terça-feira, 17 de abril de 2012

OPINIÃO DO DIA - Eduardo Graeff: A língua do PT

Nunca diga “corrupção” quando um companheiro estiver envolvido. Soa grosseiro, preconceituoso, udenista. Prefira “malfeito”, no tom ligeiramente condescendente de mãe dando bronca em filho: “Que malfeito, menino!”

Mas evite chamar companheiro de “malfeitor”. “Corrupto”, nem pensar, claro. Se for inevitável adjetivar, tente “aloprado” ou qualquer coisa do mesmo campo semântico, denotando mais falta de jeito do que de escrúpulo.

“Mensalão”, só pronuncie para abjurar, como ontem mesmo o companheiro Jilmar Tatto: “Isso que é chamado de mensalão, e que nós, petistas, repudiamos e afirmamos que não existiu, tem sua própria rotina. Será julgado pelo STF. Se quisermos falar desse episódio, temos de tratar de financiamento de campanha, e não de ocupação da máquina do Estado, como queria o Cachoeira. Mensalão é caixa 2, é outra coisa”.

“Hegemonia”, na língua do PT, é isso: a pretensão de reescrever numa penada o dicionário e a história do Brasil.

Cada louco com a sua mania… Essa pelo menos facilita a vida dos institutos de pesquisa. O entrevistador chega numa esquina movimentada e pergunta: “Quem aí acredita que o mensalão não existiu?” Quem levantar a mão é petista.

GRAEFF, Eduardo, mestre em ciência política pela Universidade de São Paulo, no Blog eAgora, 13/4/2012.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Argentina expropria petroleira e provoca crise com Espanha
Delta financia fazenda de Cachoeira
Comissão de Ética analisa caso de Ideli
No STF, pressa para julgar o mensalão
País poderá ter mais 80 aeroportos

FOLHA DE S. PAULO
Argentina toma controle de petroleira espanhola
Hillary quer acordo de livre-comércio entre EUA e Brasil
Indicadores mostram que a economia ainda patina
Site da Receita falha, e entrega do Simples pode ser feita até 6ª
Parte de dinheiro da Delta foi para irmão de Cachoeira
Comissão de Ética Pública vai analisar conduta de Ideli na compra de lanchas

O ESTADO DE S. PAULO
Argentina estatiza petrolífera e Espanha ameaça retaliar
Comissão de Ética investiga Ideli no caso das lanchas
Base aliada agora tenta abafar CPI do Cachoeira
Comissão aprova tolerância zero na lei seca
Aldo diz que governo quer regular gestão do futebol

VALOR ECONÔMICO
Governo agora planeja ajuda a empresas aéreas
Guerra dos portos segue sem solução
Argentina reestatiza YPF e torna petróleo de 'interesse público'
O desleixo do brasileiro com a saúde
BNDES eleva crédito à infraestrutura
Mercado debate piso da Selic

CORREIO BRAZILIENSE
Cachoeira na Papuda, e CPI na berlinda
Lula visita Sarney, após operações
Mais confusão no concurso do Senado
PIB continua decepcionando
Mais 13 cursos terão residência

ESTADO DE MINAS
Uma denúncia de erro em hospital a cada dois dias
Petistas negam recuo e garantem abertura de CPI
Argentina toma controle de petroleira espanhola
Fórmula para nota do Enem vai mudar
PIB em queda

ZERO HORA (RS)
Planalto traça plano para controlar CPI incentivada por Lula
Argentina nacionaliza petroleira espanhola
Indicador projeta PIB brasileiro ainda fraco
MST mira laboratório de pesquisa

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Prefeito apoia obra no Cais José Estelita
Celpe pede reajuste da luz de 5,61%
João da Costa e Rands ganham reforço de peso
Abril vermelho

No STF, pressa para julgar o mensalão

O ministro Ayres Britto, que assume quinta-feira a presidência do STF, tem pedido aos colegas que elaborem logo seus votos para que o julgamento do mensalão, relatado por Joaquim Barbosa, ocorra ainda neste semestre.

Mensalão: ministros do STF pressionados a votar


Voto do relator, Joaquim Barbosa, tem cerca de 500 páginas; presidente Ayres Britto quer julgar caso ainda no 1 semestre

Carolina Brígido, Isabel Braga e Cristiane Jungblut

BRASÍLIA. Interessado em marcar o julgamento do mensalão para o primeiro semestre deste ano, o ministro Carlos Ayres Britto, que assumirá a presidência do Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quinta-feira, tem trabalhado nos bastidores para viabilizar seu desejo. A despeito das pressões exercidas, direta ou indiretamente, pelos políticos envolvidos no escândalo e seus advogados, Ayres Britto, com a ajuda do relator do processo, Joaquim Barbosa, tem conversado com os demais colegas para verificar se já estão trabalhando em seus votos para o julgamento no plenário.

Ou seja: internamente, todos os ministros estão sendo pressionados para fazer sua parte. Em especial Ricardo Lewandowski, o relator revisor do processo. Recentemente, ele ouviu de um colega uma cobrança mais dura para que entregue logo o voto:

- O senhor não quer entrar para a História como coveiro do mensalão, né?

Em dezembro do ano passado, Lewandowski recebeu de Barbosa o relatório do caso. Agora, precisa elaborar um voto minucioso e entregá-lo à presidência do tribunal para que o julgamento seja marcado. O voto do relator Joaquim Barbosa está quase pronto e terá cerca de 500 páginas.

Lewandowski não diz quando vai terminar o trabalho, mas anunciou que quer fazer isso ainda neste semestre, mesmo com a dificuldade do tamanho do processo. São 38 réus, mais de 600 depoimentos de testemunhas e cerca de 50 mil páginas para serem estudadas.

Ayres Britto não quer que o julgamento seja adiado para o segundo semestre, quando já estará em curso o processo eleitoral. Diante de tantas cobranças - da opinião pública e dos colegas -, Lewandowski decidiu se dedicar mais. Amanhã, quando for substituído na presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pela ministra Cármen Lúcia, não voltará à bancada da Corte. Renunciará ao posto para ficar integralmente no Supremo.

Julgamento ocorrerá mesmo com dez ministros na Corte

Em entrevista ao GLOBO publicada no último domingo, Ayres Britto não só afirmou que deseja julgar o processo do mensalão até 6 de julho, quando a campanha eleitoral começa oficialmente, como pretende manter o julgamento mesmo que o STF esteja apenas com dez ministros. No segundo semestre, a Corte deverá trabalhar com dez integrantes porque o atual presidente do STF, Cezar Peluso, vai se aposentar. Ainda assim, disse Ayres Britto, ele manterá o julgamento em pauta, caso não seja possível concluí-lo no primeiro semestre:

- O ideal é o número 11, ímpar. Mas, se só tiver dez, qual o presidente que vai esperar nomear o substituto do ministro Peluso, que você não sabe quando vai acontecer, e deixar o processo sem julgamento? - disse Ayres Britto.

FONTE: O GLOBO

Comissão de Ética analisa caso de Ideli

A Comissão de Ética Pública da Presidência abriu procedimento preliminar para analisar a conduta da ministra Ideli Salvatti na compra de lanchas pelo Ministério da Pesca - e decidir se abre investigação ética sobre o caso.

Comissão de Ética vai analisar conduta de Ideli


Órgão decidirá se abrirá procedimento sobre superfaturamento de lanchas; Pimentel terá de dar novas explicações

Luiza Damé

BRASÍLIA. A Comissão de Ética Pública da Presidência abriu ontem procedimento preliminar para analisar a conduta da ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, no episódio que envolve a polêmica compra de 28 lanchas pelo Ministério da Pesca, já contestadas pelo Tribunal de Contas União (TCU). A decisão da comissão provocou uma reação da assessoria da ministra, que procurou os integrantes da comissão para esclarecer a medida tomada pelo colegiado. O advogado de Ideli, Marcos Joaquim Alves, telefonou para o presidente do colegiado, Sepúlveda Pertence, protestando contra termos usados pela imprensa.

- Ele (advogado de Ideli) protestou, eu ouvi, contra a expressão "acolheu a representação". Não nego que o advogado protestou. Achava desnecessário, mas não vejo nada de extraordinário - disse Sepúlveda, ao responder que a pressão de Ideli foi maior que em outros casos.

Divulgada a decisão da comissão de receber a representação do PSDB contra a ministra, a assessoria de imprensa de Ideli procurou os jornalistas para contestar expressões como "acolheu representação" e "abriu investigação". O advogado da ministra passou a tarde conversando com os conselheiros.

- Aplicamos a prerrogativa do advogado de se comunicar com o juiz. Não pretendemos ser juiz, mas fazemos as vezes de juiz, sem marcar audiência - justificou Sepúlveda.

Em março, o Tribunal de Contas da União (TCU) constatou irregularidades na compra de 28 lanchas pelo Ministério da Pesca, ao custo de R$ 31,1 milhões, para fiscalizar o litoral e impedir a pesca ilegal. A empresa Intech Boating, fabricante das lanchas, contribuiu para a campanha do PT, em Santa Catarina, nas eleições de 2010, quando Ideli concorreu ao governo do estado.

A compra das lanchas foi feita de dezembro de 2008 a março de 2011. Ideli foi ministra da Pesca entre janeiro e junho do ano passado. Entre as irregularidades apontadas pelo TCU está o superfaturamento de R$ 1 milhão.

- Com relação à ministra Ideli, está em fase preliminar. Ela apresentou esclarecimentos voluntariamente, e o relator deverá (apresentar seu voto) para ver se abrimos procedimento ético - disse Sepúlveda após a primeira parte da reunião.

O assunto deverá entrar na pauta da próxima reunião da comissão, em 14 de maio. O relator disse que não se sentiu pressionado pelo advogado da ministra.

- Fui juiz 15 anos e nunca fui pressionado. Se fui, não teve o menor efeito - disse Lacombe.

A assessoria de Ideli divulgou ontem certidão assinada pelo presidente do TCU, Benjamin Zymler, atestando que o nome da ministra não aparece "como responsável em nenhum processo de fiscalização" do tribunal. Segundo a assessoria, essas investigações embasam a representação do PSDB à Comissão de Ética. Em nota, a assessoria destaca que "a ministra entregou sua defesa prévia" à comissão.

Conselheiro Fábio Coutinho quer mais dados de Pimentel

Na mesma reunião da Comissão de Ética, o conselheiro Fábio Coutinho anunciou que pedirá mais informações ao ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, sobre consultorias que lhe renderam R$ 2 milhões antes de integrar o governo Dilma Rousseff. Segundo Sepúlveda, Pimentel apresentou, dentro do prazo de dez dias, esclarecimentos pedidos pela comissão sobre o seu trabalho como consultor, mas o relator pediu outras informações.

Em dezembro do ano passado, com base em reportagens do GLOBO, o PSDB entrou com representação da Comissão de Ética, pedindo apuração das consultorias feitas por Pimentel entre sua saída da prefeitura de Belo Horizonte e a posse no ministério. Nesse período, ele faturou R$ 2 milhões, metade paga pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), por consultoria na elaboração de projetos na área tributária e palestras nas regionais da entidade. As palestras não ocorreram.

O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior disse, em nota, que Pimentel enviou dentro do prazo previsto "os esclarecimentos relativos aos serviços prestados como economista entre 2009 e 2010 - período em que não exercia qualquer função pública". Informa ainda que o ministro vai responder à solicitação enviada ontem pela comissão.

A comissão, segundo Sepúlveda, não chegou a analisar o caso do subchefe de Assuntos Federativos da Secretaria de Relações Institucionais, Olavo Noleto, que admitiu ter "relações políticas" com Wladimir Garcez, o segundo no esquema do bicheiro Carlinhos Cachoeira:

- Desse assunto aquático, só entrou o Ministério da Pesca.

A comissão aplicou censura ao ex-diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) Luiz Antônio Pagot, pela declaração de que não cumpriria a quarentena ao deixar o governo, embora depois tenha dito à comissão que estava pronto a cumprir a regra. Foi arquivado o procedimento em relação à ministra da Cultura, Ana de Hollanda, que recebeu oito camisetas do Império Serrano.

- O procedimento foi arquivado por não se encontrar falta ética - disse Sepúlveda.

FONTE: O GLOBO

Base aliada agora tenta abafar CPI do Cachoeira

Diante do alerta do Palácio do Planalto sobre os riscos de desgaste do governo, tomou corpo no Congresso, com ajuda da base aliada, uma operação abafa na CPI do Cachoeira, a ser instalada nos próximos dias. Uma das estratégias é poupar políticos de diversos partidos citados na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal. Entre eles, os governadores Agnelo Queiroz (PT-DF) e Marconi Perillo (PSDB-GO).

Risco da CPI faz base aliada negociar "operação abafa" para poupar políticos


Corrupção. Nem bem começou e a Comissão Parlamentar de Inquérito do Cachoeira, que antes prometia ser palco da rivalidade política entre PT e PSDB, agora pode virar pizza; temor do Planalto com desdobramentos da investigação alertou governistas

Eugênia Lopes, João Domingos e Evandro Fadel

BRASÍLIA / CURITIBA - Diante do alerta do Palácio do Planalto sobre os riscos de desgaste do governo, tomou corpo no Congresso, com ajuda da base aliada, uma "operação abafa" na Comissão Parlamentar de Inquérito do Cachoeira, a ser instalada nos próximos dias. Uma das estratégias é poupar políticos de diversos partidos citados na Operação Monte Carlo da Polícia Federal, que levou à prisão o contraventor Carlinhos Cachoeira.

Ficariam fora do radar deputados flagrados em escutas com integrantes do esquema, os governadores petista Agnelo Queiroz (DF) e o tucano Marconi Perillo (GO), além do ex-ministro José Dirceu. A única exceção seria o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), que teve 298 conversas telefônicas com Cachoeira grampeadas pela PF nos últimos três anos. O senador está sendo investigado também pelo Conselho de Ética e pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

A "operação abafa" é resultado da pressão da presidente Dilma Rousseff para que setores do PT defensores da CPI do Cachoeira tenham calma e não usem a comissão como palco de vingança, o que poderia causar danos políticos ao governo.

Dilma conversou com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a CPI na sexta-feira, em São Paulo, conforme revelou o Estado.

O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), defendeu ontem que a CPI investigue os negócios de Cachoeira e não se transforme numa disputa política entre governo e oposição. "Queremos é desmantelar esta rede de poder paralelo que foi constituída por esse cidadão chamado Cachoeira e que vai desde o Legislativo, passa pelo Executivo e pelo Judiciário, pelo setor privado e pela imprensa brasileira."

"Todos serão investigados independente de onde estejam, de qual papel tenham cumprido", afirmou Maia, a despeito da operação abafa em curso no Congresso. Ele negou que o PT queira barrar as investigações.

Até a semana passada arauto de uma investigação que atingisse as entranhas da oposição, o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP), adotou um discurso conciliador. "Acho um exagero chamar o Agnelo Queiroz (governador do Distrito Federal, do PT) e o Marconi Perillo (governador de Goiás, do PSDB)", disse o líder, ao responder se os dois deveriam ser convocados pela CPI. Em seguida, porém, retomou a luta política: "O envolvimento do governador do PSDB com Cachoeira é muito maior. É mais razoável chamar o Marconi do que o Agnelo".

O movimento em gestação no Congresso visa a salvar os políticos ao mesmo tempo em que tentará fazer com que a CPI concentre suas investigações no contraventor Carlinhos Cachoeira e nos empresários mais citados nos grampos da Polícia Federal, como Fernando Cavendish, dono da Delta Construções S.A. e Cláudio Abreu, representante da empresa no Centro-Oeste.

Entre os parlamentares poupados, neste momento, estão os tucanos Carlos Alberto Leréia (GO), que admitiu ser mesmo amigo de Cachoeira e saber que ele estava envolvido com o jogo ilegal, e Leonardo Vilela (GO), pré-candidato à prefeitura de Goiânia. Também foram citados nas gravações Jovair Arantes (GO), líder do PTB na Câmara, Sandes Júnior (PP-GO), Rubens Otoni (PT-GO), gravado em vídeo negociando financiamento de campanha com o empresário preso, e Stepan Nercessian (PPS-RJ), que tomou um empréstimo de R$ 175 mil do contraventor.

Oposição. O líder do DEM na Câmara, ACM Neto (BA), disse ter a certeza de que o governo usará a imensa maioria que terá na CPI para impedir investigações mais aprofundadas. Dos 30 titulares da CPI, os partidos de oposição vão nomear apenas 6. Caberá ao governo preencher as outras 24 vagas.

O presidente do Conselho de Ética do Senado, Antonio Carlos Valadares (PSB-SE), e os senadores Vital do Rego (PMDB-PB) e Humberto Costa (PT-PE) encontram-se hoje com o ministro do Supremo Tribunal Federal Ricardo Lewandowski para pedir acesso ao inquérito que apura as relações de Cachoeira com políticos. A investigação está sob sigilo.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Paulo Bernardo será investigado por uso de jatinho de construtora

José Ernesto Credendio

BRASÍLIA - O Ministério Público Federal em Brasília abriu inquérito para apurar se houve improbidade administrativa do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, ao usar o jato de uma construtora.

O Código de Conduta da Alta Administração Federal proíbe essa atitude. "Nenhuma autoridade pode receber transporte [...] ou qualquer outro favor de fonte privada", prevê a norma.

A construtora Sanches Tripoloni faz obras públicas com recursos federais no Paraná, base eleitoral do ministro e de sua mulher, ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil).

Em julho do ano passado, a Folha revelou que a consultora Teresinha Nerone, amiga de Bernardo e Gleisi, trabalhou para convencer o Ministério dos Transportes a reajustar os valores de uma obra da Sanches Tripoloni.

Ontem, o ministro disse que não poderia comentar o inquérito, o qual declarou ainda desconhecer.

Em 2011, quando o voo foi revelado pela revista "Época", Bernardo divulgou nota em que disse ter viajado em 2010, em finais de semana, feriado e férias, em aviões fretados pela campanha do PT. Ele disse não saber quem eram os donos dos aviões.

A construtora afirmou que não comentaria o caso.

O inquérito que envolve Bernardo, porém, deve acabar sendo encaminhado à Procuradoria-Geral da República, instância máxima do Ministério Público.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

MST invade em 15 Estados e governo suspende negociações

Alfredo Junqueira, Angela Lacerda, Clarissa Thomé, Elder Ogliari, Evandro Fadel, João Naves de Oliveira, Rosana de Cassia, Sandro Villar e Tiago Décimo

Jornada de Lutas" de sem-terra ocupa ainda ministério e 5 sedes do Incra; governo diz que só dialoga se eles saírem

O Movimento dos Sem-Terra (MST) intensificou ontem a onda de ocupações do "abril vermelho" com protestos em 15 Estados. A ação começou com a invasão do Ministério do Desenvolvimento Agrário, em Brasília, e inclui - segundo lideranças do movimento - 38 ocupações de terra, cinco de sedes do Incra e quatro protestos em prédios públicos, além de bloqueio de estradas e acampamentos.

Na invasão do ministério, o MST pediu audiência com a presidente Dilma Rousseff mas foi logo informado pelo ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) de que não haverá diálogo enquanto o prédio e as sedes do Incra estiverem ocupados. "Não posso me sentar com o movimento enquanto ele estiver ocupando", explicou.

Em advertências anteriores, o MST informou também que as operações de 2012 representam uma represália à decisão do governo federal de congelar 70% das verbas do Incra destinadas a desapropriações. Ainda assim, Carvalho deixou a porta aberta: "Assim que desocuparem, retomaremos a negociação. Vamos fazer de tudo para atender às reivindicações justas deles".

O ministro da área, Pepe Vargas, divulgou uma nota na qual diz contar com o bom senso dos invasores e com a desocupação espontânea do ministério.

Jornada. "Abril vermelho" é como os sem-terra denominam as ações da chamada "Jornada de Lutas" em defesa da reforma agrária e para lembrar o massacre de Eldorado de Carajás, no Pará - que deixou 21 mortos, em abril de 1996.

Nos Estados, a operação começou no sábado. Em Pernambuco, com a ocupação de fazenda em Gravatá - onde outras cinco propriedades foram ocupadas ontem. Em Salvador, cerca de 3 mil integrantes de quatro associações de sem-terra acamparam ontem diante da sede do Incra. Segundo o MST baiano, a ocupação não tem data para acabar.

Também ontem, cerca de 300 militantes ocuparam, de forma pacífica, a superintendência do Incra no centro do Rio. "No Rio, há cinco anos não há assentamento de nenhuma família ligada ao MST", disse a coordenadora Amanda Matheus. Parte das ruas de Curitiba também foi ocupada ontem por pelo menos 500 manifestantes.

Em São Paulo, no Pontal do Paranapanema, cerca de 600 sem-terra invadiram sábado, novamente, a fazenda São Domingos, em Sandovalina. A ação de reintegração de posse seria encaminhada à Justiça ontem. Grupo de quase 600 pessoas também ocupa desde sábado área próxima a uma fazenda em Bataiporã (MS). Os assentamentos no Estado estão parados desde 2010.

No Rio Grande do Sul houve invasões em Sarandi e Santa Margarida do Sul, além de protestos em Santana do Livramento e São Gabriel. Segundo o MST, houve também ações no Ceará, Maranhão, Paraíba, Rondônia, Mato Grosso, Minas, Rio Grande do Norte e Pará.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Emprego formal cai 27%

Vagas na indústria despencam. Serviços ainda são destaque


Geralda Doca

BRASÍLIA. O país fechou o primeiro trimestre do ano com a criação de 381.241 empregos com carteira assinada - queda de 27,46% em relação ao saldo de igual período de 2011, de 525.565. Em março, foram abertas 111.746 vagas, acima das 92.675 do mesmo mês de 2011, devido principalmente ao bom desempenho do setor de serviços. Já a indústria registrou saldo negativo e foi seguida pela agricultura.

Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, revelam que a indústria foi o setor mais atingido pela desaceleração do emprego com carteira nos primeiros três meses do ano. O saldo recuou 59,27%, caindo de 127.753 contratações no acumulado de janeiro a março de 2011 para 52.023. O comércio tem resultado negativo de 36.578 postos, desempenho pior do que os 4.553 desligamentos do primeiro trimestre de 2011.

A agricultura, que no primeiro trimestre de 2011 respondera por 40.561 postos, inverteu o desempenho e ficou com saldo negativo de 5.191. Mesmo no setor de serviços, que segue puxando o emprego com carteira assinada, houve desaceleração de 11,22%.

A exceção foi a construção civil, cujo saldo subiu 57,24% frente ao primeiro trimestre de 2011, com 105.945 novas vagas.

No mês passado, a indústria fechou 5.048 vagas, enquanto que em igual período de 2011 o saldo fora de 14.448 contratações. O subsetor de produtos alimentícios foi o ramo mais atingido, com a eliminação de 25.211 postos, principalmente na fabricação de açúcar no Nordeste. O corte de 17.084 postos na agricultura no mês passado atingiu sobretudo o cultivo de laranja (São Paulo) e de outras frutas no Sul.

Em março, os empregos foram salvos pelo setor de serviços, com saldo de 83.182, puxado pelas contratações em administração de imóveis, ensino, transporte e alimentação e hotéis e restaurantes. A construção civil respondeu por 35.935 vagas e o comércio, por 6.412.

O Sudeste foi a região que mais contratou em março, em especial São Paulo (47.279), à frente de Minas Gerais (22.674), Rio Grande do Sul (16.875), Paraná (14.851), Goiás (12.715) e Rio (12.010).

FONTE: O GLOBO

Indicadores mostram que a economia ainda patina

Novos indicadores mostram que a economia está sem vigor para sustentar a recuperação prometida pelo governo Dilma. Segundo o Ministério do Trabalho, a renda encolheu em fevereiro pelo segundo mês, e a geração de empregos no primeiro trimestre foi a menor desde 2009. A atividade econômica caiu 0,23% em fevereiro, segundo o BC.

Emprego tem pior 1º trimestre desde 2009, e PIB segue fraco


Dados do BC indicam que economia recuou em fevereiro pelo 2º mês seguido

Foram criadas 443 mil novas vagas de janeiro a março; Banco Central deve reduzir juros de novo nesta semana

Gustavo Patu e Priscilla Oliveira

BRASÍLIA - A renda do país encolheu em fevereiro pelo segundo mês consecutivo, enquanto a geração de empregos no primeiro trimestre foi a menor desde a recessão de 2009.

Divulgados ontem, os dois indicadores mostram que a economia brasileira permanece sem vigor suficiente para sustentar a recuperação prometida e perseguida pelo governo Dilma Rousseff.

De acordo com os cálculos do Banco Central, a atividade econômica -que compreende salários e lucros gerados por indústria, serviços e agricultura- teve queda de 0,23% em fevereiro, na comparação com o mês anterior.

O anúncio da retração de janeiro já havia precipitado o anúncio de medidas para estimular setores como móveis e eletrodomésticos. Os números agora revisados apontam que a queda foi mais aguda no primeiro mês do ano, de 0,18%, em vez de 0,13%.

Os resultados não chegaram a surpreender o mercado, o que não é boa notícia para o governo: enquanto o primeiro projeta crescimento em torno de 3,2% neste ano, o segundo prevê uma taxa politicamente mais palatável, acima dos 4%.

Embora o Banco Central não detalhe suas contas, os índices divulgados nas últimas semanas deixam claro que a piora de fevereiro foi puxada pela queda das vendas no varejo, particularmente em supermercados, alimentos e bebidas.

Para os especialistas, não se trata de uma tendência: o comércio tem bom desempenho no ano, mas circunstancialmente foi melhor em janeiro que em fevereiro.

Emprego fraco

A produção da indústria, embora tenha se expandido em fevereiro, continua sendo o setor mais afetado pelos efeitos da crise internacional e alvo principal das preocupações e medidas oficiais.

Mais atualizadas, as estatísticas do emprego com carteira assinada do Ministério do Trabalho mostram que o setor demitiu em março.

A indústria de transformação teve um dos piores resultados do mês, com fechamento de 5.048 vagas. Segundo o relatório, a queda pode ser atribuída, em grande parte, aos produtos alimentícios.

Normalmente um dos indicadores mais celebrados pela administração petista, a geração total de empregos formais, com 442,6 mil novos postos no trimestre, foi a menor para o período nos últimos três anos.

Queda dos juros

Diante da fragilidade da economia, o BC deve confirmar as expectativas gerais e reduzir amanhã de 9,75% para 9% a sua taxa de juros -patamar que, para a maioria dos analistas, deve ser mantido até o final do ano.

Embora endosse essas projeções, o banco Itaú distribuiu ontem relatório em que vê a possibilidade de o juro cair para 8,5% até o final do ano para estimular o consumo e os investimentos.

A instituição tem seu próprio índice de atividade econômica, que apontou queda de 0,6% em fevereiro. Para o ano, porém, o Itaú é um pouco mais otimista que a maioria e projeta crescimento de 3,5%, com sinais de recuperação a partir de março.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Brasil paradão

O primeiro trimestre do ano foi perdido pela economia brasileira. A atividade está em declínio, a criação de empregos diminuiu e as famílias encontram-se cada vez mais endividadas. O país está paradão.

Ontem, o Banco Central divulgouque a atividade econômica caiu 0,23% em fevereiro em comparação com o mês anterior. Foi a segunda vez no ano que isso aconteceu, o que indica falta de vigor capaz de promover recuperação mais consistente, como prometido pelo governo.

Com o resultado de fevereiro, o crescimento do PIB acumulado pelo país nos últimos 12 meses baixou para 2,05%. Este é, pois, neste momento, o ritmo de expansão da economia nacional, sob Dilma Rousseff. Repetindo: 2,05% ao ano. Não se trata, portanto, de nenhum espetáculo de crescimento...

Analistas econômicos atestam que, neste ano, o crescimento do PIB brasileiro mal ultrapassará os 3%, praticamente repetindo o medíocre desempenho de 2011. Continua no campo das ilusões a previsão oficial de que a expansão possa chegar a 4,5%. Mero desejo.

A atividade econômica só deve mostrar alguma reação no segundo semestre. Mas, por ora, o lado real da economia exibe redução na geração de emprego, indústrias estagnadas e demitindo, dívidas em alta, inadimplência e crédito contido.

O mercado de trabalho sofre os reflexos da freada. Segundo dados do Caged divulgadosontem, a geração de empregos formais no país no trimestre foi a menor para o período nos últimos três anos: 442,6 mil novos postos. Sobre fevereiro, a queda foi de 36%.

Mais uma vez, a indústria foi o patinho feio da história: no trimestre, a criação de empregos no setor caiu quase 60%. Considerando-se apenas o mês de março, o saldo foi negativo, isto é, houve mais demissões do que contratações - algo que, nos últimos nove anos, só havia acontecido em 2009.

A indústria de transformação perdeu 5.048 postos de trabalho em março. Caíram bastante os empregos no segmento de produtos alimentícios, que teve corte de mais de 25 mil postos no mês, a maior parte no Nordeste. No geral, em 11 estados as demissões superaram as admissões.

Além dos culpados de sempre, o esfriamento da economia também encontra razões em fatores menos notórios. Um deles é a inadimplência, que tem subido continuamente desde o ano passado: as famílias passaram a comprometer parcela cada vez maior de sua renda com pagamento de juros e amortização de dívidas. A corda apertou no pescoço.

Em consequência, também as instituições financeiras tornaram-se mais cautelosas na concessão de crédito, como é natural - afinal, ninguém quer correr risco de perder dinheiro só por causa de broncas mal-humoradas da presidente da República. Com isso, o consumo refreou.

Outro fator diz respeito diretamente à letargia do governo federal. Os investimentos da União continuam travados, como mostrou o Valor Econômico ontem. Os dados oficiais sugerem que eles cresceram 24% no trimestre, mas trata-se de artifícios contábeis.

O governo passou a computar os subsídios concedidos nos financiamentos do Minha Casa, Minha Vida - antes contabilizados como custeio - como investimentos, inflando-os. Sem a mandracaria, teria havido queda de 18% em relação aos três primeiros meses de 2011.

No transcorrer do ano, vai ficando mais evidente que as previsões otimistas feitas pela presidente e sua equipe econômica no início de 2012 estavam completamente descoladas da realidade. As ações recentes tomadas pela gestão petista também não parecem ter o condão de alterar profundamente as perspectivas imediatas. Paradão, o governo assiste a economia adernar.

Fonte: Instituto Teotônio Vilela

PT e PSB duelam para conquistar bastião do DEM

Cristian Klein

SÃO PAULO - A cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte, tem 159.030 eleitores. Pode parecer um alvo pouco interessante para os objetivos nacionais de um partido, mas virou uma questão de honra que envolve PT, PSB e DEM na eleição municipal deste ano e está atrapalhando uma candidatura a 2.804 quilômetros de distância dali: a do ex-ministro da Educação Fernando Haddad (PT), na capital paulista.

Apesar das tentativas da cúpula nacional, o PT potiguar insiste em lançar nome próprio à Prefeitura de Mossoró, o que dificulta os planos de uma troca de apoio que leve o PSB a se engajar numa coligação com Haddad, em São Paulo.

Em reunião ontem na capital Natal, com o secretário nacional de organização do PT, Paulo Frateschi, o reitor da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa), Josivan Barbosa, manteve a disposição de levar adiante sua candidatura.

Barbosa é apoiado pela corrente majoritária do PT, a Construindo um Novo Brasil (CNB), e, há menos de um mês, venceu a disputa interna que defendia nome próprio, por apenas cinco votos (162 a 157).

Desde então, no entanto, o reitor vem sendo pressionado pela direção nacional a desistir em favor do apoio à chapa da deputada estadual Larissa Rosado (PSB).

Assim como outras cidades pelo país - Campinas (SP), Duque de Caxias (RJ), João Pessoa (PB) entre outras -, Mossoró foi posta na mesa de negociação como uma das exigências do PSB para, em contrapartida, apoiar Haddad.

A candidatura em São Paulo, patrocinada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por sua vez, é uma prioridade do PT nacional. Tanto que, segundo um interlocutor, a decisão de apoiar o PSB em Mossoró já teria sido tomada, na quinta-feira, independentemente da vontade local. Na reunião de ontem com os representantes dos diretórios municipal e estadual, Frateschi teria lembrado a intervenção no Maranhão, na eleição para governador em 2010, para argumentar que o apoio será dado de um jeito ou de outro.

O desfecho pode ser traumático. Mesmo um integrante do PT potiguar cuja corrente, Movimento PT, votou contra a tese de candidatura própria, afirma hoje defender que a legenda honre com a decisão do encontro de delegados e que não haja intervenção da direção nacional para que se apoie Larissa Rosado.

Embora com colégio eleitoral modesto, Mossoró é repleta de simbologia e rivalidade que despertam a cobiça tanto do PSB quanto do PT local.

Maior produtora de petróleo em terra do país, é a única cidade entre as 118 maiores do país, com mais de 150 mil eleitores, que ainda é governada pelo DEM, depois que a legenda definhou com a criação do PSD pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab.

O município representa como poucos a imagem de um dos últimos bastiões da segunda maior sigla de oposição. Há décadas Mossoró é dominada pelo DEM e é a terra natal do presidente nacional do partido, o senador José Agripino Maia. Também é a cidade cuja prefeitura já foi controlada por três mandatos pela governadora Rosalba Ciarlini Rosado (DEM), única do partido a comandar hoje um Estado.

Mais do que do DEM, Mossoró é um feudo dos Rosado. A prefeitura é administrada por Fafá Rosado, prima do marido da governadora, o ex-deputado estadual Carlos Augusto Rosado, líder do grupo. A vice-prefeita também é da família: Ruth Ciarlini, irmã da governadora.

Desde 1948, os Rosado são hegemônicos. Sendo quase impossível vencer sem ter o sobrenome, a oposição também é da família. Larissa Rosado é filha de Sandra Rosado, líder do PSB na Câmara dos Deputados e adversária da ala do clã filiada ao DEM. Larissa aparece nas pesquisas com cerca de 40% das intenções de voto, à frente da provável candidata do DEM, a vereadora Claudia Regina, com 10%, e de Josivan Barbosa, com menos de 5%.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Oposição elege construtora como foco das investigações da CPI

Raquel Ulhôa, Bruno Peres e Daniela Martins

BRASÍLIA - O líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR), afirma ser "visível a tentativa de recuo" por parte de lideranças da base aliada do Palácio do Planalto em criar a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar as relações de agentes públicos com o esquema chefiado pelo empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, preso sob acusação de comandar exploração ilegal de jogos de azar em Goiás. Mas, para o tucano, a CPMI é "irreversível" e o foco das investigações deverá ser a construtora Delta. Principal empreiteira do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a empresa tem contratos com o governo federal e com governos estaduais em várias áreas.

O líder do PSDB na Câmara, Bruno Araújo (PE), também afirmou que o partido vai pedir a convocação do dono da Delta Construções S/A, Fernando Cavendish. Os tucanos pedirão a quebra dos sigilos fiscal e telefônico de Cavendish. A intenção do partido é apresentar o requerimento assim que for instalada a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI).

O líder justifica que, em gravações divulgadas pela imprensa, Cavendish diz ser possível ser convidado para obras oferecendo dinheiro a políticos. Bruno Araújo classifica as declarações como "gravíssimas". "A Delta é a empresa que mais recebe recursos do governo federal no PAC, Cavendish precisa explicar sua atuação e suas declarações".

Hoje, senadores e deputados do PSDB vão realizar um ato simbólico na Câmara para assinatura do requerimento de abertura da CPMI. A expectativa é coletar o número mínimo de 171 deputados e 27 senadores. Como o presidente do Congresso Nacional, senador José Sarney (PMDB-AP), está afastado por problemas de saúde, a vice-presidente do Congresso, deputada Rose de Freitas (PMDB-ES), deve ser a responsável por conduzir a instalação da comissão.

"A Delta vai ser a estrela da CPI", resumiu o senador Alvaro Dias. Somente do governo federal, a Delta recebeu R$ 4,1 bilhões em cinco anos, 90% com o DNIT, segundo Dias. "Se houve equívoco dos governistas em apoiar a criação da CPI, agora já é tarde", afirma o tucano. O bloco da minoria no Senado (PSDB e DEM) tem três vagas de titulares e igual número de suplentes. Dias afirmou que consultará os demistas sobre a possibilidade de ceder uma das vagas ao PSOL ou aos "proscritos" do PMDB, como Jarbas Vasconcelos (PE).

Hoje às 15h haverá ato na liderança do PSDB da Câmara dos Deputados, para que a oposição colha assinaturas para o requerimento de criação da CPI.

O líder do PT no Senado, Walter Pinheiro (BA), nega que a intenção da base governista seja voltar atrás no apoio à criação da CPI. "Não tem chance de recuo", diz ele, lembrando o empenho dos presidentes da Câmara, Marco Maia (PT-RS), e do Senado, José Sarney (PMDB-AP), que decidiram fazer uma comissão mista.

Hoje também, o corregedor do Senado, Vital do Rêgo (PMDB-PB), o presidente do Conselho de Ética da Casa, Antonio Carlos Valadares (PSB-SE), e o relator do processo por quebra de decoro parlamentar contra o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), Humberto Costa (PT-PE), vão consultar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski sobre a existência de possibilidade legal de terem acesso ao inquérito da Polícia Federal que apontou envolvimento de Torres com Cachoeira.

Vital afirma que, se o conselho tiver acesso aos documentos, isso poderá ser usado como argumento para esfriar a CPI, já que "o argumento prioritário para a CPI" foi a posição do STF de que somente uma CPI poderia ter acesso ao inquérito, que corre em segredo de justiça. "Vamos conversar com o ministro e ver se existe, dentro da legalidade, alguma forma de ter acesso a determinados documentos da investigação", disse Vital.

O líder do PT diz que, mesmo que o STF concorde em encaminhar o inquérito, já é tarde para evitar a investigação pelo Congresso. "A CPMI é sem retorno", insistiu Pinheiro.

Um argumento usado pelos senadores para fazer o apelo é haver precedente. Quando o ex-senador Luiz Otávio (PMDB-PA) era alvo de processo por quebra de decoro, o STF mandou ao conselho documentos do inquérito. A dúvida de Vital, no entanto, é se, naquela época, o processo contra ele corria em segredo de justiça, como ocorre atualmente, com o caso Demóstenes.

Para o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), são sinais de que os governistas ensaiam um recuo nas investigações o fato de o requerimento de criação ter se desviado do foco principal - foi retirado o nome da Delta - e a inclusão de fatos novos, inclusive as interceptações telefônicas.

"Sou da máxima que a melhor desculpa para não fazer nada é dizer que vai fazer tudo", afirma. Ele reclama, ainda, de o PSOL ter ficado sem vaga no colegiado. Segundo ele, seria uma "vergonha nacional" qualquer tentativa de evitar a investigação, mas ele admite que, como a base governista tem ampla maioria no Congresso, a CPI só será instalada se tiver "boa vontade das lideranças do governo".

O líder do PT na Câmara, deputado Jilmar Tatto (SP), também negou recuo do PT no ímpeto de instalar a CPI. "Não há nenhuma posição por parte do PT no sentido de não haver a CPI", afirmou.

Tatto disse que "a decisão da bancada é de todos assinarem" o requerimento de abertura da CPI mista. Segundo o líder, até o momento, 40 deputados já assinaram o pedido de criação da CPMI e até amanhã "todos" deverão ter assinado o documento. No entanto, frisou que a bancada não fechou uma posição sobre o assunto e que os deputados petistas assinam "se quiserem". A bancada do PT na Câmara conta com 85 deputados.

"Até hoje não teve um deputado que se manifestasse contra. Podem, eventualmente, colocar que têm uma preocupação com isso ou aquilo em relação ao desgaste do governo, nas não é uma CPI contra o governo", declarou.

Tatto disse também não ver interferência da abertura da investigação com o julgamento dos réus do mensalão, cujo processo pode ser analisado no Supremo Tribunal Federal ainda neste semestre.

O líder petista rejeitou também a possibilidade de convocação do ex-ministro da Casa Civil do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva José Dirceu para depor na CPI, uma vez que o caso Carlos Cachoeira reacende o caso Waldomiro Diniz, assessor de Dirceu e protagonista do primeiro escândalo do governo Lula, por coincidência ligado a Cachoeira.

O líder defendeu, porém, a convocação de Fernando Cavendish, diretor da Delta Construções. "É uma empresa que tem contratos com vários Estados, tem contratos com o governo federal e eu acho importante a CPI convocá-lo. É um dos membros, digamos, do braço privado, e tem de chamá-lo para prestar esclarecimentos", afirmou. A Delta tem estreitas ligações com o governo federal e o empresário é amigo do governador do Rio, Sérgio Cabral.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Pressionado, PT garante CPI

Criticado por tentar esvaziar o colegiado a pedido do Planalto, partido reforça coro pró-investigações e assume desgaste político

Paulo de Tarso Lyra, João Valadares e Karla Correia

O discurso do PT a favor da CPI mista para investigar os negócios do bicheiro Carlinhos Cachoeira tornou irreversível a instalação da Comissão de Inquérito no Congresso. O líder do partido no Senado, Walter Pinheiro (BA), marcou reunião para o meio-dia de hoje na qual escolherá o nome dos senadores para a comissão. Na Câmara, o líder Jilmar Tatto (SP), negou que o risco de envolver o governo nas investigações seja suficiente para fazer o PT recuar. "Pode haver alguma preocupação de desgaste com o governo, mas temos que lembrar que essa não é uma CPI contra o governo", justificou Tatto.

A movimentação do PT deixou os demais partidos e a oposição em situação confortável. O Correio apurou que nenhuma legenda tem interesses reais na CPI, mas ninguém está disposto a recuar da bandeira levantada pelos petistas. Se as investigações chegarem no Planalto, a culpa seria do PT, não dos aliados. É a desculpa que os integrantes da base esperavam para vingar-se do partido da presidente. "O PMDB não propôs nada nem vai despropor. A ideia da CPI foi do PT, quem pariu Mateus que o embale", disse um interlocutor do partido.

A vice-presidente do Congresso, deputada Rose de Freitas (PMDB-ES), confirmou ontem que, assim que tiver em mãos as assinaturas suficientes para a instalação da CPI — 27 senadores e 171 deputados — ela será criada. "É o que me cabe de acordo com o regimento do Congresso", afirmou ela, que exerce a Presidência do parlamento em função da internação do presidente do Congresso, José Sarney (PMDB-AP), por problemas cardíacos.

O governo, que nos últimos dias tentou influenciar os movimentos políticos no Congresso, conforme relatos de integrantes da oposição, busca agora controlar os trabalhos negociando a indicação dos membros da CPI. O receio é de que as investigações aprofundem as relações da Construtora Delta com o governo federal. A empresa é uma das principais construtoras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). "Essa tal de Delta é igual a farinha. Está em todo pirão. É parte indispensável do pirão. Por isso, há um temor grande do governo em relação à investigação dos contratos da Delta", ironizou o senador Randolfe Rodrigues (PSol-AP).

Ato de instalação

A terça-feira promete ser quente no Congresso. Às 8h30, os líderes da base aliada têm reunião marcada com o representante do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM). O PT reúne-se ao meio-dia. Às 15h, deputados e senadores da oposição convocaram um ato para assinar em conjunto o pedido de instalação da CPI. Se as assinaturas forem obtidas, inicia-se o prazo até a meia-noite para eventuais desistências. Caso contrário, os nomes serão indicados já nesta quarta. "Vai ser uma guerra", prevê um líder governista.

Para aproveitar a brecha e fustigar ainda mais o Executivo, o PSDB do Senado tentará ceder uma de suas vagas para o PSol que, em tese, não tem assento na Comissão. O partido sugeriu ao PT que ampliasse o número de vagas de 15 para 17. "Recebi como resposta um redondo não. Não sei qual é a dificuldade." O PSDB tentará resolver essa questão. "Existe uma clara preocupação do governo com essa CPI, mas ela é inevitável e irreversível. Se houve erro de avaliação dos governistas, é muito tarde para a reparação", afirmou o líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR).

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Pedido de cassação

Almiro Marcos, Lilian Tahan

O comitê Ficha Limpa do Distrito Federal deu entrada ontem, na Câmara Legislativa, com pedido de impeachment contra o governador Agnelo Queiroz (PT). A solicitação se baseia em denúncias desde a época em que Agnelo era ministro do Esporte, até as atuais. A Procuradoria da Casa tem cinco dias para se manifestar a respeito da solicitação. Um dos pontos que define a aprovação é a exigência legal de que o documento tenha provas.

O porta-voz do GDF, Ugo Braga, classificou o pedido como absurdo e uma tentativa de "golpismo barato". A crise política provocou um debate nos partidos que compõem a base aliada. Liderado pelo senador Rodrigo Rollemberg no DF, o PSB discute a possibilidade de deixar o Executivo.

O senador Cristovam Buarque (PDT) cobra do partido a saída do distrital Israel Batista da base. Ontem, filiados ao PPS se reuniram para decidir a situação da sigla diante dos últimos episódios. A tendência é de rompimento.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

Em Minas, desenho da sucessão começa a ser traçado

Disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte já tem os primeiros quatro pré-candidatos. Nomes para vice e para a Câmara serão escolhidos depois de definidas as coligações

Alessandra Mello

Com a decisão agora oficial do PT de reeditar a aliança com o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB), a sucessão na capital mineira começa a se definir. A disputa deste ano vai repetir parte da campanha de 2008, com o lançamento da candidatura do deputado federal Leonardo Quintão (PMDB), que disputou o segundo turno com Lacerda. Quintão, que flertava com a ala petista defensora da candidatura própria, aguardava apenas a decisão do PT para decidir seu rumo. O lançamento de seu nome foi definido ontem pela direção estadual do PMDB, que se reuniu pela manhã.

Já com o discurso na ponta do língua, o peemedebista disse que a candidatura é certa e que a capital precisa de uma alternativa "à gestão desastrosa de Lacerda". Quintão garante que terá algo em torno de nove minutos no horário eleitoral gratuito e que algumas coligações já estão praticamente fechadas. "Mas não vou revelar para que não haja assédio do PSB em cima desses partidos", afirma. O deputado, que deu trabalho para o PSB nas eleições de 2008, disse que está mais maduro para enfrentar Lacerda este ano. O vice de Quintão deve ser alguém indicado pelo PDT. Um dos cotados é o presidente do partido no estado, o ex-deputado federal Mário Heringer.

O deputado estadual Délio Malheiros (PV) também vai entrar na disputa. O lançamento da candidatura de Malheiros é uma das principais preocupações do PSB, que tem feito pressão, principalmente em cima da bancada de vereadores do partido na Câmara Municipal, para tentar barrara candidatura do verde. O deputado disse que tem o aval das direções estadual e nacional do partido e que aguarda apenas a realização da convenção para confirmar seu nome. Nas eleições passadas, ele ensaiou sair candidato, mas foi barrado pelo comando do partido. Este ano, ele garante, que não há chance de isso acontecer.

"O eleitor de Belo Horizonte não merece ser tratado como moeda de troca em negociações desses partidos em São Paulo, Porto Alegre, Uberlândia e outros municípios. Obviamente será soberana a decisão do Partido Verde na convenção, no fim de junho, mas, diante desse cenário, nossa candidatura é ainda mais certa", afirma Malheiros. O deputado disse que vai ser a terceira via que faltou na disputa de 2008. "Vamos enfrentar a máquina, um arco de alianças enorme e tempo na televisão, mas não há como recuar." O parlamentar informou que as conversas com o DEM estão adiantadas, mas que ainda não há definição sobre o nome do vice nem ainda sobre os partidos coligados. "Mas teremos pelo menos uns três minutos de televisão", garante. Um dos cotados para compor a chapa do PV é o deputado estadual Gustavo Côrrea (DEM).

O PTB anuncia hoje a candidatura do deputado federal Eros Biondini para a PBH. Nas eleições de 2008, ele foi candidato a vice-prefeito na chapa de Leonardo Quintão. O PPS também acena com o lançamento do nome da deputada estadual Luzia Ferreira, mas a aposta é de que o partido no fim fique mesmo com o prefeito, já que a legenda tem cargos na administração e faz parte da base de apoio de Lacerda na Câmara. Já o PSDB participará da disputa na chapa do PSB e do PT.

Capital não garante dobradinha no interior

A decisão do PT de se aliar ao PSB e ao PSDB na disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte não garante a repetição da dobradinha em outras cidades consideradas importantes pelo partido. No encontro do PT domingo algumas lideranças defenderam a união com o PSB, alegando ser essa uma decisão estratégica para garantir a aliança com os socialistas em Contagem, na Região Metropolitana; Uberlândia, no Triângulo Mineiro, e Juiz de Fora, na Zona da Mata, cidades na lista dos maiores colégios eleitorais do estado. São pequenas, porém, as chances de o PSB se aliar ao PT em Contagem. Em Uberlândia, os dois partidos vão participar juntos. A decisão foi tomada na semana passada, antes do encontro do PT. Em Juiz de Fora ainda não há definição.

Em Contagem, a tendência dos socialistas é fechar a aliança com o PCdoB e indicar o nome do ex-embaixador do Brasil em Cuba, Tilden Santiago, para ser o candidato a vice do deputado estadual Carlin Moura, na disputa contra o petista Durval Ângelo, também deputado estadual. Tilden informou que a contrapartida do PSB ao apoio do PT em Belo Horizonte já foi dada em São Paulo, onde os socialistas devem apoiar a candidatura do ex-ministro da Educação, Fernando Haddad (PT). No entanto, ele disse que o rumo do PSB ainda não foi definido e que há uma orientação expressa do comando nacional de o partido só tomar posição em Contagem depois de o PT de Belo Horizonte indicar quem será o candidato a vice na chapa do prefeito Marcio Lacerda. "Mas é muito grande a tendência de fecharmos com o PCdoB", avalia Tilden.

O deputado federal Júlio Delgado (PSB), um dos cotados para disputar a Prefeitura de Juiz de Fora, disse que a aliança em Belo Horizonte "não fede nem cheira" na disputa que vai ser travada na cidade da Zona da Mata. Segundo ele, o PSB conversa com o PT, que vai lançar o nome de Margarida Salomão – candidata em 2008, ela disputou o segundo turno com o atual prefeito Custódio Mattos (PSDB) –, e também com o PMDB, que tem como candidato o deputado estadual Bruno Siqueira (PMDB). O deputado federal é filho de uma das principais lideranças do PMDB de Juiz de Fora, o ex-prefeito Tarcísio Delgado. Júlio pode compor com o PMDB ou com o PT ou lançar seu nome para a disputa. Por enquanto não há nenhum sinal de que Bruno Siqueira ou Júlio Delgado possam desistir da candidatura, o que inviabiliza uma aliança com o PSB.

Em Uberlândia a deputada estadual Liza Prado (PSB) queria sair candidata a prefeita, mas seu partido acabou selando um acordo com o PT e vai apoiar o nome do deputado federal Gilmar Machado (PT). O vice deve ser indicado pelo PMDB.

Os pré-candidatos

Marcio Lacerda (PSB): prefeito, disputa a reeleição com o apoio do PT, que indicará o vice em encontro marcado para o dia 29.

Leonardo Quintão (PMDB): deputado federal, disputou o segundo turno com Marcio Lacerda em 2008. Vice e coligações ainda não foram definidas, mas um dos cotados para compor a chapa é algum integrante do PDT.

Délio Malheiros (PV): deputado estadual, ainda não escolheu o nome do candidato a vice. O Partido flerta com o DEM e tenta atrair outras legendas para garantir tempo no horário eleitoral. O candidato a vice-prefeito pode ser o deputado estadual Gustavo Côrrea (DEM).

Eros Biondini (PTB): deputado estadual, que na disputa de 2008 foi candidato a vice na chapa de Quintão. Sua candidatura será lançada hoje.

Prazos para a eleição

10 a 30 de junho
Período estabelecido pela Justiça Eleitoral para a realização das convenções e escolha final dos candidatos a prefeito e a vereador

5 de julho
Último dia para os partidos políticos registrarem seus candidatos nos cartórios eleitorais

6 de julho a 4 de outubro
Período permitido para a realização de propaganda eleitoral no rádio e na televisão

7 de outubro
Data das eleições

FONTE: ESTADO DE MINAS

Em Recife, Mendonça diz não ter motivos para desistir

Em meio aos rumores de que sua candidatura sofre resistências dentro do próprio partido, o deputado federal Mendonça Filho (DEM) voltou a evocar suas credenciais para a disputa pela Prefeitura do Recife. Em entrevista à Rádio JC/CBN, o prefeiturável disse ter noção dos seus “limites”, mas sabe, sobretudo, de seu “potencial”. “Basta circular comigo pela cidade para ver como seria difícil me negar a colocar meu nome na disputa. Tenho um eleitorado cativo”, pontuou.

Mesmo sem descartar a possibilidade de haver alianças na oposição, o democrata alegou não ter motivos para desistir de sua postulação. “Minha pré-candidatura está estabelecida e não vejo motivos no cenário político para mudar esse caminho”, assinalou. Ele também fez críticas ao que chamou de “briga fratricida” no PT e acrescentou que, em tese, o prefeito João da Costa (PT) seria um adversário mais “frágil” do que Maurício Rands (PT). “Mas o prefeito conhece a máquina e já provou que não é bobo”, ponderou.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Em S. Paulo, 'Não escondemos quem nos apoia', diz Haddad

Apesar da proximidade do julgamento do mensalão e do fantasma do caso Waldomiro Diniz, petista diz que não recusa ajuda de Dirceu na campanha

Isadora Peron

A iminência do julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF) e as ameaças da oposição de convocar o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu para depor na futura CPI do Cachoeira não demoveram o pré-candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, de contar com o engajamento e o auxílio do colega petista na campanha.

"Nós não podemos esconder as pessoas que nos apoiam. Elas têm direito de expressar sua opinião sobre o melhor para São Paulo", afirmou ontem, durante visita à obra do futuro estádio do Corinthians, na zona leste da cidade. Dirceu foi apontado na denúncia da Procuradoria-Geral da República como "chefe da quadrilha" do mensalão. Haddad disse que não trabalha "com um cálculo" sobre o impacto que uma eventual condenação de pessoas ligadas ao PT no mensalão possa causar em sua campanha.

Também ontem, em entrevista à noite ao jornalista Paulo Henrique Amorim, na Record News, comentou, sobre o julgamento no STF, que transparência e investigação são bons e que a sociedade tem de cobrar. "Mas não pode cobrar de um só partido; deve cobrar de todos." Acrescentou, ainda, que importante é exigir "imparcialidade do STF, que deve se ater aos autos e não julgar sob pressão. Da imprensa, por exemplo".

Durante a visita ao Itaquerão, Haddad foi acompanhado, entre outros, por um dos envolvidos no mensalão: o deputado José Mentor (PT-SP). O pré-candidato negou, ainda, que Dirceu tenha trabalhado nos bastidores para acertar os nomes dos coordenadores da sua campanha. "O último contato que tivemos foi há meses." Questionado se acreditava na absolvição do Dirceu, disse conhecer pouco sobre o processo. Outros petistas, como José Genoino e Delúbio Soares, também são réus no caso.

Marta. O pré-candidato fez questão de comentar o apoio que recebeu no sábado da ex-prefeita Marta Suplicy. "Foi um gesto importante para a nossa pré-campanha. Isso demonstra unidade do PT em torno do projeto para a cidade. Nenhum de nós esperava outra atitude dela (de Marta)." No sábado, ao lado do ex-presidente Lula, que fez a sua primeira aparição em palanque após a cura do câncer da laringe, a senadora, até então afastada após ter a candidatura preterida, prometeu se empenhar na campanha de Haddad. "Eu e o Lula vamos estar a todo momento com você", prometeu.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Rejeição à democracia: alguém é doido de trocar um belo pássaro na mão por dois voando? :: Bolívar Lamounier

Um tema difícil, um tanto indigesto e sem dúvida espinhoso é se há ou não entre nós, no Brasil ou em toda a América Latina, um aumento perceptível no que se poderia chamar de fadiga valorativa com a democracia.

Nas redes sociais, nós nos deparamos a todo momento com percepções e sentimentos negativos a respeito dos mecanismos eleitorais e dos partidos políticos; razões para isso não faltam, mas frustrações desse tipo não são um fenômeno recente.

É perfeitamente possível que as mencionadas frustrações tenham se tornado mais intensas ou mais azedas nos últimos anos em vista da enorme sucessão de escândalos a que o país vem assistindo. Percepções negativas do funcionamento institucional combinadas com a corrupção que tem jorrado dos três Poderes compõem um coquetel preocupante, quanto a isto não há dúvida.

Ousemos dar mais um passo. Toda vez que esse assunto vem à tona, surge certo temor em relação à própria democracia. Conjectura-se, invariavelmente, que o regime democrático possa estar perdendo legitimidade – ou apoio moral, o que vem a ser a mesma coisa. Estará a democracia novamente em risco no Brasil, ou em nosso hemisfério? Eu não penso isso, mas vejo utilidade em destrinchar metodicamente a questão.

É óbvio que as democracias não têm todas a mesma qualidade, a mesma vitalidade ou a mesma capacidade de resistir a impactos negativos. A esse respeito, a história do século 20 foi imensamente instrutiva. Produziu uma lista enorme de países onde crises extremamente graves levaram à ruptura do regime constitucional e da própria democracia; não preciso me estender aqui sobre o coquetel maligno que produz tais episódios, mas não custa lembrar que geralmente envolvem problemas econômicos, impasses políticos, exacerbação ideológica, intensificação dos conflitos sociais e surgimento de “salvadores” civis ou militares). Depois de algum tempo a democracia se torna outra vez necessária, de um lado porque o repertório farsesco das ditaduras mais cedo ou mais tarde se esgota, de outro porque as estruturas econômicas e sociais só podem funcionar a contento onde há flexibilidade, racionalidade e transparência. Assim, mesmo onde a ruptura tenha ocorrido em meio a conflitos sérios, o regime constitucional-democrático mais cedo ou mais tarde é restabelecido.

O que acabo de dizer obviamente não chega a ser uma “análise” – será no máximo uma evocação, tal o seu esquematismo e sua simplicidade -, mas isso é da natureza deste veículo: blog é blog, não é livro acadêmico. Penso, no entanto, que algumas questões pouco discutidas precisam começar a ser discutidas mesmo nesse nível genérico. Uma delas é um certo esquecimento dos custos que toda quebra constitucional e toda ditadura impõem à sociedade. Não estou aqui me referindo a mensurações precisas – e nem sei se algo existe algo nessa linha-, mas à rapidez com que a memória histórica tende a se esvair, sobretudo nas gerações jovens, e mesmo nas camadas com mais acesso a informações. Como é óbvio, com a rarefação da memória, a sociedade tende a perder o foco nos custos do autoritarismo, não necessariamente custos econômicos, mas os custos associados à violência e à repressão, os sofrimentos que invariavelmente acontecem, além de custos que só virão a ser percebidos mais adiante, sob a forma de atraso político e cultural.

Felizmente, na América Latina, a quebra pura e simples de regimes constitucionais e sua substituição por ditaduras escancaradas é hoje muito mais difícil que meio século atrás. Parece-me porém fora de dúvida que as democracias da região vem sendo corroídas de diversas formas: eis aqui o segundo ponto que desejava levantar neste post. Uma dessas formas é o populismo, vitriólico num caso, disfarçado noutro, mas sempre pernicioso, quanto a isto não cabe dúvida.

Outro problema que por ora não me parece agudo, mas pode eventualmente se manifestar é o da rejeição do sistema democrático-representativo e uma tendência a “trocá-lo”, no plano da imaginação, não necessariamente por ditaduras à maneira antiga, mas por alternativas supostamente viáveis ou francamente fantasiosas de “democracia direta”. As atitudes de rejeição a que me refiro não se formam apenas no contexto de crises dramáticas. Isso pode também acontecer em tempos relativamente normais e a partir de grupos sociais movidos pelas melhores intenções possíveis. Em qualquer país, como um óleo vazando de algum lugar, sempre há “rebeldes sem causa” de todos os tipos e tamanhos: jovens impacientes com o lento andar da carruagem, intelectuais levados por certo pendor romântico a fantasiar soluções mirabolantes para o país e para o mundo, religiosos agoniados com a pobreza ou com o que entendem ser os males da modernidade…-, e por aí vai.

Vou suscitar mais um ponto. Hoje, no Brasil, estamos a observar um processo deveras fascinante: uma parcela expressiva da sociedade – talvez mais nas camadas médias que nas de baixa renda-, adquirindo uma consciência aguda de seus direitos, resistindo ao sufoco da carga tributária e protestando contra a má qualidade dos serviços públicos. Essa conscientização caminha pari passu com a constatação de que os três Poderes da república se deixaram impregnar por níveis até recentemente impensáveis de corrupção – e a verdade é que hoje, no Brasil, quem diz corrupção também diz irresponsabilidade, desperdício, acinte, arrogância e prepotência.

A questão quanto ao ponto anterior é a evolução desse estado de consciência. Uma possibilidade é evidentemente ele esmaecer; cansados, desanimados, sentindo-se impotentes, seus portadores podem se reconcentrar em seus afazeres privados. Outra possibilidade é ele – falo daquele estado de consciência- se manter, mas como uma nebulosa solta aí pelo espaço, girando sobre si mesma, sem rumo nem consistência. A indignação e a propensão a protestar se mantêm, mas não resultam em nada que se possa seriamente chamar de “politização”: um entendimento mais adequado das questões, uma maior capacidade de se organizar com base em agendas realistas etc etc.

Subjacente a tudo isso, parece-me haver uma necessidade real de reflexão: sobre o país em vivemos, desde logo, mas também sobre a política em geral: nossas percepções do poder, do Estado e da democracia, e os objetivos e valores que nos motivam a agir.

FONTE: BOLÍVAR LAMOUNIER

A visão do Legislativo:: Merval Pereira

A transformação do Orçamento da União de autorizativo em impositivo, com o Congresso atuando diretamente na sua definição; a redução drástica dos cargos em comissão no governo federal; e a adoção de medidas para coibir a proliferação de legendas partidárias são as principais soluções apontadas por políticos experientes para melhorar a relação entre o Executivo e o Legislativo.

O deputado federal Miro Teixeira, do PDT, no Congresso há nove mandatos, defende a profissionalização do serviço público.

"Cargos e comissões de livre provimento seriam limitados ao gabinete do ministro, como no parlamentarismo", define, lembrando que "o serviço é público, não é do governante".

Os 25 mil cargos hoje à disposição do Executivo seriam providos pelo sistema de mérito na carreira do serviço público, com cursos para que o funcionário atinja cargos de melhor remuneração.

"O arejamento se dá com o aperfeiçoamento funcional e também com a mudança da cúpula do ministério, entre eles o controlador e o ordenador de despesas." Essa equipe ditaria a política do ministério, e a estrutura profissionalizada a executaria.

Outro ponto destacado por Miro Teixeira é a questão das emendas de aprovação automática de parlamentares. Para Miro Teixeira, o Orçamento tem que ser impositivo, e não autorizativo como é hoje.

"Como nos Estados Unidos, o debate tem que ser na sociedade. O burocrata que não tem um voto é capaz de fazer o desenho da Transamazônica, mas o deputado está impedido de colocar no orçamento uma grande estrada, mesmo que a fundamentação esteja correta", protesta.

Para ele, o Legislativo está virando um departamento do Poder Executivo. A tramitação das medidas provisórias "deu uma melhorada devido ao Supremo", comenta Miro Teixeira, referindo-se à exigência de que uma comissão do Congresso aprove as medidas provisórias, como está previsto na Constituição.

"As autoridades brasileiras acham que não podem cumprir a Constituição", comenta Miro, lembrando também que o Congresso adotou o hábito de não examinar os vetos do Executivo.

O senador Francisco Dornelles, do PP, acha que a situação melhoraria se os partidos se guiassem por programas para participarem do governo. "Hoje, o governo dá aos partidos um ministério, mas, sem saber que programa vai implementar, a participação fica na base do casuísmo. E o ministro não consegue demitir nem uma secretária", ironiza Dornelles.

Ele lembra que o Parlamento surgiu para votar o Orçamento, mas, como ele é autorizativo, tira toda a autoridade do parlamentar. "Aqui, ao contrário dos países mais desenvolvidos, onde 70% do trabalho é definição do Orçamento, quem define é o Executivo, e, se um parlamentar quiser alguma coisa, tem que negociar com eles."

Da mesma maneira que Miro Teixeira, Dornelles acha que no momento "o Legislativo existe para homologar o que o Executivo quer e recebe umas emendas em trocas, mas essas emendas nem mesmo são liberadas".

Ele acha que a proliferação de partidos não ajuda em nada a fortalecer o Legislativo e é a favor de um esquema que leve normalmente à redução dos partidos, acabando com as coligações proporcionais e com o tempo gratuito de TV durante o ano para todos os partidos. "Essas duas medidas reduziriam o número de partidos e desestimulariam os que só existem para vender seu tempo de televisão."

Mas Dornelles acha que é "impossível" governar sem as medidas provisórias. Ele diz que a Constituição de 1988 retirou do Executivo a capacidade de tomar medidas administrativas por decreto, o que o obriga a aprovar leis, o que provoca o abuso das medidas provisórias.

"Medidas que não aumentem despesas deveriam voltar a ser tomadas por atos internos", avalia Dornelles.

A cientista política Argelina Figueiredo, do Instituto de Estudos Políticos da Uerj, acha que "o principal instrumento de poder legislativo do presidente, as medidas provisórias, já sofreu limitações que tornaram sua tramitação no Congresso mais visível, com a proibição da reedição e a exigência de prazo de apreciação, com trancamento de pauta, o que obriga a apreciação em plenário".

Com isso, ela acredita que o Congresso e a oposição passaram a ter maiores oportunidades de influir no processo de apreciação.

O processo orçamentário, outra fonte de poder institucional do Executivo, tem sido limitado pelo Congresso por meio das Leis Diretrizes Orçamentárias e dos Relatórios Preliminares, na visão de Argelina Figueiredo. O Congresso também tem garantido, tanto por legislação ordinária quanto por mecanismos regimentais, a obrigatoriedade de gastos em áreas específicas de políticas públicas, principalmente saúde e educação, assim como aumentos do salário mínimo acima das propostas do Executivo.

"O Congresso imprime nessas áreas a sua marca, mas dentro de limites que nunca geraram desastres fiscais, apesar da oposição ex ante dos ministérios econômicos e dos economistas", analisa Argelina.

Para ela, não há como dizer hoje que as emendas parlamentares são responsáveis por qualquer distorção no gasto orçamentário, e por isso defende que devem ser executadas.

"Elas também podem ser um importante canal de informação para o governo, uma vez que os parlamentares não teriam interesse em aplicá-las onde fosse desnecessário". No entanto, a professora do Iesp diz que "elas são o foco da grande imprensa (por sensacionalismo e não pelo impacto que podem causar) e, consequentemente, uma das causas da percepção generalizada de troca-troca entre governo e sua base".

A professora Argelina Figueiredo vê o chamado presidencialismo de coalizão, em que o papel dos partidos se torna cada vez mais importante, contribuindo para que esses exerçam sua influência, juntamente com suas bancadas no Legislativo.

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A coluna de domingo foi publicada no jornal impresso sem um parágrafo, o que dificultou seu entendimento, pelo que peço desculpas aos leitores. A versão correta está no meu blog desde domingo pela manhã.

FONTE: O GLOBO

A denúncia revisitada:: Dora Kramer

A ideia de Lula e companhia de convencer a sociedade em geral e o Supremo Tribunal Federal em particular de que as ocorrências registradas sob a rubrica "mensalão" não passaram de uma urdidura da oposição mancomunada com a imprensa municiada de informações por bandidos sofre de um erro de origem.

Para se concordar com a tese é preciso aceitar por consequência que a Procuradoria-Geral da República que ofereceu a denúncia em 2006 e o Supremo Tribunal Federal que no ano seguinte houve por bem transformá-la em processo, são cúmplices de uma farsa e, portanto, farsantes.

Antes de se cometer uma leviandade dessa dimensão conviria aos interessados fazer a leitura, senão das 136 páginas ao menos das 12 primeiras nas quais o então procurador-geral Antonio Fernando de Souza resume o que as investigações o levaram a concluir.

O procurador começa descrevendo a cena deflagradora do escândalo: um diretor dos Correios (Maurício Marinho), gravado em vídeo em conversas "para ilicitamente beneficiar um suposto empresário interessado em negociar com os Correios, mediante contratações espúrias, das quais resultariam vantagens econômicas tanto para o corruptor, quanto para o grupo de servidores e dirigentes da ECT que Marinho dizia representar".

Prossegue o procurador relatando como o então presidente do PTB e deputado, Roberto Jefferson - "acuado, pois o esquema de corrupção e desvio de dinheiro estava focado num primeiro momento em dirigentes dos Correios indicados pelo PTB" - forneceu os detalhes iniciais, "esclarecendo que parlamentares que compunham a base aliada recebiam, periodicamente, recursos do Partido dos Trabalhadores em razão do seu apoio ao governo federal, constituindo-se o que se denominou como mensalão".

A atuação, segundo consta da denúncia, ocorria de duas formas: o loteamento político dos cargos públicos, o que Roberto Jefferson denominou "fábricas de dinheiro", e a distribuição de uma "mesada" entre os parlamentares.

"Relevante destacar, conforme será demonstrado nesta peça, que as imputações feitas pelo ex-deputado Roberto Jefferson ficaram comprovadas", aponta Antonio Fernando de Souza.

Segundo ele, o cruzamento de dados bancários e a quebra de sigilos "possibilitaram a verificação de repasses de verbas a todos os beneficiários" relacionados no inquérito. "Na realidade, as apurações foram além, evidenciando engendrados esquemas de evasão de divisas, sonegação fiscal e lavagem de dinheiro".

No trecho mais conhecido, no qual se destaca a expressão "sofisticada organização criminosa", o procurador - baseado no "conjunto probatório do presente inquérito" - traça o retrato da "estrutura profissional montada para a prática de crimes como peculato, lavagem de dinheiro, corrupção ativa, gestão fraudulenta além das mais diversas formas de fraude".

Cita nominalmente José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoino e Silvio Pereira (já excluído do processo) como responsáveis, na condição de "dirigentes máximos do partido", por desvios cujos objetivos eram "negociar apoio político, pagar dívidas pretéritas do partido e também custear os gatos de campanha e outras despesas do PT e dos seus aliados".

Tudo isso para "garantir a continuidade do projeto de poder do Partido dos Trabalhadores".

Os detalhes de como foi feito isso, a descrição minuciosa de ações, dos mecanismos utilizados por intermédio do dito publicitário Marcos Valério para atender à "demanda criminosa", o conluio com bancos privados, com dirigentes de empresas estatais estão expostos nas 136 páginas da denúncia oferecida pela Procuradoria-Geral da República.

Peça aceita pelo STF não como fator de condenação, mas como conjunto de indícios suficientemente robustos para a abertura do processo.

No julgamento os ministros do STF podem até concluir pela falta de provas bastantes contra os réus. Pode inocentá-los ou deixá-los impunes por força de prescrição de penas. Mas de burla com toda certeza não se pode qualificar a narrativa em tela.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

CPI do submundo:: Eliane Cantanhêde

A CPI dos Bingos, de 2005, mirou no que viu e acertou no que não viu. A proposta era rastrear velhas propinas de um bicheiro para Waldomiro Diniz, braço direito do braço direito de Lula, José Dirceu. A coisa saiu do controle e acabou derrubando o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. O relatório da CPI foi aguado, mas o resultado prático, demolidor: dois coelhos (de Lula) com uma cajadada só.

A CPI do Cachoeira vai no mesmo rumo de abrir demais o leque de investigados e de investigações. Ou não dá em nada, ou pode dar grandes sustos. O PT quis, o PMDB deu a maior força, Lula adorou a chance de empurrar os adversários para o banco dos réus e desviar os holofotes do mensalão. Até que Dilma acordou.

Um cacique de oposição ironiza que "CPI, até contra o Santo Sudário, só é boa para a oposição". Um ministro diz que "CPI só interessa à imprensa". Outro avisa que "o governo abrange 8,5 milhões de quilômetros quadrados, nunca se sabe o que pode aparecer". E todos temem o manancial de surpresas da empresa Delta.

Em comum, as CPIs dos Bingos e do Cachoeira têm um nome, um apelido e um método: Carlos Augusto Ramos, empresário, vulgo Carlinhos Cachoeira, bicheiro. Ele foi o foco da primeira e está sendo o da segunda, mas acabou preso pela Polícia Federal. Com um arsenal explosivo.

Todas as atenções estão nas fitas da PF, que tragaram Demóstenes Torres, do DEM, mas há as do próprio Cachoeira, que explodiram Waldomiro e geraram o primeiro escândalo do governo Lula, em 2004. O PT e Lula comemoram o pacote da PF, mas devem se preocupar com o ainda não sabido pacote Cachoeira.

O advogado do bicheiro é o ex-ministro de Lula Márcio Thomaz Bastos. Na dupla condição de defender o réu e evitar que ele saia do controle?

A CPI dos Bingos virou a "CPI do fim do mundo", e a do Cachoeira, a "CPI do submundo" -porque o submundo está em toda parte.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO