quarta-feira, 24 de abril de 2013

Agora, dizem que não há campanha

Paulo de Tarso Lyra

A antecipação do processo eleitoral presidencial gerou uma situação curiosa no país: todos se aproveitam do momento, mas ninguém admite que está em plena campanha ao Palácio do Planalto. A presidente Dilma Rousseff acelera o lançamento de programas; a ex-senadora Marina Silva corre para oficializar a Rede Sustentabilidade antes de outubro; o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), reúne-se com empresários de todo o país; e o senador Aécio Neves (MG) lança-se candidato à presidência do PSDB para unificar o apoio da militância tucana ao seu nome.

O jogo de empurra também acontece na troca de acusações sobre quem antecipou o processo eleitoral. “Quem antecipou foi o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao lançar a presidente Dilma candidata à reeleição”, acusou o senador Aécio Neves. “Pouco depois, a própria presidente disse que, durante as eleições, pode-se fazer o diabo. A impressão que temos é que o diabo já está solto no Brasil”, ironizou o tucano.

Aécio tem participado de seminários organizados pelo PSDB para criticar a política econômica e as regras de distribuição de cargos do governo federal. No próximo dia 19, será aclamado presidente da legenda, passo considerado essencial, na visão de correligionários experientes, para unificar a militância em torno da candidatura presidencial no ano que vem.

A presidente Dilma Rousseff também finge que não é com ela quando questionada sobre a antecipação da campanha presidencial. Em fevereiro, durante comemoração dos 23 anos do PT, Lula disse que a melhor resposta a ser dada para os críticos do governo era “reeleger a companheira Dilma em 2014”.

Ontem, após cerimônia no Palácio do Planalto para anunciar um pacote destinado ao setor sucroalcooleiro — em última instância, uma tentativa de reduzir o preço do etanol —, Dilma jurou que não está em campanha. “Sabe por que eu não estou em campanha? Porque eu tenho obrigação durante 24 horas por dia de dirigir o Brasil. E quero te dizer o seguinte: é impossível, impossível, qualquer desvio dessa rota”, alegou.

Dilma acrescentou que seja, talvez, a única pessoa sem “interesse nenhum” em discutir o processo eleitoral na metade do próprio governo. Interlocutores da presidente afirmam que ela está correta, pois, ao discutir a eleição do ano que vem, perde legitimidade para apresentar propostas sem que estas sejam contaminadas pela disputa política. Adversários políticos pensam o contrário. “O PT antecipou o debate para intensificar a divisão de cargos e estancar eventuais defecções na base aliada”, disse um prefeito filiado a um partido oposicionista.

No momento certo

Líder do PSB no Senado, Rodrigo Rollemberg (DF) subiu ontem na tribuna da Casa para responder aos irmãos Gomes — Cid, governador do Ceará, e Ciro, ex-ministro da Integração Nacional —, que cobram uma posição explícita do partido sobre a candidatura presidencial de Eduardo Campos. Na segunda, Cid reuniu, como antecipou o Correio, a Executiva Estadual e aprovou um ofício exigindo que a direção nacional da legenda discuta o tema.

Rollemberg assegurou que o PSB tratará do assunto no momento certo. “Até porque nenhum partido lançou candidato. Dizem que a Dilma é candidata, mas parte do PT defende a candidatura do ex-presidente Lula. Aécio não se lançou candidato ainda e muitos dizem que o Serra (o ex-governador José Serra) poderá disputar a Presidência em outro partido”, justificou Rollemberg.

Ex-senadora e com um recall de quase 20 milhões de votos nas eleições presidenciais de 2010, quando disputou o Planalto pelo PV, Marina Silva afirmou ontem, após reunião com senadores dissidentes do PMDB e outros representantes da oposição, que, “para alguns, é fundamental a criação de ruídos eleitorais para afastar os debates programáticos e iniciar os acordos para distribuição de cargos”.

Para Marina, esse comportamento é típico de quem está acostumado com projetos de poder. “Acabamos de sair de uma eleição municipal. Mas alguns partidos têm crise de abstinência quando estão distantes de disputas eleitorais”, afirmou.

Colaborou Karla Correia

Convite a Afif

A presidente Dilma Rousseff deve aproveitar a posse na Associação Comercial de São Paulo, no início de maio, para convidar o vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif Domingos, para assumir o Ministério da Micro e Pequena Empresa. Apesar de ser considerado um convite pessoal da presidente, a nomeação poderá ajudar o PSD a coligar-se formalmente a Dilma no ano que vem. Até agora, dos nove diretórios estaduais consultados, todos defenderam o apoio à reeleição da presidente em 2014.

Movimentos eleitorais

Confira os passos dos presidenciáveis com toda pinta de uma campanha antecipada

Dilma Rousseff

» Participa de seminários do PT nos quais critica a oposição
» Veste chapéu de couro em eventos no Nordeste
» Utiliza com frequência o horário eleitoral gratuito para anunciar medidas bem-vistas pela população, como a redução nos impostos da cesta básica ou a diminuição no valor da conta de luz
» Intensifica o contato com prefeitos, distribuindo recursos e desburocratizando convênios para acelerar obras

Aécio Neves

» Lança-se presidente do PSDB a fim de unificar a legenda em torno de seu nome
» Participa de eventos partidários em diversos estados para ampliar a abrangência de sua candidatura
» Torna-se porta-voz das bandeiras da oposição nas críticas à política econômica do governo
» Assume o discurso do pacto federativo na tentativa de rachar o apoio de governadores e prefeitos ao Planalto

Eduardo Campos

» Contrata uma equipe de marketing e pesquisa para avaliar seus passos
» Aproveita o horário eleitoral gratuito do PSB para apresentar-se como um nome nacional
» Adota um instagram (rede social específica para fotos) com o sugestivo nome eduardocamposbr
» Viaja o país conversando com empresários e políticos de diversas tendências na busca por ampliar o leque de apoio para a própria candidatura

Marina Silva

» Cria uma legenda e corre para viabilizá-la a tempo de concorrer às eleições de outubro
» Adota um discurso de “oposição às práticas políticas atuais” em consonância com o pensamento de parte da classe média
» Conversa com representantes de diversos partidos em busca de filiar “puxadores de votos” nos estados
» Faz eventos em locais populares e populosos para recolher assinaturas para a Rede Sustentabilidade e, ao mesmo tempo, medir seu grau de recall perante a população

Fonte: Correio Braziliense

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