sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Dilma cancela viagem a PE e PSB freia pré-campanha

Raymundo Costa e Murillo Camarotto

BRASÍLIA e RECIFE - O PSB não passou recibo, mas abriu-se uma fenda superficial na relação entre a presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff e Eduardo Campos, o governador de Pernambuco e eventual candidato ao mesmo cargo, nas eleições de 2014. Campos, que também preside o PSB, somente ontem de manhã foi oficialmente informado do cancelamento da viagem que Dilma programara fazer na segunda-feira a Pernambuco. Líderes do PSB também reduziram a velocidade que vinha sendo imprimida nos últimos dias a uma candidatura que Campos quer, mas sobre a qual ainda não se decidiu em definitivo.

O cancelamento da viagem foi divulgado na tarde de quarta-feira, 13, no "Blog do Planalto", quase ao mesmo tempo em que o governador anunciava, no Recife, que o gabinete da presidente confirmara a viagem a Serra Talhada, no sertão pernambucano, e que o restante da agenda seria definida até hoje. Ontem de manhã, quando os jornais já traziam a notícia, o gabinete de Dilma informou oficialmente o governador que ela não iria mais.

Motivo: uma fissura - espécie de fenda ligeira - no dedão do pé direito de Dilma. Por recomendação médica, ela precisaria tomar cuidado ao andar e usar uma bota ortopédica. O que não é novidade no histórico médico da presidente. Na campanha de 2010, Dilma perdeu o equilíbrio enquanto fazia esteira, torceu o mesmo pé e passou a usar uma proteção que ela mesma batizou de "bota robô". Ainda assim cumpriu alguns compromissos mais leves de campanha.

A "fissura" foi vista na cúpula do PSB como desculpa esfarrapada, mas o fato é que imediatamente o PSB desacelerou o movimento pela candidatura Eduardo Campos. O líder no Senado, Rodrigo Rollemberg (DF) subiu a tribuna para "registrar" que a responsabilidade do PSB é "contribuir para atravessar de forma adequada este ano difícil e para estarmos todos unidos para que o Brasil possa sair maior ao terminar 2013".

Sob os aplausos do PSDB e do PP, Rollemberg disse que "o debate [sucessório] será feito no momento adequado. Temos uma agenda de interesse do país que precisa ser enfrentada coletivamente e a antecipação do debate eleitoral não contribui para a apreciação dessa agenda. E no que depender de nós do PSB esse debate não será antecipado".

Trata-se de um recuo em relação às afirmações do líder na Câmara, Beto Albuquerque (RS), semana passada. Beto não só lançou a candidatura, como até anunciou a data do desembarque do partido no governo: outubro. Segundo o Valor apurou, Beto não inventou nada, mas o cenário que apresentou a jornalistas era apenas um entre vários outros analisados em reunião da Executiva Nacional. O discurso de Rollemberg estaria mais próximo do que foi a conversa entre Campos e Dilma sobre eventual disputa entre os dois em 2014.

A pressão de parlamentares e líderes do PSB pela candidatura própria ao Palácio do Planalto cresceu muito após o bom resultado obtido nas eleições municipais do ano passado. Os sinais pouco otimistas de uma recuperação econômica consistente em 2013 reforçaram os pedidos para que Eduardo Campos ponha logo o bloco na rua e assuma a condição de presidenciável.

Campos trabalha para ser candidato, mas engana-se quem acredita em uma decisão próxima, como anunciou Beto Albuquerque. A estratégia definida na cúpula é projetar nacionalmente o nome de Campos, para consolidar o nome do governador no debate sucessório.

Apesar do que dizem alguns de seus aliados e o próprio Campos, o governador vê com bons olhos uma eventual candidatura a vice de Dilma. Segundo apurou o Valor, Campos avalia que a Vice-Presidência pode ser um caminho interessante para chegar ao comando do país quatro anos mais tarde. Segundo pessoas próximas ao governador, a candidatura a vice não teria que ser, necessariamente, acompanhada de um compromisso para que Campos encabece a chapa em 2018. "Na condição de vice, ele trabalharia neste sentido", disse uma fonte.

Esse é um dos cenários analisados no PSB. O outro é que, mesmo perdendo a eleição para Dilma, pode apoiá-la no segundo turno e depois assumir um ministério já com um nome nacionalmente estabelecido. O exemplo mais lembrado é o de Ciro Gomes, que em 2005 foi cogitado para a sucessão de Luiz Inácio Lula da Silva, caso o presidente não se recuperasse do escândalo do mensalão.

Apesar de considerar a possibilidade de ser candidato a vice, Campos desconfia da capacidade de o PT deslocar Michel Temer do posto, mesmo com uma eventual promessa de entregar ao PMDB a cabeça de chapa na próxima eleição para governador de São Paulo.

Uma conversa entre Campos e Lula está prevista, mas ainda não tem data marcada. Mas é improvável que este encontro seja conclusivo. Em paralelo às negociações, Campos percorrerá o país para aumentar seu cacife. A primeira parada é o Rio Grande do Sul, que tem no gaúcho Beto Albuquerque um dos defensores mais ferrenhos da candidatura própria. O Estado também é terra do empresário Jorge Gerdau, que ajudou a elaborar o sistema de gestão de Pernambuco e que não se cansa de elogiar Campos. O governador falará a 5 mil empresários gaúchos em abril.

"Se dependesse do pessoal do PSB no Rio Grande do Sul, montávamos o comitê amanhã", disse uma fonte próxima do governador de Pernambuco.

Fonte: Valor Econômico

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