Há dois anos, quando uma enchente devastou áreas do Estado do Rio, a
Federação Brasileira dos Bancos, a Febraban, avisou aos clientes cujas contas
venciam naqueles dias que "os bancos estão impedidos de adiar
pagamentos". Portanto, cobrariam juros de mora à patuleia que não
conseguisse chegar às agências ou quitar suas dívidas nos canais de atendimento
remoto disponíveis.
No dia seguinte, corrigiu-se, mas fez questão de lembrar que fizera o certo.
Quem já tivesse pago com multa deveria se virar, negociando com o credor.
Na semana passada, os clientes do Citibank americano receberam uma mensagem
intitulada "Estamos aqui para ajudar", informando o seguinte:
1) Elevara em US$ 5 mil o limite de crédito de todos os fregueses.
2) Devolveria as taxas resultantes de saques feitos em caixas eletrônicos da
rede avulsa.
3) Suspendera a cobrança de taxas resultantes de cobranças de atrasos
relacionadas com seus produtos.
Os bancos brasileiros esconderam-se sob o guarda-chuva da Febraban e,
durante 24 horas, associaram-se a uma iniquidade.
O Citi americano foi à luta, defendendo seus clientes e sua marca.
Crime paulista
Antes que a doutora Dilma e Geraldo Alckmin se acertassem, a Secretaria de Segurança
de São Paulo meteu-se num bate-boca com o Ministério da Justiça em torno da
colaboração do governo federal para reduzir a violência no estado.
Tudo bem que se acredite que o crime organizado deriva da sua glamourização
da bandidagem pela imprensa. Tudo bem que se magnifique o problema da entrada
de drogas e armas pelas fronteiras. Nada disso elimina o fato de que neste ano
já foram assassinados 89 policiais no estado, cinco dos quais durante o
serviço.
No dia 29 de junho, o secretário de Segurança paulista enviou uma planilha
com projetos para os quais solicitava ajuda federal. Para iniciativas conjuntas
com a máquina federal, zero. Numa lista de supermercado de R$ 148,9 milhões,
pedia as seguintes ferragens:
- R$ 9,1 milhões para compra de discos voadores destinados à
"observação aérea nas ações de policiamento ambiental".
- R$ 74,5 milhões para rádios e equipamentos de comunicação.
- R$ 11,4 milhões para a compra de dez veículos blindados, trajes para
proteção de desativadores de explosivos, seis canhões e robôs. Dois ônibus para
os alunos e professores da Academia de Polícia.
- Mais a seguinte gracinha destinada à "implementação de cultura
saudável, mediante a montagem de Núcleo de Condicionamento Físico na Academia
de Polícia": R$ 348 mil para a aquisição de 42 itens de "musculação e
acessórios de ginástica".
Aviso amigo
Se o doutor Gilberto Kassab não enquadrar sua infantaria, será sangrenta a
transição na prefeitura de São Paulo.
Dilma no STF
De um ministro do Supremo Tribunal Federal:
"Chefe do Executivo, Dilma Rousseff irá à posse de Joaquim Barbosa na
presidência do Supremo. Digo isso sem ter nenhuma informação. Se ela não for,
posso lhe assegurar que seu principal assessor político já foi identificado por
Guimarães Rosa. Mora no meio de um redemoinho e chama-se o Cão, Arrenegado,
Tisnado, Mafarro, Danado, Satanazim ou, simplesmente, Ele."
Sábios
Ao se afastarem da cenografia da digestão do que se diz ser uma vontade de
Marcos Valério de colaborar com a Justiça, os caciques do PSDB e do DEM quiseram
evitar um clima de CPI do Cachoeira 2.0.
Ela foi criada para investigar o que a Polícia Federal já havia investigado,
reuniu-se para salvar correligionários e acabou melancolicamente, para desgaste
do Congresso.
A única coisa que ela descobriu foi que não queria descobrir nada.
Deixando-se Marcos Valério nas mãos do Ministério Público, todo mundo ganha.
2014
Quem fez a conta foi o repórter Cristian Klein:
O bloco formado por DEM, PP, PTB, PR e pelo estreante PSD conseguiu apenas
13% dos votos nas cidades com mais de 200 mil habitantes. Na eleição de 2000,
tivera 25,1% dos votos.
Se existem esquerda e direita no quadro partidário brasileiro, nesse bloco
há mais direita do que esquerda.
Moita
O senador Aécio Neves está na muda e procura falar pouco, mas isso não
explica que sua página oficial na internet não seja atualizada desde julho de
2010.
Fica a impressão de que ele está no Rio.
Marighella, a biografia de um mito
Desde 1996, quando o historiador americano John W. Dulles publicou a sua
notável biografia de Carlos Lacerda, não se via um retrato de político
brasileiro como o que o repórter Mário Magalhães traçou no seu "Marighella
- O guerrilheiro que incendiou o mundo". São 732 páginas de pesquisa
minuciosa em que uma vida conta duas histórias, a do Partido Comunista e a do
nascimento do surto terrorista que durou de 1967 a 1973. Nele, a Ação
Libertadora Nacional, de Marighella, teve um dos papéis mais relevantes.
O objetivo de Mário Magalhães foi contar uma vida, não a julgar. Marighella
tornou-se personagem de romance em 1954, aos 43 anos, quando Jorge Amado
esculpiu o mulato baiano Carlos, na trilogia stalinista "Os subterrâneos
da liberdade". A biografia segue um personagem fortemente documentado em
dois acervos. De um lado, o da polícia política, que o perseguia. (Marighella
viveu 57 anos, 33 dos quais no PCB, sete na cadeia e 19 na clandestinidade.) De
outro, o dos seus correligionários, lapidadores de um mito heroico. Magalhães
trabalhou durante nove anos, com 256 entrevistas, vasta leitura e pesquisas em
arquivos brasileiros, americanos e russos.
O livro retrata um homem destemido e frugal que buscou o apoio de um
psiquiatra quando o primeiro-ministro soviético Nikita Kruschev denunciou o stalinismo.
Expansivo, fazia versos, e um deles teve como subtítulo "Sonata em três
tempos - Quarteto de inúbia, ataque, berimbau e piano". Expunha-se, e,
quando chegou a hora de assaltar bancos, foi lá e roubou um. Num camburão,
adormeceu e sonhou ser o astronauta Yuri Gagarin dando voltas sobre a Terra.
Em março de 1964, Marighella era um dirigente do Partido Comunista e
discutia o bombardeio do Palácio Guanabara. No dia 1º de abril, discursava em
cima de caixotes. Um mês depois, estava preso. Formou a ALN tirando uma costela
do Partidão, mobilizando jovens numa estrutura que Jacob Gorender classificou
como "anarcomilitarismo". Ele pretendia começar a revolução movendo
colunas guerrilheiras no campo. A ALN assaltou seu primeiro banco em 1967, e
ele foi assassinado dois anos depois. Nenhuma coluna foi criada.
Quem quiser sapear o volume numa livraria pode ir ao capítulo "Os
sobrinhos do titio Marighella", com a história de um assalto ao cinema
Ópera, no Rio. A idade média do grupo era de 19 anos. Um "sobrinho"
de 15 não podia entrar no filme em cartaz, "O bebê de Rosemary".
Depois do incidente, dois deles foram jogar futebol na madrugada do Aterro.
Fonte: O GLOBO
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