segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Focos de incêndio no PMDB

Em pelo menos 11 estados, diretórios regionais do partido reclamam do PT e ameaçam atrapalhar a aliança em 2014

Denise Rothenburg, Paulo de Tarso Lyra

O PMDB arma para março uma rebelião que aumentará a dor de cabeça da presidente Dilma Rousseff no planejamento da campanha presidencial de 2014. Insatisfeitos com a postura do PT nas negociações regionais, 11 diretórios do partido ameaçam organizar uma convenção para o início do ano que vem com o objetivo de estudar outros caminhos além do alinhamento automático com os petistas. Na prática, isso significa uma interrogação na aprovação da chapa Dilma presidente e Michel Temer como vice.

Como adiantou a coluna Brasília-DF de ontem, a estratégia repete a mesma prática adotada em 2006, quando uma pré-convenção foi marcada para sepultar as esperanças de Anthony Garotinho ser o candidato do partido ao Planalto. Naquele ano, o partido resolveu apoiar oficialmente a reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva, pavimentando a construção da chapa presidencial nas eleições de 2010.

Os peemedebistas rebeldes estão espalhados pelos diretórios do Ceará, do Rio de Janeiro, do Maranhão, de Alagoas, da Bahia, do Amapá, do Pará, de Mato Grosso do Sul, de Tocantins, do Amazonas e parte de Minas Gerais. Em todos eles, o roteiro se repete: o PT demonstra extrema dificuldade em apoiar os candidatos do PMDB. No Rio de Janeiro, por exemplo, o partido já optou pela candidatura do senador Lindbergh Farias (PT) contra o atual vice-governador, Luiz Fernando Pezão (OMDB). Na última quinta-feira, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, almoçou com Pezão e o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB). O encontro só serviu para aumentar a crise entre os dois partidos no estado.

No Maranhão e no Amapá, a razão da crise é a mesma: a sinalização do PT maranhense de que poderia romper uma longa aliança com o clã Sarney para apoiar a candidatura do presidente da Embratur, Flávio Dino (PCdoB). O estrago foi tão grande que o porta-voz da Presidência da República foi obrigado a divulgar nota oficial desmentindo a informação de que a presidente Dilma Rousseff endossaria a decisão, ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em Alagoas, outro cacique peemedebista está envolvido no foco da insatisfação. O Planalto e o PT apoiam indiretamente a candidatura do presidente do Senado, Renan Calheiros, ao governo estadual. Essa ideia já havia sido aventada antes da eleição para as Mesas Diretoras do Congresso. Renan não concordou à época e foi eleito presidente do Congresso.

O PT tenta insuflar novamente a candidatura de Renan, pois o vice-presidente da Casa é o petista Jorge Viana (AC), que herdaria a cadeira e comandaria uma Casa estratégica no último ano do primeiro mandato de Dilma. Mas Renan não está muito disposto a abandonar o posto, principalmente porque, pelas regras legislativas, tem direito a concorrer novamente ao cargo em fevereiro de 2015. Mas, de olho na influência política local, Renan pretende indicar o deputado Renan Filho para o governo estadual. Os petistas afirmam que o filho do cacique peemedebista é muito novo e não teria condições de contrapor-se à hegemonia tucana no estado — o PSDB governa o estado e a capital, Maceió.

Outros problemas
Até mesmo estados que não se incluem entre os rebelados vivem momentos de tensão interna. Em Goiás, por exemplo, não há sinais de rompimento entre peemedebistas e petistas. O PT, inclusive, deve apoiar a candidatura do empresário José Batista Júnior, o Júnior da Friboi. Com uma carreira empresarial consolidada, Júnior foi disputado por diversas legendas. Ele chegou a se filiar ao PSB, mas, após uma negociação que envolveu Michel Temer, Lula e Dilma, Júnior desembarcou do PSB rumo ao PMDB. Principal liderança do partido em Goiás, o ex-senador Íris Rezende (PMDB) se sentiu excluído das articulações e ameaça questionar a parceria na convenção estadual do ano que vem.

PT deixa governo de Eduardo Campos
Mais de um mês depois de o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, entregar os cargos do PSB no governo federal, o PT pernambucano decidiu, ontem, desembarcar do governo estadual e das prefeituras de Recife e Paulista. No caso dos demais municípios, a orientação é que os diretórios municipais comuniquem os casos, que serão analisados individualmente pela direção executiva estadual do partido. O presidente do diretório estadual do PT, deputado Pedro Eugênio, deve comunicar oficialmente hoje a decisão ao governador Eduardo Campos.

Fonte: Correio Braziliense

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