Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
domingo, 21 de outubro de 2012
Manchetes dos principais jornais do Brasil
O GLOBO
Corruptos são apenas 0,1% dos presos
PT já lidera em 3 capitais; PSDB, em 1
Pacotes inibem investidores
Bacha: inflação controlada na Constituição
FOLHA DE S. PAULO
Voto conservador amplia liderança de Haddad em SP
Condenada, sócia do Rural diz que perdeu a esperança
Henrique Meirelles: Para taxa de juros cair, o melhor é cuidar da inflação
O ESTADO DE S. PAULO
Por votos, Haddad e Serra investem nos redutos adversários
'Nunca entreguei ninguém', diz Genoino
Blecaute põe em xeque segurança do sistema
Com BVA, onda de problemas em bancos termina, diz BC
CORREIO BRAZILIENSE
Bem pagos, folgados e cheios de mordomias
Jovens pagarão mais impostos
10,5% dos alunos da UnB são cotistas
ESTADO DE MINAS
Violência na mira
Vereadores lavam roupa suja em BH
BRT vira solução em 25 municípios brasileiros
ZERO HORA (RS)
O Beira-Rio de 2014
JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Desafios do "novo Recife"
Pedágio é visto como saída para caos no trânsito
Nosso petróleo
Corruptos são apenas 0,1% dos presos
PT já lidera em 3 capitais; PSDB, em 1
Pacotes inibem investidores
Bacha: inflação controlada na Constituição
FOLHA DE S. PAULO
Voto conservador amplia liderança de Haddad em SP
Condenada, sócia do Rural diz que perdeu a esperança
Henrique Meirelles: Para taxa de juros cair, o melhor é cuidar da inflação
O ESTADO DE S. PAULO
Por votos, Haddad e Serra investem nos redutos adversários
'Nunca entreguei ninguém', diz Genoino
Blecaute põe em xeque segurança do sistema
Com BVA, onda de problemas em bancos termina, diz BC
CORREIO BRAZILIENSE
Bem pagos, folgados e cheios de mordomias
Jovens pagarão mais impostos
10,5% dos alunos da UnB são cotistas
ESTADO DE MINAS
Violência na mira
Vereadores lavam roupa suja em BH
BRT vira solução em 25 municípios brasileiros
ZERO HORA (RS)
O Beira-Rio de 2014
JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Desafios do "novo Recife"
Pedágio é visto como saída para caos no trânsito
Nosso petróleo
Dez perguntas sobre o desfecho do mensalão
Especialistas da FGV/Direito Rio explicam o que o Supremo precisa decidir
antes de calcular as penas
UM JULGAMENTO PARA A HISTÓRIA
Na reta final do julgamento do mensalão, os ministros do Supremo Tribunal
Federal (STF) começam a se preparar para definir a dosimetria das penas. Antes,
porém, terão que tomar muitas decisões, como explicam especialistas do Centro
de Justiça e Sociedade da FGV/Direito Rio. Os ministros terão, por exemplo, que
decidir se os que votaram a favor da absolvição de um determinado réu poderão
participar do cálculo da pena. Além disso, como cada réu pode ter sido
condenado por vários crimes e também várias vezes por cada crime, o Supremo
terá que definir se vai aplicar o critério do crime continuado, quando são
acrescidos de 1/6 a 2/3 no total da pena.
Para calcular a pena, os ministros terão que levar em conta os motivos e as
consequências dos crimes e ainda os agravantes e atenuantes. Por exemplo, no
mensalão, ser o líder do esquema pode vir a ser um agravante, o que faria com
que a pena fosse aumentada. A Corte também terá que decidir se um determinado
crime é qualificado.
No entanto, o réu só vai para a prisão, isto é, cumpre a pena em regime
fechado, se a condenação for a partir de oito anos. Se for condenado a até dois
anos, como já houve prescrição, o réu não cumpre a pena. E isso se aplica mesmo
que ele tenha sido condenado mais de uma vez a dois anos. Entre dois e quatro
anos, o réu cumpre a pena no regime semiaberto: trabalha de dia e passas as
noites e os finais de semana na prisão. No mensalão, como alguns réus são
parlamentares, o STF vai ter que decidir também se eles perderão o mandato, e
pode aplicar multas e até determinar, nos crimes de corrupção, que o valor seja
devolvido.
1 regras
Qual é o procedimento para o cálculo da pena no julgamento do mensalão?
Cada réu pode ter sido condenado por vários crimes. E várias vezes por cada
crime. Roberto Jefferson foi condenado por dois crimes, Katia Rabelo por três e
Marcos Valério por quatro e, dentre esses, praticou 53 vezes o crime de lavagem
de dinheiro. A lei não estabelece uma pena fixa para cada crime. Por exemplo,
para o crime de corrupção ativa a lei estabelece pena de 2 a 12 anos. Quem irá
decidir quanto tempo de pena para cada crime, para cada réu, será o Supremo.
2 peso dos crimes
Que fatores são levados em conta para o cálculo da pena?
Há alguns pontos, como os motivos e consequências do crime, que são
considerados para se estabelecer, primeiro, a pena base, o valor entre o mínimo
e o máximo definido na lei. A partir daí, há os agravantes (aumento) e
atenuantes (diminuição) que se aplicam a todos os crimes. Depois, se verifica
se há também a qualificadora do crime. Na corrupção ativa, por exemplo, a pena
é aumentada quando o funcionário de fato cometeu o ato para o qual recebeu o
dinheiro.
3 para cima
O que são agravantes?
São circunstâncias definidas na lei que aumentam a pena do réu. Por exemplo,
quando há reincidência ou quando há abuso de autoridade ou de poder. No
mensalão, pode ser também aplicada uma agravante para o líder ou organizador do
grupo.
4 para baixo
O que são atenuantes?
São circunstâncias que diminuem a pena estabelecida inicialmente para o réu.
Por exemplo, quando o réu confessa o crime ou tenta repará-lo.
5 crime continuado
O que é crime continuado, e como isso influencia a sentença?
Quando o réu pratica vários crimes da mesma espécie em circunstâncias
similares de tempo, local e forma de execução, considera que se praticou só um
crime e se acresce a essa pena 1/6 a 2/3 de seu valor. No caso do mensalão,
foram realizadas 53 operações de lavagem de dinheiro. Se forem consideradas
como crime continuado será aplicada somente a pena de uma lavagem de dinheiro,
acrescida de 1/6 a 2/3.
6 contabilidade
Como são somadas as penas, quando o réu é condenado por diferentes crimes,
às vezes, mais de uma vez pelo mesmo crime?
Quando não se aplica o critério do crime continuado, as penas não prescritas
são somadas, depois de fixada a pena de cada crime.
7 tamanho da pena
Qual é o impacto do tempo de condenação?
Se a condenação for até 2 anos, houve prescrição, o réu não cumpre pena.
Inclusive, se houver 3 penas de 2 anos houve prescrição para todas. Se a condenação
for entre 2 e 4 anos, a pena pode ser mudada para prestação de serviços para a
comunidade. Se a condenação for entre 4 e 8 anos, o réu trabalhará durante o
dia em colônia agrícola ou industrial e passará a noite e finais de semana na
prisão (regime semiaberto). Se a condenação for a partir de 8 anos, o réu
começará a cumprir sua pena na prisão (regime fechado.)
8 penalidades
Quais são as penas possíveis, além da prisão?
Além das penas de prisão, os réus também poderão ser condenados a pagar
multa. Nos crimes de corrupção, se houve prejuízo para a administração pública,
o valor deverá ser devolvido. E se o réu for parlamentar ou funcionário
público, ele ainda pode perder o cargo.
9 regime penal
O que define o regime de cumprimento de pena?
As penas fixadas definem como começa o regime. A partir daí é o chamado
"bom comportamento" que definirá se o condenado pode passar para a
próxima fase da pena e, ao final, ser reintegrado na sociedade.
10 quem decide
Ministros que absolveram réus participam da definição da pena?
Segundo o voto do ministro Ayres Britto em processo anterior, eles não
participam. Mas isso pode mudar, depende dos ministros.
Fonte: O Globo
Decisão sobre casos de empate deve gerar divergências no STF
Há controvérsias entre o benefício automático aos réus ou o voto de minerva
Miguel Caballero
Assim que terminar o julgamento da última fatia do processo do mensalão,
sobre formação de quadrilha, nesta semana, os ministros do Supremo Tribunal
Federal (STF) entrarão num debate que deve gerar novas divergências entre
ministros, justamente sobre os casos em que o tribunal não conseguiu concluir
sobre a responsabilidade dos acusados. Até aqui, há seis casos de empate entre
votos por condenação e absolvição. Este também pode ser o destino das acusações
contra José Dirceu e José Genoino na acusação de formação de quadrilha. Para os
dois petistas, o placar até o momento está em 1 a 1.
Há três possibilidades para resolver os empates: a obediência ao regimento
interno do STF, que determina o voto de minerva do presidente da corte; a
prevalência do princípio jurídico "in dubio pro reo" (na dúvida, a
favor do réu), que garantiria a absolvição dos acusados; ou aguardar que o
futuro ministro Teori Zavascki assuma sua cadeira e vote, esta a hipótese menos
provável pela falta de tempo, já que sua indicação ainda precisa ser aprovada
no plenário do Senado.
A discussão sobre os empates acontecerá provavelmente antes de os ministros
se debruçarem sobre a dosimetria das penas nos casos em que houve maioria pela
condenação. Uma coisa é certa: por seu perfil de buscar decisões consensuais no
condução da corte, o presidente Ayres Britto levará a questão para ser decidida
em plenário, por debate e votação entre todos os ministros.
É aí que podem surgir as próximas grandes controvérsias do julgamento, num
embate jurídico entre os ministros que defendem a adoção do "in dubio pro
reo" e os que preferirão que os casos sejam desempatados pelo voto de
minerva do presidente. Entre especialistas em direito, o tema gera
divergências.
- O "in dubio pro reo" se aplica. É um princípio jurídico, deve
prevalecer sobre o regimento interno do STF, que é uma resolução, um ato
administrativo. O mensalão é uma ação penal, cujas penas afetam o bem sagrado da
liberdade. Nestes casos, quando empata, o normal é o benefício automático ao
réu - diz o professor de Direito da UnB Mamede Said.
Para a professora da FGV/Direito Rio Tânia Rangel, o correto seria que o
presidente do STF desse o voto de minerva.
- No Direito Penal, mais importante que o "in dubio pro reo" é o
princípio da legalidade. Na lei de ação penal, não há previsão sobre como
decidir empates. Então, passa-se ao regimento do Supremo, que determina que os
empates sejam decididos pelo voto do presidente, com única exceção para os
casos de habeas corpus, onde o empate beneficia o réu - defende Rangel,
lembrando que os ministros já devem estar formando convicção sobre como o
tribunal deve proceder. - O primeiro caso de empate, do José Borba, foi já há
várias semanas. Acredito que o presidente Ayres Britto costure um acordo antes
da discussão no plenário, pois é um tema que pode gerar muitas divergências e
discussões.
Um detalhe importante é que o voto de minerva do presidente não
necessariamente será o mesmo que ele deu anteriormente, o que soaria como
aparente contradição. Nos seis casos de empate até aqui, o presidente Ayres
Britto foi um dos que votaram pela condenação. Mas não será surpreendente, nem
mesmo contraditório, se ele der o voto de minerva pela absolvição.
- O presidente pode entender que o caso teve muita controvérsia, houve
empate, e, valendo-se por exemplo do princípio "in dubio pro reo",
absolver o acusado - lembra Tânia Rangel.
A professora da FGV/Direito diz que são raros os casos, na história do
tribunal, em que o presidente do Supremo teve de dar o voto de minerva.
- Desde a Constituição de 1988, aconteceu só uma vez, ano passado, quando o
então presidente Cezar Peluso deu o voto de minerva a favor do senador Jáder
Barbalho (PMDB-PA), que estava impedido de assumir o mandato pela Lei da Ficha
Limpa - recorda.
Fonte: o Globo
Resultado no STF não deve alterar leis
Leandro Colon
BRASÍLIA - A possibilidade de anulação de leis aprovadas na Câmara dos
Deputados no período do esquema do mensalão é considerada remota por
especialistas e ministros do Supremo Tribunal Federal.
Deve prevalecer, na avaliação deles, o princípio da segurança jurídica,
baseado no conceito de que desfazer algo vigente há anos não vale a pena diante
dos problemas que isso ocasionaria. "Se houvesse anulação, teríamos o caos
jurídico no Brasil", diz o jurista Ives Gandra Martins.
A possível nulidade foi levantada pelo ministro do STF Celso de Mello. Como
a corte julgou ter havido compra de votos de deputados, ele destacou que as
leis aprovadas com a presença de réus poderiam estar viciadas.
O PSOL anunciou que pretende pedir a anulação da reforma da Previdência,
aprovada na época.
Diante da discussão, pelo menos cinco ministros do STF já sinalizaram ser
contra a anulação imediata das leis.
"A validade e a eficácia de uma lei não dependem e nem podem depender
de forma alguma dos motivos da sua formulação", afirmou Gilmar Mendes.
Nos bastidores, os ministros afirmam que, se forem provocados, devem
convalidar as leis.
A Procuradoria-Geral da República menciona pelo menos três votações que
estariam ligadas ao esquema do mensalão: as das reformas tributária e da
Previdência e a da Lei de Falências.
O tributarista e professor da UnB (Universidade de Brasília) Othon de
Azevedo Lopes diz que não vê como anular leis ligadas à cobrança de tributos.
Fonte: Folha de S. Paulo
Próximo passo é definir as doações
Após a terminar o julgamento da Ação Penal 470, Supremo decidirá sobre o
financiamento de campanhas
Diego Abreu
Reconhecido pela sociedade como o órgão que está combatendo a corrupção
ainda presente na política brasileira, o Supremo Tribunal Federal (STF) terá
uma outra missão após o término do julgamento do mensalão. Está nas mãos da
Corte definir se o atual sistema de financiamento de campanhas, no qual
empresas privadas doam para partidos e candidatos, será ou não mantido no país.
Em parecer enviado na última quarta-feira ao STF, a Procuradoria Geral da República
(PGR) aponta como inconstitucional o atual modelo e sugere que a Suprema Corte
fixe prazo de dois anos para que o Congresso aprove uma nova legislação para
regular o tema.
Na manifestação, a qual o Correio teve acesso, a vice-procuradora-geral da República,
Deborah Duprat, critica os moldes atuais do financiamento privado das
campanhas, sob o argumento de que violam princípios constitucionais, como os da
cidadania, democracia, igualdade, pluralismo político e da proporcionalidade.
Segundo o parecer, as eleições ficam desniveladas diante do atual modelo.
“Atinge o direito à participação igualitária no processo eleitoral, com os
cidadãos mais pobres alijados de reais condições de competição e vitória nas
eleições”, destaca o parecer da PGR.
Relator da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4.650, o ministro Luiz Fux
pretende levar o processo a julgamento até o fim do ano. Proposta pela Ordem
dos Advogados do Brasil (OAB), a ação pede a revogação do trecho da Lei
Eleitoral que autoriza as doações de pessoas jurídicas e defende a redução do
teto para repasses feitos por pessoas físicas a candidatos e agremiações
partidárias.
No parecer, a PGR recomenda que o Supremo declare a inconstitucionalidade do
atual modelo, “sem pronúncia de nulidade imediata”, pois “entende como adequada
a modulação de efeitos da decisão pelo período de 24 meses, para que o
Congresso Nacional legisle sobre a matéria, de modo que não se crie uma lacuna
jurídica”.
Nesse cenário, caso o Supremo entenda que o financiamento privado é irregular,
a lei em vigor continuaria válida por dois anos, até que o Congresso aprovasse
nova legislação em cumprimento à decisão do Judiciário. Relator do processo do
mensalão e presidente eleito do STF, o ministro Joaquim Barbosa já anunciou sua
intenção de procurar a presidente Dilma Rousseff, tão logo tome posse em
novembro, para debater “mudanças profundas” na política, incluindo a revisão do
financiamento das campanhas.
O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), reagiu à pretensão anunciada por Joaquim.
“Talvez ele não saiba, mas isso não compete nem a ele nem à presidente. É
tarefa nossa, e temos aprovado reformas políticas pontuais com frequência.
Depois do segundo turno, talvez possamos aprovar pontos mais complexos, como o
financiamento público de campanhas”, afirmou. Em ofícios encaminhados ao
Supremo e anexados à ADI 4.650, Marco Maia e o presidente do Senado, José
Sarney (PMDB-AP), afirmam que a matéria é de natureza política e de competência
típica do Congresso.
Fonte: Correio Braziliense
AGU é a favor
A presidente Dilma Rousseff também se manifestou sobre o assunto, em
documento enviado ao STF, no qual ela sustenta a legalidade do atual modelo de
financiamento de campanha. Para Dilma, é legítima a contribuição de pessoas
jurídicas para campanhas eleitorais nos limites fixados pela legislação, pois,
segundo ela, as doações correspondem a setores organizados da sociedade que
expressam os interesses de diversas pessoas.
A Advocacia-Geral da União (AGU) também prestou informações ao Supremo, posicionando-se
favorável ao modelo atual de financiamento de campanha. O órgão mencionou
experiências internacionais de países como Estados Unidos, Alemanha, Canadá e
México, que adotam o financiamento privado. A PGR, porém, avalia que o modelo
não é o mais adequado para o Brasil. “Com exceção parcial do México, todos os
países mencionados pela AGU tiveram uma formação política e social
diametralmente oposta à do Brasil em termos de construção de cidadania”,
argumenta Deborah Duprat no parecer entregue ao Supremo.
O tema foi abordado na última quarta durante a sabatina do ministro do Superior
Tribunal de Justiça Teori Zavascki, indicado para uma cadeira da Suprema Corte.
O magistrado indicou que o assunto deve ser prioritariamente discutido pelo
Legislativo. Ele, porém, considera que dificilmente o país criará um sistema de
financiamento “imune de abuso”. Para o ministro Marco Aurélio Mello, o modelo
atual abre brechas para corrupção. “Particularmente sou a favor do
financiamento estritamente público. Sai caro para a sociedade o financiamento
privado, porque os empresários cobram quase sempre o troco ou você acha que
eles doam apenas porque comungam com a ideologia do partido?” (DA)
Fonte: Correio Braziliense
Piada de salão - Ferreira Gullar
O tiro saiu pela culatra, e o partido da ética na política consagrou-se como
um exemplo de corrupção
Quando o escândalo do mensalão abalou a vida política do país e,
particularmente, o governo Lula e seu partido, alguns dos petistas mais
ingênuos choraram em plena Câmara dos Deputados, desapontados com o que era,
para eles, uma traição. Lula, assustado, declarou que havia sido traído, mas
logo acertou, com seus comparsas, um modo de safar-se do desastre.
Escolheram o pobre do Delúbio Soares para assumir sozinho a culpa da
falcatrua. Para convencê-lo, creio eu, asseguraram-lhe que nada lhe
aconteceria, porque o Supremo estava nas mãos deles. Delúbio acreditou nisso a
tal ponto que chegou a dizer, na ocasião, que o mensalão em breve se tornaria
piada de salão.
Certo disso, assumiu a responsabilidade por toda a tramoia, que envolveu
muitos milhões de reais na compra de deputados dos partidos que constituíam a
base parlamentar do governo.
Embora fosse ele apenas um tesoureiro, afirmou que sozinho articulara os empréstimos
fajutos, numa operação que envolvia do Banco do Brasil (Visanet), o Banco Rural
e o Banco de Minas Gerais, e sem nada dizer a ninguém: não disse a Lula, com
que privava nos churrascos dominicais, não disse a Genoino, presidente do PT,
nem a José Dirceu, o ministro político do governo.
Era ele, como se vê, um tesoureiro e tanto, como jamais houve igual. Claro,
tudo mentira, mas estava convencido da impunidade. A esta altura, condenado
pelo STF, deve maldizer a esperteza de seus comparsas. Mas os comparsas, por
sua vez, devem amaldiçoar o único que, pelo menos até agora, escapou ileso do
desastre -o Lula.
Pois bem, como o tiro saiu pela culatra e o partido da ética na política
consagrou-se como um exemplo de corrupção, Lula e sua turma já começaram a
inventar uma versão que, se não os limpará de todo, pelo menos vai lhes
permitir continuar mentindo com arrogância. O truque é velho, mas é o único que
resta em situações semelhantes: posar de vítima.
E se o cara se faz de vítima, tem o direito de se indignar, já que foi
injustiçado. Por isso mesmo, vimos José Genoino vir a público denunciar a
punição que sofreu, muito embora tenha sido condenado por nove dos dez
ministros do STF, quase por unanimidade.
A única hipótese seria, neste caso, que se trata de um complô dos ministros
contra os petistas. Mas mesmo essa não se sustenta, uma vez que dos dez membros
do Supremo, oito foram nomeados por Lula e Dilma.
Reação como a de Genoino era de se esperar, mesmo porque, alguns dias antes,
a direção do PT publicara aquele lamentável manifesto em que afirmava ser o
processo do mensalão um golpe semelhante aos que derrubaram Getúlio Vargas e
João Goulart. Também a nota posterior à condenação de José Dirceu repete a mesma
versão, segundo a qual os mensaleiros estão sendo condenados porque lutam por
um Brasil mais justo. O STF, como se sabe, é contra isso.
Não por acaso, Lula -que reside num apartamento duplex de cobertura e veste
ternos Armani- voltou a usar o mesmo vocabulário dos velhos tempos: "A
burguesia não pode voltar ao poder". Sim, não pode, porque agora quem nos
governa é a classe operária, aquela que já chegou ao paraíso.
Não tenho nenhum prazer em assistir a esse espetáculo degradante, quando
políticos de prestígio popular, que durante algum tempo encarnaram a defesa da
democracia e da justiça social em nosso país, são condenados por graves
atentados à ética e aos interesses da nação. As condenações ocorreram porque
não havia como o STF furtar-se às evidências: dinheiro público foi entregue ao
PT, mediante empréstimos fictícios, que tornaram possível a compra de deputados
para votarem com o governo. Tudo conforme a ética petista, antiburguesa.
Mas não tenhamos ilusões. Apesar de todo esse escândalo, apesar das
condenações pela mais alta corte de Justiça, o PT cresceu nas últimas eleições.
Tem agora mais prefeituras do que antes e talvez ganhe a de São Paulo. Nisso
certamente influiu sua capacidade de mascarar a verdade, mas não só. Com a
mesma falta de escrúpulos, tendo o poder nas mãos, manipula igualmente as
carências dos mais necessitados e dos ressentidos.
Não vai ser fácil acharmos o rumo certo.
Fonte: Folha de S. Paulo /Ilustrada
Momento de decisão - Dora Kramer
O ministro Celso de Mello não se abala com ataques aos procedimentos do Supremo
Tribunal Federal no julgamento do mensalão nem se deixa impressionar pelos
elogios. "Isso tudo é passageiro", ameniza.
Permanente mesmo - o mais importante na opinião dele - é o "alto poder
pedagógico" do processo, cuja essência não está na distinção entre técnica
e política, mas em seu caráter moral. "A peça fundamental em exame é a
ética de governos."
Obviamente o ministro repudia a versão de que o STF estaria atuando como um
"tribunal de exceção", distanciando-se do rigor legal para enveredar
pelo terreno da perseguição a um partido: "Os conceitos emitidos não estão
distanciados da realidade constitucional. Ao contrário. A fidelidade à
Constituição é que nos permite demonstrar a transgressão". "
O juízo definitivo, considera, será dado pela percepção do País a respeito
do que vem sendo dito há quase três meses pelo Supremo. "Há um esforço do
tribunal para que a coletividade saiba perfeitamente por que os réus são
condenados ou absolvidos."
Daí a utilidade e a necessidade de os ministros sustentarem seus votos em
argumentos doutrinários e também em princípios como o defendido por ele no dia
1° de outubro na condenação de deputados por corrupção passiva: "Quem tem
nas mãos o poder do Estado não pode exercer o poder em proveito próprio".
Celso de Mèllo acompanha todas as críticas, lê os sites mais desaforados,
cita autores, reproduz trechos de memória. Descontado o desconforto com as que
"beiram a irracionalidade" e as que "resvalam para a ofensa
pessoal", celebra o "pluralismo de ideias" e aponta que aí
reside a beleza da democracia.
"Ruim era o tempo em que injúrias a ministros do Supremo eram
consideradas crimes de lesa-pátria", diz, exibindo como prova o artigo da
Lei de Segurança Nacional ainda em vigor, mas neste aspecto letra morta. "Ainda
bem", comemora.
O decano, desde 1989 na Corte, prepara-se para dar por encerrada sua missão
- "este é meu último outubro aqui" - antecipando uma aposentadoria
que por idade ocorreria só em 2015, a conselho do médico por causa das
sucessivas crises de hipertensão.
Não provocadas, mas agravadas pelo excesso de trabalho do propesso em curso,
"uma exaustiva maratóna". O esgotamento físico, contudo, é, na visão
do ministro, largamente compensado pela oportunidade de estabelecer novos
paradigmas no trato de crimes cometidos a partir do controle do aparelho de
Estado.
"Não estamos julgando simples delitos de corrupção, estamos diante de
uma ação corruptora destrutiva do fundamento essencial da República, que é a
separação dos Poderes e o equilíbrio entre eles."
A tentativa de subjugar o Legislativo às vontades do Executivo e ainda
mediante a compra dessa submissão, na concepção de Celso de Mello, afronta a
integridade do Estado de direito e põe em risco a garantia das liberdades.
Como? O decano explica: "Se um dos Poderes concentra toda a força e,
mais grave, constrói essa hegemonia por meio de iniciativa criminosa, o que se
tem é uma aguda distorção institucional decorrente da ilicitude e do modo
imperial de governar".
A expectativa do ministro é que esse julgamento funcione também como um
estímulo à restauração dos preceitos republicanos.
Torce para que a sociedade compreenda o panorama que emerge de todo esse
debate e se esforce para defender seu direito de contar com "administradores
íntegros, parlamentares probos e juizes incorruptíveis".
Para Celso de Mello a mensagem do STF está dada: "A absoluta
intolerância do Poder Judiciário em face de atos de corrupção".
Sobre o maior ou menor alcance que isso terá daqui em diante o melhor juiz
é "o povo brasileiro" que, na opinião do ministro, vive "um
momento de decisão".
Fonte: O Estado de S. Paulo
Na dúvida, pró-réu - Eliane Cantanhêde
A lei não é clara quanto a lavagem de dinheiro e a formação de quadrilha,
tanto que o Supremo Tribunal Federal parece bastante dividido. As duas apostas
para a votação desta semana sobre quadrilha (e sobre José Dirceu como chefão)
são de 6 pela condenação e 4 pela absolvição ou... empate.
Lavagem de dinheiro, apesar de estar em uso há bastante tempo, ainda é
considerada uma nova modalidade de crime. E quadrilha é um conceito que vem
mudando com a rapidez da tecnologia. Antes, era um bando que se reunia em
esconderijos para planejar roubos e assassinatos e, depois, dividir os
"lucros". E hoje? Com internet, paraísos fiscais, associações entre
bancos, empresas, pessoas e -como julga o STF- até partidos, o que vem a ser
quadrilha?
A partir dessas dúvidas, ou lacunas, os ministros podem pender para um lado
ou outro: seguir o relator Joaquim Barbosa, que considera clara e evidente a
formação de quadrilha para desviar dinheiro público e comprar parlamentares e
partidos no Congresso -o famoso mensalão-, ou o revisor, que não crê em nada
disso, ou vê a coisa por, digamos, outro ângulo.
Com Joaquim, tendem a ir Ayres Britto, Celso, Gilmar, Fux. Com Lewandowski,
Toffoli, Rosa e Cármen Lúcia. Se a tendência se confirmar, o destino -ou melhor,
as penas- de José Dirceu e José Genoino podem estar nas mãos de Marco Aurélio.
Uma roleta-russa.
Se der 6 a 4, condenação. Se for 5 a 5, é empate, repetindo o que ocorreu em
"fatias" anteriores, com Paulo Rocha, João Magno, José Borba, Jacinto
Lamas, Valdemar Costa Neto e o ex-ministro Anderson Adauto.
Nesse caso, não há voto de Minerva do presidente Ayres Britto, porque
julgamento é julgamento, Supremo é Supremo (não BBB) e há um princípio basilar
e universal da Justiça: na dúvida, pró-réu. Se a mais alta corte não tem
certeza e não chega a uma conclusão, como condenar alguém?
Fonte: Folha de S. Paulo
Busca da renovação - Merval Pereira
Confirma-se uma tendência que já havia dominado o primeiro turno das
eleições: o número recorde de votos brancos e nulos registrado pela pesquisa
Datafolha, juntamente com o grande índice de indecisos às vésperas do segundo
turno, mostra o eleitor em busca do novo, insatisfeito com as opções que os
partidos políticos estabelecidos lhe oferecem. E não apenas de nomes novos, mas
de atitudes novas.
O fenômeno foi exacerbado em São Paulo, onde 30% dos eleitores se abstiveram
ou votaram branco ou nulo, atitude que as pesquisas indicam se repetirá no
segundo turno da escolha do prefeito paulistano. Mas essa tendência foi
registrada em todo o país, com uma média de 25% de não voto, índice muito fora
do padrão histórico das últimas eleições.
Em várias capitais, mesmo naquelas em que o resultado foi definido no 1º
turno, o não voto foi o segundo colocado, isto é, o candidato que chegou em
segundo lugar, muitas vezes indo para o 2º turno, teve menos votos do que a
soma dos eleitores que optaram por não votar.
Tudo indica que estamos entrando em uma fase de nossa vida partidária em que
vai se revelando o desgaste de material do sistema que está montado em torno de
partidos políticos esterilizados por uma mecânica de coalizão autofágica. O
país põe em marcha sistemas que tentam organizar minimamente essa orgia de
siglas que nada significam, como a Lei da Ficha Limpa, que começou a vigorar
aos trancos e barrancos nestas eleições.
Mas ainda temos muito a caminhar para chegarmos a um sistema
político-partidário que reflita uma sociedade madura. Em uma votação
obrigatória, haver 30% de não votantes é sem dúvida uma marca que merece
registro dos que se preocupam com o rumo de nossa sociedade, uma clara reação
negativa do eleitor médio.
Se o Parlamento representa com justeza a média da sociedade que o elege, há
um registro de parte ponderável dela se recusando a continuar participando do
jogo nos termos em que ele está colocado. E por outra parte a busca do novo
reflete essa espécie de angústia existencial do eleitor, mesmo que se revista
de equívocos, como seria o caso de uma vitória de Celso Russomano em São Paulo,
ou a de Ratinho Jr., em Curitiba.
Ambos casos emblemáticos, o curso da história está sendo transformado pelos
próprios eleitores. Em Curitiba, a busca do novo vai se encaminhando para o
leito certo, o ex-deputado Gustavo Fruet, uma das lideranças jovens mais
promissoras do PSDB que, por questões de política regional, foi buscar votos em
outras paragens.
Em São Paulo, o que parecia novidade acabou desconstruído a tempo de não
chegar ao 2º turno, prevalecendo nesse caso as máquinas partidárias mais
fortes. Provavelmente qualquer candidato dos dois partidos teria ido para o 2º
turno, mas é preciso ressaltar que o PT levou ao eleitor uma alternativa
diferente do prato feito tradicional, mesmo que tenha realizado esse
aggiornamento de maneira autoritária, com um dedazo de Lula.
Diante do desfecho favorável iminente, fica demonstrado mais uma vez que
Lula tem um faro político que lhe permite compreender com antecedência para que
lado o vento sopra, e a busca do novo foi sua decisão fundamental. O PT
reafirmou ser uma formidável máquina partidária, e não apenas em SP. O que não
impediu que sofresse derrotas memoráveis, como em Recife, Belo Horizonte e
Porto Alegre. E provavelmente sofrerá outras, importantes, no 2º turno, em
Salvador e Manaus.
O mesmo movimento inevitável terá que ser feito necessariamente pelo PSDB,
que passará por uma ampla revisão nacional sob o comando explícito do senador Aécio
Neves, que saiu da eleição municipal fortalecido na imagem de líder nacional e
assumindo o papel de candidato potencial do partido em 2014.
A modernização da direção nacional do partido, em nomes, atitudes e
posicionamento, será o ponto de partida para a união das forças oposicionistas.
Embora esfacelada a nível congressual por essa política de coalizão autofágica
a que já nos referimos, a oposição mostrou-se nas urnas capaz de ação política
importante.
Fora do poder há dez anos, o PSDB continua sendo o segundo maior partido em
número de prefeituras e vereadores, o que sinaliza uma boa votação para o
Congresso em 2014. E a oposição encontrou fôlego para dar sinais vitais
importantes no Norte e Nordeste, regiões onde o governismo lidera.
Outro polo de poder saído das eleições, o PSB marca sua independência,
ensaia movimentos conjuntos com o PSDB, mas tende a permanecer na base aliada
enquanto for possível conviver com a hegemonia petista. Há tempo para
amadurecer o projeto de alternância à sombra do poder atual, até que o quadro
se ilumine.
Fonte: O Globo
Segundo turno: quando o erro é irreversível - Tereza Cruvinel
"No segundo turno, não há tempo para alterar
uma estratégia equivocada ou arquivar um discurso mal recebido pelo
eleitorado"
Entramos na última semana da curtíssima campanha de segundo turno. Por ser tão
rápida e fugaz, ela não permite que o candidato ou o partido corrija erros
cometidos na largada, ao contrário do que ocorre no primeiro turno. Não há
tempo para alterar uma estratégia equivocada ou arquivar um discurso mal
recebido pelo eleitorado. Por isso mesmo, embora numa eleição tudo possa
acontecer antes da votação, é muito mais difícil uma reversão de tendência na
semana final. Especialmente, diz o cientista político e analista eleitoral
Antonio Lavareda, quando um dos candidatos amplia consideravelmente sua
vantagem, como ocorreu em São Paulo e em Curitiba.
Nos idos de 2005, quando a CPI dos Correios bombardeava um PT desnorneado pelas
denúncias de Roberto Jefferson, era impensável uma fotografia como a do comício
de terça-feira do candidato hoje pedetista Gustavo Fruet à prefeitura de
Curitiba. No palanque, ele aparece festivamente ladeado pelos ministros
petistas Paulo Bernardo, Gleisi Hoffmann e Eliseu Padilha. Fruet era do PSDB e um
dos falcões da CPI. Gleisi e Bernardo fizeram uma aposta ousada ao apoiá-lo e
foram cobrados pela aliança com o ex-adversário mas devem sair vitoriosos.
Fruet saiu do terceiro lugar nas pesquisas, na retal final do primeiro turno e
atropelou o candidato Luciano Ducci, apoiado pelo governador tucano Beto Richa.
O mais votado foi Ratinho Jr., do PSC, mas agora, segundo pesquisa do Ibope
divulgada na sexta-feira, Fruet já tem 10 pontos de vantagem. Qual foi o erro
de Ratinho, que no primeiro turno arrebatou os votos dos mais pobres de
Curitiba? Foi a incoerência. Quando seu alvo era Ducci, dizia ser também da
base governista e até se apresentava como amigo da presidente. Mas o adversário
no segundo turno acabou sendo Fruet e ele passou a bater pesado no PT e no
governo federal. Parece ser tarde para corrigir o discurso, como ele tentou
fazer, dizendo que suas críticas são apenas ao PT do Paraná.
Mas é a disputa de São Paulo que terá consequências para a política nacional.
Segundo o Ibope, o petista Fernando Haddad saiu do primeiro turno com cinco
pontos de vantagem sobre Serra, ampliou para 11 pontos na primeira semana. Na
última pesquisa do Ibope, divulgada na quarta-feira, a vantagem havia subido
para 16 pontos. O Datafolha apontou vantagem de 17 pontos. Tecnicamente, uma
reversão não é impossível, até porque houve um aumento, de 6% para 13%, dos
eleitores dispostos a votarem nulo ou em branco. Mas, como analisou a diretora
do Ibope, Marcia Cavallari, a perda de votos por parte de Serra tem sido até
maior que o crescimento de Haddad. A “campanha negativa” contra o petista,
tentando vinculá-lo ao mensalão, não funcionou. As críticas de um pastor
conservador que apoia Serra à uma publicação anti-homofobia, o tal kit gay,
editado pelo MEC durante a gestão do petista, completaram o estrago.
Se as urnas confirmarem as pesquisas e Haddad for o eleito, o ex-presidente
Lula e o PT terão levado o troféu mais importante da competição, com tudo o que
isso significa para as próximas disputas de poder, nos planos nacional e
estadual. Virão também as consequências internas para o PSDB, onde já são
feitas abertamente críticas ao viés obscurantista adotado pela campanha de
Serra, facilitando a vitória do PT. Um misto de irritação e perplexidade com os
rumos da campanha perpassa todas as alas do partido e teriam pontuado o
encontro de sexta-feira entre o ex-presidente Fernando Henrique e o senador
mineiro Aécio Neves, que vem pavimentando sua candidatura a presidente em 2014.
Negócio gorado
Para ingressar na base de apoio ao Governo Dilma com um cacife ainda maior,
depois do segundo turno, o prefeito Gilberto Kassab andou tratando com o
deputado Paulo Maluf de uma fusão entre o seu PSD e o PP. Na prática, seria uma
incorporação, e ela poderia fazer do partido de Kassab o terceiro da Cãmara,
maior que o PSDB , menor apenas que o PMDB e o PT. Mas o prefeito falou com a
pessoa errada. O presidente nacional do PP, com ascendência sobre os diretórios
estaduais, é o senador Francisco Dornelles. À coluna, ele disse: “Não fui
procurado e não me fizeram qualquer proposta neste sentido. Mas o PP, sendo o
quarto maior partido em número de vereadores e o quinto em número de
prefeituras, não está no mercado de fusões e incorporações”.
Setor elétrico
Além de Minas, que resiste à renovação antecipada das concessões de três usinas
da Cemig pelas novas regras tarifárias da MP 579, São Paulo também está na
briga. Esta semana o secretário estadual de energia, José Aníbal, apresentará
ao relator da medida, Senador Renan Calheiros, as divergências da CESP. “Nós
também queremos tarifas menores mas não vamos aceitar confisco do investimento
realizado ”, diz ele. Renan, candidato à presidência do Senado, sabe o quanto
esta MP é cara à presidente Dilma. Não está disposto a negociar mudanças no
texto. A aprovação da MP que já é campeã no recebimento de emendas, será um
cabo de guerra entre oposição e governo, inflada pelos ressentimentos
eleitorais.
Fonte: Correio Braziliense
PPS desafia hegemonia tucano-petista em Vitória
Apoiado pelo governador, Luciano Rezende desponta como favorito e pode
interromper série de 24 anos de gestões de PSDB e PT na capital capixaba
Alfredo Junqueira
VITÓRIA - O revezamento de prefeitos do PT e do PSDB nos últimos 24 anos
parece ter cansado os eleitores de Vitória. Com desempenho surpreendente no
1.° turno, com 39,14% dos votos, e liderando as pesquisas desta etapa, o
deputado estadual Luciano Rezende (PPS) pode interromper uma série de seis
gestões petistas e tucanas na capital capixaba.
Apontado como favorito no início da campanha, o ex-prefeito Luiz Paulo
Vellozo Lucas (PSDB) teve 36,69% e não parece saber como deter a onda de
popularidade que fez o adversário disparar a partir dos últimos dias de
setembro. A disputa entre PPS e PSDB faz de Vitória aúnica capital do País sem
candidatos de partidos da base aliada do Planalto no 2.° turno. O PT do atual
prefeito João Coser e da candidata Iriny Lopes, ex-ministra da Secretaria de
Política das Mulheres, teve 18,42% dos votos e ficou de fora do 2° turno.
A disputa atual entre Rezende e Lucas colocou de lados opostos o governador
do Estado, Renato Casagrande (PSB), e seu antecessor, Paulo Hartung (PMDB). Embora
tenha afirmado neutralidade, Casagrande articulou a entrada do PR e do PP na
chapa de Rezende. Hartung foi às ruas e à TV pedir votos para Lucas.
"Estabeleci uma tese de equilíbrio de poder e ajudei o Luciano (Rezende)
a montar uma chapa mais competitiva para equilibrar a disputa", explicou
Casagrande, eleito em 2010 com apoio de Hartung.
Marketing. O desempenho da terceira via é sustentado por uma bem-sucedida
campanha de marketing que martelou o lema da mudança. O programa de TV de
Rezende repete à exaustão o jingle e o "gesto da mudança" - similar
ao aceno de jogadores de futebol quando pedem substituição - tomou conta das
ruas.
Além da aliança articulada por Casagrande, o candidato do PPS ainda contou
com o apoio de lideranças evangélicas. O vice na chapa do PPS é o radialista
Wagner Fumio Ito, o Waguinho (PR), popular entre os evangélicos.
Apesar de se apresentar como candidato da mudança, Rezende se projetou na
política local após ser secretário municipal nas gestões de Lucas, entre 1997 e
2004. Ele ainda foi secretário de Estado de Esporte no governo Hartung e por
quatro vezes vereador. "Eu respeito todas as posições políticas. Isso é
parte da democracia. A partir do momento em que nós definimos nosso leque de
aliados, focamos no cidadã", limitou-se a responder Rezende ao ser
questionado sobre suas alianças e anterior colaboração com atuais adversários.
Mais do que a surpresa de ter sido superado no 1.° turno, quando as
pesquisas indicavam sua vitória, Lucas está enfrentando campanha difamatória.
Nela, o ex-prefeito, ex-deputado e um dos principais quadros do PSDB nacional é
classificado como usuário de drogas e alcoólatra. Ele vem dedicando boa parte
de seu tempo de TV a rebater as acusações e atribui a Magno Malta, senador do
PR, a origem dos boatos. O senador do PR nega e diz que vai processar o
tucano.
Fonte: O Estado de S. Paulo
Voto conservador amplia liderança de Haddad em SP
Líder nas pesquisas em
SP, Fernando Haddad (PT) também venceria o tucano José Serra entre os eleitores
conservadores -segmento no qual tinha o pior desempenho no Datafolha no fim de
setembro (12% dos votos). Hoje, ele ganha de Serra por 46% a 33% nesse
eleitorado. No conjunto das intenções de voto, o petista lidera a disputa por
49% a 32%
Apoio conservador
garante liderança folgada de Haddad
Datafolha mostra que petista vence Serra em 4 de 5 segmentos ideológicos
Grupo identificado com valores conservadores é o maior de SP; nesse
universo, Haddad ganha por 46% a 33%
Ricardo Mendonça
Na simulação de segundo turno da eleição paulistana, o candidato do PT,
Fernando Haddad, vence o tucano José Serra mesmo entre os eleitores
classificados como conservadores numa escala de posicionamento ideológico
criada pelo Datafolha.
Nesse grupo, Haddad tem 46% das intenções de voto contra 33% de Serra. No
conjunto, vence por 49% a 32%.
O dado chama a atenção porque em pesquisa semelhante feita pelo instituto em
setembro o petista tinha o pior desempenho entre os conservadores, com 12%.
Naquela ocasião, o líder isolado nesse grupo, com 41%, era Celso Russomanno
(PRB), hoje fora da disputa. Serra tinha 21%.
Os que se identificam com valores conservadores representam 33% dos paulistanos,
o maior contingente na escala do Datafolha que agrupa os eleitores em cinco
grandes lotes ideológicos.
Extremamente liberais são 6%. Liberais, 28%. Medianos (nem conservadores,
nem liberais) somam 23%. E extremamente conservadores, 9%.
Haddad bate Serra em 4 dos 5 agrupamentos, principalmente entre os liberais.
Na pesquisa, o Datafolha usou como referência os métodos e a tipologia
política do Pew Research Center em estudos sobre o voto americano.
Cada entrevistado na pesquisa de intenção de voto foi convidado a responder
questões sobre valores sociais, políticos e culturais.
Os resultados revelam as opiniões dos paulistanos em vários temas da
atualidade.
Pendendo ao conservadorismo, 62% acham que a maior causa da criminalidade é
a maldade -34% a atribuem à falta de oportunidades iguais para todos.
Para 71%, adolescentes infratores devem ser punidos como adultos. Entre os
mais conservadores, a opinião é compartilhada por 95%.
A maioria também é conservadora em questões sobre drogas e religião. Para
79%, acreditar em Deus torna as pessoas melhores. Para 81%, o uso de drogas
deve permanecer proibido.
Pendendo ao lado liberal, 68% associam a pobreza mais à falta de
oportunidades do que à preguiça, e 69% dizem que o homossexualismo deve ser
aceito pela sociedade.
Fonte: Folha de S. Paulo
PT e PSDB a reboque de Sérgio Cabral
Enfraquecimento das duas siglas rivais no Rio de Janeiro aumenta o cacife do
governador
Karla Correia, Paulo de Tarso Lyra
As declarações do prefeito reeleito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB),
sobre as credenciais do governador do estado, Sérgio Cabral (PMDB), para ocupar
a vaga de vice na futura chapa da presidente Dilma Rousseff para a próxima
eleição presidencial repercutiram no meio político como um sinal de alerta
emitido do segundo maior colégio eleitoral do país. O considerável capital
político amealhado por Cabral é visto com preocupação tanto pelo PT de Dilma
Rousseff quanto pelo PSDB do seu provável adversário na corrida de 2014, o
senador Aécio Neves (MG).
Ambos os partidos são fracos no estado onde Cabral é a força dominante. A
bancada federal do PSDB fluminense se resume a dois deputados e nenhum senador.
O partido conseguiu eleger apenas duas prefeituras este ano e, na disputa pela
capital, o candidato tucano, Otávio Leite, amargou um constrangedor quarto
lugar, com apenas 2,47% dos votos.
A situação do PSDB no Rio é tão frágil que caciques da legenda só enxergam duas
saídas: a refundação do partido no estado ou o apoio à criação de uma nova
sigla, nos moldes do trabalho feito em favor da criação do PSD em vários
estados, mas com a mira apontada para o eleitorado fluminense. A nova
agremiação teria a função de ajudar a ancorar o PSDB em futuras alianças e, no
médio prazo, se aglutinar aos tucanos, servindo de caminho das novas lideranças
do estado em direção ao PSDB.
“O fundamental é encontrar um novo caminho para o partido no Rio. A manutenção
da situação atual terá um alto custo para o PSDB em 2014, admite um tucano de
expressiva plumagem.
PT coadjuvante
O PT vive uma situação um pouco melhor no estado do Rio, com 10 prefeitos
eleitos este ano, cinco deputados federais e um senador — Lindbergh Farias, o
nome mais forte da legenda no Rio, mas ainda não testado nas urnas contra um
possível adversário do PMDB. “Se o PT não estiver em uma aliança com a gente,
ele é o nome. Mas tem que ver que todas as eleições que ele disputou até agora
— para a prefeitura de Nova Iguaçu (RJ) e para o Senado — ele teve ajuda, foi o
candidato do Cabral”, provoca o deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ). “Uma
candidatura ao governo do estado seria o primeiro teste de Lindbergh contra o
poder de fogo do PMDB carioca”.
Interlocutor próximo da presidente Dilma Rousseff, Sérgio Cabral já avisou a
ela sua intenção de se afastar do governo do Rio em 2013 para dar ao
vice-governador, Luiz Fernando Pezão, a chance de ganhar corpo e se capitalizar
para a disputa sucessória no ano seguinte. Nesse meio tempo, Eduardo Paes age
como o escalado de Cabral para ampliar as fronteiras do PMDB fluminense em
direção ao Palácio do Planalto. “Não podemos nos esquecer de que temos um
governador que se tornou modelo para a segurança pública e que, no momento
certo, terá condição de disputar qualquer cargo a nível nacional”, diz
Picciani.
Fonte: Correio Braziliense
Escala municipal para o Planalto
Segundo turno em 17 capitais estaduais fecha o primeiro tempo das disputas
que realmente interessam aos principais partidos do país: as sucessões de
governadores e da presidente Dilma Rousseff daqui a dois anos
Paulo de Tarso Lyra
O segundo turno das eleições, marcado para o próximo domingo, traz disputas
em 17 das 26 capitais do país e coloca na mesa os planos e as estratégias dos
principais partidos brasileiros. O PT quer vencer a chamada joia da coroa — São
Paulo —, manter a hegemonia no Nordeste, freando o crescimento do PSB de
Eduardo Campos, e virar a página do julgamento do mensalão no Supremo Tribunal
Federal (STF). O PSDB luta para voltar à capital paulista, receoso de que a
derrota custe o Palácio dos Bandeirantes em 2014. Mas crescer no Nordeste não
foi ruim para a legenda, que planeja uma “despaulistização” do partido,
solidificando a candidatura de Aécio Neves para a Presidência em 2014.
Não há como escapar do peso da disputa paulistana para redesenhar o mapa
eleitoral. Após a abertura das urnas no primeiro turno, o resultado equilibrado
na distribuição dos votos tornou ainda mais fundamental a definição da eleição
paulistana. “Como ninguém ganhou de forma avassaladora, não é possível contar
vantagem sem saber quem será o futuro prefeito de São Paulo”, resumiu ao
Correio um assessor governista.
O peso de administrar a maior cidade do país movimentou as cúpulas partidárias
de PT e PSDB. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva “inventou” a
candidatura de Fernando Haddad e conseguiu, com o auxílio da presidente Dilma
Rousseff, levar um candidato que patinava em 3% das intenções de voto para o
patamar de 49% a uma semana da eleição em segundo turno.
Para Lula, eleger Haddad significaria ainda outra vitória. Ele poderia apagar o
desgosto de ver seus antigos aliados na máquina petista — José Dirceu, José
Genoíno e Delúbio Soares — condenados por corrupção ativa e, possivelmente, por
formação de quadrilha, no julgamento do mensalão.
Em entrevista recente ao jornal Clarín, da Argentina, Lula disse que “a
resposta dos eleitores ao mensalão foi dada em 2010”, quando ele deixou o
Palácio do Planalto com 87% de aprovação e elegeu como sucessora Dilma
Rousseff. Mas, na reunião do Diretório Nacional do PT, há quase duas semanas, o
próprio José Dirceu pediu para que seus correligionários esquecessem o mensalão
e se concentrassem na eleição de Haddad para a prefeitura de São Paulo.
O PSDB enfrenta um dilema na disputa paulistana. Com a possibilidade de vitória
cada vez mais distante, José Serra pode estar despedindo-se da vida política
aos 70 anos de idade. A escolha de um candidato com índices estratosféricos de
rejeição expôs um partido que ainda se mantinha refém de velhas lideranças.
Perder a capital tornará mais frágil a situação do governador, Geraldo Alckmin,
na batalha pela reeleição em 2014. Principalmente porque o PT disputa ainda
cidades estratégicas no segundo turno no ABC paulista, buscando sufocar a
hegemonia tucana, no poder estadual desde 1994.
Mas, diante de um quadro difuso da política brasileira, nem toda vitória é
completa, assim como nem toda derrota pode ser considerada definitiva. A
proximidade de um possível réquiem de Serra já fez com que Aécio Neves se
reunisse com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para inverter o eixo de
poder no partido. O PSDB foi bem em Pernambuco, lidera a disputa em Teresina,
em Manaus e está no segundo turno em João Pessoa e em Vitória. “O PT está
crescendo apenas nos grotões. Perdeu o contato com a classe média”, declarou o
presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra (PE).
O PT, contudo, virou o jogo no Nordeste. Há duas semanas, os prognósticos eram
pessimistas. A uma semana do segundo turno, o partido disputa palmo a palmo a
eleição em Fortaleza, em Salvador e lidera com relativa folga em João Pessoa,
mas afundou com o clã Sarney em São Luís.
O resultado foi importante para diminuir o entusiasmo do governador de
Pernambuco, Eduardo Campos. Ele elegeu, em primeiro turno, o prefeito do
Recife, Geraldo Júlio, candidato tão “inventado” por ele quanto Haddad por
Lula. O PSB também está no segundo turno em Fortaleza e venceu no primeiro
turno em Belo Horizonte. A maior derrota foi a tentativa de reeleição de
Luciano Ducci como prefeito de Curitiba. “Um candidato ruim”, resumiu ao
Correio um dirigente pessebista.
Nas análises palacianas, contudo, Eduardo Campos tem mérito completo somente na
eleição de Geraldo Júlio. Nos demais resultados, a paternidade é questionável.
“Existe o PSB do Eduardo, o PSB de Ciro e Cid Gomes (Fortaleza) e o PSB
sublegenda do PSDB (Curitiba e Belo Horizonte)”, definiu, maldosamente, um
aliado da presidente Dilma.
Até mesmo o PMDB resolveu botar as asinhas de fora. O vice-presidente da
República, Michel Temer, correu para garantir o apoio de Gabriel Chalita a
Haddad na eleição paulistana. Assegurou mais quatro anos no Planalto se Dilma
Rousseff for reeleita em 2014. A reeleição de Eduardo Paes, no Rio, contudo,
colocou o PMDB fluminense como sombra do PMDB de Temer nas negociações futuras.
Fonte: Correio Braziliense
PT já lidera em 3 capitais; PSDB, em 1
A uma semana das
eleições, o PT lidera em três das 13 capitais onde haverá segundo turno, entre
elas São Paulo, e está em empate técnico com o PSB em uma, Fortaleza. O PSDB
lidera em uma capital, Manaus
PT e PSDB polarizam
disputa de 2º turno
Petistas lideram em três capitais e brigam voto a voto em quatro; tucano
está à frente em Manaus
Isabel Braga, Paulo Celso Pereira
BRASÍLIA - A uma semana da eleição, os dois principais institutos de
pesquisa do país já divulgaram levantamentos sobre a disputa em 27 das 50
cidades em que há segundo turno, sendo 13 delas capitais. O PT saiu na frente e
lidera em cinco das cidades pesquisadas, três delas capitais - São Paulo, João
Pessoa e Rio Branco - e disputa voto a voto com o PSB a dianteira em Fortaleza.
Principal adversário dos petistas, o PSDB está também à frente em cinco das cidades
pesquisadas, mas apenas uma é capital, Manaus. Os tucanos, no entanto,
asseguram que estão à frente também em Belém e Teresina, que ainda não tiveram
sondagens divulgadas por esses dois institutos.
Se a comparação do resultado do primeiro turno deste ano com as eleições de
2008 demonstraram um fracasso eleitoral retumbante para o PT - com a eleição
apenas do prefeito de Goiânia (GO) - agora o cenário deverá ser, no mínimo, de
alento. A tendência, segundo as pesquisas, é francamente favorável a que o ex-ministro
da Educação Fernando Haddad se eleja em São Paulo e Otacílio Cartaxo chegue à
vitória em João Pessoa, na Paraíba. Nas outras quatro disputas de capitais, a
briga está acirrada: em Cuiabá e em Fortaleza, contra candidatos do PSB; em
Salvador, contra o DEM; e em Rio Branco, com o PSDB.
Em Fortaleza, Roberto Cláudio (PSB) e o petista Elmano de Freitas aparecem
tecnicamente empatados. O mesmo acontece no Acre, com Marcos Alexandre (PT) e
Tião Bocalom (PSDB). A pesquisa Ibope em Salvador, divulgada sexta-feira,
aponta o líder do DEM na Câmara, ACM Neto, com 47% das intenções de voto e
Nelson Pelegrino (PT) com 39%. Em Cuiabá, apesar da aposta do PT no crescimento
de Lúdio Cabral, o Ibope mostrou o candidato do PSB, Mauro Mendes à frente, com
48% das intenções de voto, contra 43% .
No universo de 34 cidades com mais de 200 mil eleitores, excluindo as 17
capitais, o PT admite dificuldades naquelas que disputa na região Sul e em
Minas Gerais, com exceção de Montes Claros. Os petistas apostam, no entanto, em
bom resultado nas 21 cidades do restante do país em que disputam neste segundo
turno, incluindo as capitais.
- A avaliação dos cientistas políticos é que teríamos só Goiânia, que o PT
só cresceria no grotões. O PT obteve 17 milhões de votos, é verdade que fomos
para as pequenas cidades, mas não perdemos a competitividade nas grandes
cidades - afirma o secretário-geral da Mobilização do partido, Paulo Frateschi:
- Quem apostou na nacionalização do discurso e no conservadorismo, se deu mal.
Superamos, em 2010, o discurso conservador, de quem quer colocar religião no
debate. E estamos superando de novo. Dá para concluir que nem os evangélicos
são tão conservadores como eles achavam.
Os tucanos disputam o segundo turno em oito capitais e nove outras cidades.
Pelos cálculos de integrantes do partido, seus candidatos lideram em três
capitais e cinco outras cidades. Os tucanos comemoram o bom desempenho em
capitais e cidades do Norte e Nordeste, citando a chance de vitória em Belém
(PA), Manaus (AM), Campina Grande (PB) e Teresina (PI) e em duas cidades da
região Sul: Blumenau (SC) e Pelotas (RS).
- No Sul do país, as duas cidades em que lideramos mostram a renovação de
quadros do PSDB. E no Norte e Nordeste, nosso ponto fraco, estamos vendo o PSDB
florescer. Temos quadros bem avaliados com chances reais de ganhar a eleição.
Há um novo caminho para a gente, já é uma preliminar para 2014 - disse o
secretário-geral do PSDB, deputado Rodrigo de Castro (MG).
No estado de São Paulo, onde já elegeram no primeiro turno 176 prefeitos, os
tucanos disputam em sete cidades, incluindo a capital, onde José Serra está
atrás do petista Fernando Haddad nas pesquisas. Segundo as últimas pesquisas
divulgadas, o PSDB lidera com folga em duas cidades (Franca e Taubaté), estão
em empate técnico em Sorocaba, mas com muita dificuldade em Ribeirão Preto,
Jundiaí e Guarulhos, além da capital paulista.
PT e PSDB lideram a corrida no segundo turno, mas outros partidos da base
governista também estão na disputa, com o PMDB liderando em quatro das cidades
que tiveram pesquisas, sendo apenas em uma capital, Florianópolis.
Fonte: O Globo
Campanha dura para PMDB em duas capitais
BRASÍLIA - No primeiro turno das eleições municipais, o PMDB conseguiu
manter a marca de partido municipalista - elegendo o maior número de prefeitos,
1.020 -, mas enfrenta uma disputa dura neste segundo turno, especialmente nas
capitais. Apesar de liderar a pesquisa em Florianópolis (SC), com Gean
Loureiro, em Campo Grande (MS) o deputado Edson Girotto está 33 pontos
percentuais atrás de Alcides Bernal, do PP, segundo o Ibope. E em Natal, no Rio
Grande do Norte, a última pesquisa mostrou o candidato Hermano Moraes 14 pontos
percentuais atrás de Carlos Eduardo, do PDT.
Para o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), a campanha é dura
em Natal, mas é possível reverter o quadro até a eleição - o favorito Carlos
Eduardo, do PDT, é seu primo, mas eles são adversários.
No segundo turno, além das três capitais, o PMDB disputa em 12 cidades, três
delas no estado do Rio. Em outras três cidades nas quais saíram pesquisas, os
peemedebistas lideram. Em Minas Gerais, por exemplo, Bruno Siqueira tem ampla
vantagem sobre a adversária do PT, Margarida Salomão, na disputa pelo comando
de Juiz de Fora. Os peemedebistas também acreditam que serão vitoriosos e
conseguirão reeleger a atual prefeita de Guarujá (SP), Maria Antonieta de
Brito.
PSD na disputa em cinco cidades
O novato PSD, legenda criada por Gilberto Kassab, disputa em cinco cidades,
entre elas Florianópolis. De acordo com pesquisas divulgadas, embora esteja em
segundo lugar na capital catarinense, o PSD lidera em cidades importantes, como
Ribeirão Preto (SP), com a candidatura à reeleição da atual prefeita Dárcy
Veras; e em Joinville, com o deputado estadual Kennedy Nunes, que ganhou o apoio
do PT neste segundo turno.
No Nordeste, além das seis capitais, a disputa em segundo turno acontece em
duas cidades com mais de 200 mil eleitores: Campina Grande (PB), onde as
pesquisas apontam vitória do tucano Romero Rodrigues, primo do senador Cássio
Cunha Lima (PSDB); e em Vitória da Conquista, na Bahia, onde a disputa entre PT
e PMDB está acirrada.
O PDT disputa a eleição em oito cidades, sendo três capitais, das quais
lidera as pesquisas em duas. Uma delas é com o neo-pedetista e ex-tucano
Gustavo Fruet, que surpreendeu e foi para o segundo turno quando as pesquisas
apontavam a ida do atual prefeito, Luciano Ducci, que liderava.
O PSB disputa em sete cidades, sendo três capitais, com chances em duas
delas: Cuiabá e Fortaleza. O pequeno PSOL disputa a prefeitura de duas
capitais: Belém e Macapá. O PCdoB está na corrida em quatro cidades, entre elas
a capital Manaus, onde Vanessa Grazziotin deve ser derrotada pelo tucano Arthur
Virgílio, segundo as pesquisas.
Outro partido que viu sua bancada no Congresso ser reduzida nos últimos
anos, o PPS tem chances reais de vencer na capital do Espírito Santo, Vitória,
segundo as pesquisas, com o candidato Luciano Rezende contra o ex-favorito Luiz
Paulo Velloso Lucas. O PPS também disputa com o PT em Ponta Grossa, no Paraná.
Nas capitais, o DEM está liderando apenas em Salvador, onde enfrenta o forte
aparato das máquinas federal e estadual - o governador Jaques Wagner, a
presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula estão reforçando com presença
física e muitas promessas o palanque do petista Nelson Pelegrino.
Fonte: O Globo
Herdeiro do carlismo avança em Salvador
ACM Neto tenta equilibrar benefícios e desvantagens da "marca"
Antônio Carlos Magalhães, senador morto em 2006
Ao mesmo tempo que busca rejuvenescer o DEM no Estado e acena para liberais,
candidato cita avô cada vez mais
Nelson Barros Neto
SALVADOR - "Vocês verão a volta triunfal do carlismo na Bahia. O carlismo
é uma legenda que não se apaga, queiram ou não os cronistas políticos",
disse o senador Antonio Carlos Magalhães em 2006, um ano antes de morrer, após
sofrer sua maior derrota: a perda de uma hegemonia de quase duas décadas no
governo do Estado.
A mais concreta chance de retomada se dá agora, seis anos depois, com o
herdeiro ACM Neto (DEM), que disputa com Nelson Pelegrino (PT) o segundo turno
em Salvador.
Para o governador Jaques Wagner (PT), cuja vitória provocou o discurso de
Magalhães, ainda não há uma figura capaz de "reaglutinar" essa
corrente política na Bahia.
"Mas, se o neto ganhar, óbvio que vai se tornar uma liderança
aqui", afirma.
Apesar disso -e do discurso do avô-, ACM Neto diz não representar nem mesmo
uma maneira "repaginada" ou mesmo "nova" do carlismo.
"Esses rótulos que a imprensa dá são todos inadequados. Todo mundo sabe
do orgulho enorme que tenho do senador Antonio Carlos. Agora, não há que se
falar em reedição do que quer que seja."
Aos 33, ele vem adotando apenas o nome "Neto" em parte de suas
peças publicitárias, trocou antigos aliados do DEM por rostos jovens do partido
e acena para alianças como a com o PV, de sua vice, e com o PMDB do ex-ministro
Geddel Vieira Lima, que "todos sabiam que tinha diferenças públicas"
com seu avô.
Rival na disputa, Pelegrino diz que a fuga do "carlismo" é pautada
por pesquisas.
"Mas eu diria que ele corresponde ao que há de pior no grupo do avô,
com opressão, mentiras e cooptação de pessoas", afirma o petista.
Porém, ao mesmo tempo em que lembra que ex-carlistas como César Borges e
Otto Alencar hoje são aliados do PT, ACM Neto passou a citar cada vez mais o
avô "e seu amor incondicional pela Bahia".
No maior evento da campanha até aqui, um comício em setembro com o senador
Aécio Neves (PSDB-MG), se emocionou ao falar de ACM -a quem recorre ao prometer
ampliar o Bolsa Família na cidade.
"O PT solta boatos na periferia de que vou acabar com o programa, mas a
origem dele remete ao Fundo de Combate à Pobreza, de ACM", diz.
Para o professor Paulo Fábio Dantas, da Universidade Federal da Bahia, ACM
Neto tenta se equilibrar entre o ônus e o bônus dessa corrente.
"É ainda recente a memória social sobre o lado autocrático e
oligárquico dessa tradição. Por outro lado, também se mantém a imagem
carismática e de espécie de déspota eficaz do avô", afirma.
O cientista político Joviniano Neto diz ser impossível uma desvinculação.
"Parte da força dele vem da marca ACM."
Pela última pesquisa Ibope ele tem 47% das intenções de votos ante 39% do
petista.
Fonte: Folha de S. Paulo
Atrás da escrita de ponta de um mestre
Graciliano (retradado por Candido Portinari) |
'Garranchos',
coletânea de textos nunca publicados em livro, e a nova edição de 'O Velho
Graça', de Dênis de Moraes, iluminam o percurso estilístico e a vida do
alagoano Graciliano Ramos (1892-1953)
A
comemoração dos 120 anos de nascimento do escritor alagoano Graciliano Ramos
(1892-1953), no dia 27 deste mês, começa na próxima semana com dois lançamentos
de livros e um seminário em São Paulo, Belo Horizonte e no Recife, patrocinado
pela Editora Record, que publica suas obras. Homenageado principal da Festa
Literária Internacional de Paraty (Flip) de 2013, que ainda não fechou a
programação dedicada ao autor, Graciliano é lembrado pela Record com 81 textos
inéditos em livro no volume Garranchos, que será lançado dia 23, no Masp, na
abertura do seminário promovido pela Record (leia programação nesta página).
Simultaneamente, a editora Boitempo coloca nas livrarias a nova versão (com
acréscimos) da biografia O Velho Graça, originalmente publicada há 20 anos pelo
professor de literatura Dênis de Moraes. Como bônus, o livro traz uma rara
entrevista do escritor ao jornalista Newton Rodrigues, publicada uma única vez,
em 1944, na extinta revista carioca Renovação, e reproduzida com exclusividade
pelo Sabático (veja trecho na página ao lado e a íntegra no site do jornal).
Graciliano era avesso a entrevistas. Em pleno Estado Novo, Newton Rodrigues
(1919-2005), que foi colunista do Estado entre 1991 e 1994, conseguiu dele
declarações surpreendentes. Usando o pseudônimo Ernesto Luiz Maia, Rodrigues
começou sua carreira jornalística com uma conversa franca, no momento em que
Graciliano trabalhava no manuscrito de Infância, publicado em 1945. Como membro
do Partido Comunista do Brasil (depois Brasileiro), Rodrigues queria saber do
escritor a razão da "falta de penetração de autores sérios na massa".
Graciliano, que se filiou ao Partidão um ano depois, respondeu: "A massa é
'muito nebulosa'". E os escritores, segundo o velho Graça, não constituem
uma classe, como sugeriu o entrevistador. "Eles estão numa classe, que não
é, evidentemente, a operária." Consequentemente, conclui o escritor, os
autores seriam incapazes de saber o que a massa quer ler - e, na época, eram os
folhetins, antes que as novelas da televisão viessem a ocupar o imaginário
popular.
Ele volta a falar da "massa" no inédito Garranchos, organizado por
Thiago Mio Salla, doutor em Comunicação Social pela USP e autor de uma tese
sobre Graciliano. Entre os textos do livro, o jornalista selecionou uma
palestra sobre o tema, feita em 1947. Nela, o escritor, então já filiado ao
PCB, define o livro como um "objeto mais ou menos inútil à massa".
Literatura ao alcance do povão? O livro "está perto, à mão, na
vitrine", diz ele. "Agora esperemos que o homem do povo se
mexa." E pague pelo livro, pois os escritores, arremata Graciliano,
"não vivem no éter" - e ele fala assim, sem medir palavras, numa
palestra da campanha promovida pelo Partidão para estimular a venda de obras de
orientação comunista.
Em outras ocasiões, o escritor mediu-as com régua em punho, cortando com ela
parágrafos inteiros, não propriamente atrás da "mot juste" - da
palavra exata - de Flaubert, mas do pensamento enxuto, direto. Garranchos, no
entanto, vale menos pelos textos e mais pela sinceridade de Graciliano. Muitos
dos escritos assinados com pseudônimos - antes de Graça usar a régua - não
estão à altura do autor que viria a publicar clássicos da literatura brasileira
(Caetés, São Bernardo, Angústia, Vidas Secas, relançados em box pela Record).
Em contrapartida, o organizador Mio Salla confere a Garranchos o mérito de
permitir ao leitor acompanhar a "evolução estilística" de um autor que,
ao experimentar diversos gêneros (crônica, poesia, conto, ensaio político),
encontrou seu nicho quando abandonou seus pseudônimos. E eram vários, de J.
Calisto a Anastácio Anacleto.
As crônicas mais antigas, dos anos 1910, elegem temas um tanto bizarros, como a
falta de mulheres na Terra do Fogo (em 1915). Os contos são melhores - e um
exemplo disso é O Ladrão, escrito no mesmo ano, quando Graciliano trabalhava
como revisor, no Rio. O conto fala de um homem que, numa noite fria, rouba um
armazém, tropeça na lama e é acossado pela matula selvagem, que lincha o pobre
diabo com a ajuda do sacristão da cidade. O tema do larápio amador, capturado
pela massa, voltaria 20 anos depois numa narrativa mais amarrada e crítica
sobre a suspeita moral da sociedade burguesa (Um Ladrão).
A segunda parte de Garranchos reúne textos produzidos nos anos 1920, quando
Graciliano retoma seu lugar no provinciano O Índio, jornal da alagoana Palmeira
dos Índios, cidade para onde voltou em setembro de 1915, tornando-se, em 1927, o
mais rigoroso e honesto prefeito do município, que governou até renunciar, em
1930. Ele começou a escrever no periódico em 1921, assinando três seções, entre
as quais Garranchos, que dá título ao livro. Já no primeiro
"garrancho", ele pergunta ao leitor se sofre de insônia. Sofre?
"Então não usará melhor narcótico", garante. Mas estava errado. No
sétimo, ele desperta o leitor aos gritos com o relato de um crime real e
monstruoso, o de um garoto de 11 anos que mata a golpes de enxada o coleguinha
de 13. Além de vociferar contra assassinos precoces, faz militância ecológica
pelo plantio de árvores em Palmeira dos Índios e impreca contra o analfabetismo
que assola a cidade.
Os textos começam a melhorar quando Graciliano parte para Maceió, nos anos
1930, e começa a colaborar (com pseudônimo) no Jornal de Alagoas. É lá que
virou grande amigo de José Lins do Rego, promovendo o romance regionalista. Há,
em Garranchos, uma notável provocação ao crítico modernista Prudente de Moraes
Neto (1904-1977). Graciliano escreve que Lins do Rego "não precisa
recorrer ao pitoresco para dar vida às suas criações", espetando os filhos
da Semana de 22.
Não satisfeito, retrocede no tempo e compara o autor de Menino do Engenho a
Machado de Assis, justificando que a obra do amigo tem coesão, enquanto os
livros do último estariam cheios de "enxertos". O escritor implicava
com o bruxo de Cosme Velho. Na biografia O Velho Graça, Dênis de Moraes conta
um episódio incômodo para um autor que se pretendia progressista e livre de
preconceitos. Graça, que "gostava de escandalizar o interlocutor",
segundo o biógrafo, deu ao amigo Aurélio Buarque de Holanda, em dois dias, duas
avaliações opostas de Memórias Póstumas de Brás Cubas. Na primeira, usou o
adjetivo "formidável". Na segunda, disse que era uma
"porcaria", obra de um "negro burro, metido a inglês, a fazer
umas gracinhas chocas".
O que distanciava Graciliano de Machado era principalmente a crença do alagoano
em seu primeiro mandamento literário. Um escritor, dizia, "tem o dever de
refletir sua época e iluminá-la ao mesmo tempo". Machado, acrescentou,
"não foi assim". Mesmo antipatizando com o autor, Graciliano acabou
elegendo Dom Casmurro entre os dez melhores romances brasileiros numa lista
feita para a Revista Acadêmica. Shakespeare, numa outra conversa com Aurélio,
também levou bordoadas, por ter criado Hamlet, "aquele personagem sem
lógica e absurdo". O biógrafo Dênis de Moraes, diante de tantas
provocações, conseguiu resgatar cinco entrevistas esclarecedoras sobre suas opiniões
contraditórias e episódios anedóticos - entre eles o do encontro casual com
Getúlio Vargas, em 1937, na deserta rua Barão do Flamengo. O presidente dava
suas voltas antes de dormir e cumprimentou o escritor com um "boa
noite", para receber de voltar o silêncio de desprezo de quem havia sido
preso como subversivo pelo ditador. "Quem contou foi Antonio Carlos
Villaça", diz Moraes.
Sorte de Getúlio que o velho Graça ficou em silêncio. Poderia ser pior. De
acordo com o biógrafo, "ele costumava soltar palavrões em ocasiões
impróprias". Apesar da boca suja, só saía à rua de terno (tinha 12, todos
parecidos) e gravata, colarinho engomado e sapatos cuidadosamente examinados
com um pano em sua parte interna (talvez pelo trauma de ter caminhado uma
semana com um prego a lhe espetar o calcanhar sem se dar conta). Era uma de
suas manias, além de fumar quatro maços de cigarros por dia e lavar as mãos
mais vezes do que o bilionário Howard Hughes, vítima de misofobia. Talvez o
contato com germes do passado explique a higienização. Nos anos 1940, sem
dinheiro, numa época em que o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda)
recrutava intelectuais para escrever na revista Cultura Política, Graciliano
cedeu ao Estado Novo e trabalhou como revisor da publicação.
O escritor era contra transformar a literatura em instrumento de propaganda
política. Tinha aversão ao romance panfletário e à interferência partidária na
atividade dos literatos. O romance social da geração dos anos 1930 não atingiu
as massas , disse na entrevista a Newton Rodrigues. "Mesmo em seu melhor
livro, Memórias do Cárcere, ele não se coloca como ideólogo ou libertário, mas
como autor de uma obra comprometida com a condição humana", sustenta seu
biógrafo.
A última parte de Garranchos, coletânea de artigos, discursos e manifestos de
Graciliano escritos após sua filiação ao Partido Comunista do Brasil, é uma
prova de sua independência como autor. O organizador do livro chama a atenção
para uma crônica que ele escreveu sobre o líder comunista Luís Carlos Prestes,
em janeiro de 1949, no jornal Classe Operária, na qual o escritor deixa o mito
de lado para tratar do homem. "Resolvi escrever minha tese justamente para
entender como um escritor que havia sido preso pelo regime de Vargas passou a
colaborar com uma revista patrocinada pelo Estado Novo", conta Mio Salla.
Ele descobriu que, apesar do cunho político e partidário de seus discursos, até
neles Graciliano elaborava frases com o cuidado dos relatórios enviados ao
governador de Alagoas, que tanto impressionaram Augusto Schmidt em 1929.
O acadêmico, em suas pesquisas, acabou localizando não só os textos que
Graciliano assinou com pseudônimos como 30 entrevistas suas que pretende editar
no próximo ano, quando serão lembrados os 50 anos da morte do escritor (no dia
20 de março). Elas serão publicadas pela Record, a mesma que agora lança
Garranchos.
Fonte:
Sabático/O Estado de S. Paulo