quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Neoativismo estatal pode comprometer investimento

Reginaldo Nogueira, Eduardo Coutinho

O recente aumento do preço da gasolina reduz o grau de defasagem dos preços praticados pela Petrobras com relação a sua estrutura de custos, mas pode ser insuficiente para reverter sua situação econômico-financeira.

E pode não ser suficiente para auxiliar no financiamento da agenda de investimentos planejada pela empresa para os próximos anos, bem como para garantir uma remuneração aos acionistas condizente com a expectativa para empresas do setor.
No início do ano de 2010, na esteira da recuperação da crise "subprime" americana, a ação preferencial da Petrobras havia alcançado R$ 33,90. Na terça-feira, fechou no pregão da BMF&Bovespa a R$ 19,11, queda de 43,63%.

O aumento do preço da gasolina era esperado desde meados de 2012, quando foi apresentada proposta ao governo. Entretanto, em meio a um persistente aumento do IPCA, o governo pareceu retardá-lo como forma de contornar impactos sobre a inflação, que subiu 5,84%, acima da meta oficial de 4,5%.

Para 2013 as expectativas de inflação, segundo o último relatório Focus do BC, já se encontram em 5,67%, o que torna o aumento dos combustíveis igualmente sensível para o governo.

Esse processo nos remete à experiência brasileira da década de 1980, quando o governo buscava conter a inflação por meio de preços de bens e serviços administrados por empresas estatais.

O resultado foi o sucateamento das estatais, o que comprometeu a capacidade de investimento do país em setores importantes, tais como energia e telefonia.

Outro indício de que o aumento seja mais uma peça do neoativismo estatal brasileiro é o fato de ter sido anunciado apenas depois da redução das tarifas de energia elétrica, tentando neutralizar os efeitos sobre o nível geral de preços da economia.
Reginaldo Nogueira é doutor em economia e coordenador de curso do Ibmec/MG; Eduardo Coutinho é doutor em administração e coordenador de curso do Ibmec/MG.
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Fonte: Folha de S. Paulo

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