sexta-feira, 2 de novembro de 2012

PT desqualifica cooperação de Marcos Valério sobre mensalão

A cúpula do PT tentou desqualificar a tentativa do empresário Marcos Valério de fazer um acordo de delação premiada sobre o mensalão. Em depoimento não confirmado pelo Ministério Público Federal, ele teria citado a participação do ex-presidente Lula e de Antonio Palocci no esquema.

Valério teria falado após ter sido condenado a mais de 40 anos pelo Supremo. Ele teria dito que sofreu ameaças de morte.

Para PT, oferta de cooperação de Valério não merece crédito

Objetivo de empresário é se livrar da pena imposta pelo STF, dizem petistas

Jornal afirma que operador do mensalão citou Lula e Palocci em novo depoimento ao Ministério Público

BRASÍLIA, SÃO PAULO - A cúpula do PT procurou ontem desqualificar o novo depoimento que o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, condenado pelo Supremo Tribunal Federal por sua atuação como operador do mensalão, teria prestado à Procuradoria-Geral da República sobre o esquema.

Saindo em defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, alvo principal de um novo pedido de investigação de partidos de oposição, os petistas disseram que Valério está tentando se livrar da pena imposta pelo STF e por isso não merece credibilidade.

Ontem, o jornal "O Estado de S. Paulo" informou que Valério prestou novo depoimento ao Ministério Público em setembro. Os detalhes são mantidos em sigilo, mas, segundo o jornal, o empresário citou Lula e o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci.

O presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, disse duvidar que Valério tenha algo a acrescentar ao que já foi dito no julgamento do mensalão e ironizou o novo depoimento: "Se eu fosse condenado a 40 anos de prisão também estaria me mexendo".

O presidente nacional do PT, Rui Falcão, foi na mesma linha. "Não temos nada a temer", afirmou, num intervalo da reunião que a Executiva Nacional do partido fez ontem. "Tudo o que ele poderia ter falado falou no processo."

Apontado como o operador do mensalão, Valério foi condenado pelo STF por corrupção ativa, peculato, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Suas penas somam mais de 40 anos de prisão, mas ainda poderão ser revistas pelo STF.

Segundo "O Estado de S. Paulo", o empresário mencionou no depoimento outras remessas de recursos do mensalão ao exterior além das que foram feitas para o publicitário Duda Mendonça, que trabalhou na campanha de Lula em 2002 e foi absolvido.

De acordo com a reportagem, Valério também disse no depoimento que foi ameaçado de morte e mencionou o assassinato do prefeito petista de Santo André, Celso Daniel, morto em 2002.

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, afirmou por meio de sua assessoria de imprensa que não se pronunciará sobre o assunto. O advogado de Marcos Valério, Marcelo Leonardo, disse não ter "nada a declarar".

Valério enviou em setembro um fax ao Supremo dizendo-se disposto a depor novamente e pedindo proteção das autoridades, alegando que corre risco de vida.

Ministros do STF disseram à Folha que Valério quer entrar no programa federal de proteção a testemunhas para garantir tratamento especial na cadeia ou ser enviado a um lugar não identificado, evitando assim a prisão.

Ontem, o DEM e o PSDB recuaram da decisão de pedir ao Ministério Público Federal a abertura de inquérito para apurar se Lula participou do esquema do mensalão após serem informados do novo depoimento de Marcos Valério. O PPS afirma que vai entrar com o pedido, mesmo sem o apoio do DEM e PSDB. "Isso é problema deles, nós vamos protocolar a ação na terça-feira", disse o presidente do PPS, Roberto Freire (SP).

O presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), considerou "lamentável" a tentativa de vincular Lula ao mensalão: "Depois do julgamento, depois de todas as análises feitas, de todas as investigações feitas, eu diria que não cabe mais nenhum tipo de ilação sobre esse tema". O líder do PT na Câmara, deputado Jilmar Tatto (SP), disse que Valério "é uma pessoa desqualificada".

O PT decidiu adiar a publicação de um manifesto com críticas aos ministros do STF para depois que forem definidas as penas dos 25 condenados. O julgamento será retomado na quarta-feira.

Fonte: Folha de S. Paulo

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