quarta-feira, 2 de maio de 2012

OPINIÃO DO DIA - Fernando Henrique Cardoso: Primavera Árabe

Como você vai ligar esse mundo da conectividade imediata com as instituições? Montesquieu são as instituições. Rousseau é a vontade geral. Agora deu uma explosão da vontade geral. E cadê as instituições? Não sei se no Egito vem uma ditadura muçulmana. Depois da explosão, é difícil conter tudo, mas um predomínio [do regime muçulmano] é mais provável. Na Tunísia, mais modernizada, pode dar uma acomodação entre Montesquieu e Rousseau. A gente pensa que, feita a explosão rousseauniana, vem a democracia. Não, vem um ponto de interrogação. Por outro lado, há as forças de mercado, empresas que impulsionam. Será um processo de 20 anos.

CARDOSO, Fernando Henrique, sociólogo e ex-presidente da República. Em entrevista na Folha de S. Paulo, 30 de abril de 2012.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Bolívia estatiza gigante de energia da Espanha
Equador aceita indenizar Petrobras
Participação nos lucros vai ter isenção definida
Cachoeira queria fazer Demóstenes prefeito

FOLHA DE S. PAULO
Para baixar juros, governo estuda mudar poupança
Delta atuou para proteger liderança do PMDB, diz PF
Evo Morales toma controle de elétrica da Espanha

O ESTADO DE S. PAULO
CPI abre hoje batalha política e envolve mais um governador
Primeiro de Maio e os juros
Dilma aceita reduzir IR da participação nos lucros
Bolívia nacionaliza empresa espanhola

VALOR ECONÔMICO
Barreira faz exportação à Argentina cair 30%
Petrobras avalia projeto portuário
Estatais fora da lei de informação
Expansão do agronegócio continuará forte até 2022

CORREIO BRAZILIENSE
Cachoeira atraiu sul-coreanos para negociatas
Agora é a Bolívia que nacionaliza grupo espanhol
Dia do Trabalho

ESTADO DE MINAS
Quando o radar vira o perigo
Pelo menos 17 morrem em MG durante o feriadão
Evo Morales estatiza elétrica da Espanha
Brasil comemora e mundo protesta

ZERO HORA (RS)
Nova estatal prevê preços de pedágios variáveis no Estado
Bolívia expropria empresa espanhola

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
IR tem recorde de declarações
Bolívia estatiza empresa elétrica espanhola

PSDB quer chamar Cabral para depor na comissão

Líder do PMDB diz que relações pessoais não devem ser objeto de CPI

BRASÍLIA. Parlamentares da oposição e até da base aliada estão se movimentando para tentar evitar que o PMDB blinde o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), na CPI mista do caso Cachoeira. Hoje, o deputado Fernando Francischini (PSDB-PR), membro da CPMI, protocola na secretaria da comissão requerimento pedindo que Cabral seja convocado para explicar suas ligações com o dono da Delta, Fernando Cavendish. Fotos e vídeos divulgados recentemente pelo deputado Anthony Garotinho (PR-RJ) em seu blog mostram cenas de Cabral e secretários em viagem à Europa em 2009 na companhia de Cavendish.

- Decidimos encaminhar o requerimento para obrigar o PMDB a botar a cara votando contra - disse o deputado Otávio Leite (PSDB-RJ).

- Relações íntimas não são objetos da CPI. Porém, se delas resultar qualquer tipo de benefício, aí o assunto passa a ser de interesse público e, consequentemente, da CPI - afirmou o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ).

Para evitar a convocação, o PMDB usará na CPI o discurso de que Cabral não pode ser investigado por uma amizade com Cavendish e que, ao contrário de Marconi Perillo (GO) e Agnelo Queiroz (DF), Cabral não aparece em conversas com Carlinhos Cachoeira. O PMDB insistirá na tese de que se trata de briga política com Garotinho.

O líder do PMDB na Câmara, Henrique Alves (RN), disse que Cabral está tranquilo, pois não procurou ninguém do partido. Para ele, a amizade de Cabral e Cavendish é conhecida:

- Não tem nenhuma prova contra ele. Por acaso é objeto de CPI falar sobre relações pessoais?

Em novos vídeos divulgados ontem por Garotinho, um convidado num restaurante em Paris sugere que depois o grupo poderia ir a um cassino.

Hoje, o relator da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), recebe toda a documentação do inquérito das operações Monte Carlo e Vegas, enviada pelo Supremo Tribunal Federal.

FONTE: O GLOBO

CPI abre hoje batalha política e envolve mais um governador

Governistas e oposição vão travar hoje sua primeira batalha na CPI do Cachoeira com um novo personagem na luta política, até a semana passada restrita a petistas e tucanos. O peemedebista Sérgio Cabral (RJ) é mais um governador a ter o nome citado como suspeito de ligação com o esquema de contravenção de Carlinhos Cachoeira. Partidos de oposição decidiram pedir a convocação de Cabral para que ele explique a relação com Fernando Cavendish, dono da Delta Construções, que faria parte do esquema de Cachoeira. PMDB e PT querem blindar Cabral e Agnelo Queiroz (DF). Por outro lado, petistas defendem a convocação do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). Os tucanos aceitam a ida de Perillo, desde que os outros governadores sejam convocados. O governo federal já se preocupa com a possibilidade de a Delta abandonar a execução de obras no País, em especial as previstas no PAC

Com mais um governador na mira, CPI terá nesta quarta primeiro embate político

Oposição quer convocação de Cabral (PMDB) e Queiroz (PT); governistas querem restringir apurações a Perillo

João Domingos

BRASÍLIA - Governistas e oposição vão travar hoje sua primeira grande batalha na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cachoeira com um novo personagem no epicentro da luta política, até a semana passada restrita a petistas e tucanos, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB). Ele é mais um chefe de Executivo estadual a ter o nome envolvido no esquema de contravenção e o terceiro a entrar na mira da comissão parlamentar.

Na sessão marcada para as 10h30 os integrantes da comissão irão receber os 40 volumes do inquérito que investigou o esquema do contraventor e suas ligações com agentes públicos e privados. PMDB e PT pretendem fazer de tudo para blindar Cabral e Agnelo Queiroz (Distrito Federal) e evitar que sejam convocados a depor na CPI a respeito de supostas ligações com o contraventor Carlinhos Cachoeira e o empresário Fernando Cavendish, que se afastou na semana passada da direção da Delta Construções S.A.

Ao mesmo tempo, o PT defende a convocação do governador de Goiás, o tucano Marconi Perilo, sob o argumento de que os grampos feitos pela Polícia Federal na Operação Monte Carlo escancararam as ligações dele com Carlinhos Cachoeira. "Não quero fazer prejulgamentos, mas todas as conversas gravadas pela PF e que envolvem o governador Marconi Perillo apontam para uma séria relação dele com o bando do Cachoeira", disse ao Estado o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP). "É muito diferente do que ocorreu com o governador Agnelo, que é vítima da organização criminosa."

O líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR), rebateu Tatto. "Nós, do PSDB, já pedimos a convocação do governador Marconi, que concorda em comparecer à CPI para dar explicações. Agora, se o PT e o PMDB querem usar de dois pesos e duas medidas para proteger os seus governadores, nós não vamos aceitar", afirmou. "Se tem três governadores que são suspeitos de ligação com o Cachoeira e com a Delta, que esclareçam tudo à CPI. É isso que defendemos. Não tem de proteger ninguém", disse ainda o senador.

A convocação de Sérgio Cabral será proposta por requerimento do deputado Fernando Francischini (PSDB-PR), que é delegado da Polícia Federal. A sugestão para que ele apresentasse o requerimento de convocação é do deputado tucano Otávio Leite (RJ), que antes pediu a intermediação do presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE). Francischini acusa o governador Agnelo Queiroz de ter montado uma rede de grampos ilegais. Por isso, requereu ao Ministério Público a prisão de Agnelo.

Ao defenderem Cabral dos ataques da oposição, os dirigentes do PMDB afirmam que o governador está sendo vítima de uma briga particular com o ex-governador e deputado federal Anthony Garotinho (PR-RJ). Na semana passada, Garotinho postou em seu blog fotos de Cabral, Cavendish e secretários na Avenida Champs-Elysées, em Paris, durante viagem oficial, e no Restaurante Luis XV, no Hotel de France, em Mônaco, em 2009.

Reação. Aliado do PMDB, com o qual não quer nenhuma confusão, o líder Jilmar Tatto discorda da convocação. "É preciso examinar todos os elementos. Acho que é precipitado convocar o Sérgio Cabral agora", disse Tatto.

O Palácio do Planalto quer manter a CPI sob controle, fazendo com que investigue somente o esquema de Cachoeira e as ligações dele com o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), além da construtora Delta.

O líder do governo, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) disse que o governo não quer ter nada sob controle: "Existe uma dinâmica no noticiário. É o chamado comportamento de manada. Atribui-se (isso) ao Planalto e ninguém diz com quem falou. Lamentavelmente, são análises em vez da informação", afirmou.

Já o presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), voltou a prever que a CPI do Cachoeira será "muito complexa, explosiva, e que vai exigir muita atenção das pessoas ligadas ao mundo da política".

Segundo ele, sua expectativa é de que haja uma "bela investigação", capaz de esclarecer as relações de Carlinhos Cachoeira com o mundo político, com o mundo privado e o setor público. Maia previu ainda que a CPI não vai atrapalhar a pauta da Câmara. Para ele, trata-se de algo independente do trabalho da CPI.

Colaboraram Beatriz Bulla e Isadora Peron

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Oposição foca relação de Cabral com Cavendish

Para adversários, imagens nas quais o governador aparece em momentos de descontração com dono da Delta justificam pedido de convocação na CPI

Luciana Nunes Leal

RIO - Partidos de oposição decidi-ram pedir a convocação do governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), à CPI do Cachoeira, para que ele explique as relações com o empresário Fernando Cavendish, dono da Delta Construções. Embora o PMDB nacional esteja pronto para entrar em campo e evitar o depoimento do governador, o PSDB e o PSOL argumentam que a Delta está no centro das investigações e lembram os contratos do governo do Rio com a empreiteira, que recebeu R$ 1,5 bilhão na gestão Cabral. Na semana passada, Cavendish se afastou da direção da Delta, apontada pela Polícia Federal como financiadora de empresas fantasmas criadas pelo contraventor Carlinhos Cachoeira, preso em consequência das investigações da Operação Monte Carlo.

Para parlamentares do Rio adversários de Cabral, a convocação do governador tornou-se inevitável depois da divulgação, pelo deputado e ex-governador Anthony Garotinho (PR), de uma série de fotos e vídeos do governador em momentos de descontração com Cavendish. Desde a última sexta-feira, Garotinho divulga novas imagens a cada dia, sempre mostrando Cabral, secretários de Estado e Cavendish, com suas mulheres, em festas suntuosas e jantares nos mais caros restaurantes da França. “A CPI investiga as relações mafiosas do Cachoeira com a Delta e a Delta emergiu no Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo, as fotos e vídeos mostram a relação íntima da Delta e de Fernando Cavendish com Cabral. A sociedade exige um esclarecimento do governador e a CPI é o âmbito para essas explicações”, diz o deputado Otávio Leite (PSDB-RJ), pré-candidato a prefeito do Rio.

Requerimento. Otávio Leite, que não está na CPI, acertou ontem com Fernando Francischini (PSDB-PR), integrante da comissão de inquérito, o conteúdo do requerimento de convocação de Cabral. Francischini disse que “os fatos são graves” e discutirá hoje o assunto com os outros deputados tucanos da CPI. “Decidimos assinar todos os requerimentos em conjunto”, afirmou o parlamentar paranaense. O deputado do PSOL Chico Alencar (RJ) também defende a convocação de Cabral e vai conversar com o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), suplente da CPI. “Como a CPI é do Cachoeira e da Delta, todas as articulações e ganhos da Delta têm que ser verificados e, nesse plano, o governador Sérgio Cabral tem i nformações a dar. Não temos pressa, mas o governador deve falar à CPI”, afirmou Chico Alencar.
A assessoria de Cabral disse que o governador não comentaria a possibilidade de convocação, porque os trabalhos da comissão ainda não começaram.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

PMDB rechaça convocação e promete apoio

Líderes da sigla, a maior do Congresso, dizem não haver motivos para levar Cabral à comissão

RIO - Líderes do PMDB nacional disseram não ter sido procurados pelo governador nos últimos dias, mas reiteraram que não há motivos para a convocação de Cabral, que não é citado nas investigações da Polícia Federal e não tem nenhuma ligação conhecida com Cachoeira. 

Um parlamentar peemedebista disse ontem que será até melhor se o requerimento de convocação do governador for apresentado no início dos trabalhos, pois será derrubado “com mais facilidade”. Todos reconhecem, porém, o enorme desgaste de Cabral com a divulgação das imagens de viagens do governador ao lado de Fernando Cavendish. Em guerra com Cabral, Garotinho conta com a articulação dos partidos de oposição, já que o PR vetou a indicação de seu nome para a CPI e não dá sinais de que apoiará a convocação do governador. “Tudo o que já mostrei e o que ainda vou revelar aqui no blog é aperitivo perto do que vou levar para a CPI”, avisou Garotinho na última segunda-feira. Garotinho divulgou fotos de Cavendish, Cabral e secretários na saída de uma festa em Paris. 

A assessoria de imprensa de Cabral disse que o governador “arca com suas despesas pessoais” nas programações que não envolvem compromissos oficiais. Segundo a assessoria, o jantar em 2009 aconteceu durante uma viagem particular. Em nota, Cabral confirmou a amizade com Cavendish e disse que não tinha conhecimento da relação da Delta com Cachoeira. / L.N.L

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Delta atuou para proteger liderança do PMDB, diz PF

Gravações da PF mostram que um diretor da Delta pediu a ajuda de Cachoeira para evitar que Demóstenes Torres atacasse o vice-líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha. O senador iria depor como testemunha de defesa de uma jornalista processada pelo deputado. Os envolvidos negam que isso tenha ocorrido.

Gravação indica que construtora tentou blindar peemedebista

Então diretor da Delta solicita que Demóstenes não ataque Eduardo Cunha; deputado diz que nunca pediu isso

Cachoeira afirma que irá conversar com o senador goiano e indica estar otimista; "Pedido nosso é uma ordem"

Breno Costa

BRASÍLIA - Telefonemas interceptados pela Polícia Federal mostram que a cúpula da empreiteira Delta Construções atuou para proteger o vice-líder do PMDB na Câmara, deputado Eduardo Cunha (RJ), em processo que o parlamentar movia contra uma jornalista.

É a primeira vez que Cunha, que é amigo do dono da empreiteira, Fernando Cavendish, é citado em grampos da Polícia Federal na Operação Monte Carlo, que originou a CPI do Cachoeira.

Em conversa gravada no dia 25 de março de 2011, o então diretor regional da Delta no Centro-Oeste, Cláudio Abreu, conversa com o suspeito de contravenção Carlinhos Cachoeira a respeito de um depoimento que o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) daria quatro dias depois em um processo que Cunha move contra a jornalista Dora Kramer, de "O Estado de S. Paulo".

A ação está trancada desde maio passado no Tribunal de Justiça de São Paulo. O processo questiona um artigo sobre a disputa pelo controle do fundo de pensão de Furnas, que citava Cunha.

Abreu relata a Cachoeira ter sido "incumbido" de convencer Demóstenes, arrolado como uma das três testemunhas de defesa da jornalista, a "não pegar pesado" com o vice-líder do PMDB.

Demóstenes e Cunha são adversários políticos. "Eu fui incumbido aqui para falar com você para falar lá com o Demóstenes, cara", diz Abreu. "Ele vai depor a favor da Dora, só que estão pedindo para mim ir lá conversar com ele para não pegar pesado com o Eduardo."

Cachoeira diz então que irá conversar sobre o pedido com o senador, e indica estar otimista com a receptividade do senador: "Vamos conversar. Pedido nosso é uma ordem".

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Ministro admite que Delta pode parar obras

Daiene Cardoso e Beatriz Bulla

O ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, admitiu ontem que o governo já se preocupa com a possibilidade de a construtora Delta deixar a execução de obras tocadas por ela em todo o País, em especial as do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC). Investigações da Polícia Federal apontam uma ligação entre a empreiteira e o esquema do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. De acordo com o ministro, o governo já analisa tecnicamente como a empreiteira poderia ser substituída caso isso ocorra. “O Ministério do Planejamento está se preparando para fazer o mais rápido possível o processo para que as obras sejam retomadas o quanto antes”, afirmou.

O ministro disse que o governo trabalha para impedir que haja descontinuidade na execução das obras. “Vamos fazer de tudo naturalmente para que não haja a solução de descontinuidade”, afirmou Gilberto Carvalho. Já o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, que participou do evento organizado pela Força Sindical, afirmou que a saída da empreiteira não deve prejudicar o calendário de obras para a Copa do Mundo. “A Delta saiu da obra do Maracanã, mas as outras empresas que compõem o consórcio assumiram as obras, então não houve prejuízo ao calendário e nem à execução. Eu não vejo como as investigações possam prejudicar a Copa.”.

Durante o ato político promovido pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), o presidente nacional do PT, deputado estadual Rui Falcão (SP), citou o escândalo que envolve parlamentares e políticos ao esquema do contraventor que será objeto da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) no Congresso. “Nos mobilizemos para que a CPI não acabe em pizza”, defendeu Rui Falcão à plateia.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Cachoeira queria fazer Demóstenes prefeito

Gravações de conversas interceptadas pela Polícia Federal entre o contraventor Carlinhos Cachoeira e o vereador de Goiânia Santana Gomes (PMDB) mostram que o grupo do bicheiro trabalhava para que o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) fosse eleito prefeito da capital neste ano e governador em 2018. O objetivo era "ter alguém com o poder na mão".

"Vamos fazer nosso prefeito"

Gravações da PF mostram que grupo de Cachoeira queria eleger Demóstenes em Goiânia

André de Souza

Gravações interceptadas pela Polícia Federal (PF) com autorização da Justiça mostram o bicheiro Carlinhos Cachoeira discutindo com o vereador de Goiânia Santana Gomes (PMDB) a candidatura do senador Demóstenes Torres (ex-DEM, sem partido-GO) à prefeitura de Goiânia. Na conversa, eles dizem que precisam de alguém com "poder na mão". Até o início deste ano, Demóstenes era um dos pré-candidatos mais cotados à prefeitura da capital goiana. Mas desistiu publicamente da disputa.

O estouro do escândalo envolvendo Cachoeira sepultou as esperanças de quem ainda via no parlamentar um potencial candidato. Demóstenes Torres é considerado a ponte de Cachoeira com o mundo político em Brasília.

- Deixa eu te contar uma coisa: o Demóstenes vai ser nosso prefeito, não vai? Nós temos que ter alguém com o poder na mão, chefe - disse Santana Gomes, em telefonema feito no dia 13 de março do ano passado.

- Exatamente, exatamente - responde Cachoeira.

Os dois conversaram pelo telefone inicialmente para falar de Jorcelino Braga, secretário estadual da Fazenda na gestão anterior, do ex-governador Alcides Rodrigues (PP), de 2006 a 2010.

Alcides, que era vice do atual governador tucano Marconi Perillo (GO), assumiu o governo quando o titular renunciou ao mandato para disputar o Senado, em 2006. Mas eles terminaram por se afastar e Braga se desentendeu com Marconi Perillo, que em 2011 voltou a ser governador de Goiás.

Planos para o governo em 2018

O bicheiro diz acreditar que Jorcelino Braga quer uma aproximação com o grupo. Santana Gomes - que inicialmente fica com medo de entrar em contato com o ex-secretário e "se queimar" com o atual governador - concorda em fazer a aproximação e sugere que isso vai ajudar a fazer Demóstenes Torres prefeito de Goiânia.

- Então tá bom. Vamos tomar um café amanhã pra gente bater umas ideias e montar uma estratégia beleza pra gente começar. Eu vou começar. Eu já sei que cê tá pensando. O Demóstenes vai ser prefeito. É isso que cê tá querendo dizer, né? - indaga Santana.

Pouco depois, Cachoeira diz:

- Traz ele (Braga) pro nosso lado. Tenta trazer.

Santana então rasga elogios ao chefe:

- Você é certo demais, você é forte demais. Não, você fez perfeito. Com esse trem na mão, nós estamos bem na foto, né, amigo. Nós vamos fazer nosso prefeito, né?

- Ele tá com o c... na mão, rapaz. Traz o Braga pro lado. Tá bom? Procura ele amanhã (sic). Não tem problema, não. Não queima, não. Tem nada que queimar com Marconi - responde Cachoeira.

As pretensões políticas iam além. A Juventude do DEM chegou a lançar Demóstenes candidato a presidente para 2014, na sucessão de Dilma Rousseff. Os mesmos jovens, após o surgimento das denúncias e o envolvimento com Cachoeira, defenderam a expulsão do senador do partido.

Em um outro diálogo, captado pela Polícia Federal no dia 16 de maio de 2011, o próprio Demóstenes Torres diz ao bicheiro Carlinhos Cachoeira que o governador Marconi Perillo o queria não apenas para prefeito este ano, mas para governador em 2018.

Demóstenes não é o único parlamentar goiano cotado para a prefeitura da capital a ser exposto no escândalo por suas relações com Cachoeira. O grupo inclui ainda os deputados federais Jovair Arantes (PTB), Sandes Júnior (PP) e Leonardo Vilela (PSDB).

FONTE: O GLOBO

Cabral quis ser chique, foi brega :: Elio Gaspari

Vergonha, essa é a sensação que resulta dos videos das vilegiaturas parisienses do governador Sérgio Cabral em 2009, acompanhado por alguns secretários e pelo empreiteiro Fernando Cavendish, dono da Delta.

Uma cena pode ser vista com o olhar do casal que está numa mesa ao fundo do salão do restaurante Louis XV, no Hotel de France, em Mônaco. ("Este é o melhor Alain Ducasse do mundo", diz Cabral, referindo-se ao chef.) Ela é uma senhora loura e veste um pretinho básico. A certa altura, ouve uma cantoria na mesa redonda onde há oito pessoas. Admita-se que ela entende português. O grupo comemora o aniversário de Adriana Ancelmo, a mulher de Cabral, e festeja o próximo casamento de Fernando Cavendish. Até aí, tudo bem, é vulgar puxar celulares no Louis XV e chega a ser brega filmar a cena, mas, afinal, é noite de festa. A certa altura, marcado o dia do casamento, Cabral decide dirigir a cena:

"Então, dá um beijo na boca, vocês dois."

Cavendish vai para seu momento Clark Gable e o governador diz à mulher do empreiteiro:

"Abre essa boca aí."

As cenas foram filmadas por dois celulares. Um deles era o do dono da Delta.

Na mesma viagem, Cavendish, o empresário George Sadala, seu vizinho de Avenida Vieira Souto e concessionário do Poupatempo no Rio e em Minas, mais os secretários de Saúde e de Governo do Rio (Sérgio Cortes e Wilson Carlos), estão no restaurante do Hotel Ritz de Paris. Até aí, tudo bem, pois o empreiteiro tinha bala para segurar a conta. Pelas expressões, estão embriagados. Fora do expediente, nada demais. Inexplicáveis, nessa cena, são os guardanapos que todos amarraram na cabeça. Ganha uma viagem a Dubai quem tiver uma explicação para o adereço.

O álbum fecha com a fotografia de quatro senhoras gargalhantes, no meio da rua, mostrando as solas de seus stilettos (duas vermelhas). Exibem como troféus os calçados de Christian Louboutin. Nos pés de Victoria Beckam (38 anos) ou de Lady Gaga (26 anos), eles têm a sua graça, mas tornaram-se adereços que, por manjados, tangenciam a vulgaridade. Não é à toa que Louboutin desenhou os modelos das dançarinas (topless) do cabaret Crazy Horse.

As cenas constrangem quem as vê pela breguice. Até hoje o ex-presidente José Sarney é obrigado a explicar a limusine branca de noiva tailandesa com que se locomoveu numa de suas viagens a Nova York. (Não foi ele quem mandou alugar o modelo.) A doutora Dilma explicou que não foi ela quem mandou fechar o Taj Mahal. No caso das vilegiaturas de Cabral, a breguice não partiu dos organizadores da viagem, mas da conduta dele, de seus secretários e do amigo empreiteiro.

Esse tipo de deslumbramento teve no governador um exemplo documentado, mas faz parte do primarismo dos novíssimos ricos do Brasil emergente. Noutra ponta dessa classe está o senador Demóstenes Torres, comprando cinco garrafas de vinho Cheval Blanc, safra de 1947: "Mete o pau aí. Para muitos é o melhor vinho do mundo, de todos os tempos (...) Passa o cartão do nosso amigo aí, depois a gente vê." O amigo do cartão era Carlinhos Cachoeira, que, por sua vez, também era amigo da empreiteira Delta, de Cavendish.

Elio Gaspari é jornalista.

FONTE: O GLOBO

Para baixar juros, governo estuda mudar poupança

Rendimento da caderneta funciona como piso para a taxa real; presidente pode apresentar proposta hoje

A presidente Dilma Rousseff estuda mudanças na caderneta de poupança como parte de sua estratégia para baixar as taxas de juros.

A proposta, que pode ser apresentada a líderes governistas em reunião hoje, objetiva reduzir os juros reais da economia para 2% ao ano ainda neste mandato.

Para ter juros de 1º mundo, Dilma quer mudar poupança

Presidente convocou aliados para reunião hoje no Planalto e pode abordar o tema

Alteração é condição para redução dos juros, mas possível desgaste faz aliados defenderem que ela adie medida

Valdo Cruz, Sheila D’Amorim

BRASÍLIA - Dois dias depois de defender em cadeia nacional de TV a redução dos juros, a presidente Dilma Rousseff reúne hoje os líderes dos partidos governistas para discutir medidas econômicas que permitam baixar ainda mais as taxas bancárias e pode incluir na discussão mudanças na remuneração da caderneta de poupança.

Dilma definiu como estratégia de seu governo reduzir os juros reais da economia para no máximo 2% ao ano até o fim de seu mandato, meta que para ser atingida demanda alterações no rendimento da aplicação mais popular do país.

A medida, já tentada antes, tem caráter altamente polêmico, principalmente neste ano eleitoral.

Em pronunciamento de TV e rádio anteontem, Dilma acusou uma "lógica perversa" do setor financeiro e cobrou redução dos juros cobrados pelos bancos privados.

Segundo assessores, na reunião de hoje no Palácio do Planalto ela pretende "preparar o terreno" para tratar das mudanças na poupança.

Um assessor presidencial disse à Folha que ela quer discutir o assunto com seus aliados, mas ainda avaliava a viabilidade política, já que este é um ano eleitoral e o tema de "mudar a poupança" é visto com desconfiança.

Atualmente, os juros reais -taxa do Banco Central, descontada a inflação- no Brasil estão em 3,3% ao ano, nível mais baixo desde o início dos anos 90.

Apesar de próximo ao piso de 2% ao ano desejado por Dilma, as reduções a partir do patamar atual são mais difíceis por esbarrarem em problemas estruturais -um deles, a remuneração da caderneta de poupança.

Fixado em lei, o rendimento mínimo da poupança equivale à variação da TR (Taxa Referencial) mais 6,17% ao ano, funcionando como um piso para taxa de juros.

Se a taxa básica do BC, hoje em 9% ao ano, ficar próxima do rendimento da poupança, aplicações como fundo de investimento ficariam menos rentáveis que a caderneta porque pagam Imposto de Renda e taxa administrativa.

Isso provocaria fuga de recursos para a poupança, criando problemas para os bancos e dificuldades para o governo financiar sua dívida.

Alguns líderes governistas, porém, estão aconselhando Dilma a deixar a mudança para depois das eleições, o que pode fazê-la mudar de ideia e não apresentar o tema hoje.

Mas há um grupo dentro do governo e também no Congresso que defende que a presidente enfrente o tema já. Além de contar com a popularidade recorde de Dilma para esse período de governo, o Planalto discute fórmulas para evitar o desgaste político que aconteceu durante o governo Lula, que ensaiou mudanças na poupança.

Recuou diante dos ataques da oposição e porque o BC começou a subir os juros, tornando desnecessária a medida.

Agora, técnicos preparam o que está sendo chamado de uma "nova modalidade de poupança", que seria vendida para a sociedade como um investimento que poderia até render mais do que a atual e abriria espaço para uma queda mais acentuada dos juros. Alguns nomes são citados por assessores, como "poupança flex" ou "poupança ouro".

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Planalto não declarou guerra aos bancos, diz Gilberto Carvalho

Ministro afirma que presidente pretende "convencer" o sistema financeiro a "dar sua cota" para a queda de juros

"Não tem guerra. Tem é um convencimento", diz petista; Dilma atacou "lógica perversa" dos bancos em rádio e TV

Mariana Carneiro, Bernardo Mello Franco

SÃO PAULO - Um dia depois de a presidente Dilma Rousseff atacar os bancos em pronunciamento de rádio e TV no qual cobrou a queda dos juros ao consumidor, o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral) disse ontem que o governo não declarou guerra ao sistema financeiro.

"Não se trata de guerra. Se trata de convencer o sistema financeiro de que cada um tem que dar a sua cota para que o Brasil sobreviva num momento de crise", afirmou, após participar das duas festas de Primeiro de Maio organizadas pelas principais centrais sindicais em São Paulo.

"Não tem guerra. Tem é um convencimento, a partir do exemplo dos bancos estatais, para que o juro caia em todo o mercado", acrescentou.

O ministro reforçou que o governo espera que os bancos acelerem a redução das taxas ao consumidor e às empresas para que o Brasil "deixe de ser o país que cobra os juros mais altos do mundo".

Ele afirmou que o discurso demonstrou "o empenho e a determinação da presidente em reduzir o custo do financiamento da produção". "Era fundamental que ela fizesse um pronunciamento para deixar clara a posição do governo", disse o petista.

Segundo Carvalho, o governo busca impulsionar o crescimento via crédito. "Se trata de uma indução para que a economia cresça, o crédito seja barato e o país continue a rodar nesta mesma intensidade", afirmou.

No pronunciamento de anteontem, Dilma atacou os bancos privados e usou a expressão "lógica perversa" para criticar os juros cobrados ao consumidor.

Carvalho esclareceu que, nesta crítica, a presidente se referia ao spread bancário, a diferença entre o custo de captação de recursos pelos bancos e o valor cobrado para emprestar ao consumidor.

Segundo dados do Banco Central, em março, o spread (ou diferença) chegou a 176 pontos percentuais nos juros cobrados no cheque especial. Em média, os bancos captaram recursos com taxa de juros próxima a 9% ao ano e emprestaram a 185% ao ano.

Apoio

A crítica de Dilma ao sistema financeiro privado ganhou respaldo e elogios de sindicalistas durante as festas do Dia do Trabalhador.

O presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), discursou em apoio à presidente.

"Estamos de acordo com a presidente na questão de enfrentar os juros", disse a jornalistas: "A presidente vai enquadrar a equipe econômica pra enquadrar banqueiro".

O presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Artur Henrique, também elogiou o pronunciamento. "É um grande desafio enfrentar este poder do sistema financeiro", afirmou.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Primeiro de Maio e os juros

Festa do Primeiro de Maio na zona norte de SP; os dirigentes das principais centrais sindicais elogiaram a presidente Dilma Rousseff por suas críticas, em rede nacional, aos juros bancários. Os bancos não quiseram comentar o pronunciamento

Centrais sindicais defendem ataque de Dilma a bancos

Adversárias, Força e CUT se unem para elogiar presidente que, na véspera do 1ºde maio, disse que taxa de juro alta "é inadmissível"

Isadora Peron, Daiene Cardoso

Os presidentes das duas principais centrais sindicais do País , CUT e Força Sindical, defenderam ontem, nas comemorações do 1.º de Maio, o pronunciamento da presidente Dilma Rousseff , feito na véspera em cadeia de rádio e TV, quando ela atacou os bancos ao dizer que era inadmissível que as instituições privadas cobrassem os "maiores juros do mundo". Em discurso para mais de 50 mil pessoas, que participavam ontem da comemoração do Dia do Trabalho, o presidente da Força, deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), elogiou o pronunciamento da presidente: "Acho que nunca um presidente do Brasil tratou de juros de uma forma tão dura como a presidente Dilma fez ontem (segunda-feira)", afirmou Paulinho da Força, como o deputado é conhecido. Segundo ele, a diminuição da taxa de juros cobrada pelas instituições financeiras é uma reivindicação antiga das centrais sindicais e, agora, após sensibilizar Dilma sobre o tema, o próximo passo será a presidente conseguir "enquadrar" a equipe econômica, que sempre se posicionou contrária a essa decisão. "Ninguém aguenta mais comprar uma televisão e pagar três. Mas eu acho que a presidente Dilma tratou desse assunto seriamente e isso mostra que nós ganhamos a opinião dela", afirmou.

CUT. Já o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique, disse que "a presidente Dilma respondeu à nossa reunião, feita há um mês, onde colocamos que ela tinha de ter mais ousadia com o sistema financeiro". "Ela tinha de cobrar mais a redução do spread bancário e utilizar os bancos públicos para isso", disse o sindicalista, que participou da festa de 1.º de Maio organizada pela central, em São Paulo. O dirigente disse que a posição da presidente tende a encaminhar o País para uma grande reforma tributária, onde se privilegie os geradores de emprego e se puna os "especuladores". "Temos de continuar (com esses discurso) para fazer a reforma tributária e garantir que, quem quer produzir e gerar emprego, pague menos impostos, e quem quer especular, pague mais impostos. Essa é a nossa luta", emendou.

Pressão. Na quinta-feira, em nova reunião com empresários, Dilma vai pedir que eles continuem investindo no País. Banqueiros também participarão.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Freire vai a Encontro das Centrais e fala sobre impactos da crise sobre os trabalhadores brasileiros

Freire discursa na festa das centrais

Por: Bruno Soller

O deputado federal e presidente nacional do PPS, Roberto Freire, participou do Encontro Unificado das Centrais Sindicais, na Zona Norte da capital paulista. Organizado pela Força Sindical, UGT, CTB, Nova Central e CGTB, o evento teve como mote "Desenvolvimento com menos juros, mais salários e empregos". Estima-se que até o final do dia, 300.000 pessoas participem dos festejos.

Único parlamentar de oposição ao governo federal presente, Roberto Freire discursou para os trabalhadores e os alertou sobre os impactos da crise econômica, com o processo intenso de desindustrialização vivido pelo país. O deputado rememorou a irresponsabilidade do ex-presidente da República Luís Inácio Lula da Silva que classificou os efeitos da crise mundial de 2009, como "marolinha" e disse que o preço de tal leviandade começa a ser pago hoje pelos brasileiros.

As demais lideranças presentes aliados do Planalto indiretamente criticavam o governo Lula ao exaltarem as medidas mudancistas tomadas pela presidente Dilma Roussef em relação a queda, ainda que insuficiente, da taxa de juros e o anúncio de redução dos lucros dos bancos. Roberto Freire, no entanto, foi enfático ao dizer que, apesar da expectativa gerada pelas medidas, não acredita que este governo tenha capacidade de realizar mudanças substanciais nessa relação com o capital financeiro e que a condição de subalternidade aos banqueiros, infelizmente, deve prevalecer.

O Presidente Estadual do PPS de São Paulo e Secretário Estadual de Gestão Pública, Davi Zaia, compareceu, também, ao evento, representando o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que cancelou sua participação, devido a uma indisposição. O evento começou às 7 horas da manhã e tem duração prevista até às 18 horas, de hoje, com a apresentação de diversos artistas e grupos musicais.

FONTE: PORTAL DO PPS

A 'lógica perversa' dos juros

O governo Dilma Rousseff está em busca de uma bandeira para chamar de sua. A candidata da hora é a redução dos juros. O problema é que, nos últimos nove anos, as gestões petistas se comportaram como francas usurárias, praticando as maiores taxas do planeta. Não adianta, agora, a presidente querer posar de mocinha.

Todo mundo quer juros mais baixos. A questão é que não é possível baixá-los apenas na vontade, no grito, na marra, como Dilma tenta fazer. São necessárias medidas, projetos, ações, que o governo até agora não tomou. Na base da machadada, a despeito de todo o gogó da presidente, os juros não cairão como precisam.

À frente de um governo ora insosso, ora mergulhado em denúncias de corrupção nestes seus 16 meses de existência, tudo o que Dilma mais sonhava era com a bola levantada pela Febraban no início de abril. Desde a fatídica declaração de Murilo Portugal, a presidente ganhou um mote: bater, dia sim, dia também, nos juros e nos bancos.

O ápice, pelo menos até agora, foi catapultar a taxa Selic à condição de tema central do discurso presidencial transmitido em cadeia nacional por ocasião do Dia do Trabalho. Inusitadamente, os juros dominaram a maior parte dos mais de sete minutos da fala de Dilma no 1° de maio, numa espécie de propaganda enganosa e extemporânea.

No trecho mais comentado, a presidente da República disse: "O setor financeiro não tem como explicar essa lógica perversa aos brasileiros. A Selic baixa, a inflação permanece estável, mas os juros do cheque especial, das prestações ou do cartão de credito não diminuem."

Mas o que o governo fez até agora para quebrar tal "lógica perversa"? A taxa Selic vem caindo desde agosto, é verdade, mas ainda se mantém como a segunda mais alta do mundo em termos reais, ou seja, descontada a inflação - só na Rússia cobra-se mais dos tomadores de crédito. O primeiro a praticar a usura é, portanto, o próprio governo.

O governo é, também, o responsável-mor pelos bancos serem tão acomodados nas taxas que cobram na concessão de crédito: o Tesouro Nacional tem R$ 1,9 trilhão em títulos no mercado, ou seja, valor quase igual aos R$ 2,1 trilhões do estoque geral de crédito no país.

"Se têm à sua disposição um devedor que paga bem e no mole; se esses financiamentos não oferecem risco de crédito; e se não acarretam custos operacionais relevantes de financiamento; por qual motivo os bancos têm de dar melhores condições para conquistar clientes?", comenta Celso Ming na edição de hoje d'O Estado de S.Paulo.

O tremendo endividamento público está, portanto, na raiz dos juros escorchantes praticados no Brasil - que chegam a quase 240% ao ano nas operações de cartão de crédito. Como o gasto do governo cresce sem parar, os bancos não têm a menor preocupação em diversificar suas operações, e o espaço para uma queda maior dos juros acaba ficando reduzido.

Se quer apelar para o voluntarismo, a presidente poderia, por exemplo, mandar sua equipe econômica baixar os juros que cobra de estados e municípios pela dívida refinanciada no fim dos anos 1990. O pleito é justo, liberaria dinheiro para investimento e para a melhoria da vida da população. Mas o governo só aceita trocar seis por meia dúzia, enquanto concede, no balcão do BNDES, dinheiro baratinho para empresários amigos. Não é uma "lógica perversa"?

Se exige dos bancos que pratiquem uma correlação mais equilibrada entre o que cobram na concessão de crédito e o que pagam a seus investidores, o governo também poderia olhar para o FGTS. O dinheiro depositado nas contas dos trabalhadores é remunerado à menor taxa do mercado: inacreditáveis 3% ao ano. Por que não pagar mais aos empregados e também romper esta "lógica perversa"?

Não adianta o governo vir dizer que mandou seus dois maiores bancos públicos cortar as taxas de juros. Como os jornais se cansaram de mostrar nos últimos dias, a redução só foi boa pra poucos - e não "pra todos", como propagandeia o Banco do Brasil na TV. Só alguns têm conseguido pagar menos de fato; o grosso continua pendurado no cheque especial.

Na luta retórica do governo Dilma contra os juros, a primeira vítima real a tombar deverá ser a caderneta de poupança. Segundo a Folha de S.Paulo, hoje mesmo a equipe palaciana deve começar a implodir o modelo atual, diminuindo a remuneração dos depósitos. Atacar problemas como a alta tributação do crédito e adotar mecanismos que poderiam diminuir a inadimplência, como o cadastro positivo e a portabilidade de dívidas, nem pensar.

Dilma Rousseff percebeu que os efeitos de sua ilusória "faxina" desvaneceram no imaginário da população. Viu que era preciso erigir novos mitos para manter sua popularidade em alta. Com tanto banqueiro falastrão dando sopa por aí, foi fácil. O difícil será fazer os juros caírem a níveis realmente civilizados. Só com base na saliva e no marketing, eles continuarão perversamente onde estão.

Fonte: Instituto Teotônio Vilela

No popular:: Merval Pereira

A presidente Dilma mudou o tom com os bancos privados, levando para um discurso político do Dia do Trabalho a exigência de redução dos juros que vinha fazendo em discussões técnicas entre o Ministério da Fazenda e a Febraban.

Essa mudança, independentemente da discussão de mérito, sinaliza uma perigosa tendência de seu governo de se apoiar nas altas taxas de popularidade para pressionar setores da economia que não se enquadrem nas suas orientações.

Aparentemente, o impasse criado pela reivindicação dos bancos por reduções variadas, do compulsório à carga tributária, levou a presidente a dar um passo a mais no sentido de popularizar o debate para pressioná-los.

É inegável que boa parte da popularidade estratosférica da presidente Dilma deve-se a posições bastante ao gosto da média da população, como o combate aos "malfeitos", sem que seja necessário que resultados sejam consequência dessas atitudes.

No combate ao que chama de "malfeitos", num achado marqueteiro que tira a palavra "corrupção" do linguajar político e coloca em contraposição a presidente e seus "benfeitos", ela teve que demitir nada menos que seis ministros sem que nada além da perda do cargo acontecesse a nenhum deles e a outros burocratas estatais que foram de roldão nesses escândalos.

Que, diga-se de passagem, nunca foram descobertos pelos órgãos de controle governamentais, e sim pelas denúncias dos meios de comunicação.

Mas o que ficou na percepção popular foi sua decidida postura contra esses "malfeitos" cometidos por ministros escolhidas por ela mesma.

Com relação aos juros bancários, a presidente tomou medidas concretas, ordenando aos bancos públicos que reduzissem suas taxas para "dar o exemplo" e conseguindo que o Banco Central encontrasse ambiente favorável à queda da Selic.

Mesmo que tenha sido pequena, menor do que a propaganda oficial dá a entender, há uma tendência de redução dos juros nos bancos estatais, o que cria um ambiente favorável a que a medida se espalhe pelo setor.

Vários bancos privados já anunciaram que acompanharão os bancos públicos, mas esse movimento é muito lento ainda, e as últimas reuniões entre a Fazenda e o representante da Febraban mostram que os bancos privados querem uma contrapartida governamental para aderir à queda mais firmemente.

Foi isso que levou a presidente Dilma a levar para a televisão o tema, que sem dúvida nenhuma é popular e contribuirá tanto para consolidar ou até mesmo melhorar sua popularidade como para reduzir a já escassa popularidade dos banqueiros privados.

A presidente Dilma estava até sorridente quando disse, por exemplo, palavras duras sobre os bancos privados: "É inadmissível que o Brasil, que tem um dos sistemas financeiros mais sólidos e lucrativos, continue com um dos juros mais altos do mundo. Esses valores não podem continuar tão altos. O Brasil de hoje não justifica isso."

Embora sua fisionomia amena na ocasião não possa ser comparada à carranca da presidente da Argentina, Cristina Kirchner, que parece estar sempre em luta contra os dragões da maldade do capitalismo, a postura da presidente brasileira pode ser comparável à de sua colega argentina.

A utilização da política para resolver questões técnicas é tática populista que pode render frutos eleitorais a curto prazo, mas leva a decisões que podem ter consequências maléficas a longo prazo para a economia do país.

O discurso de Dilma foi muito bem elaborado, como sempre, pelo marqueteiros João Santana, e até mesmo questões técnicas como a inadimplência foram tratadas pelo viés populista, na intenção de jogar os argumentos dos bancos contra a população.

Os bancos alegam que a inadimplência é uma das grandes culpadas pelos altos juros, e a presidente saiu em defesa de seu povo no discurso televisivo: "Os bancos não podem continuar cobrando os mesmos juros para empresas e para o consumidor, enquanto a taxa básica Selic cai, a economia se mantém estável, e a maioria esmagadora dos brasileiros honra, com honestidade, os seus compromissos".

Preocupada com o crescimento da economia, que este ano promete ser mais ou menos do mesmo tamanho do anterior, isto é, em torno de 3%, taxa insuficiente para manter o pleno emprego e a percepção de bem-estar que ainda predomina, a presidente disse que "a economia brasileira só será plenamente competitiva" quando as taxas se equipararem às praticadas no mercado internacional.

"Quando atingirmos este patamar, os nossos produtores vão poder produzir e vender melhor, e os nossos consumidores vão poder comprar mais e pagar com mais tranquilidade", ressaltou Dilma Rousseff.

O discurso da presidente está basicamente correto, mas ela não revelou aos telespectadores que, para atingirmos esse patamar e termos uma economia mais competitiva, cabem também ao governo algumas ações.

Os bancos alegam que spread alto - diferença entre a taxa que o banco capta e a que empresta - é resultado da alta carga tributária, de custos de inadimplência e da insegurança jurídica do país, da qual a fala da presidente faz parte, obviamente.

Eles têm números que mostram que 70% do spread são de custos, e 30% são o lucro líquido, e alegam que primeiro é preciso resolver as questões pendentes, para depois reduzir os juros.

Um dos pontos exemplares da insegurança jurídica está na aprovação do chamado "cadastro positivo", cuja regulamentação ainda esbarra em questões políticas no Congresso. Há quem veja nele uma discriminação contra os devedores inadimplentes, que seriam prejudicados. Mas, se a ideia é justamente essa, para que os bons pagadores possam ter juros mais baixos, por que demorar na decisão?

As microrreformas realizadas nos últimos anos já permitiram que a retomada de automóvel ou casa seja mais rápida, o que barateou seus financiamentos, e a Lei de Falências favorece a recuperação de créditos financeiros.

O governo escolheu a forma mais rápida e popular para movimentar a economia e aquecer o mercado interno, barateando o crédito "na marra", aproveitando o bom momento da economia.

É uma boa causa, quem pode ser contra a redução dos juros? Mas precisa estar baseada em reformas estruturais para ser permanente.

FONTE: O GLOBO

Baixa ansiedade:: Dora Kramer

Ao contrário do que o ritmo de marcha lenta poderia sugerir, a situação do pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, não leva os nervos do PT à flor da pele.

O partido não jogou a toalha nem abandonou a perspectiva de recuperar terreno com a entrada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em cena prevista para logo após a oficialização da candidatura. Continua apostando na virada.

Mas, já não se nota entre petistas aquele clima de sangria desatada do início do ano, antes de José Serra decidir ir à luta pelo PSDB, quando o partido jogaria ali, sob o comando de Lula, uma partida decisiva na sua consolidação como força política hegemônica no País.

Agora o que se ouve é o seguinte: se der para ganhar, muito bem. Se não der, amém. A baixa ansiedade dos petistas deve-se à constatação de que para eles seria ótimo ganhar, mas a derrota não significa grande coisa além de uma mudança temporária de planos. Ou seja, têm espaço para fazer uma graça.

Já para o PSDB a coisa é diferente: a vitória é fundamental e a derrota um verdadeiro desastre. Tanto que avaliou e resolveu não correr o risco de apostar em experimentos.

O PT anda tão "relax" nesse assunto que fala com naturalidade sobre a hipótese de um segundo turno entre Serra e Gabriel Chalita, do PMDB.

Claro, isso é dito no paralelo. No oficial, vale a interpretação de que nos últimos 25 anos o PT nunca esteve fora da final que, portanto, seria mesmo disputada entre petistas e tucanos.

Como para o PT essencial é impor um vexame ao adversário tradicional, se Chalita chegar na frente de Haddad o partido prepara-se para aderir sem contestação ao PMDB, contando que o desgaste do prefeito Gilberto Kassab (PSD) e a rejeição a Serra trabalhem em favor do governismo federal.

Sem volta. Integrante da CPI do Cachoeira, o petista Cândido Vaccarezza acha cada vez mais remota a possibilidade de a comissão servir de arena a jogos políticos. Pela simples razão de que as informações já existentes obrigam o Congresso a se curvar à "primazia dos fatos".

Na opinião dele, quem tiver juízo vai encarar a CPI como "uma excelente oportunidade para desvendar pelo menos uma parte das atividades de uma quadrilha que fazia espionagem empresarial e política, explorava o jogo clandestino, lavava dinheiro e corrompia agentes públicos".

Alguma chance de acordo como ocorrido em outras ocasiões?

"Com tudo que a Polícia Federal já apurou, o único acordo possível é em torno do aprofundamento das investigações."

O fator preponderante para o êxito será a vigilância da opinião pública. "Quem tentar abafar qualquer coisa vai se desmoralizar."

Predisposições. A avaliação do ex-presidente Lula feita recentemente a um interlocutor do PT de que o partido é o principal alvo das outras legendas na CPI combina com o resultado de uma pesquisa da empresa de comunicação FSB, feita entre os dias 24 e 25 de abril.

Foram consultados 223 dos 513 deputados federais, integrantes de 19 dos 20 partidos com representação na Câmara.

A maioria (56%) acha que ninguém ganha politicamente com a CPI, mas 23% consideram que o PT tem mais a perder, seguido do DEM com 19% das indicações. Os tucanos ficam na terceira colocação (14%) entre os presumidos "perdedores".

A consulta foi feita antes de o PMDB entrar "na roda" via estripulias parisienses do governador Sérgio Cabral Filho com o empresário Fernando Cavendish (Delta) e talvez por isso o partido não apareça de maneira significativa no ranking de perdas e ganhos.

O número mais robusto é aquele que aponta 65% dos deputados compartilhando a impressão de que a CPI vai "resultar em novas revelações sobre o envolvimento de políticos e em perdas de mandatos".

A pesquisa não pode ser vista como uma antecipação dos rumos da CPI, mas revela algo sobre o estado de espírito dos partidos na Câmara.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Matar ou morrer:: Fernando Rodrigues

Dilma Rousseff atacou os bancos no seu discurso do Dia do Trabalho. Elevou a um patamar de beligerância inaudita a disputa entre o Planalto e o setor financeiro.

Uma coisa era defender juros menores. Outra, bem diferente, é dizer em rede nacional de rádio e TV que os bancos seguem uma "lógica perversa". Em suma, na hora da novela, Dilma xingou os bancos de perversos. Disse ser "inadmissível" o nível das taxas cobradas para concessão de empréstimos.

Agora, é matar ou morrer. Alguém terá de ceder. A presidente fez um cálculo político. O publicitário João Santana é um entusiasta da estratégia -com a credencial de ter sido o responsável pelo marketing nas campanhas vitoriosas de Dilma (2010) e de Lula (2006).

A lógica é simples. Todo presidente precisa ter uma ou mais marcas. É assim que penetra nos corações e mentes de seus governados.

A marca de Dilma, até o momento, era arriscada e um pouco irreal: a faxineira da República. Primeiro, faxina não houve de fato. Segundo, nunca nenhum político foi muito longe só com o discurso da ética. FHC fez o Plano Real e estabilizou a economia. Lula manteve o rumo e disseminou o Fome Zero e o Bolsa Família.

Se for bem-sucedida na sua queda de braço com o bancos, Dilma será a presidente que colocou o Brasil no mesmo nível de países capitalistas "normais": ganha-se dinheiro no setor financeiro, mas para promover o crescimento geral e não só de uma parcela pequena da população que "vive de renda".

Chegou-se a um ponto de não retorno. Se os juros caírem para níveis mais compatíveis aos de países desenvolvidos, Dilma será a grande vitoriosa. Sua popularidade vai disparar. Sem fazer juízo de valor se a presidente está certa nem se o método de pressão é o adequado, a prudência recomenda esperar um pouco antes de proclamar quem sairá rindo por último nessa história.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Deslocamento ainda sutil do poder no PT:: Rosângela Bittar

Fatos políticos que ocorreram nos últimos cinco anos têm provado que há, realmente, apesar das negativas, um deslocamento de poder no PT. Como existe, ainda, equilíbrio entre as forças, a mudança é sutil. Ora algo confirma que os controles mudaram de mãos e localizam-se mesmo fora de São Paulo, ora o tradicional grupo Articulação paulista mostra a força de seus nervos.

Desde 2005, com o mensalão, o PT, majoritariamente localizado em São Paulo, colhido por aquele escândalo, passou a atuar mais discretamente. Os envolvidos ficaram na retaguarda enquanto outros do próprio grupo, preservados no processo, apresentaram-se às tarefas públicas. Assim, por exemplo, deixaram de ter papel secundário políticos como Cândido Vacarezza e Paulo Teixeira, assumindo funções públicas e formais de representação do PT, principalmente no Congresso Nacional.

Mesmo ali, entretanto, os petistas da Bahia, do Rio Grande do Sul, de Pernambuco, foram emergindo com mais vontade. O PT de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, de onde se esperava que fossem sair as lideranças principais na substituição dos paulistas, não teve condições de fazê-lo. São regionais problemáticas, principalmente a de Minas, profunda e radicalmente divididas, com interesses e métodos políticos absolutamente conflitantes, e acabaram dando lugar aos nordestinos e sulistas.

Enquanto o ex-presidente Lula chefiou o governo, o grupo paulista pareceu ter mais fôlego do que tem agora. Conseguiu manter seu poder no Executivo e os cargos do governo no Legislativo. Ainda assim outras bancadas foram assumindo maior protagonismo. Até que, com a presidência Dilma Rousseff, ela própria uma petista recente, que precisou da ajuda de todos, do grupo paulista, principalmente, para ter seu nome vendido à militância Brasil afora, a Bahia, Sergipe, Pernambuco e Rio Grande do Sul sentiram-se mais confortáveis para avançar.

Não só na Esplanada, como no Congresso. O deputado Marco Maia (RS) conquistou a presidência da Câmara, a ex-senadora e ministra da Pesca, Ideli Salvatti foi alçada a ministra das Relações Institucionais, o PT do Paraná ocupou dois cargos maiorais na República, o de ministro das Comunicações e o de ministra Chefe da Casa Civil, com Paulo Bernardo e Gleisi Hoffmann.

Até que esse processo de mutação gradativa atingiu a liderança do governo. A presidente Dilma não tinha, como se define hoje no PT, "empatia" com o deputado Cândido Vacarezza, não o havia apoiado para a presidência da Câmara, menos ainda aceitou seu nome para ministro da Articulação Política, mas Vacarezza, que não está sozinho no mundo da política, foi instado a resistir.

Quando a presidente conseguiu substituí-lo, o fez por Arlindo Chinaglia que, embora de São Paulo, integra o grupo petista para cujo lado tem soprado o vento mais favorável do poder. Dilma, de acordo com um integrante do PT, tem seu modo de fazer as coisas e "o partido tem que respeitar". Esse modo seria o seguinte: "Há uma determinação, clara, dela, de reduzir o grau de demanda do Congresso, apertar, fazer menos o que os partidos querem, fazer mais o que o país quer". Essa seria uma maneira diferente daquela que estava em vigor e o PT teve que aceitar.

A avaliação que se faz no partido é que, não governando o Estado nem a cidade de São Paulo, perderam naturalmente força. São Paulo tem 30 milhões de eleitores e os delegados do PT em Congressos Nacionais da legenda são representativos desse contingente, têm peso e liderança. Mas, admitem, São Paulo não pode ter mais o domínio como tinha.

Ciente do diagnóstico, o PT paulista estaria tratando de promover dois tipos de renovação. O de gerações, que seria a cessão da linha de frente pelo pelotão dos quase setentões, como Lula, José Dirceu, José Genoíno, Marta Suplicy, Luiz Gushiken, Eduardo Suplicy, entre outros fundadores. Essa troca levaria ao outro tipo de renovação, o de candidatos em eleições, modernizando as opções e as expectativas para o eleitor, o que se inicia nas atuais campanhas da sucessão municipal.

Um exemplo de que o deslocamento de poder ainda não é total é o equilíbrio obtido pelo partido na CPI mista que investigará as ligações do empresário de jogos de azar Carlos Cachoeira com políticos, governos e empresas privadas. O PT foi o principal articulador da criação da CPI e o fez para atingir três alvos, já declarados, como expôs reportagem do Valor no último fim de semana: o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, o governador de Goiás, Marconi Perillo, e a revista semanal Veja. Nos três casos por razões relacionadas ao mensalão, associação feita publicamente pelo atual presidente do partido, Rui Falcão.

O grupo paulista tem interesse em circunscrever o aprofundamento das apurações a esses três aspectos, uma vez que considera suficientemente provadas no inquérito da polícia federal as demais implicações. O deputado Cândido Vacarezza inclusive ladeou o ex-presidente Fernando Collor no trabalho inicial da comissão para promover a convocação do procurador-geral Roberto Gurgel, uma primeira missão frustrada.

Mas o outro PT que, tendo número e posição na CPI, representa outros interesses, converge com o primeiro grupo na questão dos limites. O governo conseguiu ter o presidente, Vital do Rego (PMDB) e o relator, o deputado Odair Cunha, do PT de Minas Gerais, sem os quais ninguém é convocado ou convidado a depor e nenhum documento é requisitado. Também interessa ao governo limitar as investigações. Acha que a polícia já fez tudo e os governistas devem evitar a expansão para evitar novas vítimas, principalmente do próprio Executivo. O que se pretende é tirar a empreiteira Delta do alvo: só do PAC ela recebeu, segundo dados do Contas Abertas, R$ 3 bilhões.

Numérica e politicamente frágil, e atingida nas investigações, a oposição não tem muito o que fazer diante de tantos e tão qualificados interesses em impor limites. Deve acertar o presidente da Câmara que deu, à CPI, uma sobrevida de três meses.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Austrália, Bolívia e Brasil:: Vinicius Torres Freire

Dilma faz discurso contra bancos privados em meio a estatizações barulhentas em países vizinhos

Primeiro de maio é dia de Evo Morales anunciar estatização, como já o fizera com o gás, geradoras de energia elétrica etc. Ontem, foi dia da estatização de uma empresa de transmissão de eletricidade.

Mesmo no Brasil quase ninguém dá a mínima para a Bolívia, afora a Petrobras, que já teve prejuízo por lá, e empreiteiras. Mas neste 1º de Maio Evo Morales fez mais barulho, pois sua estatização pegou carona na da colega Cristina Kirchner, que faz duas semanas anunciou o confisco da petroleira YPF.

Mais interessante, também por ocasião do 1º de Maio, a presidente Dilma Rousseff fez um discurso em rede nacional malhando os bancos privados.

Não, por favor, não se trata de identificar uma "tendência" sul-americana, mas talvez uma impropriedade de marketing, talvez até inadvertida, do governo de Dilma.

A presidente esteve em rede nacional a dizer que a banca deve lucrar menos, que deve transferir parte de seus ganhos para os clientes, baixando juros e taxas. Certa ou errada, Dilma soou como um eco distante da vizinhança tumultuada.

Dilma é de fato mais intervencionista. Gosta de estatais, interfere pesadamente no câmbio, seu Banco Central é tido quase como heterodoxo, quase tabela preços de combustíveis e seu governo vive um frenesi de medidas de estímulo econômico.

Dilma, mais do que Lula, aumentou a interferência do governo na Petrobras. Usa a empresa como instrumento de regulação do preço da gasolina e do álcool, tabelando seus preços e impondo importações prejudiciais à empresa, que lucra menos. Dilma estatizou as metas de lucro da Petrobras, de certo modo.

Tudo isso é ninharia perto do que fazem Cristina Kirchner na Argentina e Evo Morales na Bolívia, para nem mencionar Hugo Chávez na Venezuela. Além do mais, as instituições brasileiras são muito mais firmes, funcionais e funcionantes.

Por fim, o poder & o dinheiro mundiais ainda estão de amores com o Brasil, posto na turma bem comportada do continente, ao lado do Chile e da Colômbia.

Note-se de passagem que até a organizada e relativamente liberal Austrália toma medidas a fim de capturar parte do lucro das empresas de recursos naturais (como o fazem de modo destrambelhado argentinos, bolivianos e venezuelanos). Mas a Austrália não cai na boca do povo.

Em março, passou no Congresso deles um imposto extra de 30% do lucro das mineradoras de ferro e carvão, além de um imposto sobre emissões de carbono. Parte da receita vai bancar a redução dos tributos para outras empresas.

Mas o governo quer ainda aumentar a contribuição patronal para as aposentadorias.

O governo trabalhista diz que a alta do preço dos recursos naturais supervalorizou o dólar australiano, o que derruba negócios outros que não os de exportação de minérios e carvão.

Os empresários, mineradores em particular, dizem o de sempre: o imposto é confuso, difícil de calcular e vai encarecer o produto australiano, exportando empregos.

Parece a nossa conversa por aqui. Não causa muita sensação. A Austrália, além de rica, arrumada, de falar inglês e de grande aliada dos EUA, não é vizinha da Bolívia ou da Argentina.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Discursar é mais fácil:: Celso Ming

Alguém precisava tratar o comportamento cartelizado dos bancos com a necessária dureza. A presidente Dilma começou uma queda de braço, mas isso é pouco. Não é apenas com retórica que se chega lá.

Seu discurso de 1.º de maio na TV, de forte crítica ao comportamento dos bancos, teve tom inusitado. Mas a única ação prática colocada em marcha até agora – que nem pode ser chamada de política de governo – é a decisão de levar os dois maiores bancos oficiais de varejo, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, a baixar os juros e a trabalhar com planilhas de juros e spreads mais baixos, de modo a arrastar também para baixo os juros cobrados pelos bancos privados.

As primeiras reações das instituições privadas foram insatisfatórias e tende a continuar sendo assim, porque falta ao governo federal capacidade impositiva – algo que os ingleses chamam de enforcement.

Alguns grandes bancos divulgaram tabelas de juros mais baixas do que as anteriormente praticadas, mas logo se viu que se destinavam mais a compor jogo de cena e a dar alguma satisfação à opinião pública do que a levar a sério os efeitos da ação do governo.

Para reduzir os juros, não se pode focar somente os bancos. Os juros praticadas pelas operadoras dos cartões de crédito são ainda mais escorchantes. Se são inaceitáveis os juros cobrados no financiamento de capital de giro para pessoas jurídicas (na média, de 40% ao ano, como apurou o Banco Central) ou no crédito direto ao consumidor (49% ao ano) e se articulam a "lógica perversa" – como denuncia a presidente Dilma –, o que se pode dizer, então, dos juros ao ano do cartão de crédito (238%, conforme levantamento da Anefac) e do cheque especial (176%)?

Mas, afinal, o que fazer para derrubar os juros ao produtor e ao consumidor? A mais longo alcance, o melhor caminho que o governo federal tem a tomar para ser capaz de restabelecer um mínimo de competitividade no segmento bancário é reduzir sua própria dívida. O grande tomador de crédito no Brasil, em condições até recentemente próximas do monopólio, continua sendo o Tesouro Nacional, que tem no mercado nada menos que R$ 1,9 trilhão em títulos, um pouco menos do que o atual estoque geral de crédito (R$ 2,1 trilhões).

Se têm à sua disposição um devedor que paga bem ("os juros básicos mais altos do mundo") e no mole; se esses financiamentos não oferecem risco de crédito; e se não acarretam custos operacionais relevantes de financiamento; por qual motivo os bancos têm de dar melhores condições para conquistar clientes? Redução da dívida, por sua vez, implica disciplina fiscal. Ou seja, um pouco mais de superávit ajudaria a baixar ainda mais os juros.

Outra providência seria assegurar que a derrubada do spread e dos juros não se limitasse aos contratos novos de crédito, mas que se estendessem aos antigos. As instituições financeiras não temem o crescimento da inadimplência? Pois importante passo para evitar calotes seria renegociar contratos antigos, oferecendo prazos e juros melhores. Os bancos oficiais também poderiam oferecer essa redução dos juros nos contratos antigos aos clientes dos bancos privados que enfrentam custos altos. Um bom incentivo oficial para isso também poderia ajudar.

A terceira providência necessária já foi tratada por esta Coluna em algumas edições anteriores. Consiste em aprovar imediatamente a adoção do cadastro positivo para que seja permitida a redução dos juros para os devedores de baixo risco.

Finalmente, não basta simplesmente derrubar os juros. Igualmente escorchantes são ainda as taxas de administração e as tarifas cobradas pelo sistema bancário – incluídos aí o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal.

Depois do discurso do Dia do Trabalhador, a bola não está apenas com os bancos. Está também com o governo.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Crise leva milhares às ruas no Dia do Trabalho

Na Europa e nos EUA, trabalhadores mostram insatisfação com medidas de austeridade e com a escalada da recessão

ATENAS e NOVA YORK. Milhares de trabalhadores foram ontem às ruas em Espanha, Itália, França, Grécia e Portugal para participarem de manifestações pelo Dia do Trabalho, protestando contra os cortes de gastos e as medidas de austeridade fiscal adotadas para enfrentar a crise econômica. Nos Estados Unidos, integrantes do Ocupem Wall Street, num movimento contra a injustiça social e econômica, voltaram às ruas e enfrentaram forte aparato policial. Houve pelo menos 30 prisões só em Nova York.

As tradicionais passeatas do Dia do Trabalho foram usadas pelos sindicatos para demonstrar a irritação com as medidas de austeridade em toda a zona do euro. Lançadas como um caminho único para a recuperação da economia europeia, as ações de rigor fiscal têm, na verdade, forçado os países a mergulharem ainda mais na recessão. Os protestos ocorrem dias antes de França e Grécia irem às urnas, no domingo.

Na Itália, houve embate entre manifestantes e a polícia em Turim. Na cidade de Rieti, os três principais sindicatos do país denunciaram as reformas do primeiro-ministro, Mario Monti. Os sindicatos franceses organizaram quase 300 manifestações em todo o país. O Ministério do Interior informou que 316 mil pessoas participaram dos protestos, um forte aumento frente aos 77 mil do ano passado.

Maioria dos protestos em EUA e Europa foi pacífico

Em Madri, dezenas de milhares de pessoas caminharam na chuva com cartazes contra os cortes de gastos, enquanto outros milhares de trabalhadores protestaram em Lisboa. Cerca de cinco mil trabalhadores, pensionistas e estudantes marcharam em Atenas ostentando mensagens como "Revolta agora" e "Taxem os ricos".

- Nossa mensagem será mais forte no domingo. Não há como eu votar por um dos dois principais partidos - afirmou a funcionária pública Maria Drakaki, de 45 anos, referindo-se à eleição para o Parlamento grego.

Na Grécia, repetidas ondas de cortes reduziram os salários e pensões e aprofundaram uma recessão que já está em seu quinto ano. Os salários do setor privado foram reduzidos em um quarto apenas em 2011 e um em cada dois jovens gregos estão desempregados.

- Esses políticos não podem nos ajudar. Eles aprovaram o pacote de austeridade e o fundo de resgate. Estamos virando nossas costas para eles - disse Dina Bitsi, de 58 anos, uma pensionista que tem dois filhos desempregados.

Os dois maiores partidos gregos, o socialista Pasok e o conservador Nova Democracia, governam a Grécia por décadas, mas a expectativa é que sofram para ganhar apoio para renovar a coalizão a favor do pacote de resgate. Os líderes europeus têm afirmado que se o país não persistir nas reformas estabelecidas como exigências para a liberação dos 130 bilhões em ajuda pode ser forçado a abandonar o euro. A maioria dos gregos quer manter a moeda única, apesar de se opor às medidas de austeridade fiscal.

- Queremos permanecer na União Europeia e no euro. Sabemos que há uma crise, mas é inaceitável que mesmo agora os ricos fiquem mais ricos e os pobres, mais pobres - apontou Bitsi.

Nos EUA, os ativistas do Ocupem Wall Street fizeram meditações em parques e apresentações de música e dança em Nova York, mas enfrentaram os policiais. Também houve quebra de janelas em Seattle, fuga da polícia em motos pelas ruas de Nova York e embates em Oakland, na Califórnia. Os organizadores dizem que o ato marca a volta do movimento, na primavera no Hemisfério Norte.

Três novos envelopes contendo pó branco suspeito foram enviados a bancos de Nova York e a organizações de mídia, com mensagens que sugerem que os remetentes são simpatizantes do movimento Ocupem Wall Street. Ao todo, dez cartas foram enviadas nos últimos dois dias e algumas tinham o texto: "Esta é uma lembrança de que você não está no controle" e "Feliz Primeiro de Maio", segundo o porta-voz da polícia, Paul Browne. Após exames, foi verificado que o pó não era tóxico.

FONTE: O GLOBO