quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Épica popular malograda - Michel Zaidan Filho

O título desse artigo é uma paráfrase à tese do escritor Ariano Suassuna sobre a Cultura Popular do Nordeste. Como o escritor paraibano (de Taperoá) é muito prestigiado pelo governador Eduardo de Acioly Campos e aliado da presidente Dilma Rousseff, achei apropriado iniciar este comentário sobre o modelo de inclusão social do PT (do novo PT?), com essa paráfrase.

Em primeiro lugar, é possível falar em novo PT a partir de uma nova forma de gestão no Brasil, iniciada pela atual presidenta da República, de  que seria a mais nova manifestação a eleição do ex-ministro  Fernando Haddad  para a Prefeitura de São Paulo? – É preciso considerar, antes de responder essa questão, os pilares em que se assenta tanto o modelo econômico (virtuoso?), como a natureza (republicana?) das alianças e coligações que sustentam e permitem a eleição de tais candidatos petistas.

Vejamos quais são as características desse modelo “redistributivo” do PT posto em prática a partir das sucessivas reduções de IPI e do abundante crédito subsidiado para o consumidor (a nova classe média?).  Como considerar virtuoso um modelo de “lesa-federação”, que faz cortesia com o chapéu alheio, ao  renunciar unilateralmente a cobrança de impostos,  que teriam de ser obrigatoriamente compartilhado com estados e municípios, num contexto de imensas necessidades sociais e de crescentes expectativas dos cidadãos pela prestação pública-estatal de bens juridicamente tutelados pelo Estado (educação, saúde, segurança, esgotamento sanitário, habitação popular, transporte público etc.)? Só se fôr uma redistribuição de cabeça para baixo: tirar de quem não tem, para dar a quem tem muito. Neste sentido, não compreende como o banco de fomento e empréstimo a logo prazo, como o BNDES, empresta 30.000.000,00, e o governo do estado isenta por 7 anos a cobrança de ICMS um grupo econômico privado, cujas atividades se destinam a uma clientela de alto poder aquisitivo? Mais problemático é a torrente de crédito ao consumidor para a aquisição  de produtos da chamada “linha branca”, imóveis e automóveis, ajudando às “pobres” empresas montadoras multinacionais a “desovar” seus estoques. Disse um analista. Comentando os milagres dessa política econômica, que se trata de uma modalidade de capitalismo de Estado (com semelhança ao da China), destinado a usar o fundo público para alavancar a economia do pais (?), enquanto a crise internacional não passa. De quebra, teriamos uma nova classe média (53 milhões de pessoas) disposta a comprar tudo e a votar no governo. E que o resto, seria preconceito da “velha classe média” contra esse fabuloso modelo de inclusão social, via crédito, renúncia fiscal e acesso a bens de consumo duráveis.

Faltou dizer que a qualidade dos serviços públicos (e o financiamento das políticas públicas) como forma republicana de inclusão social  foi deixada de lado por este  autêntico “American way life”. Daí essa caótica e infernal urbanização _ paraíso da especulação imobiliária -  vertical, que vem transformando as nossas cidades em reservatório de lixo, calor, barulho e incivilidade. Modelo que celebra  festivamente o casamento dos gestores públicos com agentes e promotores do tal “desenvolvimento econômico” sustentável. Seria isso a que chamam “choque de gestão”: privatizar serviços públicos e vender o estado e a cidade a empresários, investidores, turistas e outros?

Por essas e por outras, se é para falar do novo PT, do novo modo de governar e de um novo modelo econômico-social no Brasil, só se fôr através do  malogro – mais uma vez – de uma verdadeira épica popular.

Michel Zaidan Filho,sociólogo, historiador é professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

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