domingo, 6 de maio de 2012

OPINIÃO DO DIA - Karl Marx: contra o pragmatismo

Tese 8 – contra Feuerbach

Toda vida social é essencialmente prática. Todos os mistérios, que induzem às doutrinas do misticismo, encontram sua solução racional na praxis humana e no compreender dessa praxis.

MARX, Karl (5/5/1818-14/3/1883), filósofo, alemão. Teses contra Feuerbach, p. 162. Os pensadores: Marx. Nova Cultural, São Paulo 1987

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Receita recupera R$ 20 bilhões com Inteligência
No Maranhão, o turismo do trabalho barato

FOLHA DE S. PAULO
Com crise política e CPI, Dilma abre cofre a aliados
Procurador ataca projeto que esvazia Ministério Público

O ESTADO DE S. PAULO
Mesmo com juros em queda, estoque alto adia recuperação
Maioria da CPI quer convocar governadores
Mata Atlântica emitiu mais gases
Tráfico é crime que mais cresce

CORREIO BRAZILIENSE
Concursos públicos faturam R$ 50 bi
Eles preferem o anonimato
Os 13 homens de Cachoeira

ESTADO DE MINAS
Uma lista que não para de crescer
Perto de 2%

ZERO HORA (RS)
Cachoeiras na cabeça

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Crescimento do Porto de Suape gera impasse

Política e moral:: Fernando Henrique Cardoso

Só os movimentos sociais e de opinião podem despertar a confiança perdida

Acabo de ler o mais recente livro de Alain Touraine, "Carnets de campagne" ("Cadernos de campanha"), sobre a campanha de François Hollande. Sem entrar no mérito das apostas políticas do autor, é admirável a persistência com que Touraine vem estudando as agruras da sociedade contemporânea como resultado da crise da "sociedade industrial". Ele refuta análises baseadas em uma sociologia dos sistemas e não, como lhe parece mais apropriado, em uma sociologia dos "sujeitos históricos" e dos movimentos sociais. O livro vai direto ao ponto: não é possível conceber a política apenas como uma luta entre partidos, com programas e interesses opostos, marcados por conflitos diretos entre as classes. A globalização e o predomínio do capital financeiro-especulativo terminaram por levar o confronto a uma pugna entre o mundo do lucro (como ele designa genericamente, com o risco de condenar toda forma de capitalismo) e o mundo da defesa dos direitos humanos e de um novo individualismo com responsabilidade social, temas que Touraine já tratara em 2010 no livro "Após a crise", fundamentados em outra publicação, "Penser autrement", de 2007.

A ideia central está resumida na parte final do "Após a crise": ou nos abandonamos às crises, esperando a catástrofe final, ou criamos um novo tipo de vida econômica e social. Neste é preciso reviver o apelo aos direitos universais da pessoa humana à existência, à liberdade, aos pertencimentos sociais e culturais - portanto, à diversidade de identidades -, que estão sendo ameaçados pelo mundo desumano do lucro. É preciso contrapor os temas morais ao predomínio do econômico. Há uma demanda crescente de respeito por parte dos cidadãos. Estes aderem a valores não como decorrência automática de serem patrões, empregados, ricos, pobres, pertencerem a esta ou àquela organização, mas por motivos morais e culturais. Com essa perspectiva, Touraine responde categoricamente que não é com os partidos que a política ganhará outra vez legitimidade. As instituições estão petrificadas. Só os movimentos sociais e de opinião, movidos por um novo humanismo expresso por lideranças respeitadas, podem despertar a confiança perdida. Só assim haverá força capaz de se opor aos interesses institucionais do capitalismo financeiro-especulador que transformou o lucro em motor do cotidiano. Daí a importância de novos atores, de novos "sujeitos sociais", portadores de uma visão de futuro que rejeite o statu quo.

A partir daí, Touraine, sociólogo experimentado, não propõe uma prédica "moralista", mas sim novos rumos para a sociedade. Esses, no caso da França, não podem consistir em uma volta à "social-democracia", ou seja, ao que representou na sociedade industrial o acesso aos bens públicos pelos trabalhadores; nem muito menos ao neoliberalismo gerador do consumismo que mantém o carrossel do lucro. Trata-se de fazer o mundo dos interesses ceder lugar ao mundo dos direitos e à luta contra os poderes que os recusam às populações. É preciso libertar o pensamento político da mera análise econômica. Os exemplos de insatisfação abundam, e não só na França, vejam-se os "indignados" espanhóis, os rebeldes da Praça Celestial de Pequim ou os atores da Primavera Árabe. Falta dar-lhes objetivos políticos que, acrescento eu, criem uma nova institucionalidade, mais aberta ao individualismo responsável e à ação social direta que marcam a contemporaneidade.

Por que escrevo isso aqui e agora? Porque, mutatis mutandis, também no Brasil se sentem os efeitos desta crise. Não tanto em seus aspectos econômicos, mas porque, havendo independência relativa entre as esferas econômicas e políticas, a temática referida por Touraine está presente entre nós. Se me parece um erro reduzir o sentimento das ruas a uma crise de indignação moral, é também errado não perceber que a crise institucional bate às nossas portas, e as respostas não podem ser "economicistas". A insatisfação social é difusa: é a corrupção disseminada, são as filas do SUS e seu descaso para com as pessoas, é o congestionamento do trânsito, são as cheias e os deslizamentos dos morros, é a violência e o mundo das drogas, é a morosidade da Justiça, enfim, um rosário de mal-estar cotidiano, que não decorre de uma carência monetária direta (embora também haja exagero quanto ao bem estar material da população), mas constitui a base para manifestações de insatisfação. Por outro lado, cada vez que uma instituição, dessas que aos olhos do povo aparecem como carcomidas, reage e fala em defesa das pessoas e de seus direitos, o alívio é grande. O Supremo Tribunal Federal, em uma série de decisões recentes, é um bom exemplo.

No momento em que o Brasil parece mirar no espelho retrovisor das corrupções, abusos e leniências das autoridades com o malfeito, corre-se o risco de crer que tudo dá no mesmo: os partidos, as instituições, as lideranças políticas, tudo estaria comprometido. É hora, portanto, para que, sem olhar para o retrovisor e sem bater boca com "o outro lado", até porque os lados estão confundidos, surja um discurso de base moral para mobilizar a população. Quem sabe, como na França, a palavra-chave seja outra vez "igualdade". Na medida em que, por exemplo, se vê o Tesouro engordar o caixa das grandes empresas à custa dos contribuintes via BNDES, uma palavra por mais igualdade, até mesmo tributária, pode mobilizar. Para tal, é preciso politizar o que aparece como constatação tecnocrática e denunciar os abusos usando a linguagem do povo.

Está na moda falar sobre as "novas classes médias", muitas vezes com exagero. Se até agora elas vão ao embalo da ascensão social, amanhã demandarão serviços públicos melhores e poderão ser mais críticas das políticas populistas, pois são fruto de uma sociedade que é "da informação", que está conectada. Crescentemente, cada um terá de dizer se está ou não de acordo com a agenda que lhe é proposta. As camadas emergentes não são prisioneiras de um status social que regule seu comportamento. Aos líderes cabe politizar o discurso, no melhor sentido, e com ele tocar a alma dos recém-vindos à participação social, não para que entrem em um partido (como no passado), mas para que "tomem partido" contra tanto horror perante os céus. Isso só ocorrerá se os dirigentes forem capazes de propor uma agenda nova, com ressonância nacional, embasada em crenças e esperança. Sem a distinção entre bem e mal, não há política verdadeira. É esse o desafio para quem queira renovar.

FONTE: O GLOBO

Sob a sombra da crise, socialista chega como favorito para desbancar Sarkozy

Andrei Netto

PARIS – Convidado a apresentar suas primeiras medidas caso seja eleito o novo ocupante do Palácio do Eliseu, durante o debate televisivo realizado entre os candidatos à presidência da França, na quinta-feira, o líder do Partido Socialista (PS), François Hollande, repetiu 15 vezes a frase: "Eu, como presidente da República...". Hoje, a previsão tem tudo para se realizar.

Depois de 17 anos ausentes, desde o fim do mandato do ex-presidente François Mitterrand, os socialistas devem enfim recuperar o comando da França, batendo o atual presidente, Nicolas Sarkozy.

Embora alguns cientistas políticos ainda hesitam em reconhecer em público o amplo favoritismo de Hollande, o deputado e ex-secretário-geral do PS lidera todas as pesquisas de opinião sobre o segundo turno feitas pelo menos desde janeiro. Após vencer o primeiro duelo das urnas, há duas semanas, o socialista chega com escores que variam de 52% a 48% a 54% a 46% - consideradas amplas vantagens nas eleições francesas. Nessa configuração do eleitorado, dizem os institutos de pesquisa Ipsos, Ifop, TNS-Sofres, CSA, BVA, LH2 e OpinionWay, nunca um candidato a presidente foi surpreendido, perdendo a eleição para seu rival - no caso atual, o presidente Sarkozy - a 48 horas do voto.

A eventual vitória, se confirmada nas urnas às 20 horas de hoje, horário de Paris (15 horas, horário de Brasília), também representará a superação de um drama na história do PS. Há 10 anos, em 2002, o candidato à presidência pelo partido, Lionel Jospin, foi eliminado ainda no primeiro turno pelo extremista Jean-Marie Le Pen. O resultado foi uma década de falta de liderança, de desestruturação e de desunião no partido.

Para se reerguer, o Partido Socialista teve de se reinventar, o que fez em 2008, adotando uma nova "Declaração de Princípios" e abandonando termos como "revolução", "propriedade primitiva dos meios de produção" e "operariado". Nessa época, o partido reconheceu a ideia do "livre mercado" e da "economia mista", abandonando de vez as terminologias clássicas de um partido socialista. Um dos artífices desta reforma foi François Hollande, então secretário-geral do PS. Quatro anos depois, é o socialista o maior beneficiado pela reforma realizada no interior do partido. Desde que renovaram seu linguajar, os socialistas vinham traçando estratégias para assumir o poder nas eleições de 2012.

O sucesso da candidatura de Hollande, dizem analistas políticos, é fruto da modernização do partido, que voltou a ampliar sua base de eleitores. Mas também é produto de uma conjuntura econômica negativa na Europa, marcada pelo desemprego elevado, pela recessão aguda e pela contestação feroz e crescente sobre a eficácia dos planos de austeridade, defendidos pela chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e por Sarkozy. Outro forte motivo é a rejeição ao estilo pessoal - e personalista - do atual presidente, o mais impopular da história da Quinta República, inaugurada em 1956.

"Sarkozy parece definitivamente ter perdido porque foi incapaz de mudar sua imagem nas poucas semanas de campanha, depois de construí-la em cinco anos de governo", analisa Philippe Moreau-Defarges, cientista político do Instituto Francês de Relações Internacionais (Ifri).

Embora a imensa rejeição do atual chefe de Estado contribua para o resultado final, analistas políticos se mostram surpreendidos com o percurso sem falhas do socialista nos últimos 18 meses. Após ter liderado o partido por mais de uma década, entre 1997 e 2008, François Gérard Georges Hollande, de 57 anos, militante do PS desde 1979, deixou o comando sob críticas. Um ano e meio atrás, era dado como enterrado no partido. Saiu de cena, emagreceu, reconstruiu sua vida privada - depois de se separar da ex-candidata à presidência Ségolène Royal - e se preparou física e intelectualmente com o auxílio de especialistas para retornar à vida pública.

Em 2011, lançou sua pré-candidatura à presidência pelo PS, decidido a enfrentar o então favorito, o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, preso em maio em um escândalo sexual. Desde então, assumiu ele mesmo o favoritismo diante de Sarkozy, sempre se valendo o exemplo de François Mitterrand, que usou em discursos e gestos ao longo da campanha de 2012. Tido como "mole" por seus críticos, peitou Sarkozy no último momento da campanha, o debate de quarta-feira, garantindo o favoritismo. "Não podemos esquecer que votar Hollande não é votar contra Sarkozy", disse, orgulhoso, David Dumont, militante socialista que fazia campanha na sexta-feira, ainda impressionado pelo desempenho de seu campeão na campanha de 2012.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Para analistas, 2012 marca o declínio do 'sarkozysmo'

Escândalos minaram a popularidade do presidente e derrota pode ser o fim da carreira política de Sarkozy

Até o governo de Jacques Chirac, o maior partido de direita da França, a União por um Movimento Popular (UMP), era identificado como "gaullista", em alusão aos princípios de Charles de Gaulle. A direita defendia uma economia regulada pelo Estado, uma diplomacia independente e valores sociais conservadores, como a família e o trabalho.

Agora, analistas dizem que a eleição pode estar marcando o fim de outro movimento: o "sarkozysmo". A existência de um movimento em torno da política de Nicolas Sarkozy vem sendo diagnosticada nos últimos anos por diferentes cientistas políticos. Pierre Musso, autor do best seller Sarkoberlusconismo, sobre o governo de Sarkozy e de Silvio Berlusconi, disse ao Estado que o movimento é, ao mesmo tempo, liberal e conservador, como um estilo de fazer política personalista, que comanda o partido sem contestação interna, faz alianças com extremistas, usa o imigrante como bode expiatório, mescla interesses públicos e privados e governa para si e para seus aliados.

A constatação sobre a "desintegração do sarkozysmo" é agora feita por autores como Frédéric Martel, autor do livro J"aime pas le Sarkozysme Culturel ("Eu não gosto do sarkozysmo cultural"). Para ele, não é a direita que será vencida, mas Sarkozy em pessoa e seu estilo inculto e grosseiro que será derrotado.

Para justificar seu argumento, o escritor evoca uma lista de escândalos do presidente que justificam a saturação dos franceses com relação a ele. Esses escândalos começam no dia de sua posse, em 2007, quando em vez de saudar a multidão em uma praça Sarkozy decidiu jantar com seus amigos, entre os quais algumas das maiores fortunas do país, em um restaurante chique da Avenida Champs Elysées.

Em seu mandato, seguiram-se diversos escândalos: as férias no iate do milionário Vincent Bolloré, a tentativa de promoção de Jean Sarkozy, seu filho, a altos cargos públicos, a defesa da "hierarquia de civilizações" feita por seu amigo e ministro Claude Guéant, o casamento com Carla Bruni, seu relógio Patek Philippe de € 55 mil e o financiamento ilegal de campanha envolvendo a milionária Lilian Bettencourt e o ditador Muamar Kadafi.

"Como símbolos, eles são determinantes", disse Martel à revista Le Nouvel Observateur. "Sarkozy perderá as eleições em razão da economia, mas também por esses símbolos calamitosos. Por jogar demais com o dinheiro, com o business, com as mulheres, com o fogo, ele acabou queimando os próprios barcos." Para Martel, o dia de hoje marca o fim do "sarkozysmo" e o desaparecimento de Sarkozy da cena política. / A.N.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Grécia e seus fantasmas vão às urnas

Governo que emerge hoje pode não ter força suficiente para tirar país de seu inferno econômico e cumprir exigências para que Atenas obtenha créditos

Jamil Chade

GENEBRA - Após cinco anos de recessão, calote, explosão do desemprego e dois resgates econômicos, os gregos vão às urnas hoje para dar sua resposta à crise e punir a política de austeridade imposta pelos acordos com o FMI e a União Europeia. Mas a eleição ameaça apenas abrir mais um impasse, deixar o país sem governo justamente quando mais vai precisar e criar uma nova onda de turbulência na Europa.

Enfurecidos com os políticos tradicionais, eleitores prometem punir tanto os conservadores quanto os socialistas, que desde 1974 se alternavam no poder, por terem levado a Grécia a seu momento mais dramático. O cenário mais provável é de um Parlamento fragmentado, o que exigirá a construção de mais uma coalizão de circunstâncias para garantir que as reformas exigidas pelo FMI e pela UE sejam adotadas. Em Atenas, não se descarta nem mesmo a hipótese de realização de novas eleições.

A votação marca o fim do governo provisório de Lucas Papademos, um tecnocrata que assumiu após a queda do socialista George Papandreou, em 2011. Papademos negociou o maior calote da história e recebeu um resgate bilionário. Mas, em troca, adotou medidas de austeridade que cortaram os salários em 25%, prevê a demissão de mais de 100 mil funcionários públicos até 2015, ampliou a recessão e fez o desemprego bater um novo recorde.

O problema é a reação dos gregos de hoje poderá jogar o país em um perigoso limbo político. Nenhum partido deve conquistar a maioria, ainda que os conservadores da Nova Democracia de Antonis Samaras apareçam como líderes nas pesquisas, com 25% dos votos. Samaras jogou justamente com o impacto dos pacotes de austeridade para atrair eleitores. "Nenhum programa pode funcionar numa sociedade à beira do colapso", disse, insinuando que vai exigir renegociar dos acordos.

Os gregos devem ainda apoiar partidos menores. Juntos, os três partidos de extrema direita deverão somar quase 20% dos votos. Quem também deve ganhar são os partidos da extrema esquerda. O líder da Coalizão de Esquerda, Alexis Tsipras, deve alcançar entre 9% e 13% dos votos e promete se opor a todas as medidas de austeridade.

A fragmentação dos votos deve causar um impasse político, deixando os mercados ainda mais nervosos e pondo em risco o pacote de resgate. "A paralisia política após a eleição poderá levar o país à falência e expulsá-lo da zona do euro", alerta o Bank of America numa nota a investidores. "Se não houver governo, não haverá alternativa senão a interrupção do resgate", indicam.

Quebrada, a Grécia não tem caixa sequer para pagar funcionários e acumula uma dívida 160% de seu PIB. Para sobreviver, recebeu 240 bilhões do FMI e da UE, além de um perdão de 100 bilhões de sua dívida. Mas o oxigênio financeiro chega em parcelas e a próxima somente será liberada se Atenas cortar mais 15 bilhões do orçamento para 2013.

O governo alemão mandou sua mensagem aos gregos: o novo governo terá de cumprir as medidas de austeridade já negociadas com a comunidade internacional. Caso contrário, o resgate acabará e a Grécia terá de abandonar o euro. "Se os eleitores optarem por uma maioria que não honrará esses acordos, a Grécia terá de enfrentar as consequências", alertou na sexta-feira o ministro de Finanças da Alemanha, Wolfgang Schaeuble.

O líder socialista, Evangelos Venizelos, em busca de votos, também alertou sexta-feira que se seu partido não vencer, a Grécia poderá ter de abandonar o euro. "Domingo decidirá se vamos ficar na Europa", alertou.

Samaras vem adotando um discurso de primeiro-ministro. Mas sabe que terá de fechar acordos com alguns desses partidos se de fato quiser governar. Já indicou que se recusa a fazer alianças com o partido neonazista e certamente não o fará com a extrema esquerda. Uma alternativa seria se aproximar justamente dos socialistas, tradicionais rivais. O problema é que, juntos, os dois partidos teriam 38% das cadeiras do Parlamento, insuficiente para governar.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Com renovação de estoques, alta do dólar pode chegar ao consumidor

Comércio e indústria dizem que, se moeda ficar em R$ 1,90, repasse será gradual

Bruno Villas Bôas

Com elevados estoques de produtos importados, as empresas brasileiras seguem cautelosas para repassar aos consumidores a escalada do câmbio nos últimos dois meses, tempo em que o dólar comercial avançou 13,4%, para R$ 1,926 na sexta-feira passada, uma valorização de 23 centavos. Segundo executivos do comércio e da indústria, se a moeda continuar acima de R$ 1,90, os repasses vão ser sentidos por consumidores a partir de junho, ou seja num prazo de 30 a 90 dias, quando os estoques serão renovados. Poucos falam, por enquanto, em substituir bens e insumos importados por equivalentes nacionais, que ficaram mais competitivos com a valorização da moeda americana. Isso ocorreria mais intensamente com a moeda cotada acima de R$ 2 - um cenário hoje menos provável.

Na rede de supermercado Zona Sul, por exemplo, a oscilação do dólar não influenciou no mix de produtos. Segundo o diretor comercial da rede, Pietrangelo Leta, a empresa faz planejamento anual e negociação prévia com fornecedores. O estoque de importados é negociado, em média, com 90 dias de antecedência.

- Até o momento, não houve reajuste nos preços no segmento de importados e, a empresa não prevê este aumento a curto prazo. Talvez aconteça mais adiante se o câmbio se mantiver neste patamar - explica o diretor comercial.

Fábrica de roupa começa a ver nacional mais barato

No Supermercado Prezunic, poucos preços foram repassados até agora. Os mais sensíveis ao câmbio seriam vinhos e bacalhau, por exemplo. Os importados são basicamente da Europa, Chile e Argentina.

- A questão é se o câmbio vai continuar subindo e passar de R$ 2. Isso sim pode mudar o cenário - diz Genival Bezerra, diretor do Prezunic.

Habituados aos movimentos do câmbio, o presidente da Lidador, Joaquim Cabral Guedes, tradicional importador carioca, explica que o comércio faz repasses graduais.

- Aos poucos, ninguém se incomodaria de pagar um pouco mais pelos produtos, como vinhos. Os clientes criam hábitos de consumo e podem pagar um pouco mais por um vinho francês, chileno - acredita.

Na indústria que trabalha com insumos importados, o peso dos estoques também é uma realidade que freará os reajustes. Segundo Julio Gomes de Almeida, professor da Unicamp e economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), os efeitos do avanço do câmbio devem começar a ser sentidos em seis meses.

- Os empresários vão aguardar para ver se o câmbio a R$ 1,90 veio para ficar. Isso os fará traçar estratégias, o que não é algo simples. As empresas criam ao longo de anos uma relação de clientela com fornecedores estrangeiros, firmam contratos e acordos de financiamento, no caso de máquinas. Isso não muda de uma hora para outra - explica Almeida, que foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda no governo Lula e tinha como missão equilibrar os mercados interno e externo brasileiros.

No setor de máquinas e equipamentos importados, o avanço do câmbio foi comemorado. Mesmo que implique produtos importados mais caros e menos competitivos, as vendas do setor à indústria passou por um longo período de baixa, segundo Ennio Crispino, presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Máquinas e Equipamentos Industriais.

- O dólar era ruim para o exportador e muitos projetos ficaram na gaveta. Nosso produto era barato, mas não havia demanda. Acreditamos que isso pode agora mudar - explica.

Os efeitos do avanço do câmbio, no entanto, começam a ser sentidos nos custos das indústrias. Em março, o Índice de Preços ao Produtor (IPP), calculado pelo IBGE, subiu 1,05%, após recuo de 0,42% em fevereiro, puxado principalmente pela valorização do dólar, além da alta de preços de alimentos.

A fabricante de roupas Gatto Blu foi uma das que sofreu com o aumento dos custos. O quilo do estampado chinês, insumo da produção de roupa, custava R$ 33 quando o dólar era negociado a R$ 1,70. Com o avanço da moeda americana, o quilo do produto passou a ser cotado a R$ 37. A empresa quer agora começar a trocar o importado da China por nacionais, que custam R$ 35 o quilo.

- Estou começando a negociar agora a compra de tecidos para a coleção de verão e provavelmente o nacional vai ganhar mais espaço. Hoje, ele representa 40% das compras de tecido. Deve passar para algo como 60% - explica Aldo Marra, sócio-gerente da marca.

Mercado aposta em câmbio acima de R$ 1,90

Segundo especialistas, o avanço do câmbio é resultado tanto das incertezas da crise na Europa quanto da atuação do governo brasileiro. O Ministério da Fazenda e Banco Central (BC), numa sintonia fina poucas vezes vista, atuaram com medidas no fluxo de entrada da moeda no país - via aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) - e compras de dólares no mercado à vista para valorizar o dólar. O objetivo do governo é melhorar a competitividade da indústria brasileira.

Essa atuação do governo no câmbio é agora menos intensa. No boletim Focus, os economistas preveem, em média, o câmbio a R$ 1,80 ao fim deste ano. Mas a estimativa do Focus se move de forma lenta. No mercado, os especialistas apostam num câmbio acima de R$ 1,90. O banco BofA Merrill Lynch, por exemplo, elevou na semana passada sua expectativa para o dólar de R$ 1,85 para R$ 1,92 ao fim de dezembro. Para 2013, a projeção foi elevada de R$ 1,92 para R$ 1,95.

Para o professor da Fundação Dom Cabral, Rodrigo Zeidan, mesmo com os repasses de preços, a alta do câmbio não deve pressionar a inflação. Ele diz que o câmbio não está caro, só estava barato demais. O importante é a moeda estabilizar.

- Pior do que um câmbio barato ou caro, é uma moeda volátil - acredita.

FONTE: O GLOBO

Os riscos da ousadia de Dilma na poupança

Para analistas, popularidade alta e oposição fraca permitiram à presidente mudar caderneta. Volta da inflação seria ameaça

Clarice Spitz

Ainda é cedo para dizer que a presidente Dilma Rousseff está construindo um legado de seu governo com a recente cruzada pelos juros baixos, avaliam cientistas políticos e economistas consultados pelo GLOBO. No entanto, eles são unânimes em afirmar que o governo foi ousado com a mudança na remuneração da caderneta de poupança. A combinação de popularidade recorde e oposição sem poder de fogo, além de uma boa dose do estilo pessoal de Dilma, foi fundamental para alterar as regras do investimento mais tradicional do brasileiro. Mas, alertam, o risco pode ser pagar um preço alto sobre a popularidade se a inflação voltar a subir.

- Há uma boa dose de voluntarismo da presidente e o fato de ser uma cruzada popular. Dilma tinha a convicção que os juros têm que baixar mesmo antes de ser presidente - diz o cientista político Sergio Abranches.

Para o diretor do Instituto Análise, Alberto Almeida, Dilma repete com os juros o estilo ousado de Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro mandato, quando aumentou o superávit primário, pois crê que o aumento do consumo vá sustentar sua popularidade.

- Obviamente a sociedade aprova a redução dos juros, mas não está claro como isso vai evoluir. Toda a popularidade dela está baseada na perspectiva de que o consumo das famílias se mantenha alto.

O economista Luiz Carlos Prado, da UFRJ, considera que o governo Dilma soube ser habilidoso ao demonstrar a preocupação com a manutenção de contratos.

- Um presidente fraco não teria credibilidade para mexer na poupança. Ao contrário do governo Collor, seja na mexida na aposentadoria de funcionários públicos seja na poupança, eles valem apenas para os novos. É uma consolidação institucional e é bastante diferente dos nossos vizinhos na América Latina - avalia.

Analista vê viés populista em atitudes da presidente

Para Abranches, no entanto, a mudança da poupança é "temerária", já que a inflação pode voltar a ganhar fôlego com os juros menores.
- A forte queda dos juros pode reaquecer a inflação, e esse é o maior inimigo da popularidade - afirma. - Por um lado, a poupança está muito forte no imaginário popular como significado de segurança e, por outro, ainda está vivo o trauma da expropriação da caderneta de poupança pelo governo Collor.

Para o cientista político Francisco Fonseca, da FGV-SP, ainda é preciso cautela para classificar o esforço de Dilma como uma política pública de combate aos juros.

- O governo Dilma mostra uma visão de Estado em relação ao desenvolvimento como forma de contemplar várias classes sociais. Se a economia está estável, crescendo, os juros estão caindo, por que isso não chega aos juros? - indaga Fonseca.

Especialistas divergem, no entanto, sobre a estratégia de utilizar bancos públicos para forçar os privados a baixar juros. Abranches nota um viés populista no sentido de intervir na condução da política de juros, em detrimento do Banco Central.

- É um uso do aparelho de Estado como há muito não era feito. Existe um aspecto intervencionista com o uso do Banco do Brasil e da Caixa para forçar os outros bancos a baixar juros - diz Abranches.

Já Prado considera as recentes reduções de juros da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil como uma maneira eficaz de trazer competitividade ao mercado financeiro.

- Os bancos operavam como se fosse legítimo para eles ter um retorno acima daquele da sociedade - diz Prado.

FONTE: O GLOBO

Mesmo com juros em queda, estoque alto adia recuperação

Problema atinge um terço dos principais ramos da indústria, e produção só deve crescer no segundo semestre

O lento ajuste dos estoques nas fábricas, provocado pela redução na demanda, deve adiar a retomada da produção da indústria para o segundo semestre. Em abril, um terço de 31 ramos industriais mais importantes estava com estoques excessivos, diz pesquisa da Fundação Getúlio Vargas. Dos dez setores, que incluem de carros e confecções a material de construção, seis deles estavam superestocados em setembro de 2011 e continuavam com volume excessivo em abril. Nem as medidas do governo para acelerar a economia surtiram efeito até agora. "O quadro é preocupante", diz Walter Cover, presidente da associação das indústrias de material de construção.

Com estoques altos, indústria deve adiar retomada da produção para o 2º semestre

Márcia de Chiara

O lento ajuste dos estoques nas fábricas, provocado pela redução na demanda doméstica e nas exportações, deve adiar a retomada da produção da indústria para o segundo semestre. Em abril, um terço dos 31 ramos industriais mais importantes estava com estoques excessivos, revela a Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Dos dez setores, que incluem desde carros e confecções até materiais de construção, seis deles estavam superestocados em setembro de 2011 e continuavam com volume excessivo de produtos no mês passado.

Nem mesmo as decisões tomadas pelo governo para acelerar a economia - como o corte nos juros básicos em 3,5 pontos desde julho de 2011, a reversão das medidas macroprudenciais no fim do ano passado e a tentativa de desobstruir o crédito aumentando a oferta de financiamento mais barato nos bancos oficiais - surtiram efeito até agora para impulsionar a atividade, observa o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges.

Em março, a produção industrial decepcionou: caiu 0,5% em relação a fevereiro e 2,1% ante março de 2011. Foi a sétima queda anual seguida. De olho nos resultados pífios, o Banco Central mudou o discurso na última ata do Copom em relação à anterior e deixou em aberto a possibilidade de continuar a cortar os juros para acelerar a atividade.

No mês passado, quase 70% dos fabricantes de resinas, produto intermediário usado por outras indústrias e que funciona como termômetro de vários setores, tinham estoques excessivos, aponta a FGV. A pesquisa ouviu 1.114 empresas da indústria de transformação como um todo.

Os estoques também pesam no segmento de materiais de construção. Cerca de um terço (32,2%) dos fabricantes de produtos metalúrgicos para construção e 29,2% das indústrias de minerais não metálicos acumulam volumes indesejáveis de produtos. O quadro se repete entre os fabricantes de ônibus e caminhões, confecções, automóveis, embalagens plásticas, nos quais a fatia de empresas superestocada é de 25,1%, 24,1%, 13,6% e de 11,9%, respectivamente.

"A indústria só vai acelerar a produção se a demanda melhorar e os estoques diminuírem", diz o coordenador técnico da sondagem, Jorge Ferreira Braga.

O encalhe é confirmado pelos fabricantes. Roberto Chadad, presidente da Associação Brasileira do Vestuário (Abravest), que representa 25 mil confecções, diz que sobra produto no segmento popular, cujo estoque equivale a 45 dias de venda."O quadro é preocupante", afirma Walter Cover, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Construção (Abramat). Ele diz que o desempenho do quadrimestre veio abaixo do esperado. Cresceu 3% em relação a 2011 e a expectativa era 5%. "Num primeiro momento, os estoques sobem. O passo seguinte é reduzir produção."

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Crédito continua travado, dizem empresários

Mesmo com a investida dos bancos oficiais na redução das taxas para baratear empréstimos, resultados têm sido inexpressivos

Márcia de Chiara

A investida recente do governo de usar os bancos oficiais, Caixa e Banco do Brasil, para desencadear um movimento de corte nos juros ao consumidor e provocar migração de clientes entre instituições financeiras, na expectativa de trocar uma dívida cara por outra mais barata, teve até agora pouco resultado prático.

"O crédito continua muito travado. Não sentimos os efeitos do corte nos juros. O discurso é mais bonito do que a prática", afirma Jorge Letra, copresidente da Dicico, rede de 55 lojas de materiais de construção.

Ele tem fortes argumentos para avaliar a falta de impacto do corte dos juros dos bancos oficiais nas vendas. É que a sua rede tem um cartão próprio compartilhado com o Banco do Brasil. Além disso, o Construcard, o cartão da Caixa usado para parcelar a compra de material de construção, é um importante instrumento de financiamento das vendas.

"No cartão da Dicico, a restrição do crédito continua a mesma dos últimos meses", diz Letra. E o corte dos juros não aconteceu, relata o executivo. Tanto é que, para driblar a falta de crédito, as vendas por ocasião do Mega Feirão, que a empresa realiza desde quinta-feira e vai até quarta-feira, poderão ser parceladas em dez vezes sem juros em todos os cartões de crédito. "Estamos dando o crédito por conta própria."

Também os dados de consultas para vendas a prazo da Associação Comercial de São Paulo indicam que o ritmo do varejo continua moderado, com alta de 3,1% nas consultas para o crediário em abril, na comparação com o mesmo mês de 2011.

Pelo lado da migração dos clientes com dívidas com o sistema financeiro, os resultados foram inexpressivos. Números do Banco Central (BC) mostram que em abril foram realizadas 27.128 operações de portabilidade, isto é, clientes transferindo a dívida de um banco para outro. As cifras transferidas no mês entre as instituições financeiras foram de R$ 208,8 milhões. O número de operações de portabilidade em abril foi 17,3% menor do que em março e 5% abaixo de abril do ano passado. Em valores monetários, as quedas foram de 21,3% e de 0,28%, respectivamente, nas mesmas bases de comparação.

Eficácia. O economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, aponta os fatores que, na sua avaliação, impedem que o afrouxamento da política monetária surta o efeito desejado para acelerar o consumo e, na sequência, a produção da indústria.

Do lado consumidor, ele aponta o elevado comprometimento da renda disponível com o pagamento de dívidas, que hoje está em 22%, o maior nível desde 2005, segundo dados do BC. Em países como os Estados Unidos, esse índice está em 15%. Do lado dos bancos, a inadimplência está elevada, especialmente nos financiamentos de veículos, o que não permite o afrouxamento do dos critérios de concessão. "Não tem mais o oba-oba do crédito tanto da parte da demanda quanto da oferta", diz Borges.

Para complicar o cenário do enfraquecimento da demanda doméstica e, por tabela, da produção industrial, o economista destaca a queda de 27,1% das exportações para a Argentina em abril de 2012 ante 2011. O país é o terceiro maior parceiro comercial do Brasil e compra principalmente manufaturados.

Caixa e BB detêm só 20% do crédito

O Banco do Brasil e a Caixa respondem por cerca de 20% do volume total de crédito destinado a pessoas físicas e jurídicas. "Sozinhos os bancos oficiais não dão conta de fazer o crédito decolar", afirma o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges. E, nos bancos privados, ele diz que a redução de juros está vinculada a contrapartidas.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Juro real cai a 2,3% e já é quase o que Dilma prometeu

Presidente e equipe econômica indicaram no início do governo que taxas reais poderiam cair para 2% até o fim do mandato

Fernando Dantas

RIO - A intenção da presidente Dilma Rousseff de levar a taxa de juros real para 2% já foi quase cumprida, ainda faltando mais de dois anos e meio para o fim do seu mandato. Na sexta-feira, a principal taxa de juros de mercado de um ano, das transações envolvendo bancos e grandes empresas (e que baliza todas as outras taxas), caiu em termos reais para 2,3% ao ano.

Esse juro, conhecido no mercado como "swap" de 360 dias, tende a antecipar os movimentos da Selic, a taxa básica de juros calibrada pelo Banco Central (BC). Em termos nominais, o swap de 360 dias fechou na sexta-feira em 7,99%. Com a expectativa de inflação do mercado de 5,53% nos próximos 360 dias, isso significa uma taxa real, isto é, descontada da inflação, de 2,3%.

"Se de fato o país conseguir alcançar estabilidade das taxas de inflação sob taxas de juros reais mais reduzidas, podemos estar assistindo à uma melhora institucional histórica", comenta Thiago Curado, economista da consultoria Tendências.

A queda dos juros foi acentuada no final da semana passada, com a flexibilização das regras da caderneta de poupança. A rentabilidade fixa dessa aplicação representava um obstáculo crescente à redução da Selic, taxa básica de juros, para níveis abaixo dos atuais 9%. Agora, já há projeções de corte da Selic ainda este ano para níveis em torno de 8% a 8,5%, e até abaixo de 8%.

Dilma também vem enfrentando o sistema bancário privado para que o elevadíssimo "spread" - a margem acima dos juros de captação pelos bancos - cobrado no crédito para pessoas físicas e a grande maioria das empresas também caia para níveis compatíveis com os do resto do mundo.

De qualquer forma, o nível atual do juro real no "swap" de 360 dias representa uma extraordinária queda, de mais de 20 pontos porcentuais, num período de dez anos. Hoje, o juro real de 2,3% é precisamente dez vezes menor do que o de 23% que foi atingido em meados de 2002 (ver matéria abaixo).

A etapa final desse processo começou quando o Banco Central, no final de agosto do ano passado, surpreendeu os analistas cortando a Selic, a taxa básica de juros, de 12,5% para 12%.

Apesar das críticas, o BC viu confirmarem-se suas expectativas tanto de uma desaceleração forte da economia, pelo aperto monetário de 2010 e 2011 e pelas medidas macroprudenciais de controle de crédito, quanto do efeito desinflacionário da fraqueza da economia global (especialmente nos países ricos).

A grande dúvida, porém, é se a enorme queda do juro real dos últimos anos é sustentável e não vai provocar um surto de pressões inflacionárias que obrigaria o BC a elevar fortemente a Selic (e, consequentemente, os juros reais de mercado) mais adiante.

Para Curado, da Tendências, uma taxa de juro no nível atual, pouco acima de 2%, só é viável enquanto houver pressões desinflacionárias provenientes da economia global. "Frente a uma recuperação do cenário externo, será necessário elevar as taxas de juros", ele projeta.

A economista Monica de Bolle, diretora do Instituto de Estudos de Política Econômica (Iepe/Casa das Garças), no Rio, acha que Dilma e o BC poderão se considerar bem sucedidos se a atual política agressiva de redução de juros obtiver um ritmo de crescimento em torno de 3% e apenas uma alta leve de inflação, que se manteria em torno de 6%.

"Ninguém vai ter muito problema com isso porque, de modo geral, a população brasileira já demonstrou uma fadiga absoluta com essa história de tentar ter inflação baixa, mas com juros muito altos", diz Monica.

Uma segunda possibilidade, acrescenta Monica, seria a de a economia não estar preparada e a inflação disparar acima daquele nível. E, finalmente, um terceiro cenário, que ela considera o mais improvável, seria uma aceleração do crescimento sustentável para próximo de 4%, mantendo-se juros baixos e inflação por volta de 6%.

"Mas eu não acho que a economia vai desandar completamente com esse experimento com os juros, porque estamos fazendo isso num bom momento, com a nossa percepção pelos investidores estrangeiros muito diferente do que era no passado - ninguém vai achar um absurdo, pelo contrário, vão achar que é bom", ela diz.

Já o economista Alexandre Schwartsman, da Schwartsman & Associados, diz achar "difícil que essa taxa de juro real atual não estimule extraordinariamente a atividade econômica".

Ele lembra a metáfora da política monetária como a água do chuveiro, que às vezes demora a esquentar, levando a pessoa a abrir demais a torneira quente até que um jato escaldante quase queime a sua pele. "Existem defasagens no efeito da queda da taxa de juros sobre a atividade" , ele diz, preocupado com uma repique muito forte da inflação.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Com crise política e CPI, Dilma abre cofre a aliados

Planalto multiplicou liberação de verbas em momentos de tensão com Congresso

Ao mesmo tempo em que enfrentava uma crise com a base e negociava a criação da CPI do Cachoeira, o governo Dilma multiplicou a liberação das verbas de interesse de parlamentares, prefeitos e governadores, informa Gustavo Patu.

As despesas com as chamadas emendas parlamentares, incluídas por congressistas no Orçamento em favor de suas bases eleitorais, quadruplicaram de fevereiro para março, quando bateram R$ 350 milhões. Em abril, o patamar se repetiu.

Gasto do governo com varejo político dispara após a crise

Liberações para emendas parlamentares agora superam R$ 350 mi por mês

Distribuídas entre 11 pastas, essas rubricas se destinam a obras e projetos menores, típicos de municípios

Gustavo Patu

BRASÍLIA - A crise no relacionamento com os partidos aliados e a criação da CPI do Cachoeira coincidiram com a multiplicação da liberação, pelo governo Dilma Rousseff, de verbas de interesse de deputados, senadores, prefeitos e governadores.

Os registros diários dos desembolsos federais mostram um salto, a partir de março, das despesas incluídas por congressistas no Orçamento da União em favor de seus redutos eleitorais -as chamadas emendas parlamentares.

Para detectar a movimentação de recursos destinados a negociações políticas, a Folha selecionou uma amostra das iniciativas orçamentárias que mais recebem emendas e servem de base para as barganhas cotidianas entre o Planalto e o Congresso.

Os desembolsos para essas finalidades quadruplicaram de fevereiro para março, quando ultrapassaram a casa dos R$ 350 milhões -patamar repetido em abril.

Em consequência, os primeiros quatro meses do ano terminaram com liberação de R$ 911 milhões, contra R$ 363 milhões no primeiro quadrimestre de 2011, quando Dilma lançava seu pacote de austeridade fiscal.

Esses gastos estão concentrados em 20 ações de governo -entre as mais de 4.500 previstas no Orçamento da União-, que servem como um termômetro do fisiologismo no varejo político.

Elas respondem por três quartos das emendas apresentadas por deputados e senadores nos últimos três anos; 95% de suas verbas vêm de emendas individuais ou de bancadas estaduais e comissões temáticas.

Distribuídas entre 11 ministérios, essas rubricas foram criadas para abrigar obras e projetos de pequeno porte, como praças, ciclovias, quadras e postos de saúde. O Executivo negocia a liberação da verba em troca de apoio no Congresso; para deputados e senadores, interessa colher dividendos eleitorais.

Os dados mostram o momento em que os congressistas tiveram uma reviravolta na liberação de verbas: a rejeição pelo Senado, em 7 de março, do indicado do Planalto para a Agência Nacional de Transportes Terrestres.

No outro dia, Dilma mostrou ter entendido o recado dos aliados e mandou avisar que as demandas seriam atendidas com mais presteza.

No dia 9 de março, as ações campeãs de emendas receberam mais de R$ 80 milhões -até então, o desembolso diário no ano nunca havia chegado a R$ 20 milhões.

Em abril, o movimento foi mais intenso no intervalo de duas semanas entre a decisão da bancada governista de apoiar a CPI do Cachoeira e a efetiva criação da comissão.

A aceleração dos gastos não está circunscrita às miudezas da política. Em março, a despesa do Tesouro teve alta de 17% em relação ao mesmo período de 2011. No primeiro bimestre, a taxa foi de 9,5%.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Liberação de verbas mostra falência na relação entre o Executivo e o Congresso

Fernando Rodrigues

BRASÍLIA - A abertura do cofre promovida por Dilma Rousseff para atender aos desejos fisiológicos de congressistas torna evidentes duas coisas.

Primeiro, a já conhecida falência na relação entre o Executivo e o Legislativo. Segundo, que a presidente não conseguiu resistir ao discurso contracionista e de antifisiologismo apregoado no início do seu mandato.

Esse desfecho era previsível. O Congresso tem hoje representantes de 23 dos 29 partidos existentes no Brasil. É um local inóspito quando se trata de procedimentos republicanos. A maioria dos parlamentares só pensa na sua sobrevivência política, nas eleições e em como tirar proveito das vantagens que puder arrancar do Planalto.

É assim também em outros países que adotam o sistema presidencialista parecido com o brasileiro.

Nos EUA há uma farra na hora de distribuir as chamadas emendas parlamentares. A grande diferença é o sistema partidário mais enxuto que permite algumas negociações serem feitas no atacado -só há duas grandes agremiações no Congresso.

O varejo das conversas políticas no Brasil leva ao cenário atual com Dilma cedendo à liberação de emendas. A cada votação mais relevante, os articuladores do Planalto precisam estabelecer dezenas de conversas com congressistas de quase todas as 23 siglas representadas no Legislativo.

Quando o último acerto é concluído, às vezes já é necessário recomeçar a rodada porque algum deputado ou senador está apresentando novos pleitos.

Há um cardápio de medidas conhecidas para reformatar esse tipo de relação entre o Executivo e o Legislativo. Todas são rechaçadas porque sempre há mais interesses contrariados do que gente a favor dentro do Congresso.

Sucessivos presidentes reclamaram desse modelo, mas pouco ou nada fizeram para mudar o sistema. Fernando Henrique Cardoso (no Planalto de 1995 a 2002) e Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) acabaram aprendendo a lidar com o fisiologismo do Legislativo. Acomodaram-se e usufruíram do sistema.

Dilma Rousseff, neófita nesse tipo de articulação, parece também estar absorvendo a técnica e o gosto pela relação tradicional com os políticos. Nessa toada, será mais uma presidente que não trabalhará para reformar os hábitos deteriorados entre o Planalto e o Congresso.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Eduardo Giannetti: 'Escândalos tiram o foco de questões reais'

Economista alerta para o risco de Congresso sair desacreditado se CPI do Cachoeira não der em nada

Entrevista: Eduardo Giannetti

SÃO PAULO. Há 15 anos, o filósofo, economista e escritor Eduardo Giannetti da Fonseca lançava seu livro mais conhecido. "Auto-Engano" trazia uma reflexão sobre a necessidade que o ser humano tem de se iludir - e o impacto que isso tem na ética, na vida pública e na vida privada. Questão, segundo ele, bastante atual num Brasil que caminha para uma importante CPI.

Mariana Timóteo da Costa

O GLOBO: A CPI do Cachoeira tem características diferentes: muita informação sobre os escândalos já foi divulgada, e os suspeitos fazem parte de variadas forças políticas, além do envolvimento da iniciativa privada. Ela pode, assim, gerar consequências mais sérias?

EDUARDO GIANNETTI: Torço para que sim. Mas acho que as instituições saem desacreditadas sempre que uma investigação é armada em cima de cálculo político, em ano eleitoral. Duas coisas me perturbam: primeiro é ver a vida política do Brasil, que tem tantos desafios, ser consumida por escândalos que tiram o foco de questões reais que comprometem o bem-estar da população. Parece que nosso Congresso só acorda quando uma CPI é criada. A segunda é, como cidadão, passar por mais uma investigação com alta probabilidade de dar em nada.

Mas não é importante para a opinião pública conhecer melhor os escândalos?

GIANNETTI: Um Congresso incapaz de produzir resultados deixa a sociedade desacreditada. Mas claro que queremos conhecer os culpados, ainda mais se a CPI for conduzida com objetividade e resultar em punição. A imprensa vem mostrando muita coisa, mas não escondo minha perplexidade com a forma com a qual essas notícias vêm sendo vazadas: eu gostaria de ver reportagens acompanhadas de explicações sobre quem controla e manipula a divulgação dessas informações a conta gotas.

Qual o grau da confusão entre o público e o privado no Brasil?

GIANNETTI: Alto, e cada vez maior. O privado interfere indevidamente nas escolhas públicas, e o público trata o privado como se fosse propriedade sua. Enquanto o povão tem o Bolsa Família, a elite empresarial tem a Bolsa BNDES. Ou seja, você tem a população de baixa renda e a elite tuteladas pelo Estado. Ao meu ver, o governo Dilma, muito mais do que o governo Lula - especialmente o do primeiro mandato, para mim o melhor -, tem uma certa afinidade ideológica com o nacional-desenvolvimentismo do governo de Ernesto Geisel. A ideia de um Estado forte, orientador, que escolhe os vitoriosos do setor privado, que monta os grupos econômicos, articulando estatais, multinacionais e empresas nacionais, que determina a destinação dos investimentos.

Como filósofo, dá para analisar a formação moral de corruptos no Brasil?

GIANNETTI: Passa pelo que chamo de o "paradoxo do brasileiro", o problema sempre está no outro. Eu até condeno o que vejo ao meu redor, mas não me sinto parte do todo. Há um autoengano porque tudo que está aí é resultado de todos nós, juntos. Quem corrompe e quem se deixa corromper pode pensar: "todo o mundo paga propina e, se eu não fizer, estou fora do jogo".

Especialistas dizem que, enquanto a situação econômica estiver boa, a população não se comoverá com CPI, nem com o julgamento do mensalão.

GIANNETTI: O maior risco que o Brasil corre é o da complacência da opinião pública com seus governantes, já que realmente vivemos um momento econômico bom. Mas esta sensação de bem-estar imediata não nos garante um futuro de prosperidade. Temo que o deslumbramento desta classe média emergente a cegue para escândalos e para a pobreza institucional do país.

FONTE: O GLOBO

Maioria da CPI quer convocar governadores

Enquete do Estado com os 32 titulares da CPI do Cachoeira mostra que a maioria apoia a convocação imediata dos governadores Marconi Perillo (PSDB-GO), Agnelo Queiroz (PT-DF) e Sérgio Cabral (PMDB-RJ), além de Fernando Cavendish, da Delta. Os únicos que são taxativamente contrários são José Pimentel (PT-CE) e Sérgio Souza (PMDB-PR). "Não vi nada que os comprometa", disse Souza.

Maioria da CPI mista quer convocação imediata de governadores e Cavendish

João Domingos, Eugênia Lopes

BRASÍLIA - Enquete feita pelo Estado com os 32 titulares da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cachoeira mostra que será infrutífera a tentativa de blindagem dos partidos aos governadores de Goiás, Marconi Perillo (PSDB); Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT); e Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), e ao empresário Fernando Cavendish, da Delta Construções. A maioria disse ser favorável à convocação imediata do quarteto.

Dos 32 integrantes da comissão, 7 senadores e 9 deputados defendem essa posição, somando 16 votos. Como o presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), só vota para desempatar, ele não conseguiria mudar o resultado de uma eventual convocação dos governadores e do empresário, mesmo que optasse por dar seu voto. No máximo, empataria o placar. Vital disse ao Estado que, por ser presidente da CPI, não revelaria seu voto.

O relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG), também é cauteloso. Ao afirmar que não há tema proibido para as investigações, defende que, antes da convocação dos governadores e do empresário, sejam analisados os documentos das Operações Vegas e Monte Carlo. As duas ações da Polícia Federal desvendaram o esquema de corrupção e tráfico de influência montado pelo contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.

Seguem o raciocínio de Cunha mais quatro senadores e seis deputados. "Eu quero, sim, convocar governadores e o empresário Cavendish. Mas, primeiro, quero olhar os documentos até para saber o que vou perguntar", disse o senador Humberto Costa (PT-PE), também relator do processo de cassação do mandato do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) no Conselho de Ética do Senado. Demóstenes está sendo acusado de mentir no plenário do Senado por ter negado qualquer ligação com Cachoeira. Mas cerca de 300 conversas entre os dois constam das gravações feitas pela PF, e a situação do senador é a pior possível ante seus pares.

"Ilações". Dos 32 titulares da CPI, os únicos que são taxativamente contrários à convocação dos três governadores e do empresário, que foi presidente da Delta até o agravamento do escândalo, são os senadores José Pimentel (PT-CE) e Sérgio Souza (PMDB-PR). "Eu não vejo razões para convocar os governadores nem o empresário pelo que apareceu até agora", disse Pimentel. "O foco são as ligações do Cachoeira e não vi nada que comprometa os governadores e Cavendish. O máximo que aparece são ilações, conversas de terceiros", completou Souza.

O senador Fernando Collor (PTB-AL), que se autoproclamou guardião dos documentos que chegarem à CPI e insinuou que um eventual vazamento recairá sobre as costas do presidente Vital do Rêgo, disse ao Estado que não dá opinião sobre a CPI.

O senador Vicentinho Alves (PR-TO) pediu desculpas por não adiantar o que fará. "Tenho de seguir a orientação do meu partido. E ainda não sei qual é". Cuidado que não teve seu colega da Câmara, Maurício Quintela Lessa (AL), que se posicionou imediatamente favorável às convocações.

Pacote único. Defensor da ida à CPI dos três governadores e do empresário, o líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR), vincula a convocação de Perillo, Agnelo e Cabral a um só requerimento com os nomes de todos eles. "É preciso fazer isso, se não eles (os governistas), que têm a maioria, chamam o Perillo e deixam os outros dois de fora. Então, que convoquemos todos juntos", afirmou o tucano. "Não podemos ter dois pesos e duas medidas. Temos de convocar todos", disse o deputado Sílvio Costa (PTB-PE).

Desafetos políticos de Perillo, em Goiás, e de Agnelo, em Brasília, os deputados Iris de Araújo (PMDB-GO) e Luiz Pitiman (PMDB-DF), tiveram o cuidado de não pedir de cara a convocação dos adversários. Não querem que a presença deles na CPI pareça um acerto de contas. "Não temos elementos ainda para convocar nenhum deles. Temos que aguardar o exame da documentação", disse Iris.

Presos. O deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) afirmou que, antes de mais nada, quem tem de ser ouvido é Cachoeira, cujo depoimento está marcado para o dia 15. "Tem que chamar primeiro quem está preso. Não tem sentido ouvirmos os governadores antes de ter os autos do processo." Após Cachoeira, ele defende que Cavendish compareça.

Para o senador Pedro Taques (PDT-MT), além dos governadores é fundamental ouvir o empresário, para que a comissão não se torne "de brincadeirinha."

O plano de trabalho da CPI não prevê a convocação nem dos governadores nem de Cavendish. Em junho, haverá uma nova avaliação sobre a convocação dos quatro.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

O papel do mínimo:: Merval Pereira

Com o aumento do valor médio do salário que está acontecendo na economia brasileira, cada vez mais a tarefa de ajudar a combater a pobreza extrema, uma das prioridades da presidente Dilma reafirmada no discurso de 1 de Maio na televisão, deixa de ser do salário-mínimo, que acaba ficando com o papel de fator de distribuição de renda.

O mínimo puxou aumento real de 3,6% nas negociações salariais de janeiro, o dobro do que ocorreu em dezembro, segundo pesquisa do jornal "Valor Econômico".

Os economistas Luis Eduardo Afonso e Paula Carvalho Pereda, da USP, Fabio Giambiagi, do BNDES, e Samuel Franco, do IPEA, publicaram na revista Economia Aplicada da FEA da Universidade de São Paulo um estudo onde demonstram o esgotamento do papel do salário-mínimo como mecanismo de combate à pobreza extrema, no qual argumentam que a política de aumentos do mínimo foi perdendo sua eficácia nesse ao longo do tempo, à medida que seu valor real ia aumentando.

Entre 1994 e 2007, o salário-mínimo teve um aumento real acumulado de 110%. Com isso, seu valor avançou, passando de 23% para 40% na escala do rendimento médio brasileiro.

Com as atualizações até 2009, data da última PNAD, já que em 2010 não houve e a de 2011 ainda não saiu, os estudos mostram que, como o salário-mínimo subiu muito, há mais gente que ganha menos de um salário no país: em 1995 eram 14,8% e, hoje, são 21,8%.

No mesmo período, praticamente dobrou a participação do salário-mínimo como fração da renda média da população.

Em 2009, só 13% dos aposentados e pensionistas que ganhavam um salário-mínimo estavam entre os 30% mais pobres da população.

Para Fabio Giambiagi, a política de aumentos reais do salário-mínimo foi, de certa forma, vítima de seu próprio êxito.

Tanto nas famílias mais pobres como nas mais ricas é relativamente raro encontrar pessoas recebendo pensões e aposentadorias iguais ao salário-mínimo.

Portanto, a maior parte das pessoas que recebem o salário-mínimo (no trabalho, em pensões ou aposentadorias) não pode ser considerada pobre pelo padrão brasileiro.

É inegável que houve crescimento significativo no poder de compra do salário-mínimo, qualquer que seja a unidade de medida empregada, mas, ao mesmo tempo, esse aumento real representou uma das principais fontes de pressão sobre as contas da Previdência Social desde o Plano Real.

De 1995 a 2009, a despesa do INSS cresceu de 4,6% para 7,3% do PIB. O dispêndio com benefícios assistenciais e previdenciários teve um aumento equivalente a 3,3% do PIB, o que representa um incremento relativo de mais de 70% de seu peso no PIB em um período de 14 anos.

Este fenômeno ocorreu em parte devido ao fato de o salário-mínimo afetar 2 de cada 3 benefícios, dada à vinculação constitucional existente entre a variável e o piso previdenciário e assistencial, o que produz inegavelmente um efeito médio positivo, mostra o estudo.

Em função disso, o estudo dos economistas sugere congelar o valor real do salário mínimo na próxima década e concentrar os recursos públicos em políticas mais bem focalizadas e com maior retorno social.

Com base nos dados apresentados e "partindo-se do pressuposto de que a prioridade maior das políticas sociais deveria ser tentar reduzir a insuficiência de renda das famílias mais pobres", os economistas propõem três medidas:

1- Estabilizar em algum momento o valor real do piso previdenciário, mediante Emenda Constitucional que desvincule o piso do valor do salário-mínimo;

2- Retomar, em função das diferenças regionais, o conceito de salário-mínimo regional, que já vigorou no país até a década de 80;

3- Redirecionar o foco das políticas sociais.

Esse novo foco deveria estar ligado a ações integradas com três objetivos: beneficiar um maior número de pessoas situadas abaixo da linha de extrema pobreza; ampliar os recursos à disposição dessas pessoas e formatar políticas públicas com "portas de saída", que consigam melhorar estruturalmente as condições de ascensão social desses indivíduos e possibilitem sua retirada do elenco de beneficiários, no horizonte de uma geração.

Se o país quer atacar de forma eficiente o problema da extrema pobreza, a elevação do piso previdenciário e do salário-mínimo não é o instrumento mais eficaz, dizem eles, pois seu aumento "implica onerar pesadamente as contas do INSS e do Tesouro, com efeitos sociais muito modestos".

A constatação de que o aumento do salário-mínimo não é mais uma política eficiente de combate à pobreza extrema deveria ser um fator de convencimento poderoso no sentido de persuadir a sociedade acerca da razoabilidade da medida proposta, alegam os autores do estudo. Programas focalizados, como o Bolsa Família, têm se revelado mais eficazes para atingir o objetivo de combater a pobreza extrema, objetivo básico das políticas sociais.

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O advogado Márcio Thomaz Bastos está torcendo para que ocorra logo a cassação de Demóstenes Torres. Assim que acontecer, ele terá sólidas razões para suscitar a competência do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás para julgar os crimes praticados por seu cliente, o bicheiro Carlos Cachoeira.

Seus crimes seriam conexos aos do ex-senador, e esse, como membro do Ministério Público de Goiás, tem seu juízo criminal natural naquele tribunal.

FONTE: O GLOBO

Risco calculado:: Dora Kramer

Da redução dos juros do Banco do Brasil e da Caixa Econômica até a adoção de uma atitude belicosa em relação aos bancos privados, a presidente Dilma Rousseff organizou de maneira notável a estratégia de redução de possíveis danos políticos decorrentes da alteração na remuneração da caderneta de poupança.

Roteiro irretocável: agiu primeiro, aumentou o tom do discurso do combate aos juros altos, "cresceu" para cima dos bancos escolhendo seus lucros exorbitantes como o inimigo maior a ser combatido - ou seja, elegeu um adversário já devidamente detestado - e depois deu o que em tese seria a má notícia.

Essa mesma competência aplicada à inepta articulação da base congressual livraria o Planalto de muitos dissabores e faria de Dilma uma governante mais completa, para não dizer uma pessoa de noção democrática mais acurada.

Se do ponto de vista da economia Dilma agiu corretamente no tocante às consequências, é tema para análise de quem entende do riscado. Nossa questão diz respeito a efeitos político-eleitorais e ao eventual prejuízo aos altos índices de aceitação popular da presidente.

Há o perigo do desgaste? Sem dúvida, mas governar é também correr riscos. O tema é sensível e não por outro motivo seus antecessores evitaram transitar por esse terreno a despeito da necessidade de mexer na poupança para prosseguir no caminho da redução dos juros.

O então presidente Luiz Inácio da Silva passou perto, mas recuou diante da grita geral de associação de quaisquer mudanças no mais seguro e popular investimento do País com o confisco Collor-Zélia de 1990. Lá se vão mais de 20 anos, mas o fantasma ainda assombra e muito.

Descontada a opção pela desonestidade explícita - que, diga-se, provavelmente o PT não teria pejo em adotar se não fosse governo - a oposição não pode ligar uma coisa à outra por ausência completa de sustentação nos fatos.

A presidente ficou nesse episódio com uma boa margem de manobra para enfrentar o debate no campo da política. Enquanto a economia estiver bem, realmente é bem pouco provável que o governo colecione perdas junto à opinião pública justamente pela combinação da ação impopular com o discurso de viés claramente populista, com o objetivo de marcar a imagem da Dilma heroína.

E como não há oposição cuja identificação com a sociedade seja minimamente significativa, ela pode atuar livremente ao mesmo tempo no ataque e na defesa.

No caso da poupança, foi o que aconteceu.

Contas abertas. Aprovada em 25 de outubro de 2011 e sancionada pela Presidência da República em 18 de novembro (junto com a lei que criou a Comissão de Verdade) para entrar em vigor no prazo de seis meses, a Lei de Acesso à Informação pode ser usada por qualquer cidadão interessado em saber dados oficiais.

Portanto, é de se supor que sirva de base legal a quem quiser pedir ao governo do Rio de Janeiro esclarecimentos sobre datas das viagens do governador Sérgio Cabral Filho ao exterior, assim como o destino, a finalidade e os detalhes sobre despesas.

Há, além desse, outro instrumento: o pedido de certidão sobre o fato - ao contrário da nova lei, já regulamentado - a ser encaminhado à Casa Civil do governo do Estado. O prazo para resposta é de 15 dias.

Sinais exteriores. Um parlamentar que não se perdoa por não ter notado que havia uma discrepância entre o personagem virtual e a personalidade real do senador Demóstenes Torres foi alertado em outubro último de que havia algo de errado com ele, durante uma viagem a Nova York: o excesso de gastos.

A mulher do parlamentar em questão estranhou as roupas usadas pela mulher de Demóstenes e disse ao marido que eram de marcas cujos preços não cabiam no salário de senador. Hoje, lembrando o episódio, o congressista se penitencia: "A ficha deveria ter caído ali".

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Quem quer o abacaxi? :: Eliane Cantanhêde

A imagem fragilizada de Lula, trôpego, de bengala, e depois recebendo o título de doutor honoris causa de universidades do Rio tem uma força imensa no imaginário popular e na política.

Soma-se a essa força simbólica a força concreta de Dilma. Primeira mulher presidente, ela teve peito para enfrentar os bancos, os juros, a criação do Funpresp (o fundo de previdência do funcionalismo) e, enfim, a garfada na poupança.

A oposição tenta vislumbrar alguma brecha na CPI e na votação da MP da poupança, mas está difícil. O peixe mais graúdo da CPI é Demóstenes, até há pouco um ídolo oposicionista, e o discurso de que "a poupança vai render menos para os juros baixarem mais" parece colar.

Quando Aécio disse que "as circunstâncias lá na frente" poderão empurrar Serra para a candidatura à Presidência, a conclusão imediata foi de que estava espezinhando o outro. Serra, que jura que quer ser prefeito para ser prefeito, não para pular no palanque presidencial, ironizou: não esperava de Aécio senão "essa manifestação de gentileza".

Em vez de trocarem gentilezas e ironias, porém, os dois parecem estar fugindo da raia.

FHC alegou pruridos éticos e deixou Serra ao léu em 2002, mas quem errou feio em 2002, 2006 e 2010 foi Aécio, imaginando que a derrota de Serra e Alckmin seria a vitória dele, o trampolim para sua candidatura presidencial em 2014. Foi tragado pelo Senado, enquanto o lulismo/dilmismo se prepara para 20 anos de poder.

Noves fora o "imponderável", os campeões de popularidade Lula e Dilma, o simbólico e o concreto, projetam uma derrota acachapante para os tucanos em 2014.

Depois de dez anos se digladiando para disputar o Planalto, Aécio e Serra tendem a ser empurrados pelas "circunstâncias lá na frente" para situação oposta: um empurrando o abacaxi para o outro. Quem topa enfrentar Dilma e Lula, juntos, em 2014?

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

O mal feito a nós:: Míriam Leitão

Os escândalos passam pelo noticiário numa procissão infindável, uma cachoeira de escândalos. Tenebrosas transações vão surrupiando recursos públicos, esgarçando a confiança nas instituições, consolidando a sensação de que os políticos são assim mesmo; todos iguais. No ano passado foi um dominó que derrubou sete ministros e consumiu o ano inteiro. Este ano, a CPI que começa é outra que tem o nome de CPI do fim do mundo.

Onde é que estão os riscos e como entender essa avalanche? A imprensa é apenas a mensageira da notícia. Ela divulga. Não é a responsável pelo ambiente de cansaço e apreensão diante de tanto fato que ofende o país.

O problema alcançou uma dimensão que vai além do evento em si, vai além da política, e compromete ganhos importantes que o país conquistou nas últimas décadas. Cada evento tem que ser apurado, e seus responsáveis, punidos. Mas seria normal que a esta altura dos malfeitos houvesse algum temor entre os corruptos. Eles parecem, fita após fita, diálogo após diálogo, ter a mesma sem cerimônia, a mesma incorrigível desfaçatez.

Políticos com posições de destaque, com ambições ainda maiores, são capazes de exibições de espantosa falta de noção do conflito de interesses e dos limites que devem reger as relações entre o público e o privado. Se colocassem apenas as suas carreiras em risco, vá lá. Mas o perigo se abate também sobre políticas públicas que esses políticos colocaram em marcha, e para as quais contribuem pessoas e servidores sinceramente convencidos da sua qualidade.

Tudo isso desanima. Abate. Confunde. O brasileiro honesto diante de tanta recorrência pode achar que é assim mesmo, é da natureza da política. Pode considerar que o melhor é aderir a esse padrão moral nas suas próprias relações. Ou pode simplesmente se afastar de tudo, não querer mais perder tempo em entender tanto organograma dos esquemas criminosos, ouvir trechos de tantos diálogos tortuosos.

A generalização, a perda de valores, ou a alienação, qualquer dessas reações é perigosa para o país. A primeira vai minar o apoio à democracia, porque a conclusão pode ser: se todos os políticos são iguais, melhor não tê-los. A segunda porque ela tornará a corrupção endêmica, parte da cultura nacional. A terceira, essa do abandono do navio aos ratos, é a renúncia à busca de um país decente.

Um escândalo é apenas um escândalo. Todos eles juntos vão formando a cachoeira que pode nos arrastar para longe do objetivo que o Brasil tinha quando lutou suas lutas recentes.

Na conversa da redação, quando a equipe da Globonews preparava a reportagem sobre Rubens Paiva, nos demos conta de que a maioria dos brasileiros não tinha nascido quando o deputado foi preso e desapareceu em 1971. Fui verificar no IBGE, e o número era espantoso: 68% dos brasileiros têm menos de 41 anos. O Brasil tem uma população jovem. Isso é um bônus, mas o risco aumenta. Os que na minha geração entenderam a dor vivida pelo país durante a ditadura estão dispostos a tudo para manter o Congresso aberto. Mas e os jovens? Os que nada daquilo viveram? Até quando tolerarão a sequência de escândalos sem serem capturados por algum vendedor de poção mágica e autoritária para os males nacionais?

Na economia, a corrupção é devastadora. O que normalmente se tem em mente é o volume de recursos desviado dos cofres públicos através das estratagemas de sempre: empresas fantasmas que não prestam o serviço para o qual são pagas; sobrepreço na compra de bens e serviços pelo governo; compras aprovadas por políticos e funcionários que receberam a sua parcela do dinheiro sujo; desperdício de obras inacabadas.

Há muitas outras perdas. As empresas fornecedoras do governo adotam normas de organização gerencial que promovam o funcionário que sabe o caminho, ou descaminhos, do cofre. Como o Estado é o grande comprador, se a má prática se dissemina, todos os milhares de fornecedores do Estado serão colocados em algum momento diante do dilema: aceitar ou não a regra vigente. Hoje, já se vê no Brasil o desdobramento disso, que é a corrupção nos negócios entre empresas privadas.

Grandes investidores podem considerar que o Brasil não é um país para o qual se deva ir. A corrupção de tão frequente pode estar neste momento desanimando alguma diretoria a tentar voos maiores para o Brasil. Ou então desembarcam com a orientação de adotar padrões éticos mais flexíveis para se adaptar à cultura local.

A democracia corre riscos evidentes a cada nova pancada que a opinião pública recebe. A economia vai se viciando, encontrando os atalhos, perdendo sua eficiência, atraindo apenas os piores, os que sabem se movimentar em ambiente tão degradado.

O Brasil tem sonhos altos e nesse momento tem mais confiança de que pode alcançá-los. Quer estar entre os primeiros países do mundo, mesmo sabendo que o sexto lugar em PIB só será efetivo quando houver o mesmo grau no desenvolvimento humano. Ninguém desconhece que há uma lista grande de tarefas por fazer. A dúvida é quanto do nosso destino está sendo diariamente sabotado pela corrupção no momento em que temos tantas chances.

FONTE: O GLOBO

Além de Carlinhos Cachoeira:: Janio de Freitas

Ou a principal descoberta do caso continua encoberta ou é a ação da CPI e da PF que exige esclarecimento

Mesmo com tudo o que já foi divulgado e pressentido, ou a principal descoberta da Polícia Federal ainda está encoberta, por misteriosas razões, ou são comportamentos estranhos da própria PF e já também da CPI mista (CPMI) que precisam ser esclarecidos. Tanto quanto a rede de Carlinhos Cachoeira e seus fins.

O noticiário está bastante aturdido, nele se encontrando, por exemplo, de uma só vez, a inclusão de Fernando Cavendish nos escalados para depor e a afirmação de que a Delta Construtora, de que Cavendish é dono ou "dono", está "blindada" na CPMI, por pressão do governo. Ao aturdimento diário deve-se parte das coisas estranháveis. Outras, porém, são fatos demonstrados.

Já citado o calendário de depoimentos, nele mesmo é surpreendente a reserva de todo o mês de junho para debates entre os integrantes da comissão. Assim também quanto aos depoimentos marcados para este mês. Seja pela quantidade dos relacionados para um só dia (cinco e ainda "outros" em 25 de maio), o que não faz prever inquirições habilidosas e minuciosas; seja pelas datas, com o mês todo à espera de que o senador Demóstenes Torres deponha no dia 31, encerrando os apenas sete dias com inquirições em todo o mês.

O normal seria que a busca intensificada de informações, confissões e denúncias fosse preliminar, porque fundamental para a previsível ramificação das apurações, em um caso com múltiplas faces.

As providências para a guarda do inquérito entregue à CPMI lembram a Sala de Situação da Casa Branca ou do Pentágono. Por certo nunca houve no Congresso nada parecido com a sala em que os integrantes da comissão terão entrada restrita. E, lá, sua consulta ao inquérito será sob a vigilância de várias câmeras, negado-lhe até o porte de celular.

O que contém o inquérito a justificar tudo isso? A explicação de evitar vazamento para a imprensa é pueril. Todos sabem que a comissão está repleta de congressistas sempre prontos a repassar para repórteres, segundo suas predileções pessoais, o que ocorre em reuniões sigilosas, o teor de documentos e os segredinhos de sempre. E a imprensa, ainda mais na agitação de uma CPMI, em que os suspeitos e depoentes ficam meio indefesos, estará satisfeita com informações parciais, pontuais mesmo, do que um congressista-colaborador tenha lido na sala-fortaleza.

Por trás do pretexto, ou haverá de surgir algo muito grave, ou a CPMI se tornará devedora de explicações à opinião pública, assim como se dá com a Polícia Federal. Sempre por pedido a um juiz, a transferência de presos para distantes penitenciárias de segurança máxima é reservada a criminosos de alta periculosidade -chefes do tráfico, de milícias armadas, matadores. Até hoje não se sabe que motivo levou ao pedido, e à concordância do Judiciário, de transferência de Carlinhos Cachoeira para Mossoró, Rio Grande do Norte. Onde ficou em situação (não declarada, mas real) de isolamento, inclusive impedido de contato normal com seus advogados.

Noticiada a estranha situação, o Judiciário acedeu ao pedido, dos advogados, de retorno do preso a Brasília. Mas as condições de prisão a que Carlinhos Cachoeira foi submetido de imediato, em Brasília, só podem ser entendidas como intimidatórias. Ou há algo encoberto, que levou a PF e um juiz a isolar o preso para impedi-lo de mandar mensagens e orientações, ou a polícia exorbitou, suspeitamente, e teria que responder por isto. Os delegados do caso abrem o calendário da CPMI, o que será boa oportunidade de buscar-lhes o esclarecimento.

É preciso dizer que, nisso tudo, inexistem indícios de má-fé do presidente e do relator da CPMI, Vital do Rêgo e Odair Cunha. Seu modo de agir no comando do inquérito parlamentar ainda está por ser visto. É, aliás, o que menos promete espantos dentre o tanto que está por ser visto e ouvido, no caso que é muito mais espantoso do que se mostrou até agora. Mais espantoso, claro, se for devidamente exposto.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO