quarta-feira, 13 de junho de 2012

OPINIÃO DO DIA – Merval Pereira – Thomaz Bastos, Lula e José Dirceu

A luta dos petistas às vésperas do julgamento do mensalão, como sempre, está muito bem coordenada e parece ter mais uma vez na figura do ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos o articulador das manobras políticas no campo jurídico, enquanto outro ex-ministro, José Dirceu, é o braço político-partidário das pressões sobre o Supremo Tribunal Federal. O criminalista Márcio Thomaz Bastos representa o ex-diretor do Banco Rural José Roberto Salgado, um dos réus do mensalão, enquanto Dirceu é classificado como "chefe da quadrilha" pela Procuradoria Geral da República.

O fato de ser bem coordenada não significa que dê resultados, como está se vendo na CPI do Cachoeira, imaginada por Lula e Dirceu para inviabilizar o julgamento do mensalão, ou na pressão do ex-presidente sobre ministros do STF, que, na prática, acabaram provocando um clima de mal-estar na opinião pública que levou à marcação do julgamento para o dia 1 de agosto. Assim como, por ocasião do mensalão, foi Thomaz Bastos quem criou a tese de que o que acontecera foi o uso do caixa dois nas campanhas eleitorais, um crime eleitoral menor, agora a tese de que a mídia faz "publicidade opressiva" sobre o caso, interferindo na imparcialidade do julgamento, é também de sua autoria, enquanto Dirceu politiza a questão de maneira mais direta, conclamando a UNE e a Juventude Socialista do PCdoB a saírem às ruas para defendê-lo na "batalha final".

PEREIRA, Merval, jornalista.’Uma disputa política’. O Globo, 12/6/2012.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
FMI recomenda taxação para empresas poluidoras
Inidônea, Delta não terá novos contratos
Brasil desenvolve vacina inédita
Governo dará R$ 10 bilhões aos estados

FOLHA DE S. PAULO
Efeito da crise deve durar mais dois anos, prevê BC
Governo impede maior empresa do PAC de fechar novos contratos
Relator diz que escuta é ilegal e ameaça operação contra Cachoeira
Bolívia diz que asilo do Brasil a senador é ato de "desatino"

O ESTADO DE S. PAULO
Brasil abre Rio+20 hoje e quer manter conquistas da Eco-92
Delta agora é 'inidônea' e fica fora de licitações
Na CPI, Perillo "terceiriza" acusações e não abre sigilo

VALOR ECONÔMICO
Indústrias químicas e de autopeças terão incentivo
Brasil não aceita conta dos ricos
Punições no mensalão ainda devem demorar
Conselho da Petrobras discute hoje o Plano Estratégico para 2012/16
Laboratórios pedem incentivos do governo, diz Triebnigg, da Novartis
Preferência nacional
PIB verde
Leilão de 4G arrecada R$ 2,5 bi

CORREIO BRAZILIENSE
Perillo escapa. Hoje CPI vai ouvir Agnelo
Relator defende fim de mordomia na Câmara
Falta de consenso marca início da Rio+20

ESTADO DE MINAS
Agora ou nunca
Brasileiros criam vacina contra esquistossomose
Perillo nega apoio de bicheiro

ZERO HORA (RS)
MEC investiga aquisição de áreas da UFPel
Rio+20: O planeta que queremos

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Eduardo ignora o PT e toma rédeas da sucessão
Uso de redes sociais limitado nas empresas
Perillo nega crimes na CPI de Cachoeira, mas recusa quebra de sigilos

Quem deve ficar preocupada com Lula é Dilma e não o PSDB, diz FHC

Em evento, ex-presidente tucano avaliou tom crítico do petista contra o PSDB como "bazófia"

SÃO PAULO - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ressaltou ontem que a presidente Dilma Rousseff tem de se preocupar com a disposição de seu antecessor no Palácio do Planalto, Luiz Inácio Lula da Silva, de voltar à Presidência da República em 2014. Em entrevista, na semana passada, ao Programa do Ratinho, o dirigente petista reconheceu que pode disputar a sucessão presidencial caso a atual presidente não queira se lançar à reeleição em 2014. No programa, Lula disse ainda que não vai permitir que um tucano volte à Presidência.

O ex-presidente tucano avaliou o tom crítico do seu antecessor petista como uma "bazófia" e lembrou que faz parte do estilo dele adotar um discurso "um pouco agressivo".

- O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sempre teve esse discurso um pouco agressivo, é do estilo dele. Agora, depende do povo. O povo que vai decidir quem será o próximo presidente. É uma bazófia do ex-presidente, é o estilo dele de 'vou fazer' e 'vou acontecer'. Eu desconto a declaração pelo estilo dele, não é para levar ao pé da letra. Quem está preocupado não são os tucanos, mas a presidente Dilma Rousseff, ela que tem de se preocupar com essa disposição do Lula - afirmou Fernando Henrique Cardoso, após participar do painel "Os caminhos a serem percorridos pelo Brasil", no Congresso Internacional de Varejo, em São Paulo.

Mensalão

O ex-presidente tucano defendeu que o julgamento do processo do mensalão, marcado para o início de agosto, seja "objetivo" e não considerou como "o melhor caminho" a pressão sobre o Supremo Tribunal Federal (STF). Na avaliação dele, ou os tribunais são respeitados ou não há democracia no país. Fernando Henrique Cardoso afirmou ainda que houve uma tentativa de pressionar a Suprema Corte, caso for verdadeira a tentativa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de adiar o julgamento do mensalão, em encontro com o ministro Gilmar Mendes. A pressão na democracia, de acordo com ele, é sempre possível, "o problema é o limite dela". O ex-presidente tucano discordou da tese, de alguma lideranças petistas, de que a mídia tem pressionado pela condenação dos réus do escândalo político.

- O que é preciso é que o Supremo Tribunal Federal (STF) julgue, que faça um julgamento objetivo. Eu não acredito que seja o melhor caminho pressionar a Suprema Corte, nem de um lado nem de outro. Uma vez nas mãos dos tribunais, ou nós respeitamos os tribunais ou não há democracia. A mídia noticia e, ao noticiar, ela procura sempre dar o outro lado. O STF tem tido a sua independência - afirmou o ex-presidente tucano.

CPI

Fernando Henrique Cardoso disse ainda que espera que o governador de Goiás, Marconi Perillo, demonstre que não cometeu irregularidades em depoimento à CPI do Carlinhos Cachoeira, no Congresso Nacional, e ressaltou que o potencial das denúncias desgastarem o PSDB vai depender da performance do governador tucano na comissão de inquérito.

- Não quero julgar a priori, espero que ele justifique. Eu espero que ele demonstre que está certo - afirmou.

Haddad

O tucano também rebateu as críticas feitas pelo pré-candidato petista à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, sobre a gestão das universidade federais na época que FHC era presidente.

"É um erro. Cada um cresce em função no que o outro fez. Se não fosse o Paulo Renato ter renovado a educação, desde a Lei de Diretrizes e Bases até o provão, não seria possível avançar. É chato cuspir no prato que você vai ter que comer."

Investimento em infraestrutura contra crise

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) defendeu na palestra a lojistas de Shopping Centers em São Paulo, que o País racionalize os gastos com a máquina pública e concentre os esforços em investimentos na área de infraestrutura. Segundo o ex-presidente, ao contrário da China, que no passado investiu em infraestrutura e atualmente incentiva o consumo da população para minimizar os efeitos da crise econômica internacional, o Brasil precisa fazer o inverso."Nós não fizemos o que a China fez: nós não investimos", concluiu FHC em seu discurso no 12º Brasilshop - Congresso Internacional do Varejo.

"Na época da bonança nós deveríamos ter investido mais em infraestrutura. Hoje todo mundo reclama que não tem estradas, os aeroportos não avançaram. São questões que não se resolve do dia para a noite", criticou FHC.

Para o ex-presidente, a arrecadação do governo federal é suficiente para que o País invista em infraestrutura e continue crescendo. "Essa massa de recursos, em boa parte, está sendo desperdiçada porque enche a máquina sem que ela tenha produtividade", avaliou. "Com a taxa de juros caindo, vai haver mais (recursos). Vai sobrar mais dinheiro para o governo federal", emendou.

De acordo com ele, o País poderia ter avançado na política de concessões, o que não aconteceu por "preconceito ideológico". "Essas coisas (ideologias) atrasam o País, impedem de crescer mais depressa", opinou.

Fernando Henrique elogiou o desempenho da presidente Dilma Rousseff na "cruzada" contra os juros altos. "Acho que, no desafio atual, a taxa de juros tinha de ser enfrentada mesmo", admitiu após fazer um resumo da trajetória econômica brasileira e da manutenção das políticas iniciadas a partir do Plano Real (1994).

Na opinião do ex-presidente, a crise internacional afetará o Brasil "até certo ponto" porque não se sabe qual será o destino da Europa diante do impasse: injetar mais recursos e recuperar a capacidade de compra da população ou aumentar o rigor fiscal. "Isso vai nos afetar não só pelas exportações, pelas linhas de crédito internacionais que podem ser abaladas, mas afeta principalmente porque a China tem na Europa um grande consumidor e portanto a China também vai parar. Tem uma diminuição significativa do crescimento e da demanda chinesa e, no nosso caso, de minério e alimentação. Então a crise mundial nos afeta", analisou. FHC acredita que Europa precisa retomar o crescimento e a economia diversificada do Brasil pode ajudar o País. "Nós aprendemos a lidar com certos fatores, como o câmbio e os juros", completou.

FONTES: O GLOBO, FOLHA DE S. PAULO E ESTADO DE S. PAULO

Volta a farsa do 'golpe do mensalão' – Editorial:: O Globo

A proximidade do julgamento do mensalão agita os espíritos militantes e passionais, mesmo aqueles mais sofisticados, revestidos de uma camada de educação e fineza.

Já houve a atrapalhada intervenção do ex-presidente Lula no encontro indevido com o ministro do Supremo Gilmar Mendes, um dos juízes do processo, intermediado pelo também ex-presidente da Corte Nelson Jobim. Artilharia no próprio pé, pois a iniciativa deve ter levado o STF a acelerar o calendário do julgamento. Passou, também, o gesto infanto-juvenil do mensaleiro José Dirceu de conclamar estudantes a ir às ruas, no estilo "Cinelândia 1968", para defendê-lo perante os 11 magistrados do Supremo. Teatral e inócuo, por óbvio.

No fim de semana, foi a vez de o ex-ministro da Justiça no primeiro governo Lula, Marcio Thomaz Bastos, no programa "Ponto a Ponto", da TV Bandeirantes, entrar em ação, de forma mais sutil, ao seu estilo. Ministro quando explodiu o escândalo, em 2005, e hoje advogado de um dos réus, José Roberto Salgado, ex-diretor do Banco Rural, instituição acusada de participar da operação de lavagem daquele dinheiro, Thomaz Bastos explora um tema caro a certos petistas: a suposta interferência da imprensa profissional no caso.

Teme o advogado o que chama de "publicidade opressiva" dos meios de comunicação independentes contra os réus. De forma elegante, até oblíqua, o advogado repõe em circulação a tese surrada e risível de que uma "imprensa golpista" inventara o mensalão e, em seguida, tratara de prejulgar os denunciados pelo Ministério Público. A tese até recebeu a unção de uma certa intelligentzia petista. Agora, na visão de Thomaz Bastos, influenciáveis ministros do STF, sufocados por uma "publicidade opressiva", se preparam para executar a condenação orquestrada.

Ora, quem denunciou o mensalão foi um dos participantes dele, o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), da base do governo. O esquema de desvio de dinheiro público e privado para comprar apoio parlamentar ao governo não surgiu de qualquer laboratório de maquiavelismos oculto em alguma redação. Foi escancarado numa entrevista de Jefferson à "Folha de S.Paulo". Lula não iria fazer um pedido público de desculpas à população por algo inexistente (embora tenha aderido depois à tese conspiratória). Tanto que os maiores desdobramentos políticos do caso foram a cassação dos mandatos de Roberto Jefferson e do principal denunciado, José Dirceu, deputado pelo PT paulista.

Impossível mascarar a verdade de que a imprensa profissional é movida por fatos. Já a opinião sobre eles é exposta de maneira translúcida no espaço dos editoriais. E é fato, por exemplo, que, em 2006, o então procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, ofereceu denúncia contra os mensaleiros ao Supremo. Outro fato: no ano seguinte, os ministros consideraram consistentes os argumentos do MP para abrir o processo, no qual Dirceu é tachado de chefe de uma "organização criminosa".

E serão fatos condenações e absolvições a serem decididas no julgamento que se inicia em agosto. Nada mais nem menos do que isto.

Um ato de desespero – Editorial:: O Estado de S. Paulo

A partir de 1.º de agosto, o ex-presidente do PT, ex-ministro da Casa Civil e deputado cassado José Dirceu será julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por formação de quadrilha e corrupção ativa. Pelo primeiro delito, poderá ser condenado a até três anos de prisão. Pelo segundo, a até 12. O então procurador-geral da República que o denunciou ao Supremo em 2005, Antonio Fernando de Souza, apontou Dirceu como "chefe da quadrilha" ou da "sofisticada organização criminosa" que produziu o mensalão, a compra sistemática de apoio de deputados federais ao governo Lula. A denúncia ao STF foi aceita por unanimidade. No ano passado, o atual procurador, Roberto Gurgel, ratificou o pedido de condenação de Dirceu e de 35 outros réus (dos 40 citados da primeira vez, 1 faleceu e outro fez acordo para ser excluído do processo; para 2 outros, um dos quais, Luiz Gushiken, colega de Dirceu no Ministério, Gurgel pediu a absolvição.

Dirceu alega inocência e se diz alvo histórico do "monopólio da mídia". A imprensa desejaria vê-lo destruído não pelos seus atos no governo Lula, mas pelo que decerto ele considera ser o conjunto da sua obra como o maior líder revolucionário socialista do Brasil contemporâneo, uma espécie atípica de Che Guevara que não fez guerrilha, escapou de ser eliminado e chegou ao poder graças à democracia burguesa. O julgamento que o aguarda, disse dias atrás aos cerca de mil estudantes presentes ao 16.º Congresso Nacional da União da Juventude Socialista, ligada ao PC do B, no Rio, será a "batalha final". Desde os tempos da militância estudantil, ele sempre se teve em alta conta. "Batalha final" é não só uma expressão encharcada de heroísmo, que pode ser usada da extrema direita à extrema esquerda, mas é consanguínea da "luta final" dos "famélicos da terra", nas estrofes da Internacional, o célebre hino revolucionário francês de 1871.

Do alto de sua autoestima e na vestimenta de vítima que enverga, até que faria sentido ele propagar que o julgamento no STF representará o momento culminante do confronto de proporções épicas que nunca se furtou a travar em defesa de seus ideais. Mas a arena que ele tem em mente é outra - e outros também os combatentes. "Essa batalha deve ser travada nas ruas também", conclamou, "se não a gente só vai ouvir uma voz pedindo a condenação, mesmo sem provas (a dos veículos de comunicação)." Em outras palavras, se a Justiça está sob pressão da mídia para condená-lo, que fique também sob pressão do que seria a vanguarda dos movimentos sociais para absolvê-lo. Se der certo, a voz do povo falou mais alto. Se não der, o veredicto da Corte está desde logo coberto de ilegitimidade, como se emanasse de um tribunal de exceção.

Em 2000, dois anos antes da primeira eleição de Lula, Dirceu conclamou o professorado paulista a "mais e mais mobilização, mais e mais greve, mais e mais movimento de rua", porque eles - os tucanos como o governador Mário Covas - "têm de apanhar nas ruas e nas urnas". Pouco depois, no dia 1.º de junho, o governador, já debilitado pelo câncer que o mataria no ano seguinte, foi covardemente agredido por manifestantes diante da Secretaria da Educação, no centro de São Paulo. Depois, Dirceu quis fazer crer que não incentivara o ataque: foi tudo "força de expressão". Não há, portanto, motivo para surpresa quando ele torna a invocar "as ruas". Na sua mentalidade ditatorial - em privado, desafetos petistas já o qualificaram de "stalinista irrecuperável" -, ele se esquece até do dito marxista de que a história se repete como farsa.

Como já se lembrou, o então presidente Collor conclamou a população a protestar contra a tentativa de destituí-lo. A população, especialmente os jovens, aproveitou para pedir o seu impeachment. Como também já se lembrou, hoje em dia os jovens nem sequer saem de casa em defesa de bandeiras mais nobres, a começar pelo repúdio à impunidade dos corruptos, que dirá para assediar o STF no caso do principal réu de um caso de corrupção comparável apenas, talvez, aos dos escândalos da República de Alagoas. Mas é óbvio que a tentativa rudimentar de intimidação repercutirá no tribunal. Se Dirceu não se deu conta disso é porque, como Lula já disse, ele está mesmo "desesperado".

Pressão não pautará julgamento do mensalão, diz Ayres Britto

Em reação a José Dirceu, presidente do STF afirma que julgamento em agosto nada tem a ver com pressão pública

Mariângela Gallucci

BRASÍLIA - Dias após o ex-ministro José Dirceu ter convocado líderes estudantis a irem às ruas em defesa dos réus do mensalão, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Carlos Ayres Britto, afirmou ontem que a Corte marcou o julgamento para agosto porque precisa julgar o processo, e não por causa da opinião pública. "O STF não marcou a data do mensalão por pressão pública. O STF não precisa de nenhuma pressão - seja de gabinete ou de rua - para cumprir o dever constitucional de julgar os processos que lhe são entregues." Segundo Ayres Britto, o julgamento será rigorosamente objetivo, imparcial, sereno e técnico. "A opinião pública não está pautando a predisposição do Supremo de julgar esse caso", afirmou. "A Constituição exige celeridade. O Supremo não aceitou a denúncia? O que cabe ao Supremo agora? Julgar."

Ele disse que o ideal seria se o tribunal tivesse julgado a ação no primeiro semestre, antes das eleições. Mas, como não foi possível, defendeu a decisão da Corte, de analisar o processo em agosto. Na semana passada, Ayres Britto disse que é possível terminar o julgamento até o fim de agosto, se não houver muitos incidentes processuais. "Tenho a impressão de que se as coisas correrem favoravelmente, se não houver demasiados incidentes, dá para terminar em agosto. Se não der, fazer o quê? Entra setembro."

O presidente do STF não acredita que os advogados usem chicanas para atrapalhar o julgamento. "Não se pode dizer isso. Os advogados usarão o que a eles parecer recursos de ampla defesa e contraditório. Eu vejo essas coisas com naturalidade. Cada qual faz sua parte. Eu, como presidente, faço a minha parte. Sou o condutor das sessões. Joaquim é o condutor do julgamento. São duas centralidades. Todo mundo se somando dá tudo certo."

Objetivo. Assim como Ayres Britto, o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP) pregou ontem um julgamento objetivo e sem pressões. "O que é preciso é que o tribunal julgue (o mensalão) objetivamente. Pressionar o tribunal não parece o melhor caminho, nem de um lado, nem do outro", disse o tucano, após participar do 12.° Congresso Internacional do Varejo, Brasil Shop, na capital. O ex-presidente disse ainda que é preciso respeitar os tribunais para preservar a democracia. "Ou respeitamos os tribunais ou não temos democracia", frisou.

Ao comentar o recente episódio envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro do STF Gilmar Mendes, o tucano evitou entrar na polêmica, destacando apenas que se a conversa realmente ocorreu da maneira como a imprensa divulgou, pode ser configurada como uma tentativa de pressão. Mas fez questão de destacar: "Não sei realmente o que aconteceu".

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

PSB deve romper aliança com PT em Recife

Com petistas divididos, Eduardo Campos pretende lançar candidato próprio, mas ainda terá conversa decisiva com Lula

Letícia Lins, Tatiana Farah e Sérgio Roxo

RECIFE e SÃO PAULO . Descrente de que o PT conseguirá se unir em torno de uma candidatura a prefeito de Recife, o governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, está prestes a lançar um nome de seu partido para disputar a eleição, acabando com a coligação entre petistas e socialistas na capital pernambucana. Na próxima sexta-feira, Campos terá um encontro decisivo com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em São Paulo, para tentar solucionar o impasse. Em seu Twitter, o jornalista Ricardo Noblat informou que Campos convenceu Lula de que é preciso conversar mais para se tentar obter uma solução. Sem a unidade petista, acredita Campos, será inviável manter a Frente Popular que elegeu o atual prefeito, João da Costa (PT).

Só falta a Campos decidir quem será o candidato do PS B, entre os quatro secretários que ele exonerou com esse objetivo. Ontem, enquanto o senador Humberto Costa (PT-PE) - candidato imposto pela Executiva Nacional petista para ser o candidato a prefeito - se reunia em São Paulo com Lula, Campos recebia a imprensa no Palácio do Campo das Princesas, sede do governo de Pernambuco, e demonstrou sua preocupação com a crise do PT. O diretório municipal petista, em prévias internas, aprovou a candidatura à reeleição de João da Costa. Mas a decisão foi anulada pelo PT nacional, que impôs o nome de Humberto Costa. O atual prefeito, porém, ainda tem esperanças de ser o candidato e pretende recorrer à Justiça.

Campos foi eleito com o apoio de 16 legendas, inclusive o PT, que integra o seu governo. Nos últimos quatro anos, recebeu a adesão de mais três partidos, o PV, o PTL e o PSD. Até ontem, Campos trabalhava com quatro opções dentro do PSB: Danilo Cabral (ex-secretário de Educação e de Cidades), Sileno Guedes (Articulação Social e Regional), Tadeu Alencar (Casa Civil) e Geraldo Júlio (Desenvolvimento Econômico). Dos quatro, só os dois primeiros têm experiência nas urnas. O primeiro foi vereador e é deputado federal. O segundo foi vereador, é amigo de Campos desde os tempos de universidade e está no governo do PSB desde a última gestão do ex-governador Miguel Arraes, avô de Campos.

O governador acredita que não há como unir a Frente Popular se não houver unidade interna no PT:

- Os partidos da Frente tiveram o zelo de não entrar no debate interno do PT. Agora é hora de ouvi-los. O debate (dentro do PT) se arrastou além do tempo previsto, chegou a prazos legais e não se imaginava que ia chegar até aí - disse, ontem, Campos.

Em São Paulo, PSB vai apoiar Fernando Haddad

Em São Paulo, o PSB bateu o martelo ontem e vai apoiar a candidatura do ex-ministro Fernando Haddad, do PT, à prefeitura de São Paulo. Eduardo Campos anunciará a aliança na sexta-feira, ao lado de Lula. O PSB deverá indicar o nome para vice. Ex-prefeita de São Paulo (1989-1992) e fundadora do PT, a deputada Luiza Erundina (PSB) foi convidada pela cúpula socialista, mas ainda não se decidiu.

A aliança com o PSB é a primeira fechada por Haddad e pode somar mais de um minuto ao tempo de TV no horário eleitoral. O PT espera receber ainda o apoio do PCdoB, que tem cerca de 30 segundos. Assim, Haddad poderá ficar com mais de seis minutos no horário eleitoral.

FONTE: O GLOBO

Em Recife, oposição com as barbas de molho

Débora Duque

O possível lançamento de uma candidatura socialista no Recife deve obrigar a oposição, hoje com quatro prefeituráveis, a rever sua estratégia. Essa, pelo menos, tornou-se avaliação dominante dentro do bloco, após a sinalização do governador Eduardo Campos (PSB). Em que pese a surpresa – e até uma dose de ceticismo – quanto à consolidação do racha entre PT e PSB, há o entendimento de que será necessária a redução do número de candidatos do grupo ou até a união em torno de um único nome.

A rearrumação está sendo encarada como uma questão de “sobrevivência política”. Os oposicionistas temem exercer um papel coadjuvante no pleito – sendo, inclusive, alijados de um eventual segundo turno –, caso se confirme a polarização entre PT e PSB. A necessidade de uma aglutinação já vinha sendo pregada por alguns membros quando estava em questão apenas a possibilidade do lançamento de um nome do bloco alternativo, liderado pelo senador Armando Monteiro Neto (PTB).

Porém, a substituição por um nome patrocinado diretamente pelo governador junto à postulação do senador Humberto Costa (PT), com a bênção do ex-presidente Lula, deixa o cenário ainda mais desfavorável para a oposição. O único que optou falar abertamente sobre o assunto foi o ex-deputado Raul Jungmann (PPS) que, na semana passada, já tinha feito um apelo para que o grupo abrisse mão dos “projetos pessoais” em nome de uma estratégia comum. Com as chances de prosperar a nova “cartada” do governador, o risco, segundo ele, é de acontecer um “suicídio coletivo” do campo oposicionista na capital.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Cid ignora aliança e também anuncia nome em Fortaleza

Também no Ceará a aliança do PT com o PSB enfrenta, desde ontem, um problema inesperado: o governador do Estado e presidente do PSB, Cid Gomes, decidiu não apoiar o nome petista à Prefeitura de Fortaleza, o ex-secretário de Educação Elmano de Freitas, e anunciou que o partido lançará candidato próprio. O gesto não significa rompimento entre os partidos - apenas traduz a resistência de Cid ao escolhido pela prefeita petista Luzianne Lins. "A aliança, para ser mantida, depende de o PT aceitar a troca de nome", diz o líder do PSB, Elpídio Nogueira.

Roberto Cláudio: candidatura própria do PSB está decidida

Cláudio, que é nome cogitado para concorrer à prefeitura do PSB, declarou que a candidatura proposta por Luizianne não atendia à expectativa do partido

Segundo o presidente da Assembleia Legislativa, Roberto Clúadio (PSB), a candidatura própria do PSB é uma "decisão" e qualquer outro caminho que esteja sendo comentado para o PSB, é mera "especulação".

A convenção do PSB está agendada para o dia 23 de junho. No evento serão apresentados três nomes postulantes ao cargo de prefeito de Fortaleza.

Cláudio declarou ainda que a candidatura proposta por Luizianne Lins (PT) - Elmano de Freitas (PT) - não atende à expectativa do PSB de um nome que inspire na cidade a confiança nas trasformações necessárias.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO, O POVO (CE)

Em Porto Alegre, PP evita confronto com senadora

Juliana Bublitz

Um dia após o partido decidir pelo apoio a José Fortunati, Ana Amélia anunciou que subirá no palanque de Manuela D"Ávila

Insatisfeita com a decisão do PP de Porto Alegre de apoiar a candidatura do prefeito José Fortunati (PDT) à reeleição, a senadora Ana Amélia Lemos confirmou ontem o que os colegas de sigla temiam: ela está decidida a subir no palanque da principal adversária de Fortunati, a deputada federal Manuela D"Ávila (PC do B). Mesmo contrariados, correligionários evitam condenar a dissidência por receio de que a parlamentar abandone a legenda – e, de quebra, o sonho do PP de voltar ao Palácio Piratini.

O ato de rebeldia desencadeou uma resignação silenciosa. Em público, ninguém quer se indispor com a jornalista, que só em Porto Alegre recebeu 400 mil votos e passou a gozar de um prestígio ímpar – a ponto de ser considerada a principal aposta do PP para as eleições ao governo.

– Estamos pisando em ovos, porque qualquer palavra que dissermos pode ser mal interpretada. Ninguém quer se desentender com a senadora – afirma um integrante do diretório municipal.

Nos bastidores, porém, a afronta causou mais do que desconforto. A senadora já tinha prometido, antes da votação de segunda-feira, quando foi selada a parceria com Fortunati, que seguiria firme no propósito de apoiar Manuela. Mesmo em caso de derrota.

Horas depois do resultado, cumpriu o prometido. Pelo Twitter, respondeu mensagens de apoio com frases como "já estou em campanha" e "Manuela prefeita". Alfinetou a ala conservadora do PP, criticando o "fisiologismo" da "velha política". Na tarde de ontem, foi além: garantiu que participará de comícios e atos públicos da comunista por considerar o melhor para a cidade (leia a entrevista abaixo).

– A verdade é que a senadora tentou atropelar todo mundo e agora não admite que perdeu a briga. O clima está péssimo – conta um membro do partido na Capital.

Para dirigente, partido terá de administrar divergências

As declarações deixaram os líderes do PP em uma saia justa. Presidente da sigla em Porto Alegre, Tarso Boelter tentou amenizar o mal-estar, argumentando que "o partido respeita opiniões diferentes". O vereador Kevin Krieger, vice-presidente, também se esquivou da polêmica:

– Eu seguiria a decisão do partido, mas respeito a posição da senadora. Quem sou eu para criticá-la?

Por enquanto, apesar do burburinho, o PP descarta qualquer possibilidade de sanção a Ana Amélia. Amigo pessoal da senadora, o presidente estadual do PP, Celso Bernardi, entende que o partido terá de "administrar as divergências". E ponto.

– A participação de Ana Amélia trouxe grandes vantagens ao partido. O PP ganhou espaço e visibilidade, e isso ninguém pode negar – destacou Bernardi.

FONTE: ZERO HORA (RS)

Aliança PDT-PPS racha em Niterói

Lupi desagradou a aliados ao anunciar que Jorge Roberto não seria candidato

Renato Onofre

O deputado estadual Comte Bittencourt (PPS) deixou claro ontem que a aliança de duas décadas com o PDT do prefeito de Niterói, Jorge Roberto Silveira, azedou. Ex-secretário municipal de Governo, Comte anunciou que, por enquanto, não pretende participar do processo eleitoral na cidade e criticou a condução política feita pelo ex-ministro do Trabalho e presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, que insiste numa candidatura pedetista.

É o ápice de uma briga política iniciada em maio, depois que o prefeito pediu a Comte e ao deputado estadual Felipe Peixoto (PDT) que se afastassem de suas funções nos Executivos municipal e estadual, respectivamente, para servirem de opção, caso ele desista de concorrer à reeleição. Desde então, a base aliada, composta por 11 partidos e encabeçada nos últimos 20 anos pela dobradinha PDT-PPS, dividiu-se.

Lupi veio a público confirmar que Jorge Roberto não seria candidato e que o PDT não abriria mão de indicar o candidato a prefeito. Essa imposição de Lupi rachou a base do prefeito.

- Se não for o Jorge Roberto Silveira, não há unidade. Não coloquei meu nome neste processo de sucessão por vontade própria. Fiz a pedido do prefeito. Mas o que estamos vendo é um partido que não entendeu que esse processo político é maior. Vetaram meu nome. Eles agora que se entendam - disse Comte.

O anúncio ainda afetou a relação do PDT com o PP, que não vai apoiar a possível candidatura de Peixoto. PPS e PP esperam uma decisão do prefeito sobre a questão.

FONTE: O GLOBO

Governo dará R$ 10 bilhões aos estados

Com a crise global e a estagnação do país, o ministro Mantega anunciou que o governo colocará à disposição dos estados um crédito do BNDES de R$ 10 bilhões para obras. A novidade será apresentada depois de amanhã aos 27 governadores. O governo conta ainda com investimentos de US$ 43 bi da Petrobras para o país crescer ao menos 2,7%.

Injeção de R$ 10 bi

Mantega vai usar o BNDES para liberar dinheiro para estados. Petrobras investirá mais de US$ 43 bi

Vivian Oswald, Regina Alvarez

BRASÍLIA - Preocupado com a crise global e a estagnação do crescimento, o governo decidiu abrir uma nova frente de atuação para estimular a economia. Em entrevista ao GLOBO, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou a decisão de pôr à disposição dos estados uma linha de crédito especial do BNDES com mais de R$ 10 bilhões para financiar obras e projetos. A medida emergencial é parte da estratégia para garantir este ano um crescimento de pelo menos 2,7%, igual ao de 2011. A novidade será apresentada aos 27 governadores em reunião sexta-feira em Brasília. O governo ainda conta com os investimentos de mais de US$ 43,2 bilhões da Petrobras para turbinar a economia. O Banco de Brasil também aparece: segunda-feira, liberou R$ 3,6 bilhões para o Estado do Rio, em ação inédita. Sobre a crise na Europa, Mantega disse que é preciso combinar políticas de ajuste fiscal com estímulo. Esse vai ser o grande tema da reunião do G-20, semana que vem, no México, que ele classifica de crucial. Pela primeira vez, Mantega admitiu que, se a crise se agravar, o governo pode retirar algumas medidas adotadas quando o real estava se valorizando. E a primeira da lista deve ser o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre empréstimos no exterior com prazo inferior a cinco anos.

CRISE NA EUROPA : "Os europeus estão demorando muito para fazer as correções de política econômica que possam tirá-los dessa situação de estresse em que eles estão e colocaram o resto do mundo. A solução dada para a Espanha não resolve a crise, só evitou uma crise bancária aguda. O grande problema é sair do lodaçal e recuperar o crescimento. É preciso mudar o rumo e combinar políticas de ajuste fiscal com estímulo. Esse vai ser o grande tema do G-20. Parece-me inevitável uma mudança de rumo dessa política, com pressões de dentro da própria União Europeia e externas. Estados Unidos e Brics, somos todos favoráveis à mudança de rumo.

G-20: "Essa reunião é crucial. Não podemos sair com as mãos abanando, como saímos na da França. É preciso que os países se disponham a fazer isso. Não pode ficar só no papel. A Alemanha estará sendo pressionada pelo mundo inteiro, inclusive por seus parceiros europeus. Tem que exigir políticas de estímulo dos países com condições fiscais mais sólidas. A Alemanha tem que ser a força de tração da Europa.

FUTURO DO EURO : "É preciso recuperar a confiança no projeto euro. É preciso mostrar uma luz no fim do túnel. Eles estão num túnel escuro maior do que aquele do Canal da Mancha. A luz é a perspectiva da retomada da atividade. A gravidade da situação impõe condições propícias para mudanças. Os europeus são duros para mudar, mas quando a situação está periclitante, você encontra saída. Não dá para exigir só que a Grécia faça ajuste fiscal sem perspectiva de crescimento. Acho muito arriscado saírem da zona do euro neste momento. Mas a zona do euro tem que dar ao país as condições para que fique, porque não dá para continuar pedindo só sacrifícios para a população grega.

TAMANHO DA CRISE: "Por enquanto a crise de 2008 foi pior que a de agora. Nada impede que a gente ainda chegue lá. Na verdade, o G-20 pode impedir, a UE também. Temos os instrumentos. Eles deveriam fortalecer o fundo de resgate, que terá 500 bilhões. Deveriam dizer também que o Banco Central Europeu vai cobrir as necessidades dos bancos. Com isso, poderiam reduzir esses temores.

EFEITO NO BRASIL: "Somos afetados pelas expectativas, porque há saída de capitais, porque as empresas têm problemas em outros países, pela volatilidade das bolsas e pelo câmbio. Mas nada que comprometa nossa trajetória. Os brasileiros estão conseguindo crédito, temos retaguarda enorme em moedas estrangeira e nacional. Investidores veem o Brasil como um lugar seguro. Temos que fazer distinção entre aqueles que perderam a oportunidade de fazer arbitragem, aqueles que ganhavam polpudos lucros só pegando emprestado em Tóquio e aplicando no Brasil. Esses já não estão ganhando. Alguns poderão estar desencantados, porque não têm mais lucro fácil no Brasil. Quem está interessado em produzir no Brasil continua. São os que nos interessam.

MEDIDAS: "Algumas medidas poderão ser revistas no seu devido tempo. O aumento do IOF para empréstimos de até cinco anos feitos no exterior por bancos e empresas é uma medida rigorosa. Hoje há menos liquidez lá fora, e não está havendo grande fluxo. No momento adequado, uma medida como essa poderá ser revista. Poderia dizer que é a primeira da fila para ser revogada.

INVESTIMENTOS: "Demos vários estímulos. Há o crédito do BNDES de R$ 150 bilhões somente este ano e redução geral dos custos dos investimentos privados. O investimento público será puxado pela Petrobras, que vai aplicar mais em 2012 do que os US$ 43,2 bilhões de 2011. Vamos ampliar investimentos de alguns ministérios que poderiam estar gastando mais, mas tiveram problemas com projetos. Estamos agilizando a aprovação dos projetos, acelerando licitações para mobilizar o setor público.

LINHA PARA ESTADOS: "Estamos criando uma linha de crédito especial do BNDES para acelerar os investimentos dos estados. Será anunciada em reunião com os 27 governadores na sexta-feira. Serão mais de R$ 10 bilhões. O investimento público é importante neste momento porque é anticíclico. O dinheiro estará disponível em dois a três meses. Isso vai complementar o orçamento que eles têm para investimentos. A maioria dos estados está habilitada a usar.

CRÉDITO: "Embora estejam entre os mais sólidos do mundo, os bancos brasileiros absorvem um pouco do temor lá de fora e se retraem. Houve retração do crédito, que já está sendo revertida. Os bancos já estão captando a taxas mais baixas. Eles têm redução e podem emprestar a taxas mais baixas. Há uma reação positiva. Mas ainda não estou satisfeito.

CONSUMO: "A capacidade do consumo brasileiro está crescendo. O mercado consumidor continua crescendo. É um dos mais dinâmicos do mundo, por causa da massa salarial. A inadimplência já está caindo. Houve exagero em relação a essa questão, que foi mais localizada em automóveis.

CÂMBIO: "Está volátil em torno de um patamar elevado. Não há ponto ótimo, mas um ponto bom. Está numa situação favorável e pretendemos que permaneça nesse nível. Não é desejável volatilidade.

JUROS: "A queda da Selic e dos juros em geral tem efeito revolucionário na economia brasileira. É algo que ainda não foi percebido. Tem espaço para os juros continuarem caindo no Brasil, e não sou eu que estou dizendo. O mercado de futuros mostra isso. As condições fiscais existem. Temos um dos melhores desempenhos fiscais do mundo, estamos acima da meta de superávit primário.

SUPERÁVIT PRIMÁRIO: "Não há nenhuma necessidade de se abdicar da meta fiscal, porque tem recursos suficientes para investimento.

CRESCIMENTO. "Vamos crescer no segundo trimestre ao menos o dobro dos primeiros três meses (0,2%). No segundo semestre devemos alcançar a velocidade que desejaríamos para o ano todo, de 4,5%. No ano não sei, mas será superior aos 2,7% de 2011, com certeza. Estou falando de medidas concretas já tomadas, cujos resultados estarão surtindo efeito."

FONTE: O GLOBO

Poupado na CPI, Cabral é o primeiro a receber

Alfredo Junqueira

RIO - Enquanto os governadores de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), prestam depoimento na CPI do Cachoeira, o do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho (PMDB) - poupado pela comissão - vai receber um inédito empréstimo do Banco do Brasil (BB) para investir em 14 obras de mobilidade e infraestrutura. Com valor total de R$ 3,6 bilhões, o contrato será assinado hoje em solenidade com a presidente Dilma Rousseff.

Amigo íntimo de Fernando Cavendish, dono da Delta Construções, empresa que está no epicentro da investigação da CPI por causa de suas ligações com o contraventor Carlinhos Cachoeira, Cabral enfrenta a pior crise de seu governo desde que foram divulgadas fotos de viagens que fez com o empresário a Paris e Montecarlo.

Desde que a CPI votou contra a sua convocação, há duas semanas, Cabral vem tentando retomar a rotina. Voltou a ter agendas públicas, a falar com a imprensa e até a demonstrar uma fisionomia mais animada.

A solenidade de assinatura do contrato de empréstimo com o BB é o primeiro grande evento que o governador protagoniza desde que foi poupado pela comissão. A primeira parcela dos recursos será no valor de R$ 865 milhões e será liberada logo após a assinatura.

As verbas serão usadas para obras nas linhas 3 (Niterói-São Gonçalo) e 4 (zona sul-Barra da Tijuca) do Metrô, no Arco Metropolitano, na aquisição de barcas para travessia Rio-Niterói, obras na região serrana, contenção de encostas e barragens na região norte e noroeste, urbanização de comunidades na capital e na região metropolitana, além de projetos relacionados à Copa do Mundo de 2014 e aos Jogos Olímpicos de 2016 - como a recuperação das lagoas de Barra da Tijuca e Jacarepaguá e o Canal da Joatinga, entre outros.

"A gente estava com dificuldade para captar esse dinheiro para investimento. Chegamos ao limite no Banco Mundial e no Banco Interamericano de Desenvolvimento. O contrato com o Banco do Brasil foi fechado em 113 dias, que é muito mais rápido do que a média", disse o vice-governador Luiz Fernando Pezão.

Sobre o fato da linha de crédito sair em ano eleitoral e em meio a pior crise já enfrentada por Cabral, o vice-governador nega que tenha havido qualquer interferência política. "Esse empréstimo começou a ser negociado antes de qualquer CPI. Além disso, as transferências aos municípios ficam muito limitadas a partir do dia 5 de julho. Não tem nada a ver", disse Pezão.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

CGU declara Delta inidônea e proíbe contratos

Empreiteira não pode participar de novas licitações; gestores devem decidir se vão manter os que já estão em vigor

Jailton de Carvalho

BRASÍLIA . O ministro da Controladoria Geral da União, Jorge Hage, declarou ontem inidônea a Delta Construções, uma das empresas investigadas por supostas ligações com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Com a declaração de inidoneidade, que deve ser publicada no Diário Oficial da União de hoje, a Delta, sexta maior construtora do país, fica proibida de participar de licitações e de assinar novos contratos com o poder público. Para a CGU, sua decisão se aplica também aos estados, mas há divergências jurídicas sobre esse entendimento.

A medida poderá ter impacto também nos contratos em andamento. Segundo Hage, caberá aos gestores dos órgãos responsáveis pelas obras da Delta decidir se mantêm ou não os contratos já assinados com a empreiteira. Só no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), a Delta tem 98 contratos, no valor total de R$ 2,5 bilhões. A empresa já recebeu R$ 1,5 bilhão pela execução parcial ou total desses contratos e tem aproximadamente mais R$ 1 bilhão por receber. A empresa também tem contratos com os ministérios da Defesa e da Integração Nacional.

Para a CGU, os gestores terão de analisar a conveniência de se manter os contratos.

- A partir de agora, eles terão que tomar as decisões mais adequadas ao interesse público. Terão que ver, por exemplo, se existe vantagem em cancelar contrato em que 80% ou 90% das obras já estão concluídas - disse Hage.

A inidoneidade tem prazo de validade mínimo de dois anos e pode se estender por prazo indeterminado, até a empresa se reabilitar. A Controladoria Geral decidiu classificar a Delta como inidônea a partir de um processo aberto com base na Operação Mão Dupla, da Polícia Federal. Pela investigação criminal, dirigentes da empresa subornaram servidores da superintendência do Dnit no Ceará em troca de menos fiscalização de obras e serviços. A Delta tinha, na época, dez contratos com o Dnit do Ceará orçados em R$ 250 milhões.

Dirigentes da Delta teriam bancado diárias de hotéis, passagens aéreas e aluguel de carros de dez altos servidores, entre 2008 e 2010.

- Não foi um ato isolado de corrupção. Foi um procedimento costumeiro e repetitivo de suborno e concessão de vantagens ilegais e imorais a servidores, alguns deles incumbidos da fiscalização - disse Hage.

Os servidores acusados de receber propina estão sendo investigados em processos disciplinares e podem ser punidos com demissão. Entre os suspeitos está um procurador federal. A CGU abriu a investigação em 24 de abril, depois da descoberta do envolvimento de Cláudio Abreu, ex-diretor da Delta no Centro-Oeste, com Cachoeira. A conclusão da CGU será enviadas à PF e ao Ministério Público Federal. A partir daí, a PF decidirá se abre novo inquérito contra a Delta.

Mas a tendência, no momento, é que a polícia aguarde novos levantamentos da Controladoria Geral. A empresa já é alvo de outras investigações criminais sobre desvios em obras do Dnit. A Delta também está sendo investigada pela CPI do Cachoeira. Parlamentares suspeitam que a empresa tenha sido usada para lavar dinheiro de Cachoeira. O suposto envolvimento da empresa em negócios do bicheiro apareceu nas investigações da PF sobre movimentações financeiras do grupo de Cachoeira.

Em nota, a Delta informou que só irá se pronunciar oficialmente após tomar ciência do inteiro teor da decisão da CGU. A empresa estuda recorrer por meio de procedimentos administrativos e judiciais.

FONTE: O GLOBO

Governo do Rio seguirá a decisão

Auditoria nos contratos atuais com a Delta, porém, ainda não foi concluída

Cássio Bruno

Embora ainda não tenha concluído a sindicância aberta há quase dois meses para auditar contratos da Delta Construções, o governo do Rio anunciou ontem que vai seguir a decisão da Controladoria Geral da União (CGU), que declarou a inidoneidade da empreiteira. Com isso, a Delta não participará mais de licitações e de novos contratos no estado. Só em 2011, a empresa recebeu do governo do estado R$ 358,5 milhões, dos quais R$ 72,7 milhões (20%) sem passar por concorrência pública. Este ano, já foram empenhados R$ 138,4 milhões.

- Vamos acompanhar (a decisão da CGU) e impedir que novos contratos sejam feitos. A medida tomada pela Controladoria foi baseada em fatos apurados em nível nacional. Além disso, esses fatos são objeto de uma CPI e provados pela Polícia Federal. É fato que ela (a Delta) atuou no Centro-Oeste e que ficou caracterizada a inidoneidade - disse o chefe da Casa Civil, Régis Fichtner.

A sindicância para investigar os contratos da Delta no Estado do Rio foi aberta em 16 de abril deste ano, mas até agora nenhum resultado foi divulgado pelo governador Sérgio Cabral.

- Ainda estamos analisando (os contratos) - disse Fichtner, responsável pela comissão que faz a sindicância.

No Estado do Rio, a Delta deixou o consórcio responsável pelas obras de reforma do Maracanã. Mas a empresa ainda está à frente das obras de recuperação da Região Serrana e de parte do Arco Metropolitano, entre outros projetos.

A Delta é alvo da CPI que investiga as atividades do contraventor Carlinhos Cachoeira. Amigo de Cabral, Fernando Cavendish, ex-presidente da Delta, afastou-se da direção da empreiteira depois das denúncias de participação da construtora no esquema de Cachoeira. A CPI rejeitou a convocação do governador para depor. Desde 2007, a Delta possui no estado cerca de R$ 1,5 bilhão em contratos.

Cabral, Cavendish e o próprio Fichtner aparecem juntos em fotografias feitas em Paris, em 2009. As imagens, onde também aparecem secretários estaduais, foram divulgadas em abril pelo deputado federal Anthony Garotinho, ex-governador e ex-aliado de Cabral.

FONTE: O GLOBO

Greve das federais cresce e ministério negocia

Carlos Lordelo, Sérgio Pompeu e Paulo Saldaña

Duas universidades aderiram à paralisação dos professores universitários, que atinge 53 instituições de ensino

Depois de 25 dias de uma paralisação que cresce a cada dia, a cúpula do Ministério do Planejamento reuniu-se ontem com o comando de greve das instituições federais de ensino superior. O governo tenta pôr fim ao movimento que ganhou novo fôlego ontem: mais duas universidades aderiram à greve, que atinge agora 53 instituições.

Cabe à pasta a definição do plano de carreira dos docentes federais, principal reivindicação dos grevistas. O encontro com integrantes do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes) começou às 17 horas no ministério. Até as 20 horas ainda não havia informações sobre a conversa.

A greve é vista como sem justificativa no Ministério da Educação (MEC). A categoria recebeu aumento salarial de 4%. O ministro Aloizio Mercadante argumenta que há prazo legal para que essa negociação seja concluída, já que o orçamento de 2013, que irá custear as mudanças, só será fechado em 31 de agosto.

Apesar disso, o governo está atento ao movimento. O Palácio do Planalto teme que a greve dos professores se espalhe por todo o funcionalismo público e abra uma crise em ano de eleições. A ministra Miriam Belchior, que não participou do encontro de ontem, tem sido criticada pela falta de habilidade nas negociações com os docentes e com outra categoria que ameaçava cruzar os braços, os médicos.

Em razão da reunião em Brasília, professores e alunos das federais de São Paulo que estão de braços cruzados fizeram protesto em frente a Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa), no centro. "Somos contra ao fato de a carreira ser debatida no Ministério do Planejamento e não na Educação, com esse conceito que olha só para o orçamento", afirma a vice-presidente da associação dos docentes da Federal de São Paulo (Unifesp), Soraya Smaili.

Quase mil pessoas participaram do protesto, segundo os organizadores. A UFABC também está em greve.

Ontem, a Universidade Federal do Ceará (UFC) e a Universidade Federal da Integração Luso-Afro-Brasileira (Unilab) decidiram pela greve. Já são 49 universidades federais em greve, de um total de 59. As outras instituições são centro de educação tecnológica e institutos.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Delta na berlinda:: Merval Pereira

A CPI do Cachoeira vê-se agora diante de um desafio de sobrevivência: assumir o controle da investigação sobre os tentáculos do bicheiro nos negócios da empreiteira Delta espalhados pelo país. Depois que a Controladoria Geral da União (CGU) a declarou inidônea, impedindo-a de participar de qualquer licitação e de assinar novos contratos, não há mais razão - se é que havia antes - para que ela não se torne o centro das investigações.

Os parlamentares têm agora motivos suficientes para começar a trabalhar em casos concretos, deixando de lado as ridículas picuinhas partidárias que tomam conta do plenário desde que a CPMI foi instalada.

Estabelecer uma subcomissão para aprofundar as investigações sobre a Delta, conforme sugestão da senadora Kátia Abreu, é um caminho objetivo para que a CPMI não caia no vazio, transformando-se em mais uma comissão que não terá consequência prática.

Outro ponto importante seria a CPMI apresentar uma proposta de nova lei de licitações para as obras públicas, pois estamos vendo as dificuldades que existem para deslanchar as obras tão necessárias ao desenvolvimento do país, seja pela descoberta de corrupção, seja pela burocracia que emperra os cronogramas.

A convocação de dois dos governadores aparentemente mais envolvidos com o esquema corrupto que o bicheiro montou em clara associação com a empreiteira Delta tornou inevitável o que se viu ontem, um acordo tácito entre PT, PSDB e PMDB para que tanto o tucano Marconi Perillo quanto o petista Agnelo Queiroz passem pela arguição da CPI sem maiores problemas.

O PMDB fica de prontidão para que tudo saia como o combinado nos bastidores, garantindo que outro governador, o peemedebista Sérgio Cabral, do Rio, não precisará nem mesmo sentar no banco de testemunhas da CPMI.

O governador Marconi Perillo, o primeiro a ser interrogado, saiu-se bem da empreitada do ponto de vista pragmático da política, mesmo que algumas situações não tenham ficado esclarecidas devidamente, como ressaltou o líder do PSOL Chico Alencar, o único partido que parece disposto a investigar verdadeiramente as ligações de Cachoeira com os políticos.

A mais interessante de todas as contradições do governador tucano foi a origem dos cheques que diz ter recebido em pagamento por sua casa.

Ele se arrepende de não ter querido saber quem eram os signatários dos cheques, como se fosse um negociador inexperiente e não um político dos mais calejados na vida pública.

Sua atuação foi tão convincente quanto as palmas dos correligionários ao seu final, todos em busca de um clima que afastasse as ameaças de uma investigação mais aprofundada.

Para confirmar a velha lenda de que nunca se sabe como uma CPI vai terminar, a evidência de que havia uma combinação para não pressionar o governador de Goiás provocou uma situação imprevista difícil de superar e que pode ter desdobramentos hoje no depoimento do governador do Distrito Federal.

O que pode melar todos os acordos feitos por baixo do pano e dar à CPMI uma nova vida, mais compatível com a realidade com que estão tratando.
As críticas pela quase camaradagem com que o relator, o petista Odair Cunha, estava tratando o governador tucano fizeram com que ele se sentisse acuado por uma ala do PT que continua mais empenhada em pegar um tucano de bico grande do que os ladrões do dinheiro público do esquema mafioso de Cachoeira.

Odair Cunha, depois de uma saída estratégica que deve ter servido para que fosse pressionado nos bastidores, voltou a comandar a sessão com mais apetite e lançou no ar a possibilidade de quebrar os sigilos fiscal e bancário do governador Marconi Perillo.

Disfarçou o desejo com uma pergunta extemporânea que, se aceita pelo tucano, abriria uma brecha para a quebra dos sigilos sem que fosse preciso aprová-la em plenário.

A manobra foi denunciada pelos integrantes do PSDB, que imediatamente cobraram do relator uma atitude semelhante com relação ao governador petista do Distrito Federal.

É previsível que hoje o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, sofra um pouco no começo do interrogatório, para que se restabeleça o equilíbrio de forças políticas que levou ao acordo que ficou explícito na maior parte do depoimento de Perillo.

Restabelecido esse equilíbrio precário, que tem no PMDB seu fiador, a CPMI voltará à estaca zero, sem ter para onde correr, a não ser a empreiteira Delta.

Foi esse equilíbrio de forças, mesmo que na teoria a base aliada seja maioria esmagadora no plenário, que levou à quebra do sigilo nacional da Delta, que não interessava a ninguém, mas se impôs como uma necessidade para não desmoralizar de vez a CPMI.

A tentativa de limitar as investigações sobre a empreiteira Delta ao que acontecia na sua direção do Centro-Oeste já havia sido superada pela maioria da CPMI, que exigiu a quebra do sigilo da empreiteira em todo o país, pois não é plausível imaginar que os métodos adotados naquela região pela empreiteira nada tivessem a ver com a sua cultura nos demais estados do país onde funcionava.

A empreiteira agora considerada inidônea tinha obras em praticamente todas as unidades da Federação, sobretudo devido ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e nada indica que seus métodos de ganhar licitações fossem diferentes em Goiás e no Rio de Janeiro, por exemplo.

Depois dessa decisão da CGU, não é possível fazer de conta que a relação profissional da Delta com políticos de vários partidos e em vários estados não mereça ser investigada.

FONTE: O GLOBO

Só Perillo não viu:: Dora Kramer

O governador Marconi Perillo começou comandando o show na CPMI mais famosa do Brasil.

Senhor do tempo na apresentação inicial feita em tempo quatro vezes maior que os 20 minutos regulamentares, deu explicações em princípio convincentes sobre a venda da casa onde foi preso Carlos Cachoeira, aproveitou para propagandear seus feitos em Goiás e ainda reivindicar a autoria de dois dos mais celebrados programas sociais do governo petista: o ProUni e o Bolsa-Família.

Contou para isso com a colaboração da linha de interrogatório escolhida pelo relator, feita no intuito de cumprir o rito de defesa e levar o governador a se pronunciar sobre tópicos polêmicos já conhecidos e a respeito dos quais Perillo chegou bem preparado para responder.

Em uma hora e meia de questionamento, o deputado Odair Cunha deixou passar oportunidades de preencher lacunas sobre as relações dele com Cachoeira.

Tampouco deu ouvidos às reiteradas referências do governador ao envolvimento de pessoas, partidos e governos com pagamento de propinas, com a construtora Delta, com o senador Demóstenes Torres e com o acusado de comandar a organização criminosa alvo da comissão de inquérito.

Fruto de um pacto não escrito nem explícito de não agressão entre PT e PSDB, com participação coadjuvante do PMDB?

As citações elogiosas de Perillo ao governo, aos ministros, à presidente Dilma Rousseff e a maneira como se esquivou de abordar o aviso dado a Lula sobre a existência do mensalão poderiam reforçar essa percepção.

Mas acertos são de difícil sustentação, como demonstrado pela reação do PSDB quando o relator referiu-se ao governador como "investigado" e perguntou se ele abria mão de seus sigilos fiscal, bancário e telefônico.

Além disso, as investigações dependem mais do cruzamento de informações substantivas - obtidas, por exemplo, da quebra de sigilos - que do conteúdo dos depoimentos.

Nestes, às vezes importa observar mais o que o depoente busca ocultar e menos o que se preparou para contar.

Na participação do governador Marconi Perillo chamou atenção o modo como procurou mostrar-se absolutamente alheio às atividades ilegais de Carlos Cachoeira.

Soou artificial ao dizer que desconhecia as andanças de Cachoeira pelas margens da lei e que não acompanhou a participação dele como um dos personagens principais da CPI dos Bingos - da qual resultou um pedido de indiciamento criminal - por falta de tempo para "ver televisão". Pueril, não suscitasse desconfiança tamanha alienação.

Também não viu nem ouviu coisa alguma sobre um vídeo divulgado no ano de 2004 em que Cachoeira e Waldomiro Diniz, este como presidente da Loterj e aquele como representante de consórcio prestador de serviços à autarquia fluminense, dialogavam sobre o pagamento de um porcentual do valor de contrato para financiamento de campanhas eleitorais.

A acreditar nessa versão, Perillo teria sido o único.

O governador foi contraditório na diferença de tratamento adotada conforme a situação. Quando relatava encontros em dois jantares, uma audiência em palácio de governo e telefonema de cumprimentos por ocasião do aniversário, o Perillo referiu-se a Carlos Augusto Ramos como "empresário".

Quando lhe interessou marcar distância, citou gravação da Polícia Federal em que Cachoeira reclamava com a mulher da ação do governo contra o jogo ilegal, para mostrá-lo como contraventor caçado pela polícia de Goiás.

Se era alvo da polícia, por que o governador telefonou para cumprimentá-lo? A quem fez a gentileza, ao contraventor ou ao empresário?

Dúvida que fica. Não a única.

Há elos a serem esclarecidos: a proximidade da ex-chefe de gabinete do governador com Cachoeira a quem é ligada a pessoa jurídica compradora do imóvel onde foi preso nosso personagem, em negócio intermediado por Wladimir Garcez, dublê de funcionário da Delta e agente facilitador do contraventor junto ao poder público.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

"Eu não sabia" :: Fernando Rodrigues

A fórmula mais clássica para se livrar de uma acusação no reino da política é alegar desconhecimento de um fato. Funciona muito bem no Brasil e no mundo.

Ronald Reagan, nos anos 1980, negou conhecer a cabeluda venda irregular de armas para contrarrevolucionários nicaraguenses via Irã.

Fernando Henrique Cardoso dizia, em 1997, não ter notícia das traficâncias no Congresso para comprar votos a favor da emenda da reeleição. Compungido, Luiz Inácio Lula da Silva, em 2005, professou ignorância sobre o mensalão.

Essas negativas têm duas características em comum. Primeiro, são inverossímeis. Segundo, ninguém tem como desmenti-las. Inexistem provas. Daí a estratégia ser tão usada na política. Inclusive ontem pelo governador de Goiás, Marconi Perillo, do PSDB, durante seu longo depoimento à CPI do Cachoeira.

Com seu semblante sereno, o tucano repetiu a história a respeito da venda de uma casa em 2011. Recebeu R$ 1,4 milhão em três cheques emitidos por uma empresa suspeita de receber dinheiro irregular do esquema de Carlos Cachoeira.

Não ocorreu a Perillo perguntar quem era o emitente dos cheques. Vendeu o imóvel para uma pessoa, recebeu cheques de uma empresa esquisita e nada quis saber.

O governador goiano revelou seguir uma peculiar regra de etiqueta financeira: seria um "ato constrangedor e não usual abordar o interessado e exigir dele a declaração de onde vêm os seus recursos".

O experiente deputado Miro Teixeira duvidou: "Nunca vi alguém vender uma casa e entrar em tremenda fria". Perillo não piscou.

Fora da CPI, petistas lamuriavam que "não dá para acreditar" na versão de Perillo. Repetem os resmungos de tucanos sobre Lula ter negado conhecer o mensalão. No fundo, PT e PSDB cada vez mais se equivalem. Tanto nas acusações como nas desculpas esfarrapadas.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

A encruzilhada histórica do mensalão:: Carlos Pereira

Daron Acemoglu e James Robinson acabam de publicar um novo livro intitulado "Why Nations Fail? The Origins of Power, Prosperity, and Poverty" (whynationsfail.com/). O objetivo deste ambicioso estudo é demonstrar, através de uma análise histórica das conexões entre instituições políticas e econômicas, porque alguns países se desenvolvem e prosperam mas outros não. Ao usarem uma diversidade de exemplos históricos, eles demonstram, de forma convincente, que países são ricos ou pobres não como consequência de fatores geográficos, culturais, ou mesmo por limitações cognitivas dos governantes, mas pelo desenvolvimento de instituições políticas e econômicas capazes de incentivar atores políticos e agentes econômicos a um espiral virtuoso de cooperação.

Assim como em nossas vidas privadas, Acemoglu e Robinson enfatizam que a história das nações e as suas perspectivas de desenvolvimento também podem ser interpretadas a partir de eventos críticos, denominados "critical junctures". Estas encruzilhadas podem ser entendidas como pontos de virada na história de um país. Ou seja, são eventos importantes, na maioria das vezes motivados por circunstâncias fortuitas ou acidentais, capazes de romper os equilíbrios institucionais existentes produzindo assim consequências gigantescas para a história de uma determinada nação. Os autores lembram que "critical junctures" não teriam uma trajetória histórica predeterminada, mas seriam fundamentalmente contingentes, podendo tanto desviar países de trajetórias virtuosas, como também posicioná-los em novas trajetórias viciosas.

Citam como exemplos de encruzilhadas históricas a peste bubônica que, ao matar cerca da metade da população da Europa no século XIV, colocou em xeque o sistema feudal; a abertura das novas rotas marítimas no Atlântico, que gerou oportunidades de ganhos e desenvolvimento de novas elites na Europa ocidental; a Revolução Industrial, que ofereceu mudanças radicais na estrutura das economias ao redor do mundo; etc. Na história recente do Brasil, o Plano Real é um bom exemplo de "critical juncture", pois além de ter gerado equilíbrio macroeconômico em um ambiente caótico de hiperinflação, proporcionou possibilidades de rupturas radicais com a gestão macroeconômica prevalente até então.

Decisão pode indicar a rota que o Brasil irá tomar

Identificar, ex ante, se um evento ou acontecimento terá a envergadura de mudar o curso da história de um determinado país não é uma tarefa fácil. Na realidade, na grande maioria das vezes, a identificação de uma encruzilhada histórica acontece de forma ex post. Ou seja, quando esta já passou, pois assim dispomos de mais elementos de mensuração das suas consequências para as nossas vidas.

Entretanto, mesmo diante de tais dificuldades, me aventuro a predizer que o julgamento do Mensalão, recentemente marcado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), para ter início no dia 1º de agosto de 2012, pode significar uma encruzilhada histórica, decidindo não apenas o futuro dos 38 acusados, mas também definir a rota ou caminho que o Brasil irá tomar a partir de então.

Malgrado o tom pessimista de alguns setores da opinião pública com relação à qualidade das instituições políticas brasileiras estas tem tido até então um desempenho surpreendente com relação ao processo do mensalão, tanto na esfera política como judicial. Ora vejamos: as Comissões Parlamentares de Inquérito, mesmo sendo dominadas por aliados do presidente Lula, declararam no relatório final, sem meias palavras, que o mensalão era uma forma de compra de votos no Congresso, operada por assessores diretos do presidente; a Câmara dos Deputados, mesmo controlada por forças governistas, cassou o mandato de José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil de Lula; o procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, que foi nomeado pelo presidente Lula, abriu uma investigação criminal independente e, em março de 2006, pediu que o STF instaurasse inquéritos criminais contra 40 indivíduos ligados ao mensalão; finalmente, seis dos dez juízes do STF, que também foram nomeados pelo presidente, aprovaram os indiciamentos em 2007.

Podemos presumir então que, se todos esses aliados e/ou nomeados pelo presidente Lula aceitaram as alegações sobre a existência do mensalão, parece haver fogo de fato onde só se via fumaça, como a das pilhas de jornalismo investigativo que se acumulavam desde o início de 2005.

O julgamento do mensalão pelo STF se traduz portanto em uma janela de oportunidade estratégica para o destino do país.

Caso os envolvidos não sejam punidos, esta decisão pode significar uma mensagem de reafirmação de que as pessoas, principalmente os ricos e poderosos, podem fazer o que quiserem e sempre encontrarão uma forma de se safar da justiça. A persistência desse padrão de impunidade no Brasil pode reforçar ainda mais a crença na perpetuação de ciclos viciosos e das fragilidades institucionais. O efeito multiplicador da impunidade poderá ser devastador, particularmente para o STF que passa por um momento histórico de grande visibilidade.

Por outro lado, se os acusados forem punidos, pode ser mais um sinal crível de que o Brasil está de fato na rota da boa governança. Ao mesmo tempo, esta decisão pode exercer um efeito demonstração ao apontar que tal comportamento desviante não será mais tolerado e que talvez um novo ciclo virtuoso se abra e se consolide a partir dessa encruzilhada histórica. Afinal de contas, como lembram Acemoglu e Robinson, proteger as pessoas contra comportamentos oportunistas do governo através de um sistema de "checks & balances" robusto e independente é condição necessária para o desenvolvimento. Esta foi a rota seguida pelos países que conseguiram se desenvolver e parece que não será diferente no caso brasileiro, se o Brasil tiver de fato essa ambição.

Carlos Pereira é professor titular na Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (Ebape) da Fundação Getulio Vargas (FGV).

FONTE: VALOR ECONÔMICO

O relatório :: Almir Pazzianotto Pinto

A Nação acompanha com acentuado interesse o processo do "mensalão". Justifica-se a ansiedade popular, pois está em jogo a eficiência das ferramentas de que dispõe o Estado democrático para combater a corrupção. Afinal, indaga o cidadão comum, para que Constituição, leis e Poder Judiciário, quando se constata o passar dos anos sem que haja julgamento de pessoas acusadas de crimes graves?

Finalmente, o ministro Joaquim Barbosa divulgou o relatório da Ação Penal n.º 470-Minas Gerais, elaborado em 122 páginas. Sabia-se, por declarações de S. Exa., que o texto estava terminado. O conteúdo, entretanto, permanecia disponível apenas nos computadores do Supremo Tribunal Federal (STF). A internet trouxe a público um trabalho escrito em linguagem jurídica objetiva e consistente, obediente às regras da legislação processual, pois se circunscreve à síntese dos atos e fatos do processo.

O revisor, ministro Ricardo Lewandowski, citado em artigo de Dora Kramer, esclareceu à jornalista nunca haver dito que devolveria o feito revisado "só no ano que vem, mas que precisaria examinar cuidadosamente o processo com 38 réus". Assinalou S. Exa. que desconhece, no Supremo, voto revisor "que tenha levado menos de seis meses para ficar pronto" (!). Por fim, Lewandowski salientou: "Mesmo que pretendesse entregar em 2013, não haveria o risco de prescrição, porque isso só acontecerá em 2015".

Diante da corrida contra o tempo, e preso à obrigação moral que tem de encerrar a ação antes que o pior venha a acontecer, o Supremo, sob a presidência do ministro Carlos Ayres Britto, estabeleceu rigoroso cronograma, em que determina o dia 1.º de agosto para início do julgamento, que estaria concluído até as eleições municipais de outubro. Em setembro se aposenta o ministro Cezar Peluso; em novembro, o mesmo ocorrerá com Ayres Britto. É impossível saber o que ocorrerá se, até então, a tarefa não estiver concluída. Para que o plano traçado alcance êxito, nada deverá falhar. Lúcio Costa, o urbanista construtor de Brasília, teria dito, certa vez, que a única certeza possível é de que as coisas nunca ocorrem como planejadas. Os advogados declaram confiança na Justiça, mas não abrem mão do amplo direito de defesa e do respeito ao devido processo legal. Basta para se anteverem as dificuldades que encontrará o presidente Ayres Britto a fim de conduzir o feito como planejado.

Há cerca de dez anos o Poder Judiciário tomou a decisão de abrir as sessões de julgamento para amplo conhecimento público, com o emprego de redes de televisão. O propósito é elogiável. Faz chegar a localidades distantes de Brasília imagens até então reservadas a advogados e partes interessadas, com dinheiro, disposição e tempo para se deslocarem até a capital federal. Aos membros do Judiciário, habituados à vida reclusa dos tribunais, a televisão revelou ter duas faces: de um lado, deu-lhes mais projeção e renome; e, de outro lado (embora com exceções), converteu-se no afrodisíaco das vaidades. Em causas polêmicas, o telespectador passou a acompanhar, em tempo real ou retransmitidas altas horas, demonstrações de eloquência barroca e desafios de erudição, não raro convertidos em disputas verbais, para desmerecimento da reputação da Corte.

Fenômeno semelhante ocorreu com advogados. Sempre propensos às exibições de oratória, a televisão lhes trouxe a oportunidade de exibirem o talento ao mundo.

A Ação Penal n.º 470-Minas Gerais trata de crimes relatados pelo procurador-geral da República, cuja denúncia registra: "sofisticada organização criminosa, dividida em setores de atuação, que se estruturou profissionalmente para a prática de crimes como peculato, lavagem de dinheiro, corrupção ativa, gestão fraudulenta, além das mais diversas formas de fraude" (fls. 5.621). Diz, ainda: "todos os graves delitos que serão imputados aos denunciados ao longo da presente peça têm início com a vitória eleitoral de 2002 do Partido dos Trabalhadores no plano nacional e tiveram por objetivo principal (...) garantir a continuidade do projeto de poder do Partido dos Trabalhadores, mediante a compra de suporte político de outros partidos políticos e do financiamento futuro e pretérito (pagamento de dívidas) das suas próprias campanhas eleitorais".

Oito séculos antes de Cristo, o profeta Miqueias se lamentava: "No país inteiro não há uma só pessoa honesta..." "Autoridades exigem dinheiro por fora, e juízes recebem presentes para torcer a justiça" (Mq. 7/2-3). No ano de 1675, em sermão dedicado a Santo Antonio, o padre Antonio Vieira apontava a depravação dominante entre o povo. Para ilustrar a peroração, acusava o jesuíta: "Grande sabor é o do alheio, até para o gosto e paladar daqueles que o trazem costumado aos mais esquisitos manjares". Notórios rapinantes do dinheiro público se viciaram em viver do roubado. Intimados, comparecem perante comissões parlamentares de inquérito ou diante dos tribunais, impassíveis, de cara lavada. Reivindicam o direito de permanecerem mudos ou negam fatos documentadamente comprovados. Quase sempre a estratégia de defesa se limita à protelação. Imagina-se que, com o passar dos anos, os crimes cairão no esquecimento ou serão apagados pela prescrição. Devem imaginar: 2015 aparenta estar longe, mas não custa tentar alcançá-lo.

Os protagonistas do "mensalão" refletem a face suja da política do "nunca antes neste país", da demagogia populista, das bravatas, da licenciosidade. Conhecido o relatório do ministro Joaquim Barbosa, cabe à Suprema Corte levar a efeito o julgamento, conforme planejado. Do resultado se saberá qual o grau alcançado pelo regime democrático, restabelecido em 1985.

* Advogado, foi ministro do trabalho e presidente do Tribunal Superior do Trabalho

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

A festa das importações:: Rolf Kuntz

Exportações empacadas, importações em alta, demissões na indústria e consumo bem maior que no ano passado: esses dados são oficiais, mas o governo parece ignorá-los e por isso insiste num diagnóstico falho e numa terapia errada para os problemas de crescimento da economia brasileira. A política federal continua dando prioridade ao consumo, como se a retração dos consumidores fosse o grande entrave à expansão do Produto Interno Bruto (PIB), agora estimada em 2,5% pelos analistas do setor financeiro e de consultorias e em 2,9% pelos economistas do Banco Mundial (Bird). Os dados apontam claramente problemas do lado da oferta, prejudicada por uma porção de ineficiências e custos absurdos. Ministros admitem esses problemas, ocasionalmente, e a presidente Dilma Rousseff, de vez em quando, menciona alguns componentes do custo Brasil, mas sem jamais formular uma estratégia coerente e suficientemente audaciosa para aumentar o potencial de crescimento do País.

Em março, o volume de vendas do comércio varejista foi 0,2% maior que o do mês anterior e 12,5% superior ao de um ano antes. No primeiro trimestre, o varejo vendeu 10,3% mais que no mesmo período de 2011. A expansão acumulada em 12 meses foi de 7,5%. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo a mesma fonte, o emprego industrial diminuiu 0,3% de março para abril. A comparação com abril do ano passado mostrou um recuo de 1,4%, sétimo resultado negativo nesse tipo de avaliação. Se o governo desse mais atenção ao descompasso entre a evolução do consumo e a do emprego industrial, talvez se dispusesse a rever seu diagnóstico. Mas esses dados parecem causar pouco efeito em Brasília. Curiosamente, a combinação desses números com os do comércio exterior também parece despertar pouco interesse entre os formuladores da política econômica. Mas o resultado dessa combinação parece bastante claro para justificar uma revisão da estratégia de crescimento seguida até agora.

Do início de janeiro até a segunda semana de junho, o Brasil exportou mercadorias no valor de US$ 102,9 bilhões e gastou US$ 96,9 bilhões com produtos importados. A receita comercial foi 0,4% menor que a de igual período de 2011, pela média dos dias úteis. Pelo mesmo critério, a despesa foi 5,3% maior e o superávit, 42,8% menor. Até o fim de maio a evolução havia sido um pouco menos ruim, com exportações 1,5% maiores que as de um ano antes e importações 4,4% superiores às dos primeiros cinco meses de 2011. Mas, no essencial, o cenário era o mesmo, com vendas externas estagnadas e compras em clara expansão.

Esse descompasso ajuda a entender o contraste entre a evolução do consumo no mercado interno e o desempenho da indústria. Os brasileiros continuam comprando e, segundo pesquisa divulgada nesta terça-feira pela Associação Comercial de São Paulo, os consumidores se mostram mais confiantes do que em maio do ano passado. Para 51% dos entrevistados, a situação financeira atual é boa e para 59% deve melhorar. Um ano antes, essas avaliações haviam sido apresentadas por 47% e 51% das pessoas ouvidas pelos pesquisadores.

O otimismo dos entrevistados, dirão alguns, pode refletir um erro de avaliação. Talvez, mas eles continuam comprando e mostram disposição de ir novamente às lojas nos próximos meses, até porque a situação geral do emprego ainda é boa. Houve ganhos de renda nos últimos anos e há crédito suficiente. A indústria brasileira, no entanto, desfruta limitadamente dessa festa, enquanto os produtores estrangeiros ocupam fatias crescentes do mercado. Isso já foi mostrado em pesquisa da Confederação Nacional da Indústria sobre a participação crescente dos importados no consumo interno: 22%, nos quatro trimestres encerrados em março deste ano, recorde da série iniciada em 1996. O levantamento incluiu tanto produtos finais quanto insumos processados no Brasil.

A presidente Dilma Rousseff insiste em cuidar do crescimento da indústria com medidas protecionistas, políticas de preferência a componentes nacionais e pressões para redução de juros. Já fala menos sobre a valorização cambial, um de seus temas prediletos, por muito tempo, nos eventos internacionais.

Mas o governo faz muito pouco para cuidar dos custos e das ineficiências mais importantes, limitando-se à política de pequenos remendos. A presidente já deixou clara a disposição de promover apenas mudanças limitadas no sistema tributário. Uma reforma séria e penosamente negociada com os governadores continua fora da agenda. Também fora da pauta permanece um esforço mais sério para eliminar o atraso nos investimentos em infraestrutura. É mais fácil discursar e inflar os números com os financiamentos habitacionais.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO