domingo, 9 de dezembro de 2012

Em Recife, vereadores cassados "retomam" mandatos

MEMÓRIA - Câmara do Recife reempossa seis ex-vereadores

Débora Duque

Seguindo o exemplo da Câmara Federal e da Assembleia Legislativa, a Câmara do Recife irá promover um ato simbólico, amanhã, para reempossar os vereadores cassados durante o regime militar. A data escolhida pela autora da iniciativa, a vereadora Marília Arraes (PSB), é emblemática por se tratar do Dia Interacional dos Direitos Humanos. Na solenidade, que acontecerá no plenário da Casa Joaquim Nabuco, serão "devolvidos" os mandatos de seis vereadores, entre eles o do jornalista e analista político Jarbas de Holanda e do advogado João Bosco Tenório.

Ambos confirmaram presença na homenagem. Os outros quatro ex-vereadores, já falecidos, serão representados por familiares. Integram a lista de homenageados o ex-funcionário da rede ferroviária Ivan Gonçalves Cidreiras (PST), Felício Coelho Medeiros (PTN), Luiz Sebastião Cavalcanti (PSB) e Alfredo Francisco da Silva (PSD), ex-sindicalista portuário.

Morando em São Paulo, o ex-vereador Jarbas de Holanda relembra a história de sua cassação. Na época, era bastante visado pelos militares por pertencer aos quadros do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Foi eleito, no entanto, pelo PTB janguista, já que o "partidão" estava na clandestinidade. "Eu fiquei como líder da bancada pró-Pelópidas. Ele e Arraes já haviam sido presos e fui o único a votar contra a cassação. Ainda consegui fugir da Câmara, mas dias depois terminei sendo preso no Cais de Santa Rita", recorda. Enviado à sede do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), terminou conseguindo, posteriormente, o direito à prisão domiciliar.

Em 1968, chegou a ser preso novamente, na capital paulista. Quando veio a anistia, em 79, Jarbas conta que seu radicalismo político já estava se esvaindo. Defendeu, ao lado de Roberto Freire (PPS), a reforma na linha programática do PCB, o que lhe rendeu acusações de "direitista" dentro da antiga legenda da qual desligou-se no início dos anos 90. "Hoje tenho uma visão crítica sobre esse esquerdismo", repensa.

Cassado em 1967, João Bosco Tenório era líder estudantil e foi eleito, à época, pelo MDB. Quando saiu a notícia de sua cassação, estava no Rio de Janeiro. "Fui cassado por absoluta fidelidade ao que queria fazer e não deixavam. Chamava a administração municipal de corrupta", conta. Mesmo após a anistia, Tenório, que hoje mantém um escritório de advocacia na Boa Vista, diz que nunca se desvinculou do PMDB nem de suas lideranças, como o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB). "Ninguém se perde no caminho da volta. Voltar à Câmara é uma maneira de renascer", afirma.

Na solenidade de reemposse, marcada para às 9 horas, também estarão presentes o presidente da Comissão Estadual da Verdade, Fernando Coelho, e a secretária municipal de Direitos Humanos, Amparo Araújo. Na ocasião, a vereadora Marília Arraes informou que pedirá à Comissão uma investigação a respeito da deposição do ex-governador Miguel Arraes (PSB), seu avô, e também sobre a morte dos líderes estudantis Ivan Rocha Aguiar e Jonas Albuquerque.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

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