domingo, 4 de novembro de 2012

Uma aula do Citi para a Febraban - Eli Gaspari

Há dois anos, quando uma enchente devastou áreas do Estado do Rio, a Federação Brasileira dos Bancos, a Febraban, avisou aos clientes cujas contas venciam naqueles dias que "os bancos estão impedidos de adiar pagamentos". Portanto, cobrariam juros de mora à patuleia que não conseguisse chegar às agências ou quitar suas dívidas nos canais de atendimento remoto disponíveis.

No dia seguinte, corrigiu-se, mas fez questão de lembrar que fizera o certo. Quem já tivesse pago com multa deveria se virar, negociando com o credor.

Na semana passada, os clientes do Citibank americano receberam uma mensagem intitulada "Estamos aqui para ajudar", informando o seguinte:

1) Elevara em US$ 5 mil o limite de crédito de todos os fregueses.

2) Devolveria as taxas resultantes de saques feitos em caixas eletrônicos da rede avulsa.

3) Suspendera a cobrança de taxas resultantes de cobranças de atrasos relacionadas com seus produtos.

Os bancos brasileiros esconderam-se sob o guarda-chuva da Febraban e, durante 24 horas, associaram-se a uma iniquidade.

O Citi americano foi à luta, defendendo seus clientes e sua marca.

Crime paulista

Antes que a doutora Dilma e Geraldo Alckmin se acertassem, a Secretaria de Segurança de São Paulo meteu-se num bate-boca com o Ministério da Justiça em torno da colaboração do governo federal para reduzir a violência no estado.

Tudo bem que se acredite que o crime organizado deriva da sua glamourização da bandidagem pela imprensa. Tudo bem que se magnifique o problema da entrada de drogas e armas pelas fronteiras. Nada disso elimina o fato de que neste ano já foram assassinados 89 policiais no estado, cinco dos quais durante o serviço.

No dia 29 de junho, o secretário de Segurança paulista enviou uma planilha com projetos para os quais solicitava ajuda federal. Para iniciativas conjuntas com a máquina federal, zero. Numa lista de supermercado de R$ 148,9 milhões, pedia as seguintes ferragens:

- R$ 9,1 milhões para compra de discos voadores destinados à "observação aérea nas ações de policiamento ambiental".

- R$ 74,5 milhões para rádios e equipamentos de comunicação.

- R$ 11,4 milhões para a compra de dez veículos blindados, trajes para proteção de desativadores de explosivos, seis canhões e robôs. Dois ônibus para os alunos e professores da Academia de Polícia.

- Mais a seguinte gracinha destinada à "implementação de cultura saudável, mediante a montagem de Núcleo de Condicionamento Físico na Academia de Polícia": R$ 348 mil para a aquisição de 42 itens de "musculação e acessórios de ginástica".

Aviso amigo

Se o doutor Gilberto Kassab não enquadrar sua infantaria, será sangrenta a transição na prefeitura de São Paulo.

Dilma no STF

De um ministro do Supremo Tribunal Federal:

"Chefe do Executivo, Dilma Rousseff irá à posse de Joaquim Barbosa na presidência do Supremo. Digo isso sem ter nenhuma informação. Se ela não for, posso lhe assegurar que seu principal assessor político já foi identificado por Guimarães Rosa. Mora no meio de um redemoinho e chama-se o Cão, Arrenegado, Tisnado, Mafarro, Danado, Satanazim ou, simplesmente, Ele."

Sábios

Ao se afastarem da cenografia da digestão do que se diz ser uma vontade de Marcos Valério de colaborar com a Justiça, os caciques do PSDB e do DEM quiseram evitar um clima de CPI do Cachoeira 2.0.

Ela foi criada para investigar o que a Polícia Federal já havia investigado, reuniu-se para salvar correligionários e acabou melancolicamente, para desgaste do Congresso.

A única coisa que ela descobriu foi que não queria descobrir nada.

Deixando-se Marcos Valério nas mãos do Ministério Público, todo mundo ganha.

2014

Quem fez a conta foi o repórter Cristian Klein:

O bloco formado por DEM, PP, PTB, PR e pelo estreante PSD conseguiu apenas 13% dos votos nas cidades com mais de 200 mil habitantes. Na eleição de 2000, tivera 25,1% dos votos.

Se existem esquerda e direita no quadro partidário brasileiro, nesse bloco há mais direita do que esquerda.

Moita

O senador Aécio Neves está na muda e procura falar pouco, mas isso não explica que sua página oficial na internet não seja atualizada desde julho de 2010.

Fica a impressão de que ele está no Rio.

Marighella, a biografia de um mito

Desde 1996, quando o historiador americano John W. Dulles publicou a sua notável biografia de Carlos Lacerda, não se via um retrato de político brasileiro como o que o repórter Mário Magalhães traçou no seu "Marighella - O guerrilheiro que incendiou o mundo". São 732 páginas de pesquisa minuciosa em que uma vida conta duas histórias, a do Partido Comunista e a do nascimento do surto terrorista que durou de 1967 a 1973. Nele, a Ação Libertadora Nacional, de Marighella, teve um dos papéis mais relevantes.

O objetivo de Mário Magalhães foi contar uma vida, não a julgar. Marighella tornou-se personagem de romance em 1954, aos 43 anos, quando Jorge Amado esculpiu o mulato baiano Carlos, na trilogia stalinista "Os subterrâneos da liberdade". A biografia segue um personagem fortemente documentado em dois acervos. De um lado, o da polícia política, que o perseguia. (Marighella viveu 57 anos, 33 dos quais no PCB, sete na cadeia e 19 na clandestinidade.) De outro, o dos seus correligionários, lapidadores de um mito heroico. Magalhães trabalhou durante nove anos, com 256 entrevistas, vasta leitura e pesquisas em arquivos brasileiros, americanos e russos.

O livro retrata um homem destemido e frugal que buscou o apoio de um psiquiatra quando o primeiro-ministro soviético Nikita Kruschev denunciou o stalinismo. Expansivo, fazia versos, e um deles teve como subtítulo "Sonata em três tempos - Quarteto de inúbia, ataque, berimbau e piano". Expunha-se, e, quando chegou a hora de assaltar bancos, foi lá e roubou um. Num camburão, adormeceu e sonhou ser o astronauta Yuri Gagarin dando voltas sobre a Terra.

Em março de 1964, Marighella era um dirigente do Partido Comunista e discutia o bombardeio do Palácio Guanabara. No dia 1º de abril, discursava em cima de caixotes. Um mês depois, estava preso. Formou a ALN tirando uma costela do Partidão, mobilizando jovens numa estrutura que Jacob Gorender classificou como "anarcomilitarismo". Ele pretendia começar a revolução movendo colunas guerrilheiras no campo. A ALN assaltou seu primeiro banco em 1967, e ele foi assassinado dois anos depois. Nenhuma coluna foi criada.

Quem quiser sapear o volume numa livraria pode ir ao capítulo "Os sobrinhos do titio Marighella", com a história de um assalto ao cinema Ópera, no Rio. A idade média do grupo era de 19 anos. Um "sobrinho" de 15 não podia entrar no filme em cartaz, "O bebê de Rosemary". Depois do incidente, dois deles foram jogar futebol na madrugada do Aterro.

Fonte: O GLOBO

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