domingo, 7 de abril de 2013

Entrevista: Dilma é leniente com a inflação, afirma Aécio

Valdo Cruz, Natuza Nery

SÃO PAULO - Em entrevista à Folha na qual se posiciona com clareza como candidato à Presidência da República, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) atacou a política macroeconômica de Dilma Rousseff e acusou a presidente de ser "leniente" com a inflação e de querer "até controlar o lucro de empresários".

O tucano criticou a falta de autonomia do Banco Central para evitar alta nos preços e disse que o PSDB tem "tolerância zero" com a inflação.

"Quando o dragão começa a colocar a cabeça para fora, sabemos que é difícil colocá-lo na caixa de novo", diz.

A partir de conversas com o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, seu principal conselheiro na área econômica, o senador promete, num futuro governo tucano, fazer o país crescer pelo menos de 4% a 5% ao ano.

Em meio a criticas aos adversários, o senador Aécio Neves faz uma autocrítica, na entrevista à Folha, sobre o desempenho dos tucanos na últimas três eleições presidenciais, quando foram derrotados pelo PT.

"Não por deméritos dos nossos candidatos, mas não conseguimos fazer com que parcela importante do Brasil voltasse a sonhar com um desenvolvimento social mais amplo", diz ele.

O senador reconhece que seu partido perdeu a batalha para os petistas em torno da paternidade dos programas sociais e diz que o PSDB precisa se "renovar na expectativa das pessoas".

"Se tivéssemos feito isso, teríamos ganhado as eleições", avalia o senador, destacando porém que nas últimas campanhas "fomos para o segundo turno, com votações expressivas tanto do Serra como do Alckmin".

Depois de assumir a presidência do PSDB em maio, o senador vai criar um "gabinete paralelo" para, de um lado, monitorar as principais áreas do governo Dilma e, de outro, preparar a plataforma de sua candidatura ao Palácio do Planalto.

Seu "shadow cabinet" começará a funcionar em agosto; definirá seis áreas do governo e designará especialistas para ajudar a contrapor e a propor ideias. Um dos focos é o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), ao qual chama de "falácia".

À Folha, o tucano posicionou-se a favor da união civil entre gays e afirmou que a polêmica em torno do pastor Feliciano (PSC-SP) "já foi longe demais", classificando o congressista como "despreparado".

Para o senador, é uma "lenda urbana", alimentada por seus inimigos, a acusação de ter feito "corpo mole" em seu Estado para a campanha do tucano José Serra à Presidência da República em 2010.

"Ficarei muito satisfeito e tenho certeza de que terei em São Paulo o apoio que ele teve em Minas", disse.

O senador poupa de qualquer reparo o governador Eduardo Campos (PSB-PE), virtual adversário e com perfil político semelhante ao dele, mas mandou um recado cifrado ao, como diz, amigo: "não vou anunciar meus encontros no Twitter ou Facebook". Trata-se de uma referência às movimentações do pernambucano para atrair a simpatia de empresários.

Principal oposição ao PT no país, ele não vê hipótese de um segundo turno em 2014 sem o PSDB, mas reclamou de um debate eleitoral prematuro: "Acho que o fantasma da candidatura do ex-presidente Lula pairava sobre o Planalto com muita consistência, e isso começava a incomodar. Por isso anteciparam".

Segundo Aécio, o efeito colateral disso foi deixar a presidente da República "refém do fisiologismo", "sem autonomia" e dedicada à "saciar o apetite por cargos e verbas da base do governo".

"Alguém pode achar que essa chamada reforma ministerial em curso tem por objetivo melhorar a qualidade do governo? Ela sequer conhece essas pessoas que está colocando lá. Nem no período Sarney houve uma entrega tão grande dos espaços do poder sem qualquer critério."

Aécio não concorda com a fama de "bon-vivant". "Trabalho das 8h da manhã às 22h. Deixaria os bon-vivants decepcionados."

Quando instado a responder críticas de que passa mais tempo no Rio do que em Minas, sua base eleitoral, sorriu e, logo, saiu-se com esta: "Se gostar do Rio for um defeito, é um defeito que a cada dia aumenta um pouco. E gosto de São Paulo também, viu."

A seguir, trechos da entrevista concedida em um hotel em São Paulo na última sexta-feira, onde esteve para mais uma jornada ao lado do governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP).

Folha - Qual sua receita para a economia?

Aécio Neves - Essa política nacional-desenvolvimentista, que acha que o Estado tem de ser o indutor do crescimento econômico, não deu certo. O câmbio flutuante, instrumento importante para suavizar impactos da variação externa de preços, já não existe, é um câmbio quase rígido.

Mas esse "cambio controlado" ajuda a industria exportadora, que o PT acusa o PSDB de praticamente destruir?

O problema da indústria exportadora se dá pelo custo Brasil, da logística inexistente. O Brasil, que já participou com cerca de 2,2% do comércio externo, hoje caiu para 1%. Se continuar assim, teremos 0,7% em dez anos.

Mas vocês não costumam dizer que o PT seguiu a política econômica tucana.

Desde a saída do [Antonio] Palocci, ex-ministro da Fazenda, os pressupostos macroeconômicos vêm se fragilizando. Há uma leniência do governo com a inflação, a presidente Dilma é leniente com a inflação.
No governo do PSDB, tolerância zero com a inflação. O PT nunca foi muito claro com isso, desde que votou contra o Plano Real. Nos dez anos de governo do PT, apenas em três anos o centro da meta foi alcançado. No governo Dilma, não será em nenhum dos anos. Isso é gravíssimo.
A população que recebe hoje dois salários mínimos e meio já tem inflação de alimentos de 14%. Quando o dragão começa a colocar a cabeça para fora, sabemos que é difícil colocá-lo na caixa de novo.

O sr. defende subir os juros para baixar a inflação?

Defendo que o Banco Central tenha total autonomia para fazer o que considerar necessário. Se avaliar que é preciso subir juros para conter a inflação que ele mesmo diz ser preocupante, então tem de subir os juros. O que não pode é haver uma interferência política, uma interferência com viés eleitoral.

Subir juros gera desemprego, como receitam economistas críticos do governo Dilma?

Acho que é possível controlar a inflação sem riscos maiores de desemprego. O Brasil tem gerado empregos, mas de baixa qualidade. A educação é uma herança maldita que o PT deixará e está comprometendo o futuro do crescimento do país.

Mas os indicadores de Minas em educação não são tão diferentes do Brasil.

Não, são melhores. Minas tem hoje no Ideb a melhor educação fundamental do Brasil. Estamos na frente em matemática, em todas as séries pesquisadas. Temos de adequar os currículos à realidade de cada região. Não se pode achar que as expectativas de um jovem do centro de São Paulo sejam as mesmas do que mora no Acre. Vejam, o tempo médio de escolaridade no Brasil é de 7,5 anos. Na Bolívia é de 9, Argentina, 12 anos. Não houve nenhum avanço na educação no governo do PT, continuamos na rabeira do continente.

Mas se acordasse hoje presidente da República e tivesse de tomar uma decisão entre controlar a inflação, mesmo que tivesse de diminuir o emprego, o que faria?

Ninguém vai tomar medida para aumentar o desemprego. É possível ser intolerante com a inflação sem gerar desemprego, garantindo competitividade ao Brasil, fazendo investimentos corretos.

O PT acusa o governo FHC de ser campeão dos juros altos.

São períodos diferentes, enfrentamos crises internacionais seguidas, e a agenda prioritária era o controle da inflação.

O sr. diz que o empresariado reclama da presidente...

A presidente quer controlar até o lucro dos empresários. Eles têm de acompanhar é a qualidade do serviço e o que isso representa de bem estar da população. É natural, no capitalismo, goste ou não dele, que o lucro seja compatível ao risco do investimento.

Mas eles acusam o PSDB de desmontar o Estado e fazer privatizações sem controle, rendendo lucros elevados ao empresariado?

Olha, demoraram quase dez anos para fazer concessões ao setor privado. Fizeram isso lá atrás com uma visão equivocada, que deveriam ter a menor tarifa, no caso das concessões rodoviárias. Tudo bem, belo conceito, mas trágico para o Brasil. Resultado: as obras não foram feitas, os investimentos não foram feitos.

O PT diz que o governo tucano acabou com a capacidade de gerenciamento do Estado...

A lógica deles é criar uma nova estatal, é a quinta neste governo, sabe-se lá para o quê, é mais um ministério ali. Você sabe que, quando o governo FHC terminou, havia no âmbito na Presidência, um dado que mostra um pouco a lógica do PT, 1.200 cargos comissionados. Hoje são mais de 4.000 cargos comissionados. Isso é ilógico, é irracional; é, como diz o empresário Jorge Gerdau, uma burrice muito grande.

A dona de casa viu o governo anunciar luz mais barata e o sr. defender a Cemig. Não ficou do lado errado?

Não, nós também defendemos a diminuição das tarifas. Propusemos uma redução até maior, mais 6%, com diminuição do PIS/Cofins nas contas de luz. O governo do PT, com um populismo enorme, fez disso uma moeda eleitoral. Dilma fez uma intervenção no setor e viu que foi equivocada. Hoje, todas as distribuidoras [de energia] estão pedindo financiamentos ao governo e vão receber dinheiro do Tesouro, o dinheiro da dona Maria, que tinha de ir para saúde, educação.

O sr. criticou a situação fiscal no governo...

Estão gerando uma bomba H, e não vejo ninguém com autoridade no governo para desarmar essa bomba. O governo estimulou o crescimento na base da expansão do crédito, pelo lado da demanda, mas 60% das famílias estão endividadas, 25% com contas atrasadas. Conversei com economistas brasileiros e estrangeiros, na presença do presidente FHC. Eles falam que hoje a crise está sendo superada, na Europa com mais lentidão, Estados Unidos já estão se recuperando. Mas o Brasil não é mais a bola vez, não é mais o queridinho do mundo. Os olhos do mundo voltados para o Brasil são de enorme desconfiança. Então, temos uma propaganda avassaladora em que conseguem o disparate de apresentar a Petrobras, que vive a maior crise da sua história, como a mais exitosa da história. A troca do sistema de concessões pelo de partilha se mostrou um equívoco. O sistema de concessões é muito mais acertado.

Não teme ser acusado de fazer uma política contra Petrobras?

Ao contrário, o momento em que a Petrobras atraiu mais investimento privado foi sob FHC. A Colômbia copiou o modelo de concessão do Brasil e passou a Petrobras em valores de mercado hoje. A política de subsídio de preços, como foi feita, assassinou o setor de etanol. Hoje estamos importando etanol dos Estados Unidos. O Brasil hoje é o Brasil da insegurança, do improviso, isenções e desonerações para determinados setores. Você abre o jornal de cada dia para saber quem são os beneficiados do dia, isso não é política macroeconômica responsável.

Quanto acha que a economia no governo tucano pode crescer?

Eu vou ousar aqui, repetindo o que disse outro dia o ex-presidente do BC Armínio Fraga, no governo do PSDB, com as medidas que deveriam ser tomadas rapidamente, o Brasil pode crescer acima de 4%, 5% de forma sustentada.

O sr. fala como candidato, age como candidato, assume um tom na entrevista de candidato, mas ainda não diz oficialmente que é candidato.

(Risos) O PSDB terá candidato, não tem direito de negar ao país um projeto alternativo a este que está aí, que tem levado o Brasil tanto do ponto de vista econômico quanto social a uma extrema preocupação. Mas não vamos nos antecipar em função da agenda de outros. Houve uma antecipação da agenda eleitoral por parte da presidente da República.

Por quê?

Acho que o fantasma da candidatura do ex-presidente Lula pairava em torno do Palácio do Planalto com muita consistência, e isso começava a incomodar. A antecipação ampliou muito as expectativas da base aliada por espaço no governo, que já era muito grande e hoje é quase que incontornável. Hoje o governo se move para atender e saciar o apetite por cargos e verbas da base do governo. A lógica é a da reeleição e não tem espaço para qualquer discussão de interesse real do país.

Essa não é uma lógica de todos os governos?

Não de forma tão prematura quanto agora. A base diz assim: ora, se a presidente já está em campanha, queremos saber qual é nosso espaço neste latifúndio de poder. Com isso, ela nos dá liberdade de caracterizar todas as ações dela como eleitorais. Alguém pode achar que essa chamada reforma ministerial em curso tem por objetivo melhorar a qualidade do governo? Claro que não, ela sequer conhece essas pessoas que está colocando lá! Ela busca é acrescentar alguns segundos a mais na propaganda eleitoral. Mas então o problema não é o toma lá da cá, mas sua antecipação?

Sempre houve concessões a partidos aliados? 

Sim, mas jamais no nível atual. Acho que nem no período Sarney houve uma entrega tão grande dos espaços do poder sem qualquer critério. Teve no governo Lula e se ampliou com Dilma.

Está dizendo que Dilma é fisiológica?

Ela é vitima hoje de uma armadilha construída pelo próprio PT, chamado de governismo de coalizão. Lamentavelmente vejo uma presidente sem autonomia. E hoje temos crescimento medíocre e uma inflação fora de controle; industria paralisada. Tenho feito conversas por toda parte, e ouço muitas críticas, mas não coloco minhas conversas no Facebook ou no Twitter.

O sr. está dando recado para o governador Eduardo Campos (PSB-PE), que tem mostrado sua movimentação com empresários?

Não, não.

Alguns dizem que não assumir é dar margem para desistir. O senhor pode amarelar?

(Risos) Sou hoje candidato a presidente do partido, e estarei pronto para qualquer missão. Tudo a seu tempo. Não vamos estabelecer nossa estratégia a partir da dos outros. Eu venho de uma escola que diz que a arte da política é a administração do tempo.

Tempo esse que atropelou o PSDB nas últimas eleições.

Enfrentamos condições dificílimas de crescimento econômico e uma popularidade altíssima do presidente Lula. Numa eleição você não entra só para ganhar. Por isso não temos pressa, temos de ter consistência.

Faltou isso nas últimas campanhas do PSDB?

Talvez sim. Não por demérito dos candidatos, que todos apoiamos. Mas não conseguimos fazer com que parcela importante do Brasil voltasse a sonhar com um desenvolvimento social mais amplo. Se tivéssemos feito isso, teríamos ganhado as eleições.

Mas vocês só fizeram se distanciar dessa parte do eleitorado...

Nós tivemos problemas, mas, apesar das derrotas, sempre fomos para o segundo turno com votações expressivas, tanto do Serra como do Alckmin. O PSDB continua sendo a principal alternativa de poder a esse modelo que está aí.

A presidente, no início do governo, elogiou o ex-presidente FHC. Hoje, critica. O que ocorreu?

Acho que em ao menos um dos episódios ela não foi sincera.

Em qual deles?

Cabe a ela dizer.

Nas últimas eleições, o PSDB escondeu FHC. O que fará com ele?

Eu não tenho qualquer dificuldade em reconhecer que o Brasil de hoje é parte de uma construcão coletiva, que ao meu ver se inicia no governo Itamar Franco, pois coube a ele dar o aval à elaboração do Plano Real, elaborado pela equipe do presidente Fernando Henrique, que consolidou a estabilização econômica. O governo Lula também colocou tijolos importantes nesse processo. O Brasil de hoje é uma construção de todos esses governos. Tenho conversado com diversos campos da economia.

Quais?

Tenho muito cuidado de falar nomes porque parece que estou vinculando pessoas ao projeto do PSDB, mas estou procurando pessoas que não necessariamente sejam afinadas com o PSDB. Estou falando com economistas tanto da Casa das Garças quanto da Unicamp.

Todos os campos? Algum trotskista?

Não tive tempo ainda (risos). Não quero citar nomes, pois amanhã o cara começa a ser visto como tucano...

É ruim ser visto como tucano? Qual será a plataforma para 2014?

Estamos definindo um grupo de pessoas para construirmos propostas novas. Vou falar isso pela primeira vez. A partir de agosto, vamos criar aquilo que chamaria de "shadow cabinet". Não é para cuidar de 40 ministérios, mas definir cinco ou seis áreas de ações do governo, com pessoas identificadas, para serem referência de pensamento nessas áreas. Faremos avaliação do PAC. Quero elencar os dez maiores projetos do país e nos dedicarmos a eles.

O Eduardo Campos é bom gestor?

Ele é um gestor moderno, inclusive disse muitas vezes publicamente que se inspirava em Minas. Temos um governo federal ineficiente e sem instrumentos de controle interno. Criei em Minas auditorias internas dentro de cada órgão. Fizemos um governo sem escândalos, sem desvios.

O sr. está falando do mensalão?

Sem fazer nenhum juízo de valor no mensalão, em relação ao processo do mensalão, mas conceitualmente, transmitiu-se ao país o sentimento de que os tubarões passaram a ser alcançáveis.

Quando o Supremo julgar o mensalão mineiro, que envolve o ex-governador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), vai dizer a mesma coisa?

Por mais que eu ache que sejam coisas diferentes, obviamente a decisão da Justiça tem de ser respeitada em qualquer situação.

Mas e o mensalão mineiro, não pode afetar sua campanha a presidente?

Vamos deixar que julgue, tem de ser julgado. Não conheço em profundidade o processo.

Não teme impacto na eleição se o mensalão mineiro for julgado no próximo ano?

Não acredito, porque eventuais crimes que tenham sido cometidos, e temos de esperar o julgamento, são individualizados. O PT tinha um discurso de que ele era diferente de todos os outros partidos. Mostrou que não é. O PSDB tem uma conduta moral extremamente respeitada, não que seja imune a qualquer problema. Mas os julgamentos, no caso do PT, contaminam um pouco o partido. Não sei se as eleições. Sinceramente, se você me perguntar se acho que a presidente Dilma tem algo a ver com aquela coisa, sinceramente não acho.

Acha que o ex-presidente Lula teve?

Não posso julgar, não sou juiz, se não teria mudado de carreira. Não quero fazer esse julgamento.

Quando o ex-governador José Serra vai apoiá-lo?

Eu tenho orgulho de ser correligionário do Serra, e tenho muita convicção de que ele vai estar neste projeto.

Mas ele sempre reclamou que, em Minas, não teve o apoio necessário nas suas eleições, porque você teria feito corpo mole nas eleições dele.

Não é verdade, isso é mais uma dessas lendas urbanas que se criam. O desempenho do Serra em Minas foi extraordinário pelas circunstâncias. Ele ganhou em Belo Horizonte da Dilma, que é da cidade, como vocês sabem, ela é mineira. O Serra encerrou sua campanha em Belo Horizonte, ele sabe, já me disse isso, que fizemos o que era possível. Agora, sempre vai ter essa lenda urbana, de pessoas que não jogam para o conjunto, de criticar. Ficarei muito satisfeito e tenho certeza de que terei em São Paulo o apoio que ele teve em Minas.

Deseja que o governador Eduardo Campos seja candidato a presidente?

A candidatura de Eduardo e de Marina Silva são muito importantes.

Mas ele não tem um perfil muito parecido com o seu...

Recebo isso como um elogio.

E se correr na sua faixa?

Acho que isso o que você está dizendo nos aproxima, sou amigo dele, e espero que ele viabilize sua candidatura. O que ele vem mostrando é a fragilidade do atual governo e o fracasso das medidas visando o crescimento, a ausência do governo nessa calamidade que se tornou essa seca, a maior dos últimos 50 anos no Nordeste, com medidas absolutamente paliativas, sem planejamento de médio e longo prazos. Ele ajuda a melhorar o debate sobre isso. A Marina vai trazer a preocupação com a sustentabilidade, o que tem de permear todas as discussões que vamos ter.

Num eventual segundo turno, entre você e a presidente Dilma, quem você acha que o Eduardo Campos apoiaria?

Seria um desrespeito dizer ao Eduardo quem ele deve apoiar.

Tem alguma hipótese de, num eventual segundo turno, o PSDB não estar nele?

Não acredito.

O que você acha da polêmica em torno do pastor Feliciano (PSC-SP), na Comissão de Direitos Humanos da Câmara?

Eu acho que deixaram isso ir longe demais. Ele mostrou ser um sujeito totalmente despreparado, independentemente de suas convicções. Ele está fazendo um grande marketing pessoal, as pessoas não compreenderam isso ainda. Criaram um problema que agora vão ter de desatar.

É a favor da união civil gay?

Eu já me manifestei mais de uma vez. Sou a favor. É a realidade do mundo moderno, ninguém é contra a realidade do mundo. Isso já foi. Respeito quem tem posição divergente, lamento apenas que a pauta da Câmara esteja concentrada nisso.

Na última eleição travou-se uma polêmica sobre o aborto. Qual sua posição?

Defendo a atual legislação.

Vários inimigos seus exploram seu estilo de vida, que gosta muito de ir ao Rio de Janeiro...

Eu digo que se gostar do Rio for um defeito, é um defeito que cada dia aumenta um pouco (risos). E gosto de São Paulo também, viu. Olha, eu passei boa parte da minha infância e da adolescência no Rio, o que é absolutamente natural eu gostar de lá.

E quanto à fama de bon-vivant?

Não escondo o que sou, sou um homem do meu tempo, e tenho posições e clareza de minhas atitudes e quero ajudar o Brasil dar um salto de qualidade. E é isso que sou, disso que estou imbuído. Obviamente, quem se expõe num projeto como esse tem de estar preparado para as críticas. Eu as recebo há muito tempo, e os resultados das eleições que disputei estão aí. As pessoas estão preocupadas é com que o homem público pode fazer por elas. Olha, um homem como eu, que trabalha de oito da manhã às dez da noite, dizer que eu sou um bon-vivant, isso deixaria os que realmente são bon-vivant decepcionados.

Fonte: Folha de S. Paulo

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