sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

OPINIÃO DO DIA – Giuseppe Vacca: laicidade e democracia

Por outro lado, com o enfraquecimento do Estado-nação e em decorrência dos processos que sumariamente chamamos de globalização, a laicidade da política cada vez mais é o resultado de mediação entre crentes e não crentes, que tem como teatro a sociedade civil. Ela, pois, interpela de modo novo os fundamentos de uma democracia dos partidos.

A assimilação deste problema talvez seja o desafio mais complicado e difícil para a construção do PD, uma vez que, sobre temas eticamente sensíveis, desenvolve-se em seu interior uma confrontação de valores e princípios diferentes entre crentes e não crentes, inicialmente vividos por uns e outros como inegociáveis.

Considero, porém, que o desafio possa ser vencido em razão da marcante laicidade do catolicismo político presente no PD e da extensa difusão, entre os filiados ao partido, da consciência de que a laicidade da política consiste, precisamente, em tornar compatíveis escolhas de valores e princípios até mesmo não negociáveis, fazendo conviver em harmonia os crentes das diversas confissões religiosas e os não crentes com base no reconhecimento comum da laicidade como fundamento indispensável da política democrática.

In. Giuseppe Vaca.’Por um novo reformismo’, p.p. 251-2. Fundação Astrojildo Pereira / Contraponto, 2009.

Manchetes de alguns dos principais jornais do país

O GLOBO
Novo aperto nas teles
Obituário: Fernando Lyra, ministro da redemocratização, aos 74 anos
Com Lei Seca mais rigorosa, mortes nas estradas caem 18%

FOLHA DE S. PAULO
Ex-judoca Aurélio Miguel multiplicou bens após se eleger
Temporal alaga 80 pontos de SP,
fecha aeroporto e paralisa trens
Detidos pela lei seca em cidades de SP aumentam 240% no Carnaval
Dilma vai usar corte de tributo para conter a alta da inflação
Papa diz que irá se 'esconder do mundo' e apela por renovação

O ESTADO DE S. PAULO
Bento XVI pede 'verdadeira renovação' da Igreja
PF cita juízes em relatório sobre desvio de processos
Correa deve se reeleger no 1º turno no Equador

VALOR ECONÔMICO
Petrobras terá déficit até 2020
Figueiredo prevê aperto monetário
G-20 deve buscar cortes dos déficits, diz Schäuble
'Concordatas' excluem parte dos créditos

BRASIL ECONÔMICO
Governo não vê futuro no acordo de comércio entre EUA e Europa
Estados querem R$ 10 bilhões para compensar ICMS
PIB na zona do euro tem queda de 0,5%

CORREIO BRAZILIENSE
Dólar chega à menor cotação em nove meses
Oito estados na mira do partido de Marina Silva
Fernando Lyra: um construtor da democracia
Demissão
Vetos

ESTADO DE MINAS
Renan e o rato
Câmara de contagem aprova aumento para seus diretores
Portas fechadas

O TEMPO (MG)
Mensalão - Depoimento chega a Minas
Ex-ministro Fernando Lyra morre em SP
Preços de estacionamento disparam em shoppings

GAZETA DO POVO (PR)
Exame prático reprova metade dos motoristas no Paraná
Influência de Bento XVI deve continuar forte
Preço do prato feito sobe mais que a inflação
Espaço do PMDB no governo Richa desagrada tucanos

ZERO HORA (RS)
Tropas federais chegam a SC para transferir presos
Santa Maria : Dono admite festas com mil pessoas

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Democracia de luto por Fernando Lyra
Santa Catarina fica sem ônibus à noite por causa de ataques

Obituário: Fernando Lyra, ministro da redemocratização, aos 74 anos

Fernando Lyra, primeiro ministro da Justiça após o fim da ditadura militar

Egresso do MDB "autêntico", costurou apoio da esquerda a Tancredo; com Sarney, extinguiu Conselho Nacional de Censura, mas proibiu filme de Godard

Um dos mais destacados integrantes do chamado grupo dos "autênticos" do MDB, que combatia a ditadura militar, o ex-ministro da Justiça Fernando Lyra exerceu sete mandatos de deputado federal (1970-1998) e um de deputado estadual (1966-1970). Exímio orador e grande articulador político, o pernambucano teve como ponto alto da carreira a articulação para construção da candidatura de Tancredo Neves à Presidência da República.

Após a derrota da emenda Dante de Oliveira em 1984, Lyra mergulhou na campanha para eleger Tancredo no Colégio Eleitoral. Foi escolhido para ocupar o Ministério da Justiça e mantido no cargo por José Sarney. Extinguiu o Conselho Nacional de Censura. Ao mesmo tempo, em sua gestão no ministério, foi responsável pela censura do filme "Je vous salue, Marie". Há dois anos, disse que considerava esse um episódio lamentável e afirmou ter sido pressionado por Sarney a censurar a obra do cineasta francês Jean-Luc Godard.

Deixou o cargo em 1986 e, no ano seguinte, foi derrotado na disputa pela presidência da Câmara por Ulysses Guimarães. Uma sucessão de desilusões (como a derrota eleitoral em 1990, quando só voltou à Câmara como suplente) o levou a abandonar a política eleitoral em 1998. Mas nunca largou a política. Tornou-se entusiasmado conselheiro do governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, que tem como vice o irmão do ex-ministro, João Lyra Neto.

Em novembro, deu uma de suas últimas entrevistas, em tom desiludido, à revista "Carta Capital":

- O Parlamento viveu no período (da ditadura) momentos deploráveis e momentos gloriosos. Hoje, com a democracia instalada, os momentos gloriosos tornam-se raros.

O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), que conviveu com Lyra por 40 anos, lembra-se da capacidade de diálogo do ex-ministro. Mesmo em lados distintos da política pernambucana desde a década de 1990 (Lyra apoiou Miguel Arraes e Eduardo Campos em eleições contra Jarbas), os dois sempre conversavam:

- Estávamos separados, mas nunca deixamos de falar. Enquanto estive no governo, ele foi várias vezes almoçar comigo no palácio. Era um observador atento das coisas do estado e do país - conta Jarbas.

Nos últimos anos, Lyra foi internado várias vezes devido a problemas cardíacos, que começaram em 1978. A última internação começou em 29 de dezembro do ano passado, em Recife, com um quadro de infecção e problemas cardíacos. Em 5 de janeiro, foi transferido para o Instituto do Coração de São Paulo (Incor), do Hospital das Clínicas de São Paulo, onde apresentou melhora e passou para a unidade semi-intensiva. Mas foi levado novamente para a UTI.

Fernando Lyra morreu ontem às 16h50m, aos 74 anos, por falência múltipla dos órgãos, segundo boletim do Incor. Ele fazia "tratamento de descompensação de insuficiência cardíaca congestiva grave (que o acometia há aproximadamente 20 anos), associada a quadro de infecção sistêmica e à insuficiência renal aguda", segundo o hospital.

O corpo de Lyra chega hoje de manhã em Recife e será velado até as 16h na Assembleia Legislativa. O enterro está marcado para as 17h no Cemitério Morada da Paz, em Paulista, na Grande Recife. O governador Eduardo Campos decretou luto oficial de três dias em Pernambuco. Em nota, a presidente Dilma afirmou que "a democracia brasileira perdeu um de seus mais expressivos defensores", que "teve atuação relevante na Assembleia Nacional Constituinte (...) Em nome de todas as brasileiras e de todos os brasileiros, apresento meus votos de pesar a sua mulher, Márcia, suas três filhas, familiares e amigos".

Fonte: O Globo

Democracia de luto por Fernando Lyra

Ex-ministro da Justiça, deputado federal por sete mandatos e símbolo da redemocratização do País morreu ontem, em São Paulo, aos 74 anos, como prometeu: lutando pela vida até o fim de suas forças

O adeus a Fernando Lyra

Ministro responsável pelo fim da censura no Brasil morre aos 74 anos, em São Paulo, vítima de falência de múltiplos órgãos

Ayrton Maciel

Se todos os adjetivos não fossem suficientes para definir o guerreiro e autêntico Fernando Lyra, um substantivo resumiria todos os pensamentos e a importância de seu currículo para a democracia brasileira: ministro responsável pelo fim da censura deixada pela ditadura de 64. Destemido e briguento na trajetória política, o ex-deputado federal do "grupo dos autênticos do MDB" e ex-ministro da Justiça de Tancredo Neves/José Sarney Fernando Lyra morreu ontem, aos 74 anos, como prometeu: lutando pela vida até o fim de suas forças. Lyra faleceu às 16h50 (horário de Brasília), no Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas, da Universidade de São Paulo (USP), em decorrência de falência de múltiplos órgãos. O "ministro que acabou com a censura" foi internado no dia 29 de dezembro passado, no Hospital Português do Recife, com uma infecção urinária. No dia 5 de janeiro, foi transferido em UTI aérea para o Incor, visando a tratar a descompensação de insuficiência cardíaca congestiva grave, doença que o acometia há 20 anos, associada a um quadro de infecção sistêmica e à insuficiência renal aguda.

Por um mês e meio, Fernando Soares Lyra - um dos fundadores do Movimento Democrático Brasileiros (MDB), o partido de oposição ao regime militar -, brigou para continuar vivendo e fazendo o que mais sabia: política. Como cardiopata grave, resistia com quatro pontes de safena e três mamárias, mais um marca-passo. Desde o início da internação, o quadro de saúde só fez se agravar. No dia 11 de janeiro, foi levado para a UTI do Incor, onde o agravamento chegou ao estágio crítico nos últimos dias. Terça-feira (12), Lyra foi entubado, passando a respirar com a ajuda de aparelhos. O estado já era irreversível.

Protagonista de momentos históricos da política de Pernambuco e do Brasil dos últimos 50 anos, Fernando Lyra notabilizou-se com um dos integrantes da aclamada ala dos "autênticos" do antigo MDB - que de Pernambuco contou, ainda, com personagens como o senador Marcos Freire, Jarbas Vasconcelos, Maurílio Ferreira Lima, Egídio Ferreira Lima e Fernando Coelho -, o grupo que fazia oposição dura aos militares. Lutou pelas Diretas Já, o projeto de Dante de Oliveira (PMDB/MT), em 1984, derrotado pela maioria parlamentar governista na Câmara Federal, para, em seguida, incorpora-se - sem esmorecer - à campanha de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral (1985), como um dos seus coordenadores. Campanha vitoriosa com a Aliança Democrática, o acordo firmado entre o PMDB e os dissidentes do PDS (ex-Arena), que derrotou Paulo Maluf - candidato dos militares - e viabilizou a redemocratização do País.

A confiança de Tancredo rendeu-lhe o convite para ser o ministro da Justiça. A inesperada morte de Tancredo levou o vice-presidente José Sarney, do PDS, que depois se filou ao PMDB, a assumir o governo. Sarney manteve o ministério de Tancredo e o convite a Lyra. Na Justiça, coube ao ministro a iniciativa de executar o fim da censura no Brasil. Em 1989, foi o candidato a vice-presidente de Leonel Brizola (PDT), na primeira eleição direta pós-ditadura militar.

Deputado estadual (1966) e federal por sete mandatos seguidos, entre 1971 e 1999, Fernando Lyra saiu da disputa eleitoral, mas jamais deixou o exercício da política. Em 2006, aplicou a sua habilidade como um dos articuladores da campanha que levou Eduardo Campos (PSB) ao Palácio do Campo das Princesas. Nos governos Lula, ocupou o último cargo público, como presidente da Fundação Joaquim Nabuco, de 2003 a 2011.

O corpo de um dos principais atores da redemocratização brasileira chega às 10 horas ao Recife, no Aeroporto Guararapes/Gilberto Freire. O velório terá início às 12 horas, na Assembleia Legislativa, e o sepultamento ocorrerá às 17 horas, no Morada da Paz, em Paulista. O governador Eduardo Campos decretou luto oficial por três dias no Estado.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Adeus a Fernando Lyra - Ricardo Noblat

Por três motivos o pernambucano Fernando Lyra garantiu seu lugar na história recente da política brasileira: a atuação como deputado federal durante a ditadura militar de 1964; o papel que desempenhou na eleição do presidente Tancredo Neves; e a autoria da frase mais corrosiva sobre o atual senador José Sarney. Comecemos pelo fim.

Então ministro da Justiça, enquanto o país ainda esperava que Tancredo recuperasse a saúde para assumir a presidência da República, Fernando foi designado por José Sarney, o vice no exercício da presidência, para anunciar o fim da censura. O Teatro Casa Grande, no Rio de Janeiro, estava lotado para ouvir o anúncio.

Fernando sabia que a esmagadora maioria das pessoas ali reunidas tinha horror a Sarney, que apoiara a ditadura militar até quase o fim dela. Em tempo pulou para o barco de Tancredo. Como elogiar Sarney sem despertar a ira daquela multidão? Fernando encontrou a saída em meio ao discurso de improviso:

- O presidente José Sarney é a vanguarda do atraso.

Menos de um ano depois Sarney o demitiu.

A ditadura de 64 criou dois partidos: ARENA, da situação, e MDB, da oposição. A própria ditadura teve que convencer alguns políticos a se filiarem ao MDB. Corria-se o risco de não se obter o número mínimo de assinaturas para que o partido existisse.

Fernando entrou no MDB espontaneamente. Elegeu-se deputado estadual. E depois federal várias vezes. Fez parte do reduzido grupo de parlamentares que de fato se opôs à ditadura. Mais do que isso: desafiou-a denunciando a tortura e o desaparecimento de presos.

Diversas vezes, amigos de Fernando deram como certo sua cassação com a perda do mandato e dos direitos políticos. Fernando escapou da degola. E foi o primeiro deputado de esquerda a apoiar a candidatura presidencial de Tancredo.

O apoio foi dado antes da candidatura existir. Antes mesmo do próprio Tancredo cogitar dela. No dia da posse de Tancredo como governador de Minas Gerais em 1983, Fernando voou a Belo Horizonte sem ser convidado e sem avisar a nenhum dos seus colegas do MDB.

Até então, ele era da turma do deputado Ulysses Guimarães (SP), presidente do partido. E mantinha distância de Tancredo, tido como um moderado pouco confiável. Tancredo levou um susto quando o viu na solenidade de posse. Convidou-o para almoçar. E escutou dele:

- Estou aqui, Dr. Tancredo, para dizer que o senhor tem de ser candidato a presidente da República pelo MDB. Somente o senhor poderá vencer, pondo fim à ditadura.

- Mas Fernando, tudo o que sempre quis foi ser governador de Minas. E quando me elejo você vem falar em candidatura a presidente? - devolveu Tancredo.

A partir daquele dia, Fernando se ocupou em articular a candidatura de Tancredo, embora a princípio sem o aval dele.

- Tancredo me disse um dia: 'Fernando, você não pode pensar em eleição pela oposição sem o apoio da esquerda'. E eu perguntei quem ele considerava esquerda no Brasil. 'Francisco Pinto e Miguel Arraes. Tendo o apoio dos dois, eu tenho o apoio da esquerda'".

Chico Pinto era deputado federal pelo MDB da Bahia. Arraes, ex-governador de Pernambuco. Fernando convenceu os dois a apoiarem Tancredo. E ainda arrastou para o lado dele o resto da esquerda do MDB. Cabalou no PT o apoio de três deputados, depois expulsos do partido.

Sem o apoio da esquerda, Tancredo jamais teria renunciado ao governo de Minas para se aventurar a ser candidato a presidente.

Fernando foi obrigado pelos médicos a renunciar à política eletiva no final de 1998. Era cardiopata. Havia tido um infarto ainda jovem. Depois disso, em ocasiões distintas, ganhara um total de sete pontes safenas e uma mamária. Derrotou dois tumores malignos - um no intestino grosso, outro no pulmão.

- Eu não me entregarei fácil - disse-me um dia, há mais de 10 anos, depois de passar por mais uma revisão médica.

Prometeu e cumpriu.

Lutou mais uma vez contra a morte desde o dia cinco de janeiro passado, internado no Instituto do Coração, na capital paulista. Nos últimos 20 dias foi posto em coma induzido. Dependia de aparelhos para seguir vivendo.

O aparelho de hemodiálise foi desligado na terça-feira. Segundo médicos que o atendiam, sobreviveria, no máximo, mais 48 horas. Sobreviveu quase 40. Seu amor pela vida só tinha um sério concorrente: seu amor pelo telefone.

- Quais são as novidades? - costumava perguntar.

Infelizmente, as novidades não são nada boas, Fernando. Perdi um grande amigo.

Fonte: O Globo

Perdemos os Fernandos - Cristovam Buarque

Toda morte nos dói. Algumas mais que outras pela proximidade, outras ainda mais pela dimensão da pessoa. Fernando Lyra é um desses cuja morte toca muito, porque ele era mais de um Fernando.

Perdemos o Fernando político. Um dos mais importantes ao longo do século XX. Um líder que sempre esteve do lado certo da luta pela democracia, e soube levar adiante esta luta com competência. Membro do grupo dos autênticos, um dos seus fundadores e dos mais firmes e combativos, resistiu à ditadura em todos os momentos e soube construir a saída que nos tirou do autoritarismo e nos colocou na democracia. Um político com coerência, criatividade e competência. Soube ser coerente no lado certo correndo todos os riscos, não desanimou com a derrota das Diretas, Já!. Teve a coragem de reorientar a estratégia de luta, a criatividade de enfrentar o desafio de convencer as forças democráticas para a saída pela via indireta, e teve a competência de articular os votos necessários para viabilizar a vitória do regime civil sobre o militar. Sem a ida de Fernando Lyra para Tancredo, com a coragem que isto exigiu diante dos que ainda queriam tentar as diretas, mesmo que alguns anos depois, sem a coordenação de Fernando ao trazer os demais líderes "autênticos" (Arraes e Brizola) e conseguir buscar um a um os votos necessários no Colégio Eleitoral, muito provavelmente a democracia não teria chegado em 1985. Fernando vai fazer falta no mundo da Política, aquela que se faz com princípios, com objetivos e com habilidade para ouvir, convencer e construir o novo.

Perdemos o Fernando executivo de grandes políticas. Aquele que no Ministério da Justiça foi capaz de, em poucos meses, ou mesmo semanas, acabar com a censura, liberar todos os partidos, facilitar as relações diplomáticas com todos os países e iniciar o processo da Constituinte. Fernando vai fazer falta no mundo da política consequente, capaz de executar o que no início parecia impossível.

Perdemos o Fernando nacional, pernambucano de Caruaru. Apesar de ser um raro político com firme convicção, preocupação, análise e ação no plano nacional, poucos políticos se identificavam tanto com seu povo, seu Estado, sua cidade, quanto ele. Um político absolutamente não corporativo. Capaz de colocar os interesses nacionais e de longo prazo na frente de seus interesses eleitorais imediatos. Capaz, inclusive, de dizer o que pensava mesmo sabendo que iria contrariar, não apenas seus aliados mais próximos, mas até mesmo os seus eleitores. Em um tempo da política regida pela pesquisa de opinião pública, pelos interesses locais, corporativos e presos ao imediatismo eleitoral, Fernando se destacou e vai fazer falta como político nacional caruaruense.

Perdemos o Fernando animador. Poucas pessoas são capazes de manter um diálogo, desde os assuntos mais sérios até os mais divertidos, quanto ele foi capaz ao longo de sua vida. Fernando era o que se pode chamar de um maravilhoso bom papo, um homem de conversa. De todos seus méritos, este é um que se destacava de imediato para todos que o conheciam. Fernando vai fazer falta no mundo da conversa.

Perdemos o Fernando amigo. E esta será uma grande falta que fará. Todos que eu conheço se referiam a ele como "um dos meus melhores amigos" e alguns diziam com clareza: "o meu melhor amigo". Porque ele sabia ser ouvinte das confidências, sabia confidenciar, sabia cobrar, sabia alertar, sabia sorrir na hora certa e mostrar tristeza quando ela era necessária. O Fernando amigo vai fazer muita falta a muitos de nós.

Perdemos o Fernando generoso. Não apenas com os amigos, mas com todos que ele conhecia. Era generoso em todos os aspectos e com todas as pessoas. Perdemos um homem generoso, coisa rara no mundo de hoje.

Perdemos um ser raro, que era plural nas qualidades: político, amigo, conversador, generoso, nacional sem perder o sentimento local.

Perdemos Fernandos, nossa tristeza é plural. Grande, pelos amigos, pelo Brasil, por sua família.

Cristovam Buarque é professor da UnB e senador pelo PDT-DF

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

PPS lamenta morte de Fernando Lyra - Roberto Freire

Em nota divulgada na tarde desta quinta-feira, o presidente nacional do PPS, deputado federal Roberto Freire (SP), lamenta, em nome de todo o partido, a morte do político e ex-ministro da Justiça Fernando Lyra. Para a legenda, ele foi figura da maior importância na resistência democrática, sobretudo nas ações que culminaram com a reconquista das liberdades no país, em 1985. Confira abaixo a íntegra da nota.

Fernando Lyra: Uma enorme perda

O Brasil está de luto com a morte, neste dia, aos 75 anos, do político e ex-ministro da Justiça, o pernambucano Fernando Lyra, figura da maior importância na resistência democrática, sobretudo nas ações que culminaram com a reconquista das liberdades no país, em 1985. Enfrentando problemas cardíacos, nos últimos 15 anos, agravados com complicações no seu sistema urinário, ele esteve internado no Instituto do Coração (Incor), em São Paulo, durante várias semanas, e não resistindo à grave situação a que chegara, veio a falecer.


Filho de uma família de políticos, formou-se em Direito pela faculdade de Caruaru (turma de 1964), indo exercer sua profissão no Recife, onde envolveu-se nos movimentos e ações contra a ditadura militar. Um dos fundadores do MDB em Pernambuco, entrou na vida pública para disputar uma cadeira na Assembleia Legislativa, no pleito de 1966, elegendo-se deputado estadual. Graças à sua combatividade e coragem no enfrentamento do regime autoritário, fez agressiva campanha, no pleito de 1970, conquistando minha adesão e um enorme empenho meu para ajudá-lo a se tornar um dos nossos representantes na Câmara Federal.

Pessoa fraterna e sempre aberta ao diálogo e à negociação, Fernando Lyra tinha como outra de suas inigualáveis características manter uma postura sempre democrática ao tratar das questões mais delicadas e divergentes. Um dos criadores e líderes do Grupo Autêntico, do MDB, teve uma trajetória das mais ricas, exercendo vários mandatos de deputado federal e foi coordenador político na campanha de Tancredo Neves rumo ao Planalto em 1985. Atingiu seu apogeu ao ser nomeado ministro da Justiça, cargo no qual teve participação decisiva em eliminar os absurdos implantados pela ditadura militar-civil e se tornou um dos responsáveis diretos pela reconquista da legalidade do Partido Comunista Brasileiro. Nos seus mais de 40 anos na vida pública, exerceu seu último mandato parlamentar até 1998, quando não mais quis disputar eleição, acentuando que seu estilo de atuação não tinha mais espaço no Congresso. Desde 2003, passou a presidir a importante Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), órgão do Ministério da Educação.

Chocado com a notícia de seu desaparecimento, em meu nome pessoal, e do Diretório Nacional do PPS, transmito à viúva, filhos e netos, e aos seus irmãos e demais familiares, nossos mais fraternos pêsames e os melhores sentimentos de uma paz de espírito para que resistam à imensa perda de ente tão querido.

Brasília, 14 de fevereiro de 2013

Deputado federal Roberto Freire
Presidente nacional do PPS

Fonte: Portal do PPS

Eduardo Campos perde o "conselheiro"

Governador destaca a "largueza de espírito" do ex-ministro. Presidente Dilma e seu antecessor Lula lamentam a morte

Ayrton Maciel

A presidente da República, Dilma Rousseff, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), uniram-se, ontem, nas expressões de pesar pela morte do ex-deputado e ex-ministro da Justiça da redemocratização Fernando Lyra. Amigo pessoal e aliado fiel do ex-governador Miguel Arraes (PSB), Lyra era um conselheiro político do governador – neto de Arraes –, que recorria ao ex-ministro com frequência, pela experiência, visão e habilidade política de cinco décadas.

“Pernambuco e o Brasil perderam hoje um grande nome da história deste Estado e deste País. A trajetória política de Fernando Lyra engrandeceu o Brasil. Ele foi um dos líderes da luta contra a ditadura militar, como deputado federal integrante do grupo autêntico do MDB e como um dos coordenadores de campanhas como a das Diretas Já. Como ministro da Justiça, esse grande pernambucano serviu ao povo brasileiro com visão de futuro e largueza de espírito. O governo de Pernambuco se solidariza com a família Lyra neste momento de perda. Quero também, em meu nome pessoal e no da minha família, reafirmar a convicção de que Fernando estará sempre presente na memória e no sentimento de todos nós. Que o seu exemplo seja o principal legado para o nosso povo e as futuras gerações”, declarou Eduardo, que decretou luto oficial por por três dias.

Em Brasília, o Palácio do Planalto emitiu nota oficial da presidente Dilma – ex-presa política, torturada na prisão –, que ressalta o papel exercido por Lyra para a redemocratização institucional do Brasil e expressa à família o seu pesar. “A democracia brasileira perdeu hoje (ontem) um de seus mais expressivos defensores. Primeiro ministro da Justiça da redemocratização, foi o responsável pelo fim da censura oficial, passo fundamental na reconquista da liberdade de expressão no País. Exímio articulador político, foi um dos expoentes da formação da Aliança Democrática. Teve atuação relevante na Assembleia Nacional Constituinte e representou com brilho os eleitores de Pernambuco na Câmara. Em nome de todas as brasileiras e de todos os brasileiros, apresento meus votos de pesar”, revela.

De São Paulo, o ex-presidente Lula divulgou nota exaltando a importância do ex-ministro, destacando a luta conjunta pela democracia e solidarizando-se com os familiares. “Fernando Lyra foi um grande pernambucano e brasileiro que lutou de forma incansável para o avanço da democracia. Eu tive o prazer de estar ao seu lado muitas vezes ao longo de sua bela trajetória e também no governo. Com sua morte, o Brasil perde uma importante referência política”, registrou.

Os prefeitos do Recife, Geraldo Julio, e de Jaboatão, Elias Gomes (PSDB), também decretaram luto oficial. “Ele teve uma vida dedicada à democracia. Todos os dias da vida, ele lutou pela democracia neste País. Para a minha geração especificamente, ele foi uma referência”, disse Geraldo.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Aécio e José Sarney ressaltam atuação

Em nota, o senador e ex-presidente da República José Sarney - que teve Lyra como ministro, uma "herança" recebida de Tancredo Neves -, disse que o Brasil perde um de seus "maiores políticos".

"Perde o Brasil um de seus maiores políticos. Foi um batalhador, herói da luta pela democracia. Foi meu ministro e meu amigo. Muito ajudou na implantação das primeiras leis que abriram o Brasil para os ventos da liberdade. Figura humana inconfundível. Tinha o segredo e a magia do gosto de conviver. Ele amou o Brasil e Pernambuco. Para nós, de sua geração, é uma referência e uma saudade indelével. É com comoção que recebo a notícia de sua morte e com ela um pedaço da memória da redemocratização", destacou Sarney.

O governador Antonio Anastasia e o senador Aécio Neves, ambos do PSDB mineiro, também ressaltaram a atuação de Lyra. "Lyra marcou a vida pública brasileira pela firmeza ética e democrática de suas posições. Foi um companheiro leal de meu avô Tancredo, sobretudo na luta pela redemocratização", disse Aécio

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Políticos longe da rede de Marina

Projeto muito personalizado e regras inusitadas afastam da nova legenda nomes de peso

Júnia Gama e Gustavo Uribe

BRASÍLIA, SÃO PAULO e RIO - O processo de criação do 31º partido político brasileiro, encabeçado por Marina Silva, a ex-senadora pelo Acre e dona de 20 milhões de votos na última eleição presidencial, terá seu grande dia neste sábado, em Brasília, quando será definido o seu nome e serão lançados o programa e o estatuto provisórios, com ideias peculiares e uma série de restrições ao comportamento vigente da política atual. Marina está contando com apoio e solidariedade de políticos de vários partidos, PT e PSDB principalmente, mas poderá ter dificuldades em assinar a ficha de filiação de muitos deles. Até o momento, apenas três parlamentares confirmaram o desejo de migrar para a legenda: Alfredo Sirkis (PV-RJ), Walter Feldman (PSDB-SP) e Domingos Dutra (PT-MA).

Outros nomes cotados como possíveis correligionários de Marina no partido, que por enquanto se chama "Rede", já avisaram, por meio de assessoria, que ficam onde estão, entre eles os deputados Reguffe (PDT-DF) e Alessandro Molon (PT-RJ).

O processo de criação precisa ser concluído até o início de outubro, para que os filiados possam disputar as eleições do ano que vem. Não será difícil conseguir 500 mil assinaturas em nove estados, como exige o Tribunal Superior Eleitoral. O desafio é conseguir apoios políticos efetivos que viabilizem a vida do partido.

Reservadamente, políticos assediados alegam que a legenda está se constituindo como "o partido da Marina", pois a maior preocupação, dizem, é garantir a candidatura dela a presidente em 2014. Marina não estaria disposta a trabalhar por candidaturas a governos estaduais e ao Senado, por exemplo.

tempo de Mandato: limite de 16 anos

Além desse temor, regras previstas no estatuto provisório - que deverá sofrer alterações ao longo deste ano - servem como repelente para políticos. É o caso da limitação a 16 anos do tempo de mandato parlamentar de um filiado. Serão proibidas filiações de políticos "ficha-suja"e haverá teto para doações de pessoas físicas e jurídicas. O estatuto provisório, que deverá ser aprovado amanhã, proíbe a contribuição de setores cuja lógica produtiva "não seja ligada à sustentabilidade", assim como de empresas das áreas de cigarros, armamentos, agrotóxicos e bebidas alcoólicas. A proposta é de que a nova sigla não tenha um presidente nacional, mas uma comissão executiva cujos membros tenham poderes iguais. O coordenador jurídico da rede Pró-partido, André Lima, diz que a ideia é impedir a formação de "caciques":

- Queremos trabalhar como uma rede, sem caciques políticos. O limite de 16 anos de mandato abre espaço para novas lideranças - disse Lima, ressaltando que o grupo ainda não está discutindo alianças ou questões eleitorais.

Outro ponto que preocupa simpatizantes do partido é a intenção de reservar 30% das vagas no Congresso a candidaturas avulsas, para os que não tenham comprometimento partidário - a filiação partidária é obrigatória para o candidato. A ideia de fazer plebiscito após 20 anos para avaliar se o partido deve continuar a existir também provoca calafrios em políticos.

Um parlamentar simpatizante da ex-senadora diz que os colegas cotados para ir para a nova legenda estão inseguros sobre como será o partido:

- As ideias são, no mínimo, inusitadas. É bem intencionado, mas está sendo conduzido por pessoas de outras áreas, sem experiência partidária. É tão utópico, distante, que fica difícil saber se é possível. Marina atrai, mas o fato de ela ter 20 milhões de votos não quer dizer que tenha tarimba para ser líder de partido.

Outro político que conversa com o grupo de Marina acredita que ela não conseguirá estruturar uma legenda:

- A Marina não está montando um partido para ganhar eleição, ela quer somente repetir os 20 milhões que fez em 2010 e ser uma popstar. Somente os idealistas vão para um partido desse.

Os senadores Cristovam Buarque (PDT-DF), Pedro Taques (PDT-MT), Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), Pedro Simon (PMDB-RS) e a deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP) serão procurados após a criação do partido. O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) já declarou que ajudará na fundação, mas que, por ora, não pretende sair do PT.

- Eu, Sirkis e Domingos Dutra vamos participar da fundação e assinar como fundadores. Os outros deverão analisar por mais tempo, e não devem, neste primeiro momento, participar. O processo de formação do partido vai demorar cerca de seis meses. Com a criação da legenda, haverá mais tranquilidade (para adesões) - avaliou Walter Feldman.

Ao contrário dos partidos que sangraram em 2010 e 2011 com a ida de filiados para o PSD, dirigentes de outras legendas não mostram preocupação. Como o deputado Sarney Filho (PV-MA), que foi companheiro de partido da ex-senadora:

- No Congresso, acredito que só o deputado Sirkis vai para o partido. É irrelevante em termos de Legislativo. Quanto mais partido para favorecer a causa do desenvolvimento sustentável, melhor. Já estamos em extrema desvantagem em relação aos ruralistas.

Nem mesmo no Planalto a criação do partido de uma potencial concorrente da presidente Dilma Rousseff é levada muito a sério. A avaliação é que a legenda deve enfrentar dificuldades para se viabilizar, diferentemente do PSD de Gilberto Kassab, que nasceu com respaldo de parlamentares e políticos nos estados.

Uma das estratégias do novo partido, já com vistas a 2014, será um pacto de "não agressão" com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB).

- A ideia é ter bom relacionamento, pacto de não agressão. Achamos difícil aliança. Campos é um dos políticos mais permeáveis ao que a gente defende - disse Sirkis.
(Colaborou Cássio Bruno)

Fonte: O Globo

Gabeira recusa convite, mas não descarta apoio à Presidência em 2014

Outros quadros do PV do Rio tendem a seguir ex-senadora em seu novo projeto político

Cássio Bruno

O ex-deputado federal pelo Rio Fernando Gabeira, do PV, recusou o convite da ex-senadora Marina Silva de ingressar em seu novo partido. Os dois conversaram durante o carnaval. A Marina, Gabeira disse que, por enquanto, quer permanecer no PV, mas não descartou o apoio à candidatura da ex-senadora à Presidência, em 2014.

- Desejei sorte e avisei que, mesmo assim, poderíamos marchar juntos (na campanha). Não quero sair (do PV) para mantê-lo vivo e de pé - afirmou Gabeira ao GLOBO ontem.

O ex-deputado voltou a descartar uma candidatura à Presidência ou ao governo do Rio pelo PV, e ressaltou que Marina enfrentará desafios:

- Ela terá que conseguir até outubro 500 mil assinaturas de apoio (exigidas pela legislação), e todos com ficha limpa. O PSD teve dificuldade para ter as assinaturas... Esse é um problema importante. Será necessário também construir uma coligação mínima, com pelo menos três partidos pequenos.

Gabeira foi candidato ao governo do Rio, em 1986 e 2010, e à prefeitura, em 2008. Em 1989, disputou a Presidência da República. Perdeu todas as disputas.

Apesar da recusa de Gabeira, Marina Silva tem buscado recrutar integrantes do PV no Rio. A deputada estadual Aspásia Camargo, candidata verde à prefeitura da capital no ano passado, já se encontrou com a ex-senadora e poderá segui-la. Os ex-vereadores Sônia Rabelo e Edson da Creatinina também terão o mesmo destino, segundo informou o deputado federal verde Alfredo Sirkis, principal aliado de Marina e um dos coordenadores neste processo de criação da legenda. O vereador Jefferson Moura, do PSOL, também está de malas prontas para o novo partido.

Sirkis ressaltou que o tom não será de confronto com o PV:

- Não estou fazendo trabalho de aliciamento de ninguém a ir para o partido da Marina. Não é um racha.

Aspásia admitiu ter conversado com Marina, mas negou a intenção de sair do PV. A deputada, no entanto, afirmou que "está inclinada" a acompanhar Marina, mas apenas para criar uma "coalizão verde" para 2014.

- Estou no PV, sou solidária à proposta (de criação do partido) e inclinada a acompanhá-la - desconversou.

Fonte: O Globo

PT e PMDB tentam convencer Dilma a promover reforma ministerial mais ampla

Principais partidos da base querem ocupar mais espaços no lugar do PSB

Maria Lima

BRASÍLIA Já pensando numa eventual saída do PSB da base governista e disposta a reforçar o palanque de 2014, a presidente Dilma Rousseff começou a afunilar as conversas para fechar a reforma ministerial. De volta mais cedo de seu recesso em Miami, o vice-presidente Michel Temer conversou ontem com Dilma, no Palácio da Alvorada, e deve se reunir com líderes do partido no início da próxima semana.

O nome de Gabriel Chalita (PMDB-SP), que a presidente gostaria de compensar pelo apoio a Fernando Haddad, em São Paulo, perdeu força para ocupar o Ministério de Ciência e Tecnologia. A prioridade, pelo menos agora, é atender a bancada de Minas Gerais, que cobra compensação pela renúncia de Leonardo Quintão (PMDB-MG) em favor de Patrus Ananias (PT), na disputa pela prefeitura de Belo Horizonte.

Além de Ciência e Tecnologia, pode haver mudanças na pasta da Agricultura, indicação pessoal de Dilma. Vai depender dos exames que o ministro Mendes Ribeiro fará na próxima semana para ver a evolução do tratamento de câncer. Já a bancada federal do PMDB quer, para contemplar a nova correlação de forças no Congresso, um ministério que tenha retorno em votos: as pastas da Cidades, hoje com o PP, e dos Transportes são os alvos.

Mas os peemedebistas ressaltam que não se trata de chantagem:

- Não é pressão ou chantagem. A bancada tem consciência de que isso quem decide é a presidente. Mas quer o reconhecimento de sua importância. Ter o vice-presidente é importante, simboliza que o PMDB é sócio do governo. Mas, além do governo, quer também o poder. Quem fatura efetivamente é o PT, porque tem a presidente. Se anuncia a redução da energia, quem fatura é o PT - diz o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA).

Como o PSB já trabalha o projeto de Eduardo Campos para 2014, setores do PT, encabeçados por Lula, e peemedebistas tentam convencer Dilma a fazer uma reforma ministerial mais ampla. Ela ainda resiste em desalojar o PSB da Esplanada, porque precisa do partido no Congresso para aprovar projetos importantes.

- A presidente deve levar isso em consideração lá na frente. Não digo tirar os ministérios do PSB, mas reforçar os partidos que podem cobrir o buraco que fatalmente será deixado pelo PSB na eleição de 2014 - avalia Lúcio Vieira Lima.

A preocupação agora é resolver as reclamações do PDT e do PR, para evitar que se aliem a Eduardo Campos. No PDT, o problema é tirar Brizola Neto do Ministério do Trabalho, uma indicação pessoal de Dilma, contra a vontade do partido. Há duas semanas, Dilma se reuniu com o ex-ministro Alfredo Nascimento (PR-AM) e o líder na Câmara, Anthony Garotinho. Teria prometido desistir de indicar o senador Blairo Maggi (MT) para os Transportes, já que o partido não o apoia.

- Achamos que Dilma vai acabar não dando nada para o PR. Enquanto isso, Eduardo Campos já está conversando com os que foram jogados fora - contou ontem um interlocutor de Alfredo Nascimento.

A presidente tem que arranjar também uma saída para oficializar o ingresso do PSD na base aliada, com a ida de Gilberto Kassab ou da senadora Kátia Abreu para um ministério. Mas o partido está dividido sobre apoiar oficialmente o governo.

- A minha posição é que, pelo tratamento que recebemos do PT aqui no Acre, é impossível uma aliança formal - diz o líder do PSD no Senado, Sérgio Petecão (AC).

Fonte: O Globo

Oito estados na mira do partido de Marina Silva

A nova legenda será anunciada amanhã pela ex-candidata a presidente. Uma das metas é disputar o governo nos principais centros. O DF é um desses colégios eleitorais.

Estratégia montada

Integrantes da legenda que será lançada amanhã por Marina Silva avaliam que terão palanque forte em oito dos principais colégios eleitorais

Paulo de Tarso Lyra

Os integrantes do novo partido que será lançado amanhã em Brasília tendo como principal estrela a ex-candidata do PV à presidência, Marina Silva, apostam em palanques fortes em pelo menos oito unidades da Federação nas eleições para governador em 2014: São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Bahia, Distrito Federal, Ceará e Rio Grande do Sul. Em todos eles, a futura legenda espera lançar candidatos ao governo local para pavimentar a provável candidatura nacional de Marina no ano que vem.

Somado, o eleitorado desses estados, de acordo com números oficiais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), chega a aproximadamente 88,3 milhões de eleitores — ou 65% dos votos nacionais. Eles representam sete dos oito maiores colégios eleitorais do país, além da capital da República, onde Marina teve uma expressiva votação na disputa pelo Palácio do Planalto dois anos atrás. “São lugares onde ocorreram mais do que mobilizações nas redes sociais. Em todos eles foram organizados encontros presenciais com Marina Silva”, disse o coordenador jurídico do futuro partido, André Lima. 

Esses polos eleitorais foram costurados pela própria Marina logo após 2010, quando terminou as eleições presidenciais com um capital político de aproximadamente 20 milhões de votos. Ainda filiada ao PV, ela começou a arregimentar forças locais para endossar o movimento de mudança. “Nós continuamos sendo uma opção àqueles que buscam algo além da polarização atual entre PT e PSDB”, afirmou o deputado federal Walter Feldmann (PSDB-SP), principal nome do futuro partido em São Paulo.

No Rio de Janeiro, Marina preservou-se dos ataques e usou Alfredo Sirkis para defender o rompimento com o PV. Segundo apurou o Correio, os marineiros convenceram Sirkis de que a legenda que ajudou a construir tinha se transformado em partido de aluguel. A tese foi reforçada quando, no segundo turno das eleições presidenciais, parte do PV defendeu apoio à candidatura de José Serra (PSDB) em troca de quatro ministérios: Cidades, Integração Nacional, Educação e Meio Ambiente. Sirkis acabou por aderir ao movimento mudancista.

Embora tente adotar um discurso de que o partido não está sendo criado exclusivamente para dar condições à Marina de candidatar-se novamente à presidência, ninguém esconde que não faria sentido tanto esforço para deixar escapar a oportunidade de um nome próprio ao Palácio do Planalto no ano que vem. Os próprios estados eleitos como chave pelos sonháticos, além do alto número de eleitores, foram escolhidos por representar redutos eleitorais dos prováveis adversários de Marina.

Votação

Dois deles encaixam-se com exatidão nesse perfil: Minas Gerais, do senador Aécio Neves (PSDB), e Pernambuco, do governador Eduardo Campos (PSB). Além disso, São Paulo é reduto tucano; Ceará é governador pelos socialistas; e Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, que são comandados respectivamente por PMDB e PT, devem despejar votos a granel para a presidente Dilma Rousseff.

Os críticos do movimento dos “sonháticos” afirmam que Marina ainda dorme embalada pelos 20 milhões de votos que recebeu há dois anos. Emendam que eles não são capital próprio, mas sim, fruto de uma descrença em Dilma e Serra, os dois adversários do pleito presidencialista de 2010. Além disso, há quem diga que no ano que vem Marina poderá dividir o rótulo de novidade com Eduardo Campos.

Nada que assuste os “sonháticos”. Mas para que a opção de mudança deixe de ser apenas um sonho, contudo, é preciso a coleta de pelo menos 500 mil assinaturas, o que representa 0,5% do eleitorado nacional, em pelo menos nove estados. De acordo com Feldmann, a expectativa é que esse número seja atingido com certa facilidade. Só em São Paulo o ainda tucano estima em 200 mil apoiadores. A legenda ainda terá que lutar no Tribunal Superior Eleitoral, caso consiga o número mínimo de assinaturas, para ter tempo de televisão e fundo partidário, requisitos essenciais para atrair parlamentares de outras legendas.

As apostas

Confira as unidades da Federação onde os sonháticos acreditam que estarão bem em 2014

São Paulo
» Principal estado do país, tem Walter Feldmann (PSDB) como principal nome

Minas Gerais
» Segundo maior colégio eleitoral do país, pode surgir como um contraponto ao PSDB de Aécio Neves

Distrito Federal
» Foi uma das votações mais marcantes de Marina Silva na campanha presidencial de 2010

Pernambuco
» O partido surge embalado na força de Sérgio Xavier, ambientalista histórico e com bom diálogo com o PT pernambucano. Pode ser contraponto a Eduardo Campos

Bahia
» Maior colégio eleitoral do Nordeste, estado considerado chave fora do eixo Sudeste

Ceará
» Partido também pretende rivalizar com o PSB, desta vez com o clã Gomes.

Rio Grande do Sul
» Estado comandado pelo PT e berço político de Dilma Rousseff, o novo partido pode roubar votos dilmistas

Rio de Janeiro
» Marina também foi bem votada, além de ser o estado de Alfredo Sirkis, um ex-verde histórico, provável candidato do partido ao governo localfalsefalsetrueEstratégia montadaIntegrantes da legenda que será lançada amanhã por Marina Silva avaliam que terão palanque forte em oito dos principais colégios eleitorais

Fonte: Correio Braziliense

Marina usa estratégia de 2010 para coletar assinaturas para sigla

Ex-senadora vai reativar 'Casas de Marina' para tentar viabilizar criação de seu partido

SÃO PAULO, BRASÍLIA - A ex-senadora Marina Silva vai reeditar estratégia que usou na campanha à Presidência em 2010 para tentar acelerar a coleta das 500 mil assinaturas necessárias à fundação de seu novo partido, provisoriamente chamado de "Rede".

Ela vai revisitar o conceito que deu origem às "Casas de Marina", comitês domiciliares usados para divulgar sua candidatura presidencial e buscar voluntários que queiram fazer de seus lares e estabelecimentos centros de coleta de assinaturas de apoio ao novo partido.

As "casas pró-Rede" também servirão à campanha de marketing da nova legenda, coordenada pelo cineasta Fernando Meirelles.

Marina Silva e seus aliados correm contra o tempo para tirar a nova legenda do campo das ideias. A cúpula da nova sigla trabalha com a estimativa otimista de levantar as 500 mil assinaturas necessárias em até três meses.

Só com esse número de apoiamentos é possível dar início ao registro na Justiça Eleitoral. Para concorrer em 2014, Marina precisa finalizar essa burocracia até setembro.

"Esperamos uma adesão voluntária muito grande", disse o deputado Walter Feldman (SP), colaborador da Rede, hoje no PSDB. "A ideia é descentralizar ao máximo a coleta de assinaturas", completou Basileu Margarido, ligado à ex-senadora.

Haverá um comitê oficial de apoiamento em cada Estado. A Rede vai, ainda, reutilizar estratégia que serviu ao PSOL, em 2004, e instalar quiosques para coleta de assinaturas em universidades.

O carro-chefe da mobilização, no entanto, será a internet, que irá disponibilizar fichas de apoiamento on-line e cadastros para "multiplicadores"- pessoas dispostas a coletar, voluntariamente, dezenas de assinaturas.

A Rede promete uma pauta ética. Seu estatuto prevê que quem tiver exercido mandato parlamentar por mais de 16 anos não poderá ser candidato a novo cargo.

Suplicy

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) negou ontem que esteja de saída de seu partido para se filiar à legenda que Marina pretende criar.

Da tribuna do Senado, Suplicy disse ter conversado com o presidente do PT, Rui Falcão, para confirmar que vai permanecer na sigla.

"Vejo meu ingresso no PT como uma decisão de vida. Ademais, eu também defendo a fidelidade partidária até o final de meu mandato."

Suplicy disse ter comunicado também o ex-presidente Lula e o prefeito Fernando Haddad (SP) de sua decisão.

Ele conversou com Marina por telefone na semana passada, quando disse ter recebido o convite para ir a uma reunião em que ela deve anunciar a criação da sigla.

Fonte: Folha de S. Paulo

Eduardo Campos afirma que só vai discutir sucessão de Dilma em 2014

Governador cita bloco e diz que não está 'nem atendendo telefone'

Natuza Nery

BRASÍLIA - O governador Eduardo Campos (PSB-PE) tem recorrido à ironia quando falam de sua candidatura à Presidência em 2014. Ontem, usou o Carnaval para negar essas especulações: "Vi num bloco um grupo de adolescentes vestindo a camiseta dizendo: 'Eu já nem estou atendendo o telefone, imagine ligando'".

Aos risos, Campos repetiu à Folha aquilo que ele próprio pronuncia feito mantra desde que entrou no rol de prováveis candidatos ao Planalto: "O PSB não tem que fazer a discussão sobre 2014 durante 2013. O que precisamos agora é ajudar a presidente Dilma no Congresso e em seu esforço de retomar o crescimento econômico; não ficar se perdendo em conjecturas."

A frase casa com a avaliação de uma ala majoritária do partido, segundo a qual seria um erro colocar o bloco na rua neste momento. "2014 deve ser tratado em 2014", afirmou ontem o líder do PSB no Senado, Rodrigo Rollemberg.

Eis algumas das razões: não interessa transformar Campos em foco prematuro de rivais; não vale a pena romper agora com o Executivo; é preciso medir como evoluem a economia e a popularidade da presidente Dilma.

A entrada do governador na bolsa de apostas transformou-o em uma das principais atrações da sucessão. Foi por isso que Lula resgatou a ideia de ter o aliado como vice de Dilma. É um projeto polêmico, com resistência sobretudo no PMDB, dono da vaga.

"Tenho visto muita notícia na imprensa, mas não me preocupo; amanhã vou saber o que Lula pensa na imprensa", ironizou o governador.

Fonte: Folha de S. Paulo

Procurador ja analisa denúncia contra Lula

Leonardo Melo, de Minas Gerais, recebeu depoimento de Marcos Valério enviado por Gurgel: operador do mensalão citou petista como beneficiário

Marcelo Portela

BELO HORIZONTE - O Ministério Público Federal em Minas Gerais começou a analisar esta semana o depoimento do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, no qual ele acusa o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de ter recebido recursos do esquema do mensalão, julgado no ano passado pelo Supremo Tribunal Federal.

O material encaminhado pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, para a primeira instância - porque Lula não possui mais foro privilegiado - foi distribuído para o Núcleo do Patrimônio Público do MPF em Belo Horizonte, composto por quatro procuradores. Por sorteio, a aná¬lise ficará a cargo do procurador Leonardo Augusto Melo. Ele vai avaliar as declarações de Valério - condenado a mais de 40 anos de prisão pelo Supremo - que disse em depoimento na Procuradoria- Geral da República, em setembro último, que Lula sabia do esquema e que cerca de R$ 100 mil foram usados para pagar despesas pessoais do então presidente.

O procurador vai decidir se anexa o depoimento de Valério a algum dos procedimentos que já tramitaram no órgão ou se abre uma nova investigação - ou, ainda, se arquiva o caso. Conforme a assessoria do MPF, não há prazo para a decisão.

Condenações. Em Minas foi realizada a maior parte das investigações desmembradas do processo que tramitou no Supremo. Desde 2006, a Procuradoria da República no Estado já apresentou pelo menos seis denúncias ou ações originadas do escândalo do mensalão. Elas resultaram em ao me¬nos quatro condenações - entre elas a primeira registrada no mensalão: o advogado Rogério Tolentino foi condenado a 7 anos e 4 meses de prisão por lavagem de dinheiro. Outra denúncia resultou na condenação de Valério, executivos do Banco BMG e os ex-dirigentes petistas José Genoino e Delúbio Soares pela montagem de empréstimos "fictícios" e "falsos" ao PT em 2003 e 2004. Valério e seus ex-sócios também já foram condenados por sonegação e falsidade.

Fonte: O Estado de S. Paulo

O partido-rede - Merval Pereira

O partido que a ex-senadora Marina Silva começa a revelar amanhã na reunião plenária que marcará seu lançamento oficial pretende ser um instrumento para desmontar as velhas estruturas partidárias e estabelecer uma rede de relacionamento entre diversos políticos, pertencentes ou não à nova sigla, unidos em torno de princípios éticos e programáticos.

Seus fundadores veem essa "rede" como um instrumento estratégico para "dessacralizar" a imagem do partido tradicional, promovendo a ajuda a quadros em uma pluralidade de partidos e na sociedade civil que queiram trabalhar na mesma direção. A ideia de que o "partido" concentra o jogo político, enquanto a "rede" o dispersa acompanha a formação da nova agremiação, que nasce com a intenção de "virar pelo avesso, o avesso em que vivemos", na definição do deputado federal Alfredo Sirkis, que será um dos fundadores da rede, que ele sugere estar ligada à questão central do meio ambiente, algo como "Rede Eco" ou "Eco Brasil".

Junto com ele devem ser fundadores os deputados Walter Feldman (PSDB-SP), Ricardo Tripoli (PSDB-SP), Domingos Dutra (PT-MA) e Reguffe (PDT-DF). Marina está conversando com o deputado federal petista Molon, que vai ajudar, mas ainda não decidiu se oficialmente participa da fundação ou se vai esperar para inaugurar o tipo de aliança informal que está prevista na própria formação do novo partido-rede.

Seus organizadores têm a esperança que outros deputados que estão conversando se definam até amanhã, para que a "rede" comece com entre cinco e dez deputados federais. Os "sonháticos", como se definem, esperam aproveitar a votação de quase 20% que a ex-senadora Marina Silva obteve em 2010 para, com quase três anos de atraso, tentar interferir na correlação de forças políticas existentes.

O entendimento é que, embora Marina não tenha aproveitado seu cacife eleitoral para obter acordos políticos relevantes com os dois finalistas daquela campanha, os eleitores que a viram como uma alternativa àquela época continuam sem perspectiva política e podem ser atraídos outra vez pela nova tentativa de mobilização de jovens e outras gentes ainda esperançosas de mudar o Brasil na direção da sustentabilidade. Em vez de "pretensiosa e inútil ingenuidade", os "sonháticos" acham que a melhor opção é ainda sonhar com novas correlações de força, já que a alternativa seria deixar tudo como está e entrar no jogo da maneira que ele está estabelecido, não abrindo "um canal de participação política novo para esses integrantes de nossa sociedade que anseiam por algo diferente", como diz Sirkis.

É dentro desse conceito novo de fazer política que o partido-rede pretende aprovar na plenária de amanhã estatuto com diversas novidades: o limite de 16 anos no mesmo cargo eletivo, o que equivale a dois mandatos de senador (justamente o tempo que Marina permaneceu como senadora em Brasília) ou quatro mandatos de deputado federal, deputado estadual ou vereador. Para contrastar, por exemplo, com os 11 mandatos de deputado federal do novo presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves. A ideia é evitar a criação de "parlamentares profissionais".

Outro ponto destoante será a proibição de doações de campanha oriundas dos setores de bebida alcoólica, cigarro, arma e agrotóxicos. Estranhamente não há restrições ao financiamento de empreiteiras e bancos, setores muito mais envolvidos em polêmicas de financiamento do que as escolhidas. Essas limitações têm a vantagem de diferenciar o novo partido-rede dos demais em atuação, mesmo com suas inconsistências internas.

O que não está claro é como esse partido-rede atuará, por exemplo, na formação de coligações partidárias para a disputa presidencial de 2014, quando a ex-senadora concorrerá novamente à Presidência da República. Esses acordos "virtuais" podem até mesmo funcionar em votações suprapartidárias no Congresso, mas não funcionam quando objetivamente se tem que conseguir o maior tempo de propaganda no rádio e televisão numa campanha eleitoral.

Fonte: O Globo

Projeto da ex-senadora enfrentará obstáculos maiores do que em 2010 - Fernando Rodrigues

O projeto da ex-senadora Marina Silva de disputar a Presidência da República em 2014 contém obstáculos extras na comparação com o cenário que enfrentou em 2010.

Naquele ano, ficou em terceiro na corrida ao Planalto, com cerca de 20% dos votos. Perdeu, mas foi a grande novidade da disputa. Galvanizou o apoio de brasileiros desencantados com políticos tradicionais.

Na pesquisa Datafolha de dezembro último, Marina aparece com potencial de voto para presidente que sugere que ela manteve o seu patrimônio de dois anos atrás.

São dados que devem ser analisados com ponderação. Quando não há campanha eleitoral aberta, é natural candidatos de outras disputas se beneficiarem da memória do eleitor, que, na dúvida, tende a declarar intenção de votar em quem já conhece.

Mas nada garante que Marina será outra vez depositária do voto de protesto contra os políticos tradicionais. Afinal, ela já não será uma neófita em corridas presidenciais. Em 2010, a ex-senadora pelo PT do Acre era uma ex-ministra que havia saído do governo por não concordar com a política ambiental de Lula. Com o tempo, esse predicado pode não eletrizar eleitores como antes.

Outra dificuldade é não ter um partido pronto. Ela teve o PV em 2010. Sigla modesta, mas que oferecia o básico: uma pequena bancada de deputados federais para garantir tempo de propaganda eleitoral na TV. Agora, será necessário convencer deputados a embarcarem no projeto.

O novo partido decidiu que não receberá doações de empresas "sujas", como as fabricantes de bebidas alcoólicas. É uma grande jogada de marketing, mas como serão repostos os recursos que brotavam dessas fontes? Não se sabe. A doação de pequenas quantias de pessoas físicas ainda é uma meta e não uma certeza. Sem dinheiro não se faz campanha no Brasil.

A todas essas dúvidas os aliados de Marina tendem a responder com uma palavra: internet. Pode dar certo, embora até agora a militância na web não tenha amadurecido. Neste mês, mais de 1,3 milhão de pessoas aderiu a uma petição digital contra Renan Calheiros (PMDB-AL), mas no momento em que a manifestação de rua foi convocada, só 200 apareceram.

Por fim, adversários de Marina têm estudado a natureza de seus eleitores. Haverá contraofensiva. O voto dos evangélicos, por exemplo, será muito mais cortejado. Ou seja, o projeto da ex-senadora não terá caminho suave.

Fonte: Folha de S. Paulo

Dilma cancela viagem a PE e PSB freia pré-campanha

Raymundo Costa e Murillo Camarotto

BRASÍLIA e RECIFE - O PSB não passou recibo, mas abriu-se uma fenda superficial na relação entre a presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff e Eduardo Campos, o governador de Pernambuco e eventual candidato ao mesmo cargo, nas eleições de 2014. Campos, que também preside o PSB, somente ontem de manhã foi oficialmente informado do cancelamento da viagem que Dilma programara fazer na segunda-feira a Pernambuco. Líderes do PSB também reduziram a velocidade que vinha sendo imprimida nos últimos dias a uma candidatura que Campos quer, mas sobre a qual ainda não se decidiu em definitivo.

O cancelamento da viagem foi divulgado na tarde de quarta-feira, 13, no "Blog do Planalto", quase ao mesmo tempo em que o governador anunciava, no Recife, que o gabinete da presidente confirmara a viagem a Serra Talhada, no sertão pernambucano, e que o restante da agenda seria definida até hoje. Ontem de manhã, quando os jornais já traziam a notícia, o gabinete de Dilma informou oficialmente o governador que ela não iria mais.

Motivo: uma fissura - espécie de fenda ligeira - no dedão do pé direito de Dilma. Por recomendação médica, ela precisaria tomar cuidado ao andar e usar uma bota ortopédica. O que não é novidade no histórico médico da presidente. Na campanha de 2010, Dilma perdeu o equilíbrio enquanto fazia esteira, torceu o mesmo pé e passou a usar uma proteção que ela mesma batizou de "bota robô". Ainda assim cumpriu alguns compromissos mais leves de campanha.

A "fissura" foi vista na cúpula do PSB como desculpa esfarrapada, mas o fato é que imediatamente o PSB desacelerou o movimento pela candidatura Eduardo Campos. O líder no Senado, Rodrigo Rollemberg (DF) subiu a tribuna para "registrar" que a responsabilidade do PSB é "contribuir para atravessar de forma adequada este ano difícil e para estarmos todos unidos para que o Brasil possa sair maior ao terminar 2013".

Sob os aplausos do PSDB e do PP, Rollemberg disse que "o debate [sucessório] será feito no momento adequado. Temos uma agenda de interesse do país que precisa ser enfrentada coletivamente e a antecipação do debate eleitoral não contribui para a apreciação dessa agenda. E no que depender de nós do PSB esse debate não será antecipado".

Trata-se de um recuo em relação às afirmações do líder na Câmara, Beto Albuquerque (RS), semana passada. Beto não só lançou a candidatura, como até anunciou a data do desembarque do partido no governo: outubro. Segundo o Valor apurou, Beto não inventou nada, mas o cenário que apresentou a jornalistas era apenas um entre vários outros analisados em reunião da Executiva Nacional. O discurso de Rollemberg estaria mais próximo do que foi a conversa entre Campos e Dilma sobre eventual disputa entre os dois em 2014.

A pressão de parlamentares e líderes do PSB pela candidatura própria ao Palácio do Planalto cresceu muito após o bom resultado obtido nas eleições municipais do ano passado. Os sinais pouco otimistas de uma recuperação econômica consistente em 2013 reforçaram os pedidos para que Eduardo Campos ponha logo o bloco na rua e assuma a condição de presidenciável.

Campos trabalha para ser candidato, mas engana-se quem acredita em uma decisão próxima, como anunciou Beto Albuquerque. A estratégia definida na cúpula é projetar nacionalmente o nome de Campos, para consolidar o nome do governador no debate sucessório.

Apesar do que dizem alguns de seus aliados e o próprio Campos, o governador vê com bons olhos uma eventual candidatura a vice de Dilma. Segundo apurou o Valor, Campos avalia que a Vice-Presidência pode ser um caminho interessante para chegar ao comando do país quatro anos mais tarde. Segundo pessoas próximas ao governador, a candidatura a vice não teria que ser, necessariamente, acompanhada de um compromisso para que Campos encabece a chapa em 2018. "Na condição de vice, ele trabalharia neste sentido", disse uma fonte.

Esse é um dos cenários analisados no PSB. O outro é que, mesmo perdendo a eleição para Dilma, pode apoiá-la no segundo turno e depois assumir um ministério já com um nome nacionalmente estabelecido. O exemplo mais lembrado é o de Ciro Gomes, que em 2005 foi cogitado para a sucessão de Luiz Inácio Lula da Silva, caso o presidente não se recuperasse do escândalo do mensalão.

Apesar de considerar a possibilidade de ser candidato a vice, Campos desconfia da capacidade de o PT deslocar Michel Temer do posto, mesmo com uma eventual promessa de entregar ao PMDB a cabeça de chapa na próxima eleição para governador de São Paulo.

Uma conversa entre Campos e Lula está prevista, mas ainda não tem data marcada. Mas é improvável que este encontro seja conclusivo. Em paralelo às negociações, Campos percorrerá o país para aumentar seu cacife. A primeira parada é o Rio Grande do Sul, que tem no gaúcho Beto Albuquerque um dos defensores mais ferrenhos da candidatura própria. O Estado também é terra do empresário Jorge Gerdau, que ajudou a elaborar o sistema de gestão de Pernambuco e que não se cansa de elogiar Campos. O governador falará a 5 mil empresários gaúchos em abril.

"Se dependesse do pessoal do PSB no Rio Grande do Sul, montávamos o comitê amanhã", disse uma fonte próxima do governador de Pernambuco.

Fonte: Valor Econômico

Força em movimento - Dora Kramer

Até a última contagem já tinha ultrapassado a casa do 1,5 milhão, e não parava de aumentar, o número de adesões a um abaixo-assinado que corre na internet com a finalidade de levar ao Senado um pedido de impeachment contra o presidente da Casa, Renan Calheiros.

Tecnicamente, já seriam assinaturas suficientes para criar um partido (cerca de 500 mil) ou para apresentar um projeto de lei de iniciativa popular para o Congresso - é preciso que no mínimo 1% do eleitorado de pelo menos cinco Estados assinem, hoje algo em torno de 1,4 milhão, considerando os cerca de 139 milhões de eleitores brasileiros.

Objetivamente, porém, o movimento não tem efeito. Nada a ver com a mobilização que levou à aprovação da lei da Ficha Limpa em 2010.

Interrupção de mandatos de congressistas não estão entre os objetos de iniciativas populares, bem como entre os motivos para perda de mandatos de deputados e senadores listados no artigo 55 da Constituição não está o desejo de milhares ou milhões de cidadãos, expresso em abaixo assinado. Virtual ou não.

Os criadores do movimento sabem disso. Tanto que avisam que o que pretendem é criar um fato político. "Fazer confusão" e chamar atenção para a deformação de se ter na presidência do Senado um parlamentar investigado em diversos inquéritos e recentemente denunciado pela Procuradoria-Geral da República ao Supremo Tribunal Federal por desvio de dinheiro público e utilização de documentos falsos.

Há duas maneiras de ver esse episódio. A pessimista, que também poderia ser chamada de realista, encara isso como uma brincadeira inconsequente devido às ínfimas chances de o Senado se sensibilizar e decidir abrir outro processo por quebra de decoro parlamentar - por ora o único instrumento possível para se afastar Calheiros do posto para o qual acabou de ser eleito.

O outro modo de se olhar o protesto aparentemente inócuo é sob a perspectiva otimista de que há forças em movimento. Não daquela maneira que incentivou o Congresso a aprovar o impeachment de Fernando Collor, que acabou levando à Anistia, ao apelo por eleições diretas, ao fim do regime militar: as grandes mobilizações de rua.

Agora há um novo jeito: por meio da internet. Parece algo acomodado, mas talvez assim pareça apenas por falta de costume e de mecanismos que, ao mesmo tempo, validem os protestos e sirvam como canais de transmissão até as instâncias onde possam ser materializados.

Nesse caso de Renan Calheiros, não há prejuízo concreto que possa lhe ser imposto pelo ato do abaixo-assinado. Mas o Congresso terá de se dar ao trabalho de ouvir o barulho e à desfaçatez de ignorá-lo.

Capital inicial. Correm de novo no mundo político versões sobre fusões entre partidos.

A fim de não incorrer em perda de tempo, quando se ouvir falar nesse assunto, convém levar em conta um dado: em princípio a legenda nenhuma interessa incorporar-se a outra.

Se extintas, não têm acesso ao dinheiro do Fundo Partidário, dão adeus ao tempo de propaganda no rádio e na televisão (instrumento de negociação sempre tão útil em anos eleitorais) e perdem prerrogativas congressuais destinadas exclusivamente a partidos com representação no Legislativo.

Picolés de chuchu. O PSDB já prepara o primeiro acontecimento para pôr na rua o bloco da candidatura presidencial do senador Aécio Neves: uma série de palestras que sirvam como instrumentos de reflexão sobre "temas contemporâneos".

Enquanto isso, Dilma Rousseff reativa o palanque de 2010, Eduardo Campos abre alas e pede passagem para 2014 e Marina Silva lança um novo partido com foco na conquista da moçada cansada da guerra de lideranças antigas.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Não em meu nome - Fernando Gabeira *

Mais de 1 milhão de pessoas assinaram um manifesto contra Renan Calheiros na presidência do Congresso Nacional. Movimentos como esse têm grande valor simbólico. Equivalem às manifestações modernas em que se protesta contra algo vergonhoso ou sanguinário com cartazes que dizem: "Não em meu nome". São bons para mostrar que o País não é homogêneo e que alguns governantes tomam atitudes francamente rejeitadas por milhares de seus conterrâneos.

Em termos internacionais, isso é a notícia. Calheiros passaria em branco se fosse apenas Calheiros com seu rebanho, notas frias, bela amante e um lobista de empreiteira para pagar suas contas. Mas é um presidente do Congresso rejeitado por milhões. Uso o plural porque o manifesto tem pouco mais de uma semana de vida e muitos que rejeitam a presença dele ainda desconhecem sua existência ou ainda hesitam em manifestar sua rejeição.

O manifesto vai encontrar um poderoso muro de cinismo, com materiais impenetráveis, entre eles a crença da esquerda de que os meios justificam os fins. Essa camada é difícil de atravessar porque se mescla com uma vitimização geral. Na Venezuela, Hugo Chávez tenta convencer as pessoas de que o capitalismo e o imperialismo são uma boa razão histórica para que um ato nobre não coincida com sua legalidade.

Os textos de Lenin autorizam essa interpretação. Não creio que o PMDB precise de alguma teoria, mas Calheiros mencionou os objetivos nacionais, aos quais a ética deve ser subordinada. Estrangularemos e saquearemos, pois, em nome dos objetivos nacionais, que não foram explicitados porque servem melhor assim, numa forma altamente abstrata.

Sarney disse, em seu discurso, que a paixão pela política e pelo bem comum é maior que a paixão pela vida. Em outras palavras, ele seria capaz de morrer pelo bem comum. Imagens fora do lugar. Sarney poderia ter dito isso durante a ditadura militar, quando essa frase altissonante poderia ser posta à prova.

Sarney sabe muito bem que hoje, se quiser discutir questões de vida ou morte, deve falar com os médicos no Instituto do Coração ou outros especialistas que cuidam de sua saúde. Passou o tempo do heroísmo, porque, como dizia Brecht, o País já não necessita de heróis.

Outro componente do cinismo é supor que a maioria eleitoral dá direitos ilimitados aos ungidos pelo voto popular. Daí em diante é seguir em frente com a frase de Disraeli nos lábios: "Nunca se queixe, nunca se explique, nunca se desculpe".

Há um amálgama de Maquiavel, Disraeli, Max Weber mal digerido, pois o sociólogo alemão considerava uma ética totalitária a pura expressão os meios justificam os fins. No fundo mesmo, a substância mais gelatinosa e agregadora da camada de cinismo é o desprezo até pela racionalização. Os fins são a riqueza pessoal, alguns imóveis em Miami, uma fazenda de gado.

Como dizia o poeta, os amigos não avisaram que havia uma revolução. E ela transformou tão radicalmente as relações que frases como a de Disraeli, preferidas como néctar da sabedoria política, se tornam cômicas e ingênuas.

Aos jovens de hoje basta dar alguns toques no computador para saberem, em minutos, tudo o que existe publicado sobre os políticos. Com uma câmera de US$ 400 é possível filmá-los com uma definição quatro vezes maior que o HD de seus televisores. O Congresso, em tempos como o nosso, está na vitrine, como aquelas mulheres do Distrito da Luz Vermelha, em Amsterdã.

Não estou comparando os políticos às prostitutas. Seria injusto para com certos políticos e prostitutas. Digo apenas que ambos estão expostos, elas física, eles virtualmente. Com a bunda de fora, muitos ainda não se deram conta de que estão na vitrine. Não pensam no futuro, na rejeição popular, nos problemas que trazem para suas próprias famílias. Alguns deles, em breve, não poderão frequentar lugares públicos nas metrópoles brasileiras. Terão de viver uma realidade separada. Seus jatinhos decolam e aterrissam discretamente, seus percursos urbanos serão feitos de helicóptero. Tornaram-se pássaros e vão flutuar na atmosfera por algum tempo, até que uma tempestade os jogue no chão enlameado.

Imagino o que pensam: nada disso nos derrota nas eleições, temos maioria . Prosseguiremos assim porque, com raros incidentes, sobrevivemos bem ao longo da década.

O que pode acontecer quando um Congresso se degrada ostensivamente em plena era da informação? A escolha de Calheiros e Alves para a direção das Casas do Congresso abre nova etapa, atenuada pelas festas do carnaval.

Já passamos por fases difíceis. Ouço algumas vozes de desespero. Mas a experiência mostrou que, nesses momentos, o importante é não desesperar, não jogar fora o Brasil com a água do banho. Pelo menos 1 milhão de pessoas pensam como nós sobre a escolha de Renan Calheiros. E elas dizem claramente com a assinatura do manifesto: não em meu nome. Há um Brasil que resiste e nele há espaço e gente suficiente para não nos sentirmos sós e pacientemente encontrarmos uma saída para o impasse.

Alguns novos países, o nosso inclusive, talvez nem tivessem 1 milhão de pessoas quando iniciaram sua trajetória para a independência. Nem havia internet.

Os brasileiros fora do País, que são quase 2 milhões, também podem ser acionados e, de lá, contribuir na campanha contra Renan. Com tantas conexões e a inteligência coletiva em cena, impossível não encontrar os meios de abalar um jovem coronel incrustado no topo de uma instituição nacional. É um problema novo que vai roubar tempo e energia, mas não a esperança. Vamos a ele, sem desânimo e, se possível, com algum humor.


Depois de eleito, Renan aparece numa foto, em Brasília, com uma espada apontada para seu pescoço. É apenas um efeito visual, desses que acontecem em solenidades militares. Do jeito que olhava a espada, imagino que comece a perceber a trapalhada em que se meteu. Precisamos ajudá-lo a compreender.

No tempo em que eu estava lá, fui o mais explícito possível: se entrega, Corisco.

* Fernando Gabeira é jornalista.

Fonte: O Estado de S. Paulo