior e o país será presidido, momentaneamente, pelo atual presidente da
Câmara, Marco Maia (RS).
“Marolas”
Para evitar que os petistas atrapalhem o processo sucessório no Congresso,
Dilma convidou, no início do ano, o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) para
assumir a liderança do governo na Câmara. Quis, assim, evitar que o petista
apresentasse seu nome para concorrer com Henrique Eduardo Alves. Alguns
integrantes do PT acham que, se o deputado do PSB, Júlio Delgado (MG),
confirmar a candidatura avulsa, os petistas poderiam ter alguma chance para
apresentar uma terceira via para a presidência da Câmara. “Dilma está
incomodada com esses movimentos de seu partido”, confidenciou um peemedebista
ao Correio. “Ela sabe quem está fazendo essas ‘marolas’ e vai dizer claramente
que isso tem de terminar”, completou o mesmo interlocutor.
Para aceitar o PMDB nas duas presidências, o PT já encontrou outra brecha para
pirraçar com o aliado. A legenda defende que os três líderes do governo no
parlamento sejam filiados ao partido. Hoje, o PT tem a liderança do governo na
Câmara (Arlindo Chinaglia) e no Congresso (José Pimentel, do Ceará). Mas o PMDB
ocupa a liderança do governo no Senado, com Eduardo Braga (AM).
Os nomes devem ser trocados, já que Dilma avisou que pretende promover um
rodízio nos líderes do governo. Mas ainda não há sinais de quando isso ocorrerá
e se ela aceitará a pressão do PT para ocupar os três cargos. Também é pouco
provável que a presidente sinalize nesta noite a oferta do Ministério de
Ciência e Tecnologia para Gabriel Chalita. Quem não quer nem saber de 2013 é o
presidente do Senado, José Sarney (AP), que deixa o cargo em fevereiro.
“Ninguém está discutindo isso porque não querem me ver pelas costas”, brincou
ele.
Embates
Confira alguns pontos de divergência entre petistas e peemedebistas
» O PT reclama que o PMDB quer mais ministérios do que merece. O PMDB
acredita que está subdimensionado e culpa o PT por ter cargos demais
» PMDB quer comandar as duas Casas do Congresso (Câmara e Senado). O PT acha
perigoso o mesmo partido ter tanto poder assim
» O PT, em troca de abrir mão de disputar as presidências das duas Casas,
quer ficar com as três lideranças do governo: Câmara, Senado e Congresso
» A bancada do PMDB, majoritariamente ruralista, votou diversas vezes contra
o Código Florestal proposto pela presidente Dilma Rousseff
» Em diversos municípios, PT e PMDB estiveram em campos opostos durante as
eleições para prefeito. O caso mais emblemático foi em Salvador, onde Geddel
Vieira Lima apoiou ACM Neto no segundo turno
» Dilma cobrou recentemente do vice-presidente Michel Temer explicações
sobre ACM Neto afirmar que ele, e não ela, seria o interlocutor do demista com
o governo federal
» O PMDB, sobretudo a bancada fluminense do partido, é contra o projeto de
distribuição de royalties defendido pelo Planalto
PSB só depois
A presidente Dilma Rousseff e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos
(PSB), devem se encontrar na sexta-feira, durante a reunião do Fórum dos
Governadores do Nordeste, que será realizado em Salvador. Oficialmente, no
entanto, será uma pauta administrativa: a seca que aflige a região.
Hoje, Dilma recebe o governador da Bahia, Jaques Wagner, para uma audiência
exclusiva no Palácio do Planalto. Tratarão de investimentos em infraestrutura
no estado, mas também farão um balanço das eleições municipais. O PT venceu em
São Paulo, mas foi derrotado nas três maiores capitais nordestinas: Salvador,
Fortaleza e Recife. Nas duas últimas, pelo PSB de Eduardo Campos.
O Planalto sabe que o governador Eduardo Campos emite sinais ambíguos, que
poderão desaguar em uma candidatura própria à Presidência em 2014. Admite
também que o PSB cresceu nas eleições municipais, especialmente no Nordeste,
roubando um espaço antes ocupado pelo PT.
Mas esse crescimento, na avaliação de governistas, deu-se, sobretudo, sob o
guarda-chuva do governo federal. O bom resultado no Nordeste decorre de o
Ministério da Integração Nacional — uma das pastas mais atuantes na região —
estar sob a tutela do PSB, comandado por um afilhado de Eduardo Campos, o
ministro da Integração, Fernando Bezerra. Mas Dilma não quer romper com
Eduardo. Sabe que, se chamar o governador pernambucano para uma conversa nesse
momento, terá de colocá-lo na parede e cobrar uma definição. Prefere sentar-se
à mesa com ele mais à frente, quando o PSB perder um pouco desse “sorriso de
vitória”, como definiu um aliado da presidente.
Fonte: Correio Braziliense
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