terça-feira, 7 de maio de 2013

Campos contra-ataca com Luizianne Lins - Raymundo Costa

A ex-prefeita de Fortaleza (CE) Luizianne Lins está com um pé no PSB, partido de Eduardo Campos, governador de Pernambuco e virtual candidato a presidente da República nas eleições de 2014. A decisão depende de conversas que Luizianne terá com o ex-presidente Lula e com o próprio Eduardo Campos.

A eventual filiação de Luizianne ao PSB daria a Eduardo Campos um palanque competitivo, num colégio hoje inteiramente controlado pelos irmãos Cid (atual governador do Estado) e Ciro Gomes (ex-ministro da Integração Nacional de Lula). Os irmãos Ferreira Gomes são do PSB, como Campos, mas contrários a sua candidatura presidencial.

A ex-prefeita de Fortaleza e seu grupo político ainda estão indecisos e lamentam o afastamento de Campos do que chamam de "campo democrático". Luizianne tem preferido não se manifestar, mas é certo que considera o racha provocado por Ciro Gomes no PSB o principal motivo para o deslocamento de Campos e a consolidação de sua candidatura a presidente.

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Esse não foi o único motivo, mas cada ataque de Ciro deixou o governador de Pernambuco mais presidenciável. "O meu presidente, Eduardo Campos, não tem estrada ainda. Não conhece o Brasil", declarou Ciro Gomes, em fevereiro, quando deixou explícito o racha do PSB.

A sucessão local, como sempre, interfere na acomodação nacional. Para os Gomes, o ideal seria uma chapa ao governo encabeçada pelo ministro Leônidas Cristino (Integração Nacional). O problema é que Eunício Oliveira (PMDB), outro integrante da aliança nacional do PT, não abre mão da própria candidatura. Luizianne e o deputado José Guimarães disputam a vaga do PT.

Para o PT nacional, a composição ideal teria os três partidos: PT, PSB e PMDB. O problema é que sobram nomes e faltam cadeiras. Somente um terço do Senado será renovado em 2014. Ou seja, uma vaga por Estado. Sem falar da incompatibilidade de Luizianne com Ciro e Cid Gomes

Luizianne Lins se elegeu prefeita de Fortaleza, contra a maioria dos prognósticos, em 2004. À época, a direção nacional do PT preferia dar a legenda ao PCdoB, mas teve de aceitar o resultado da prévia realizada entre os militantes do partido.

Luizianne se reelegeu em 2008, contribuindo para amenizar a má imagem que o PT deixou depois de governar Fortaleza pela primeira vez, no final dos anos 80. Mas não conseguiu eleger seu candidato em 2012, depois de uma acirrada disputa com Cid, padrinho político do candidato eleito.

Passadas as eleições, Luizianne voltou a dar aulas na universidade e a preparar sua dissertação de mestrado sob a orientação do sociólogo e cientista político Emir Sader. Estava um tanto quanto afastada da política, à espera do melhor momento para voltar. Quando se deu conta, o governo estadual já havia cooptado o PT local. Isolada politicamente, em janeiro ela pensou em deixar a presidência.

Luizianne, então, consultou a presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Lula da Silva e o presidente do PT, Rui Falcão. Individualmente. Os três, nessa ocasião, teriam argumentado que era importante sua permanência e pedido que ela não deixasse o comando da seção local do PT.

No fim de fevereiro, o PT em peso desembarcou em Fortaleza para uma reunião do diretório nacional, a primeira realizada no Estado, e para a comemoração dos dez anos do partido no governo. A ex-prefeita aproveitou o encontro para conversar demoradamente com Lula. Depois de mais de duas horas com o ex-presidente da República, ela deixou a reunião como entrou: presidente da seção cearense do PT.

Nem para os iniciados o problema de Luizianne é fácil de entender: ela ficou na presidência do PT sendo minoritária, quando é sabido que a distribuição dos cargos no partido corresponde à força de cada tendência. Ao mesmo tempo, a direção nacional petista decidiu transformar os Ferreira Gomes numa espécie de contraponto a Eduardo Campos no PSB. E os irmãos Ciro e Cid são considerados por ela um dos poucos motivos que podem levá-la a deixar o PT.

Quem conhece e conversa com Luizianne entende que ela não quer deixar o PT, mas já esgotou as formas de convivência com a família Gomes. E o discurso de Eduardo Campos lhe soa bem. Pelo que chega a seus ouvidos, Campos somente está candidato porque Lula não é. Além disso, o governador de Pernambuco nunca se sentiu muito respeitado pela presidente da República como presidente nacional do PSB. Argumento: ela sempre tinha um Gomes para intermediar qualquer assunto.

Campos, na realidade, não tem mais ilusão nenhuma sobre a possibilidade de os Gomes apoiarem sua candidatura. E já nem tem interesse no apoio deles. Prefere agora, segundo os aliados do governador, ter um palanque com Luizianne Lins no Ceará.

A ex-prefeita ficou de conversar com Lula ainda esta semana, quando pretende anunciar sua decisão. Ela não fala sobre um eventual convite de Eduardo para ingressar no PSB, mas não hesita em desancar os Ferreira Gomes: "Partido, para eles, é só uma questão de conveniência", diz, lembrando que Ciro Gomes já está em sua quinta legenda.

Antes esteve no PDS, PMDB, PSDB e no PPS. Agora, há conversas com o PRB, com a perspectiva do lançamento de um nome próprio para o governo estadual. No PSB, a expectativa é que Ciro e Cid não ficam mais, sobretudo se Eduardo Campos formalizar sua indicação pela sigla, na convenção de junho de 2014.

Questionada sobre a possível mudança, Luizianne Lins evita ser afirmativa. "Ainda vou falar com o Lula sobre isso. Tenho que falar também com o Rui Falcão", diz. Um aspecto Luizianne faz questão de ressaltar: " O único problema [para deixar o partido] é que eu sou do PT, estou filiada desde os 19 anos, a minha vida foi toda no partido. Precisa ser alguma coisa muito grave para eu sair, por exemplo: os Ferreira Gomes vão todos para o PT? Eu não tenho como conviver com eles". Conversa de quem quer ficar.

Fonte: Valor Econômico

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