sábado, 16 de fevereiro de 2013

OPINIÃO DO DIA – Luiz Werneck Vianna: algo de estranho no ar

Há algo de estranho no ar, pois essa aceleração do tempo político que presenciamos não é normal. Ainda estamos rios prelúdios de 2013, sem saber o que o resto dos seus dias nos promete, se boa safra ou tempos aziagos. Contudo, bem longe do porto, ainda em alto oceano, já se ouvem vozes anunciando terra avista e de preparação de desembarque próximo. De um salto estaríamos chegando a 2014, o ano da sucessão presidencial. A tripulação que nos dirige, velha de guerra de dez anos na função, estaria procurando atalhos para encurtar o tempo como manobra para evitar a aproximação de temíveis naves inimigas ou teme motim a bordo na sua coalizão?

In. Luiz Werneck Vianna, sociólogo e professor-pesquisador da PUC-Rio. ‘2014 à vista’, O Estado de S. Paulo, 16/2/2013.

Manchetes de alguns dos principais jornais do país

O GLOBO
Violência que não para: Força Nacional chega a SC
Investimentos de R$ 9 bi: Rio terá quatro novos portos
Nova punição: Anatel multa a Oi em R$ 34 milhões
Os índios e o Brasil

FOLHA DE S. PAULO
Mantega fala em aumento de juros para frear inflação
Maior meteoro em um século atinge a Rússia e fere 1.200
2,5 milhões de miseráveis estão fora de ações sociais
Aurélio Miguel é denunciado por suspeita de corrupção

O ESTADO DE S. PAULO
Controle da inflação será feito pelo juro, diz Mantega
Força Nacional desembarca em Santa Catarina
Anatel aplica multa de R$ 34 milhões à Oi
Dilma fará reforma ministerial mais ampla
À meia-noite, relógios serão atrasados em 1h

CORREIO BRAZILIENSE
Roubo de carro faz o valor do seguro subir até 25%
Orçamento 2013: Governo vai esperar o STF
Demissão de estagiárias abre polêmica no Senado

ESTADO DE MINAS
Patrimônio em risco
Renan e o rato: Parlamentares criticam demissão de estagiárias
Reaparição: Venezuela divulga fotos de Chávez com as filhas

O TEMPO (MG)
Meteoro cai na Rússia e deixa mais de mil pessoas feridas
Horário de verão não atinge meta de economia energética
Demora de Aécio irrita tucanos

GAZETA DO POVO (PR)
Força Nacional tenta conter os ataques em Santa Catarina
O susto que caiu do céu
“Varridos” voltam ao círculo de Dilma
Descaso Público
Não perca o horário

ZERO HORA (RS)
Prova virtual: Após 68 dias, Venezuela divulga foto de Chávez
Reforço: Tropas começam a operar em SC
Santa Maria: Polícia ouve os primeiros servidores

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Promessa de fim dos problemas de esgoto
Emoção no adeus a Fernando Lyra
Operadora Oi é multada em R$ 34,2 milhões
Foto mostra Chávez lendo jornal em Cuba
Força Nacional já atua em Santa Catarina

PT vai reafirmar candidatura de Dilma no ato de 10 anos no poder

Intenção é afastar rumor de volta de Lula; Eduardo Campos não irá

Gustavo Uribe

SÃO PAULO - Em um esforço para sepultar os rumores de uma eventual candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva em 2014, o PT promoverá na próxima quarta-feira um grande evento em São Paulo para reafirmar a candidatura de Dilma Rousseff ao Palácio do Planalto e para dar início às discussões em torno da campanha à reeleição presidencial. No ato, em comemoração aos dez anos do partido à frente do governo federal, a presidente será um dos anfitriões e discursará ao lado do seu antecessor, numa tentativa de demonstrar unidade partidária. A avaliação da cúpula do partido é que os boatos sobre o retorno do ex-presidente petista têm sido veiculados para enfraquecer a candidatura de Dilma, que pretende reforçar nos próximos meses a sua agenda de viagens pelo país.

Como parte das comemorações, o PT programa ainda, a partir deste mês, seminários em 13 capitais, entre elas Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Salvador e Fortaleza, nos quais deve contar, na maior parte deles, com a presença da presidente. O diagnóstico na sigla é que ainda é cedo para lançar Dilma à reeleição, mas que chegou a hora de ela rodar o país e adotar um discurso mais duro em relação à oposição. Nas comemorações, o PT pretende resgatar suas conquistas nos últimos dez anos e fazer uma análise dos atuais desafios do país para moldar as bandeiras eleitorais da sigla na sucessão presidencial.

Os dirigentes de partidos da base aliada ao governo federal foram convidados para o ato, entre eles Eduardo Campos, do PSB, que, segundo sua assessoria de imprensa, não irá comparecer. O governador de Pernambuco pretende informar ainda neste mês ao PT que sua candidatura em 2014 é "irreversível". O vice-presidente Michel Temer, que tem trabalhado pela dobradinha PT-PMDB nas eleições do ano que vem, comparecerá ao ato em São Paulo, organizado, além do PT, pelo Instituto Lula e pela Fundação Perseu Abramo.

- Nós estamos com a perspectiva de ter a Dilma e o Lula nos seminários pelo país, além de outros ministros. É uma oportunidade de celebração e, ao mesmo tempo, de debater os desafios que o país tem pela frente - avaliou o petista Márcio Pochmann, presidente da Fundação Perseu Abramo.

A expectativa é que o evento de quarta-feira reúna até mil pessoas no Hotel Holiday Inn, na Zona Norte de São Paulo. No local, será divulgada uma espécie de balanço, de 15 páginas, sobre os últimos dez anos do PT no governo federal, no qual o escândalo do mensalão não deve ser citado. O segundo evento será promovido em Fortaleza, no dia 28 de fevereiro, e terá a presença da ministra Tereza Campello, do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, que fará seminário sobre o enfrentamento da pobreza no Brasil. Em março, serão realizados eventos em Salvador e Rio de Janeiro, em datas ainda não definidas.

Além de ajudar a presidente nas articulações políticas e atuar como seu principal cabo eleitoral na sucessão presidencial, Lula irá empreender, neste primeiro semestre, um tour pelo Brasil, no qual pretende reforçar as alianças para 2014 com partidos da base aliada, sobretudo com o PMDB. A proposta é retomar as Caravanas da Cidadania, realizadas pelo ex-presidente entre 1993 e 1996. A atenção dos petistas está voltada, principalmente, para o Nordeste, onde o governador Eduardo Campos tem conquistado cada vez mais espaço.

O dirigente do PSB também programa uma caravana pelas capitais do país. A sua estreia será no início de abril, quando fará seminário a empresários em Porto Alegre. Com o apoio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) também dará início no primeiro semestre a uma série de viagens. O PSDB já programa, para este mês, dois eventos, um em São Paulo e outro em Belo Horizonte.

Fonte: O Globo

Marina chama artistas para rede pró-partido

Imagem da ex-senadora não aparece para evitar personalização criticada

BRASÍLIA - Em um evento festivo, com expectativa de presença de mais de 1,5 mil pessoas e de muitas declarações de apoio e solidariedade exibidas em telão, Marina Silva dá início hoje à criação efetiva do seu novo partido. A própria ex-senadora se encarregou de telefonar para personalidades e fazer o convite para que participem do lançamento do Rede, nome provisório da nova legenda. Atores como Marcos Palmeira, Christiane Torloni, Letícia Spiller e Victor Fasano; a cantora Adriana Calcanhotto; e o cineasta Fernando Meirelles foram chamados por Marina a prestigiar o ato. O cantor e ex-ministro Gilberto Gil e o ator Wagner Moura gravaram vídeos de apoio.

Marina passou a tarde de ontem em reunião a portas fechadas com os políticos simpatizantes da ideia. A ex-senadora e hoje vereadora Heloísa Helena (PSOL-AL), os deputados Reguffe (PDT-DF), Walter Feldman (PSDB-SP), Domingos Dutra (PT-MA), Ricardo Trípoli (PSDB-SP) e Alfredo Sirkis (PV-SP), e os senadores Eduardo Suplicy (PT-SP) e Pedro Simon (PMDB-RS) devem comparecer ao evento. Desses, apenas Feldman, Dutra e Sirkis confirmam intenção de migrar para a legenda.

- Não pretendo sair do PDT, mas vou assinar e ajudar a Marina a recolher as assinaturas. Ela merece ser candidata a presidente de novo - disse Reguffe.

- Estou com 33 anos de PT. Dediquei 80% de minha vida útil a esse partido. Comi o pão que o diabo amassou no Maranhão para ver Lula presidente. E quando Lula chegou lá, vira amigo do Sarney e os desgraçados somos nós - afirmou Dutra ontem.

A coordenação do Rede vetou imagens da ex-senadora em convites, panfletos ou banners para que a legenda não fique conhecida como "o partido da Marina", personalização que gerou críticas de políticos assediados pelo grupo.

Fonte: O Globo

Rede de Marina vira barganha de 'infeliz' com próprio partido

Parlamentares confirmam presença em evento de lançamento de nova sigla de olho em disputas internas por mais espaço político

Isadora Peron

Parlamentares vão usar o encontro de criação do novo partido da ex-senadora e presidenciável Marina Silva, hoje em Brasília, para mandar um recado às próprias legendas e barganhar espaço político.

É o caso do senador Eduardo Suplicy (PT-SP). Apesar de ter passado a semana repetindo que não quer deixar o PT, ele confirmou presença no evento de hoje. Suplicy teria tomado essa decisão após os rumores de que a sigla pretende lançar outro nome ao Senado em São Paulo no ano que vem.

O senador disse que conversou nesta semana com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com o presidente do PT, Rui Falcão. Este, segundo Suplicy, garantiu que o seu nome não está fora da disputa. "Não acredito que o PT vai me fechar as portas", afirmou.

Com o PDT rachado entre os grupos do atual ministro do Trabalho, Brizola Neto, e o presidente, da sigla, Carlos Lupi, dois integrantes do partido também se aproximaram dá nova legenda capitaneada por Marina: o senador Cristovam Buarque (DF) e o deputado José Antônio Reguffe (DF). Mas ambos afirmam que, por enquanto, vão continuar onde estão, na seara pedetista.

"Eu vou participar do evento só para ajudar a Marina, porque eu acho que ela merece ter a chance de ser candidata à Presidência novamente", disse Reguffe.

Mesmo com uma herança de quase 20 milhões de votos nas eleições presidenciais de 2010, Marina tem tido dificuldade para atrair nomes de peso. Até agora apenas os deputados federais Walter Feldman (PSDB-SP), Alfredo Sirkis (PV-RJ) e Domingos Dutra (PT-MA) anunciaram que farão parte da nova sigla.

Dutra, no entanto, disse que mudaria de ideia se o PT rompesse a aliança com a família Sarney no Maranhão. "Há 33 anos que eu me dedico de coração ao PT, a decisão de sair vai me custar algumas lágrimas", afirmou.

Sem pressa. O grupo que organiza a formação da legenda minimiza esse fato. Segundo Pedro Ivo, assessor político de Marina, não há pressa para que políticos entrem na sigla. "Os parlamentares que desejarem vir, virão no tempo que eles acharem necessário, E muitos deles não virão, mas irão colaborar com o processo, porque reconhecem o direito de criarmos um partido."

Além dos deputados, a ex-senadora e vereadora de Maceió Heloísa Helena (PSOL-AL) também afirmou que vai migrar para o novo partido. Heloísa passa por um isolamento dentro do PSOL desde que optou não disputar as eleições presidenciais de 2010.

O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) disse considerar um "erro" a escolha da correligionário. O senador também foi sondado por Marina, mas afirmou que, neste momento, trabalha para fortalecer o PSOL.

Já o presidente nacional do PV, José Luiz Penna, diz ver com "naturalidade" o fato de Sirkis optar por mudar de partido. "Nunca tivemos a ilusão de permanecer eternamente como o único partido da causa ecológica", afirmou.

Além de atrair nomes importantes para a legenda, outro desafio da nova sigla será conseguir o registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em tempo hábil. Para isso, será preciso recolher cerca de 500 mil assinaturas em ao menos nove Estados até final de setembro. De acordo com a lei, para disputar as eleições de 2014, o partido deve estar registrado até um ano antes da eleição, ou seja, até 4 de outubro.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Dilma fará reforma ministerial mais ampla

Dílma revê planos e amplia reforma em ministérios

Wera Rosa

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff deve fazer em março uma reforma ministerial mais ampla do que a prevista inicialmente para acomodar novos aliados de resolver pendências com antigos parceiros, num movimento planejado para construir as bases de sua campainha à reeleição, em 2014.

Empenhada em conquistar apoios, Dilma pode ceder à cúpula do PDT, que reivindica a troca do ministro do Trabalho, Brizola Neto, e atender o PR, ávido por substituir o titular dos Transportes, Paulo Sérgio Passos.

Os movimentos da presidente, na fase pós-faxina - período iniciado em julho de 2011, quando seis ministros foram substituídos por conta de irregularidades nas pastas têm o objetivo de evitar que apoiadores do PT sejam atraídos por outros candidatos ao Palácio do Planalto.

O governo acompanha com lupa os passos do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), e do senador Aécio Neves (PSDB-MG), possíveis adversários de Dilma na disputa do ano que vem, e fará de tudo para impedir a debandada de aliados.

"Especuiação". Brizola Neto se jreuniu ontem com dirigentes da Força Sindical, em São Paulo. O ministro contou que Dilma lhe telefonou e garantiu que notícias sobre sua saída não passam de "especulação". Contrariada com o "vazamento" de informações, a presidente também pediu à ministra da Comunicação Social, Helena Chagas, que negasse a preparação de uma reforma ministerial, neste momento. O desmentido foi publicado no Blog do Planalto.

Antes do carnaval, o presidente do PDT, Carlos Lupi, disse a Dilma que o partido não se sente representado por Brizola Neto, seu desafeto. Ex-ministro do Trabalho, defenestrado em 2011, no rastro de denúncias de corrupção, Lupi indicou para o ministério o secretário-geral do PDT, Manoel Dias.

Dilma ainda não deu resposta. Nos bastidores do Planalto, o comentário é que Brizola Neto não consegue unir o PDT e não emplacou nem o líder da bancada do partido na Câmara. Disputa o comando do PDT com Lupi que, apesar das acusações contra ele, detém a hegemonia do partido.

Mais pragmática do que quando chegou ao Planalto, em 2011, Dilma quer agora na Esplanada representantes de partidos que possam garantir sua reeleição. Para tanto, vive o dilema de ceder ou não aos pedidos daqueles que caíram na "faxina".

Nos últimos dias, ela teve várias reuniões reservadas para tratar da reforma na equipe. Conversou com o vice-presidente Michel Temer e com os ministros Aloizio Mercadante (Educação), Fernando Pimentel (Desenvolvimento) e Alexandre Padilha (Saúde). Dias antes, já havia se encontrado com dirigentes do PDT e do PR.

Crucial. A prioridade de Dilma é manter a dobradinha com o PMDB na campanha da reeleição. Apesar dos rumores sobre uma aproximação com Campos, ela não pretende oferecer a vaga de vice ao PSB em sua chapa.

O PMDB comanda hoje 5 dos 38 ministérios (Minas e Energia, Previdência, Agricultura, Turismo e Secretaria de Assuntos Estratégicos), além das presidências da Câmara e do Senado, mas pode crescer. O PT, por sua vez, ocupa 18 cadeiras na Esplanada e luta para não perder espaço.

Antes cotado para Ciência e Tecnologia, o deputado Gabriel Chalita (PMDB-SP) agora e citado para Turismo. Chalita apoiou a candidatura de Fernando Haddad (PT) no segundo turno da eleição para a Prefeitura de São Paulo e, na ocasião, o acordo previa uma vaga no ministério.

Para abrigar o PSD do ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, o novo Ministério da Micro e Pequena Empresa deverá mesmo ser entregue ao vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif Domingos (PSD). O projeto de criação da pasta só aguarda a aprovação do Congresso.

A cúpula do PR quer trocar Paulo Sérgio Passos, dos Transportes, sob a alegação de que ele nunca foi um "republicano autêntico". Passos assumiu após o presidente do PR, senador Alfredo Nascimento (AM), ser obrigado a deixar o cargo sob denúncias de corrupção na pasta.

Até hoje, a presidente resistiu às mudanças, mas agora tem sido aconselhada a ceder. O PDT ameaça apoiar a possível candidatura de Campos, em 2014, e o PR já deu mostras de que tem bom trânsito com o PSDB. No ano passado, por exemplo, aliou-se ao tucano José Serra na briga pela Prefeitura de São Paulo.

O PSB de Campos deve manter o comando de dois ministérios (Integração Nacional e Portos). Auxiliares de Dilma dizem que, se o governador for candidato, deveria "devolver os cargos".

Fonte: O Estado de S. Paulo

Primeiros entraves ao partido de Marina

Lideranças no Congresso se articulam para aprovar propostas que proíbem a concessão dos recursos e do tempo de TV a legendas recém-criadas

Helena Mader, Paulo de Tarso Lyra e Amanda Almeida

Enquanto apoiadores da ex-senadora Marina Silva se mobilizam para lançar hoje o 31º partido brasileiro, surge no Congresso Nacional uma ofensiva para tentar evitar uma migração de parlamentares para a nova legenda e mais uma divisão de dois importantes itens para a musculatura das siglas: o fundo partidário e o tempo de televisão. Lideranças da Câmara dos Deputados se articulam para aprovar com rapidez projetos que proíbem a concessão dos recursos e do tempo de TV a partidos recém-criados. Às vésperas da fundação, os “sonháticos”, como os apoiadores da nova legenda se autodenominam, entraram em conflito ontem ao discutir trechos do estatuto.

A revisão nas regras de divisão de tempo de TV e do fundo pode afugentar interessados em se filiar à nova legenda, já que a falta de dinheiro e de espaço para propaganda são empecilhos a qualquer candidatura. Um dos projetos é o do deputado Edinho Araújo (PMDB-SP). De acordo com a proposta 4.470/2012, que aguarda parecer da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, mudanças de filiação partidária não seriam consideradas no cálculo do fundo e do horário eleitoral. Assim, o novo partido só conseguiria turbinar suas cotas depois de eleger parlamentares.

Nas últimas eleições, o PSD, então recém-criado, conseguiu no Supremo Tribunal Federal e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a garantia de fundo e tempo de TV proporcionais à sua bancada, formada por parlamentares eleitos por outras legendas.

Lincoln Portela (PR-MG), vice-líder de seu partido, diz que a criação de legendas virou uma “forma de burlar à legislação eleitoral”. “É mais democrático que, depois de coletar assinaturas para criar um partido, eles aguardem as eleições para ganhar representatividade”, explica o deputado, que promete participar da articulação em prol da aprovação dos projetos. “A aprovação desse projeto vai evitar a migração de parlamentares que exercem liderança na Câmara”, acrescenta.

Líder do PPS, Rubens Bueno (PR) diz que o assunto será discutido pela bancada na semana que vem. “Sempre critiquei a forma como o TSE facilita a multiplicação de partidos sem consistência ideológica. Não é questão de ser a favor ou contra a Marina. A discussão é sobre reforma política”, diz. O líder do PT, José Guimarães (CE), reforça: “A regra de divisão de tempo de TV e do fundo deve contar a última eleição. Criar partido a toda hora desorganiza as legendas”.

Rede

O partido encabeçado por Marina será lançado hoje em Brasília. Ontem, os “sonháticos” fizeram uma reunião fechada. O estatuto provisório foi motivo de discordância entre os fundadores. Uma das principais polêmicas é o tempo permitido de mandatos eletivos a filiados, previsto em, no máximo, 16 anos. Outra divergência é sobre financiamento das campanhas. A proposta atual é que seja vedado o patrocínio de alguns setores. A ex-senadora Heloísa Helena, uma das “sonháticas”, defendeu ontem que seja proibido receber doação de qualquer empresa privada.

O texto final será votado hoje. “Nosso DNA é que estamos aqui porque queremos mais do que participar de eleição. Política não se resume à eleição. Seremos um cavalo de Troia para quebrar o monopólio dos partidos quanto ao fazer político”, disse Marina Silva aos “sonháticos”.

Principais pontos

Confira tópicos do estatuto provisório do partido que será lançado hoje

» Será vedado a candidatos e diretórios do partido o recebimento de doações de empresas do setor de bebida alcoólica, cigarro, arma e agrotóxicos.

» Filiados ocupantes de cargos de confiança, assessores das mesas legislativas e lideranças de bancadas e de parlamentares, que não sejam funcionários públicos efetivos, devem pagar uma contribuição financeira mensal de até 2% do salário líquido do filiado.

» Nenhum parlamentar do partido poderá exercer mais do que 16 anos de mandato (pela legenda).

» Filiados ocupantes de cargos executivos ou parlamentares deverão efetuar uma contribuição mensal ao partido, correspondente a 5% da remuneração mensal.

» Será criado um Conselho Político Cidadão Nacional formado por militantes de movimentos populares de diferentes áreas para, entre outros objetivos, exercer “o monitoramento e o controle social independentes sobre os posicionamentos e práticas do partido e seus dirigentes”.

» Eleitos pelo partido devem “combater rigorosamente qualquer privilégio ou regalia em termos de vencimentos normais e extraordinários” e outros subterfúgios que possam gerar desvio de recursos públicos para proveito pessoal ou de terceiros.

» O partido oferecerá até 30% de vagas nas eleições proporcionais para candidaturas “cívicas independentes”, ou seja, de cidadãos não filiados e que não pretendam exercer vínculos orgânicos com nenhum partido político.

Fonte: Correio Braziliense

Demora de Aécio irrita tucanos

Presidente do PSDB acredita que senador mineiro deveria participar de mais atividades pelo país

Diretório paulista promove seminário simultâneo ao realizado em Minas

Suposto imobilismo de Aécio no começo de 2013 está incomodando a cúpula do próprio partido

SÃO PAULO. O presidente nacional do PSDB, deputado federal Sérgio Guerra (PE), criticou ontem o ritmo da "pré-campanha" do senador Aécio Neves (PSDB-MG) à Presidência da República. Durante o velório do ex-ministro da Justiça Fernando Lyra, Guerra disse que Aécio deveria circular mais pelo país.

"Tem muita gente no PSDB que acredita que o senador Aécio deveria fazer mais atividades, o presidente, inclusive", afirmou.

O ex-governador de Minas é, até o momento, a principal aposta do partido e da oposição. Mas o senador ainda precisa unificar a sigla em torno de seu nome. Mais uma vez, o desafio é o tucanato paulista.

Exemplo de impasse causado pelo mineiro foi a lentidão em se posicionar sobre a reeleição de Renan Calheiros (PMDB-AL) à Presidência do Senado. Os tucanos estavam divididos entre a candidatura do alagoano e a de Pedro Taques (PDT-MS). Aécio só entrou na discussão no último momento.

Em dezembro, em um evento do PSDB em Brasília, Guerra defendeu que o mineiro se preparasse para assumir a presidência da sigla em 2013 e se lançar candidato à Presidência no ano seguinte.

"Aécio é seguramente o candidato da grande maioria do PSDB. Minha opinião pessoal e de 99% do partido é que Aécio é o verdadeiro candidato do partido", disse Guerra na ocasião. "Deve ser presidente do partido, assumir o papel que o Brasil já lhe dá".

Paralelo. Uma demonstração de que o PSDB de São Paulo oferece resistência à postulação do senador mineiro é que o diretório lançará, na próxima semana, um ciclo de palestras para discutir "novos rumos" da legenda. Ao mesmo tempo, em Minas, o partido também fará um ciclo de palestra com o objetivo de expor a experiência no governo do Estado e alavancar a candidatura do senador ao Planalto.

O primeiro a falar no encontro paulista será Sérgio Guerra, que faz a palestra na segunda-feira. Nos dias seguintes, vão se apresentar outras lideranças tucanas: o senador Aloysio Nunes, o deputado federal Carlos Sampaio, os deputados estaduais Fernando Capez, Ramalho e Carlos Bezerra Jr, os secretários estaduais Bruno Covas e José Aníbal, o ex-governador Alberto Goldman e o ex-ministro Xico Graziano.

Os encontros servirão de eventos preparatórios para o congresso estadual tucano, marcado para o dia 28.

Já em Minas, a primeira palestra, marcada para o dia 25, será do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, principal fiador da candidatura presidencial de Aécio. O tema será "Minas pensa o Brasil".

Domingos Dutra aceita; Suplicy e Gabeira, não

BRASÍLIA. Dois caciques que vinham sendo sondados pela ex-senadora Marina Silva para aderirem a seu futuro partido político declinaram do convite.

O senador Eduardo Suplicy (SP) afirmou que não deixará o PT. Ele disse que conversou sobre o assunto com lideranças do PT, inclusive com o ex-presidente Lula. "Eu vejo meu ingresso no Partido dos Trabalhadores como uma decisão de vida, ademais, eu também defendo a fidelidade partidária até o fim de meu mandato".

O ex-deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) também negou o ingresso no novo projeto de Marina, que será lançado hoje, em Brasília. Gabeira disse que, por enquanto, quer permanecer no PV, mas não descartou o apoio à candidatura da ex-senadora à Presidência.

Já o deputado Domingos Dutra (PT-MA) afirmou que vai migrar para a nova sigla e que tomou a decisão por não concordar com posições adotadas pelo PT em seu Estado, "estando alinhado com (José) Sarney".

Para o PSB, `2014 fica para 2014´

BRASÍLIA. O governador Eduardo Campos (PSB-PE) ironizou quando questionado sobre sua possível candidatura à Presidência em 2014. O socialista repetiu que não é o momento para promover uma provável candidatura. "O PSB não tem que fazer a discussão sobre 2014 durante 2013. O que precisamos agora é de ajudar a presidente Dilma no Congresso e em seu esforço de retomar o crescimento econômico, e não de ficar se perdendo em conjecturas", avaliou.

O líder do PSB no Senado, Rodrigo Rollemberg, confirmou a tese de que seria um erro tratar da sucessão neste ano. "Acho que 2014 deve ser tratado em 2014."

Fonte: O Tempo (MG)

2014 à vista – Luiz Werneck Vianna

Há algo de estranho no ar, pois essa aceleração do tempo político que presenciamos não é normal. Ainda estamos nos prelúdios de 2013, sem saber o que o resto dos seus dias nos promete, se boa safra ou tempos aziagos. Contudo, bem longe do porto, ainda em alto oceano, já se ouvem vozes anunciando terra à vista e de preparação de desembarque próximo. De um salto estaríamos chegando a 2014, o ano da sucessão presidencial. A tripulação que nos dirige, velha de guerra de dez anos na função, estaria procurando atalhos para encurtar o tempo como manobra para evitar a aproximação de temíveis naves inimigas ou teme motim a bordo na sua coalizão?

A oposição mal começa a reunir forças, não conhece um comando único, nem sequer são enunciadas as linhas gerais do seu diagnóstico sobre o estado social da Nação, sobretudo o seu programa alternativo de governo ao que aí está. Sabe-se, de certo, do seu empenho em elucubrações em matéria de análise econômica, trincheira em que é agente passivo, mera observadora dos fatos que, mantidos na toada atual, principalmente quanto à inflação, poderiam fazer a roda da fortuna girar a seu favor.

Se os eventuais candidatos à Presidência, nem todos vinculados à oposição formal, tal como a reconhecemos no momento atual, preferem atuar em surdina, esperando os prazos rituais, quais as razões da pressa no partido hegemônico no poder, em que já se ultimam preparativos de caravanas nos moldes de campanhas eleitorais do ex-presidente Lula, hoje condestável da presidente Dilma?

A dualidade no poder sempre é fonte de instabilidade, como demonstram velhas lições de teoria política. É própria do poder a procura permanente da sua ampliação. A transição de Lula para Dilma, uma herdeira sem luz própria, alçada à chefia de uma coalizão de forças políticas sem exercer comando sobre o partido que nela é hegemônico, no qual não tem raízes nem influência significativa, como que cindiu o soberano em dois corpos distintos: o físico, de que ela é portadora, e o metafísico, simbólico, de que se encontra investido o ex-presidente.

Nesse sentido, o poder que emana da presidente é de caráter derivado, sujeito à unção de fontes de poder que lhe são externas: de um lado, do Partido dos Trabalhadores (PT), que deve sua unidade à presença e às ações de Lula, seu efetivo comandante; de outro, do fascínio do carisma do ex-presidente sobre grandes massas do eleitorado.

A solução de converter Lula em seu condestável pareceu judiciosa e, bem administrada, até que pode ter continuidade. Mas surgiu uma pedra inesperada no caminho, a Ação Penal 470, que se concluiu pela condenação de alguns cardeais do partido hegemônico. Tal fato estava fadado, em razão dos personagens envolvidos, a não se conter nos limites do Poder Judiciário, e segue com sua presença fora dos autos a assombrar a política e os próprios rumos da sucessão presidencial.

Antes de concluir seu tempo na presidência da Câmara dos Deputados, o petista Marco Maia (RS) firmou posição no sentido de que os parlamentares condenados somente poderiam perder seus mandatos por deliberação dos seus pares, a partir de um processo que lhes garantisse o direito de defesa, o que, na prática, abre a possibilidade de a decisão da Suprema Corte ser recusada.

Sua sucessão no cargo pelo deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), em tese, pode vir a admitir um entendimento alternativo da matéria - há registros apontando nessa direção, vide seu encontro com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) -, mas não têm faltado pressões para que persista o entendimento do seu antecessor. No caso, para além das naturais e esperadas turbulências advindas da economia, é de esperar que a sucessão presidencial se inicie sob o signo dramático de um conflito entre Poderes, na hipótese nada remota de que o STF não delongue com a publicação dos acórdãos e do julgamento dos embargos a serem oferecidos pelos réus.

A candidatura à reeleição da presidente Dilma, nessa eventualidade, seria submetida a uma escolha difícil, na medida em que o seu partido pode vir a demandar dela, junto à base aliada parlamentar, ações solidárias em favor dos seus dirigentes condenados pela Justiça, comprometendo-se, assim, no terreno difícil das relações entre o Poder Legislativo e o Judiciário, com evidentes prejuízos na sua imagem republicana.

Diante de uma emergência de tal gravidade, seria plausível imaginar que vozes no interior do seu próprio partido - no qual não é pequena a influência dos seus dirigentes apenados - podem voltar-se para a candidatura do ex-presidente, cujos dons nas artes da arbitragem são bem conhecidos e não têm faltado a eles, ao contrário da presidente, com palavras solidárias. A solução heroica seria facilitada se o governo Dilma vier a experimentar um percurso negativo na agenda econômica, que, vale notar, bem pode servir tanto à oposição quanto aos nostálgicos do governo Lula, que sonham com seu breve retorno.

A ambiguidade que ronda a política do Planalto, gravitando entre os dois corpos com que se apresenta o poder soberano, conspira contra o tempo largo, que é o da preferência tanto da oposição formal como da encapuzada, que calculam suas possibilidades com olhar fixo nos indicadores econômicos. Não é sem razões, portanto, que no Planalto se adiantem os ponteiros do relógio, o que ficou claro no último pronunciamento público da presidente em rede nacional, mesmo que na arena ainda não se divise o perfil do adversário. Na conta de todos, salvo eventos extraordinários, a coalizão situacionista, PT à frente, mesmo que venha a perder o PSB, deve levar de vencida mais uma corrida sucessória, à condição, é claro, de contar com um candidato que a agrupe, inclusive no interior do partido hegemônico. Ao menos, por ora, a dificuldade está aí.

Luiz Werneck Vianna, professor-pesquisador da PUC-Rio

Fonte: O Estado de S. Paulo

Flores e poesia para um democrata

Ana Luiza Machado, Julia Schiaffarino

RECIFE — Um caminhão precisou ser usado para transportar as coroas de flores enviadas para o ex-ministro da Justiça Fernando Lyra até o cemitério Morada da Paz, em Paulista, onde ele foi enterrado na tarde de ontem. As homenagens em forma de flores eram tantas que chamavam a atenção e ocupavam toda a galeria da Assembleia Legislativa de Pernambuco, local escolhido para o velório. Só não era mais do que a multidão de familiares, amigos e conhecidos que, pessoalmente, ofertaram o último adeus ao político. “Ele era uma pessoa que sabia construir relações”, descreveu o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) José Múcio. Fato provado em um velório de grande comoção.

A viúva, Márcia Lyra, permaneceu ao lado do caixão. Chorou em diversos momentos, mas as lágrimas dela não eram as únicas. De seu lugar, pôde ver muitos daqueles que, em outros momentos, dividiram alegrias e lutas com o marido, também emocionados. Nas conversas durante o velório, o que ecoava eram as lembranças de um Fernando Lyra que dedicou a vida à luta pela democracia. Discurso ressaltado pelo monsenhor Olivaldo Pereira que celebrou a missa corpo presente. O padre escolhido era de Caruaru, no Agreste de Pernambuco, cidade que o político escolheu como sua, apesar de ter nascido no Recife.

O legado do ex-ministro da Justiça foi, ainda, citado em forma de poema pelo amigo comunista Marcelo Mário Melo. “Ele foi um exemplo de insistência e resistência. A República brasileira está vinculada ao seu nome”, recitou, sob forte aplauso. Foi na Assembleia Legislativa pernambucana que Fernando Lyra começou a vida política.

Entre os políticos que acompanharam as cerimônias de despedida de Fernando Lyra estão o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB); o prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB); o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho; o presidente do legislativo pernambucano, Guilherme Uchoa (PDT); e o presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra.

Fernando Lyra faleceu na tarde da última quinta-feira, devido à falência múltipla dos órgãos, em São Paulo. Ele sofria de grave cardiopatia e estava internado no Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas (HC) havia mais de 20 dias. O pernambucano tinha 74 anos e estava afastado da vida pública desde 2011.

Fonte: Correio Braziliense

Líderes de todas as alas presentes

Carolina Albuquerque

Todos exaltam o ex-ministro da Justiça Fernando Lyra como um exímio articulador político e um homem afeito ao bom diálogo. Tais características se fizeram presentes, ontem, durante o velório no plenário da Assembleia Legislativa de Pernambuco. Por lá passaram políticos de variadas correntes políticas, da ex-Arena, partido da ditadura militar, a ex-presos políticos, além de membros do Judiciário, do Ministério Público, MST, Fetape, advogados, escritores, publicitários, músicos - profissionais liberais de diversas áreas. Juntos, no mesmo recinto, para o último adeus àquele que ficou conhecido como o "ministro da redemocratização que acabou com a censura".

Fernando Lyra foi uma figura preponderante na articulação da candidatura à Presidência da República de Tancredo Neves, pelo Colégio Eleitoral, em 1985 - a primeira com um representante civil desde o golpe militar de 1964. Naquele momento, foi criada a Aliança Democrática, um pacto promovido entre políticos de vários partidos, mais especificamente entre a Frente Liberal (FL) e o PMDB para tentar vencer a eleição indireta contra Paulo Maluf (PDS).

O ex-governador Joaquim Francisco (PSB), ex-PFL que integrou a FL, lembra bem desse momento. "Ele (Lyra) firmou posições, conduziu pessoas, aconselhou. Na hora de ir para a tribuna, era um grande tribuno. Na hora da conversa, sabia conversar. Sobretudo para criar um clima positivo, como ele criou, possibilitando para que se caminhasse de maneira pacífica a candidatura de Tancredo Neves, que eu participei", disse. O também ex-governador Roberto Magalhães (DEM) fez parte de desse fato histórico. Sobre Lyra, afirmou: "Foi uma das pessoas que fez política com "P" maiúsculo".

Ainda passaram para o último adeus, outros ex-integrantes da Frente Liberal que se integraram à candidatura de Tancredo, como Marco Maciel e Gustavo Krause, respectivamente governador e prefeito do Recife biônicos do regime militar, assim como o deputado federal Inocêncio Oliveira (PR) e o ex-deputado Pedro Corrêa (PP). "Éramos companheiros, mas eu pela Arena e ele pelo MDB. Exercemos mandatos juntos na Câmara", declarou Corrêa.

Figuras que um dia militaram e ainda militam na esquerda brasileira também se despediram e homenagearam Lyra. É o caso dos ex-presos políticos José Arlindo Soares, Chico de Assis e Marcelo Mário Melo. "Se me pedissem para definir, numa só palavra, o ex-ministro, eu diria: Coragem. Na luta política contra a ditadura, os ex-presos políticos de Itamaracá são testemunhas disso, e na defesa de posições políticas, ainda que polêmicas ou indo contra a corrente", declarou Chico. "Lyra compreendeu o momento de redefinição. A transição trouxe uma atmosfera de um processo moderado de eleições indiretas. Ele sempre trabalhava bem para abrigar as divergências. Qualquer debate, por mais divergente, terminava com um sentimento fraterno", completou Arlindo. O vice-prefeito do Recife, Luciano Siqueira (PCdoB), também ex-preso político, exaltou o mesmo perfil. "Nunca vi Lyra dividindo, sempre somando".

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Em poema, a homenagem do militante

Ayrton Maciel

Único a discursar, instantes antes da saída do corpo de Fernando Lyra da Assembleia, o ex-preso político e jornalista Marcelo Mário de Melo emocionou o plenário lotado do Legislativa ao homenagear o ex-ministro da Justiça com a declamação de um poema, no qual exalta as bandeiras de luta do homem público, que devem ser preservadas sempre limpas e altivas. "Elas devem tremular sempre no alto dos mastros e nas nossas andanças de todo dia", diz uma estrofe do poema declamado por Marcelo, aplaudido no final.

Ao pedir a palavra ao vice-governador João Lyra Neto (PDT), irmão do ex-ministro, o ex-preso político ressaltou que "Fernando Lyra não era de seguir caminhos, mas de abrir estradas", citando sua contribuição à fundação do MDB, oposição ao regime militar, e ao grupo dos "autênticos" da legenda, além da articulação pelas Diretas Já e pela candidatura de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral (1985). "Foi uma trajetória democrática. Precisamos dar continuidade a essa luta", disse Marcelo Mário (ex-PCB, hoje PT), que foi preso político em Itamaracá (1971-1979). "Fernando levava e trazia cartas de nossas famílias", lembrou.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Democracia, Política e Lyra - Vagner Gomes de Souza

O recente falecimento do Ex-Ministro da Justiça Fernando Lyra (1938-2013) traz a memória da política brasileira da transição democrática. Pernambucano e advogado esteve sempre na resistência a Ditadura Militar a partir de seguidas vitórias como Deputado Estadual e Federal pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Seu perfil reforçou o campo da via democrática de superação do autoritarismo. Em seu nome o Parlamento Brasileiro avançou na democratização no caminho do Direito.

Noção de mudanças pelo caminho do diálogo com todas as forças políticas que tinham uma linha pela reconquista da democracia no Brasil. Não fomentou a “antipolítica” do veto de uma falsa ética política, pois fez dela a ação no Mundo Vivo. Ciente do grande peso do “mundo agrário” na mobilização de um “Gado Humano”, ele mobilizou as vantagens do moderno e do atraso para que o impacto da derrota da Emenda das Diretas Já não levasse ao desandar. Então, avançou na coordenação política de Tancredo Neves ao Colégio Eleitoral naquele que seria um exemplo de reintroduzir a “mineirice” da política na Transição Democrática. Os ventos de Recife atingiriam as serras mineiras num desenho de ruptura com um tipo de “dirigismo econômico” em crise desde o final dos anos 70.

Os caminhos e descaminhos da transição política no Brasil fez emergir um processo a procura de um ator. Nesse instante o político teve muitos problemas com as voltas dos desdobramentos das “revoluções dos interesses” que se fez presente na política paulista. A política brasileira cedia espaço aos devaneios liberais. Portanto, sua trajetória política pós-1988 foi uma “marcação política” do campo democrático seja no PDT ou no PSB ou na Presidência da Fundação Joaquim Nabuco em Pernambuco por uma década

A década de Fernando Lyra na Fundação Joaquim Nabuco (PE) mereceria um capítulo à parte para aqueles que desejam analisar essa última década de “Lulismo”, pois sua gestão foi Republicana e distante de possíveis sectarismos. . Intelectuais e política em contexto regional e distante do eixo “São Paulo-Rio-Minas Gerais”. Observamos que algo de transformador foi geminado no caminho de “quebrar” falsas polarizações. Reencontramos na memória política e atuação de Fernando Lyra a persistência da “Centro-esquerda”

Sua distância do cenário político nacional não significou sua opção pelo afastamento da política regional. Assim, o legado de sua articulação política lhe fez presente nas campanhas eleitorais ao Governo de Pernambuco em 2006 e 2010 na vitória do PSB e aliados. Nem tudo é “clientelismo” na política. Há uma formação de direção intelectual dos processos políticos em curso. Isso se deve ainda estudar com mais afinco até como forma de render uma justa homenagem a figura política que agora estamos a despedir.

[1] Mestre em Sociologia pelo CPDA-UFRuralRJ e Dirigente Municipal do PPS-RJ.

Sérgio Guerra elogia Eduardo e diz que Aécio deveria ser mais ativo

O presidente nacional do PSDB, deputado federal Sérgio Guerra (PE), disse estar "gostando" da movimentação do governador Eduardo Campos (PSB), que, mesmo sem admitir publicamente, trabalha visando disputar a Presidência da República. "É bom para o País", afirmou Guerra, durante o velório do ex-ministro da Justiça e um dos protagonistas da luta pela redemocratização do Brasil Fernando Lyra, ontem à tarde, no plenário da Assembleia Legislativa de Pernambuco. Para Guerra, o senador e presidenciável Aécio Neves (PSDB-MG) também precisa se movimentar. "Ele deveria estar mais ativo, em campanha no País", defendeu.O presidente tucano afirmou que tem falado constantemente com o o presidenciável do seu partido. "Temos que resolver os problemas da fachada da nossa casa", disse Guerra, em referência aos dilemas do PSDB para 2014.

Incomodado com as articulações do aliado socialista, o PT da presidente Dilma Rousseff, que projeta disputar a reeleição, tem trabalhado para tentar neutralizar a força de Eduardo. Para tanto, lançará mão da força do ex-presidente Lula. A proposta é de retomar as Caravanas da Cidadania, realizadas pelo ex-presidente entre 1993 e 1996. A atenção dos petistas está voltada, principalmente, para o Nordeste, onde Eduardo tem conquistado cada vez mais espaço.

O governador pernambucano também programa uma caravana pelas capitais do País. A sua estreia será no início de abril, quando fará seminário a empresários em Porto Alegre.

Em outra frente, a presidente Dilma prepara uma reforma ministerial mais ampla do que a prevista, em março, para acomodar novos aliados e resolver pendências com antigos parceiros, num movimento planejado para construir as bases de sua campanha à reeleição.

Empenhada em conquistar apoios, Dilma pode ceder à cúpula do PDT, que reivindica a troca do ministro do Trabalho, Brizola Neto, e atender o PR, ávido por substituir o titular dos Transportes, Paulo Sérgio Passos.

Os movimentos da presidente, na fase pós-faxina, têm o objetivo de evitar que apoiadores do PT sejam atraídos por outros candidatos ao Palácio do Planalto, como Eduardo Campos e Aécio Neves, e fará de tudo para impedir a debandada de aliados.

Com o apoio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o senador Aécio Neves também dará início no primeiro semestre a uma série de viagens. O PSDB já programa, para este mês, dois eventos, um em São Paulo e outro em Belo Horizonte.

Fonte Jornal do Commercio (PE)

Visões da crise - Merval Pereira

O Instituto Fernando Henrique Cardoso colocou no YouTube (http://bit.ly/YweALT) um debate fechado realizado em setembro do ano passado sobre o livro do economista José Roberto Afonso, "Keynes, crise e política fiscal", com a participação do ex-presidente e do ex-ministro Delfim Netto, além de vários economistas de diferentes correntes: Roberto Macedo, professor da USP e da FAAP, próximo dos tucanos; Júlio Gomes de Almeida, professor da Unicamp, primeiro secretário de política econômica de Guido Mantega, e orientador da tese de doutorado de Afonso que originou o livro; José Carlos Braga, também da Unicamp, irmão do senador Eduardo Braga, identificado com o PT; e Samuel Pessoa, pesquisador da FGV, que foi assessor do ex-senador Tasso Jereissati, também presente ao encontro.

Foi uma aula de política e governo, perpassada de momentos de humor, quando FH e Delfim, com histórias a maior parte das vezes antagônicas na política brasileira, demonstraram um respeito mútuo digno de nota. Os dois gostaram tanto que autorizaram recuperar gravações e montaram um vídeo.

O próprio ex-presidente abriu o debate ressaltando que estavam ali para debater ideias e não posições político-partidárias, muito menos governos. O evento foi no final de setembro e o tema do livro em debate é focado na política fiscal. Meses depois, o governo se utilizou de vários artifícios nas contas públicas ao final do ano, e a crítica mais ferina, um verdadeiro tiro de misericórdia, foi dado pelo próprio Delfim, um defensor do governo Dilma Rousseff.

Mas a visão crítica de Delfim sobre certo intervencionismo do governo Dilma já estava presente no debate, quando disse, a respeito dos investimentos, que o empresariado desconfiava do governo "com alguma razão" e o governo desconfiava dos empresários "com muita razão". Mas Delfim se mostrava confiante que o governo já estava entendendo que não pode fixar ao mesmo tempo dois parâmetros: a qualidade do serviço e a taxa de retorno. "Se o governo define a qualidade do serviço, é o mercado que define a taxa de retorno".

Delfim disse que torcia para que a presidente possa colocar sua racionalidade a serviço do país. Virando-se para Fernando Henrique, disse: "Ela é uma tecnocrata que nem nós", ao que o ex-presidente reagiu: "Eu não". Delfim continuou: "Você é um grande político, mas tem uma racionalidade que é inegável".

Delfim abriu o debate destacando que Keynes tinha leitura e propostas diferentes porque os tempos eram diferentes (ora na crise, ora na expansão). "Quando o mundo muda, eu mudo", definiu Delfim, explicando que cada contexto (econômico, social, histórico) levou Keynes a adotar uma postura diferenciada, ao contrário da maioria dos economistas que pensa em um modelo rígido nem sempre compatível com a realidade.

Esse ponto é destacado no trabalho de Afonso, que salienta que na Teoria Geral de Keynes não tem praticamente política fiscal, somente seis ou sete vezes o tema é citado. A intenção, diz Afonso, não é trazer o Keynes aos dias de hoje, mas voltar às circunstâncias em que viveu, situações de guerra econômica e de paz.

Na Grande Depressão é quando ele escreve a teoria, mas já vinha sinalizando em textos anteriores a necessidade de o Estado fazer mais obras. "Aliás, em várias passagens parece até um engenheiro, só fala em obras, não fala em investimentos", ressalta o economista. Chega a dizer que é preciso haver obras públicas, e que se for preciso construir até pirâmides. "Quando você não sabe o que é o futuro e as empresas param de investir e até mesmo de produzir, o Estado tem que entrar gastando para tentar segurar a demanda".

Para Keynes, o Estado tem que gastar e se endividar, não adianta aumentar seu investimento se financiando com tributos, e em várias passagens se coloca contra o corte de impostos. José Roberto Afonso lembra que FH em um artigo cita Keynes sobre "situações normais de crise", as flutuações normais da economia, e nesses casos a política econômica é muito diferente: o avanço de gastos tem que ser feito via investimentos, e não pelo consumo. (Amanhã, a visão social de Keynes)

Fonte: O Globo

Perdendo o bonde - Rolf Kuntz *

O fim da crise global poderá ser o marco de mais um fracasso brasileiro. Enquanto governos mais sérios tentam criar os alicerces de uma nova fase de prosperidade, Brasília continua discutindo a guerra cambial e brigando no Fundo Monetário Internacional (FMI) para adicionar alguns pontos de porcentagem a seu poder de voto. Nenhum país poderoso mudará sua política monetária ou fiscal para evitar reflexos no câmbio, nem a limitada redistribuição de votos afetará os rumos do FMI ou servirá ao desenvolvimento brasileiro. Economias emergentes e em desenvolvimento já têm votos mais que suficientes para exercer um respeitável poder de barganha. Mas só as autoridades brasileiras parecem acreditar num bloco dos Brics ou agem como se houvesse um alinhamento automático de países do Norte e do Sul. Pior para o Brasil. Quando o mundo entrou em recessão, em 2008, o País parecia um time promissor a caminho da primeira divisão. Poderá estar no rumo da terceira, quando o mundo rico voltar a crescer e a China tiver avançado em seus ajustes.

Nesse momento, os emergentes mais dinâmicos e governados com mais seriedade, incluídos alguns latino-americanos, já estarão ocupando seus lugares para a nova etapa de prosperidade. No meio da crise, uma economia mundial mais dinâmica está sendo forjada, com programas de reformas e novos pactos comerciais entre blocos e países de todas as regiões.

A recém-anunciada negociação de um acordo de comércio e investimentos entre Estados Unidos e União Europeia, os dois mercados mais ricos e mais desenvolvidos, é parte desse esforço de remodelação. As conversações entre países desenvolvidos e em desenvolvimento para a criação de uma Parceria Trans-Pacífico são um empreendimento aparentemente menos ambicioso. Mas essa iniciativa se soma a várias outras manobras para integração das economias da Ásia e do lado ocidental das Américas - com riscos evidentes para o comércio brasileiro, já afetado na vizinhança pela forte concorrência da China e de outras potências orientais.

O presidente Barack Obama citou as duas negociações em seu pronunciamento sobre o estado da União. Houve reações divergentes em Brasília. Alguns diplomatas apontaram o projeto comercial de americanos e europeus como um novo estímulo para a busca de acordos relevantes ou, no mínimo, para a conclusão das conversações entre Mercosul e União Europeia. Mas também houve quem menosprezasse a novidade e até duvidasse da formação do megabloco do Atlântico Norte.

Quanto a um ponto, pelo menos, parece haver coincidência de opiniões no governo: qualquer nova iniciativa do Brasil e de seus parceiros regionais dependerá da solução de problemas do Mercosul. Em termos concretos, o Brasil está amarrado aos problemas da Argentina e, portanto, às ambições políticas e às trapalhadas econômicas da presidente Cristina Kirchner. Nenhum acordo de livre-comércio será celebrado pelo bloco, ou por qualquer de seus sócios, enquanto a Casa Rosada estiver comprometida com a ala mais protecionista dos empresários argentinos. Por enquanto, no domínio dos Kirchners, há apenas o aprofundamento das políticas em vigor. As barreiras comerciais permanecem, o controle de preços se amplia (já com problemas de abastecimento interno) e as estatísticas oficiais continuam sendo feitas à moda da casa.

Mas a presidente Dilma Rousseff e seus estrategistas internacionais parecem aceitar como natural, sábia e confortável a vinculação da diplomacia e dos interesses comerciais do Brasil a políticas desse tipo. Aceitaram o golpe contra o Paraguai e apoiaram a admissão da Venezuela no Mercosul pela porta dos fundos. A maior potência industrial da América do Sul depende, para fixar suas metas internacionais, da disposição de um governo vizinho populista, trapalhão e desacreditado internacionalmente. Basta a opinião desse governo, diante da passividade brasileira, para determinar os caminhos e descaminhos do Mercosul. Criado para servir à integração regional e facilitar a inserção de quatro países na economia global, o bloco transformou-se num trambolho, um entrave a qualquer esforço mais sério e mais ambicioso de diplomacia econômica.

O Mercosul limitou-se a acordos com economias em desenvolvimento, nem sempre no alto das prioridades comerciais, e orientados frequentemente por preconceitos ideológicos. Nem os acordos com parceiros sul-americanos, os mais próximos, serviram de forma equilibrada à economia brasileira. Nem mesmo contribuíram para dificultar o ingresso crescente de produtos fabricados na Ásia. Essa invasão tem ocorrido mesmo no interior do bloco, onde o protecionismo argentino tem deslocado produtos brasileiros em favor de mercadorias fabricadas no Oriente.

Com o fracasso da Rodada Doha, o Brasil perdeu sua principal aposta no jogo das negociações. Nada sobrou além de um regionalismo de baixo retorno e de um terceiro-mundismo de centro acadêmico. A América do Sul ainda é o principal destino das exportações brasileiras de manufaturados, mas até nesse terreno o País tem dificuldade para competir.

Sem a rodada global, os governos mais adultos negociam acordos bilaterais e regionais. Esses acordos podem até complicar o sistema multilateral, mas são o jogo disponível neste momento - e o Brasil está fora. Nada mudará enquanto o governo confundir política internacional com passeata e subordinar sua diplomacia a interesses imaginários de blocos inexistentes, a começar pelo Brics. Se olhasse mais para o mundo, esse governo estaria de fato muito mais preocupado com as vantagens e desvantagens comparativas do Brasil e menos empenhado na retórica inútil da guerra cambial.

O papa Bento XVI anunciou a intenção de se isolar depois de abandonar o Vaticano. Dificilmente estará mais distante do mundo num convento do que estaria no Palácio do Planalto.

* Rolf Kuntz é jornalista.

Fonte: O Estado de S. Paulo

A pureza pela metade - Fernando Rodrigues

O novo partido político a ser lançado hoje pela ex-senadora Marina Silva não deseja receber doações eleitorais de empresas "sujas". Estão excluídos fabricantes de bebidas alcoólicas, cigarros, armas e agrotóxicos.

A ideia é oferecer aos eleitores uma opção mais pura na corrida presidencial de 2014. Além de representar "um novo mundo possível", Marina também rejeitará um certo tipo de dinheiro.

O marketing é bom, mas a pureza oferecida está pela metade.

Empreiteiras, por exemplo, ficaram fora do "índex marinista". Em 2010, a Andrade Gutierrez doou R$ 1,1 milhão para a campanha presidencial de Marina. A Camargo Corrêa entrou com mais R$ 1 milhão.

A Andrade Gutierrez é responsável pela construção da usina nuclear Angra 3. Conclui-se, portanto, que a nova legenda aceita de bom grado dinheiro relacionado à energia nuclear -para não citar outras encrencas relacionadas a empreiteiras.

Outro exemplo é a Suzano Papel e Celulose. A empresa é muito criticada por alguns ambientalistas que a acusam de ser uma poluidora de rios. Em 2010, deu R$ 532 mil para Marina. Poderá repetir a dose em 2014.

Há mais casos. Não caberiam todos aqui. A rigor, o dinheiro de todas as grandes empresas do país será sempre incompatível com o purismo pretendido por Marina e sua nova legenda.

Essa inconsistência na fórmula de recebimento de doações não significa risco certo de fracasso para o projeto de eleger Marina presidente no ano que vem. Apenas expõe uma entre muitas fragilidades na ainda incipiente candidatura.

Para ter sucesso em 2014, Marina precisa acumular forças e vitaminar seu projeto político. Não é obrigada a ganhar o Planalto. Basta receber mais votos do que em 2010. O problema é que, quando se olha o cenário atual, essa parece ser uma missão difícil para a ex-senadora.

Fonte: Folha de S. Paulo

Mantega agora fala em juros maiores para conter inflação

Ministro diz que inflação acima do centro da meta acende o sinal de alerta e que alta da Selic, e não câmbio, é a principal arma contra aumento de preços

Declaração faz ações dos grandes bancos dispararem na Bovespa, com a perspectiva de avanço da taxa de juros

Sheila D’Amorim, Mariana Carneiro

MOSCOU, SÃO PAULO - O câmbio não será instrumento de controle da inflação, afirmou ontem o ministro Guido Mantega (Fazenda).

Em Moscou, onde participa do encontro dos países que integram o G20, ele afirmou que o Banco Central tem espaço para agir e que a taxa de juros ainda é a principal arma contra a alta de preços.

"[A inflação] acima do centro da meta já acende o sinal de alerta e o governo fica atento para ver se não vai sair de controle", disse. O IPCA (índice oficial) subiu 6,15% nos 12 meses até janeiro, perto do teto da meta, de 6,5%.

"O BC tem que ficar vigilante e, se a inflação não ceder espontaneamente, tomará as devidas providências."

Questionado se isso pode significar alta de juros neste ano, Mantega disse que este é assunto do Banco Central.

No mercado, a declaração foi recebida com mais apostas de que a taxa Selic vá subir ainda neste ano, em resposta à alta da inflação.

Contratos de juros futuros, negociados na BM&F, com vencimento em janeiro de 2014 subiram para 7,63%, indicando uma alta de ao menos 0,25 ponto percentual na taxa atual, hoje em 7,25%.

"Tem ficado cada vez mais claro para o mercado que o BC deverá subir os juros", afirma Luciano Sobral, sócio da gestora Fram Capital.

Nas últimas semanas, havia ganhado força no mercado a interpretação que o governo deixaria a cotação do dólar baixar para ajudar no controle da inflação.

O dólar mais baixo barateia importados e, no mercado doméstico, reduz preços de produtos que são vendidos pelo Brasil no exterior.

Um dos motivos para aposta no real mais forte foi uma entrevista em que Mantega disse que não aceitaria uma cotação do dólar de R$ 1,85. Investidores interpretaram a afirmação como um valor-alvo para o dólar, hoje ao redor de R$ 1,95, e passaram a acreditar na queda da moeda.

Ontem Mantega afirmou que suas declarações foram justamente para tentar desfazer a ideia de que o governo usaria a queda do dólar para debelar a inflação.

Ele disse que a taxa de câmbio atual no Brasil está num patamar bastante razoável e "dá certa competitividade" à indústria.

Câmbio 'razoável'

Para ele, a queda do dólar registrada no início deste ano, quando a cotação saiu de cerca de R$ 2,10 para um nível ligeiramente abaixo de R$ 2, ocorreu "dentro de uma margem razoável".

Com as declarações de Mantega e nova intervenção do BC no mercado, a aposta de uso do câmbio contra a inflação perdeu fôlego ontem.

A cotação do dólar à vista, que havia iniciado o dia em queda, subiu e fechou em leve alta, a R$ 1,964.

"Houve uma mudança e os sinais mais recentes, dados ontem, indicam que o governo trabalhará mais com juros do que com câmbio para conter eventual deterioração da inflação", diz Mauro Schneider, da corretora CGD.

Mantega ressaltou ainda que o governo vem adotando medidas para minimizar a alta de preços -como a redução do preço da energia.

"Temos que distinguir fatores sazonais de fatores estruturais, que são mais preocupantes. Não vejo fatores estruturais", disse. Para ele, o cenário para inflação tende a melhorar ao longo do ano.

O discurso de Mantega também influenciou negócios na Bolsa. As ações de bancos dispararam, refletindo a perspectiva de possível elevação na taxa de juros.

As ações preferenciais (mais negociadas e sem direito a voto) da Itaúsa e do Itaú Unibanco tiveram alta de 4,67% e 4,64%. Já os papéis preferenciais do Bradesco se valorizaram em 4,42%, enquanto os ordinários (com direito a voto) do Banco do Brasil subiram 2,52%. Os units (conjuntos de ações) do Santander avançaram 3,45%.

Estímulo

Depois de sucessivos estímulos ao consumo como estratégia para retomar o crescimento da economia, Mantega reiterou que o foco do governo agora são medidas que façam os empresários desengavetar investimentos.

"Não há planos para novos estímulos [ao consumo]. Estamos muito focados em investimentos", disse.

A preocupação com o investimento não se deve apenas ao crescimento, mas também ao controle da inflação.

Colaborou Anderson Figo, de São Paulo

Fonte: Folha de S. Paulo

‘IPCA deve estourar teto da meta em junho’, diz Mendonça de Barros

Ao contrário do mercado, economista acredita que o BC não vai elevar a Selic para combater a inflação

Daniela Amorim

RIO - A recente valorização do real em relação ao dólar não contribui para conter a inflação e ainda confunde as expectativas sobre o câmbio, dificultando a formação de preços. Essa é a opinião de José Roberto Mendonça de Barros, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e fundador da consultoria MB Associados.

Em entrevista à Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, ele refutou a aposta de aumento da taxa básica de juros nas próximas reuniões do Copom, como apontavam ontem os movimentos de alta nos contratos futuros de juros.

A seguir, os principais trechos da entrevista.

Por que os alimentos continuam pressionando a inflação ao consumidor apesar da queda de preços agropecuários?

São quedas relativamente recentes, e as reduções no atacado demoram a chegar no IPCA, às vezes mais de um mês, mas acabam chegando. Cai o preço de soja, mas até virar lata de óleo no varejo demora um bocado. A matéria-prima bruta é só uma fração dos custos do alimento final. É razoável supor que a pressão dos custos com alimentação vai aliviar um poucos nos próximos meses.

Por que os preços não cedem, apesar de incentivos do governo, como o da tarifa de energia?

No caso da energia, para o consumidor virá agora, no IPCA de fevereiro; na taxa de janeiro houve só uma pequena parte da queda. No caso da indústria, o repasse é lento e deve demorar a aparecer. Mas isso é apenas um item. No plano do consumidor, todo o setor de serviços está sendo pressionado. Isso não vai aliviar. O índice de difusão no IPCA de janeiro atingiu 75%, quer dizer que a cada quatro grupos de preços diferentes, três subiram. As estimativas de inflação para fevereiro e março são melhores que em janeiro, mas ainda na faixa de 0,4%. Nossa projeção do IPCA para fevereiro está em 0,31%. É um número relativamente baixo, mas ainda assim a inflação em 12 meses vai ficar subindo até o fim do primeiro semestre. Vamos passar o teto da meta. O governo sabe que isso vai acontecer e já está conformado. Projetamos estourar o teto de maio para junho, depois cai um pouquinho e termina o ano em 6%, que ainda assim é um resultado alto.

As declarações do ministro Guido Mantega, em Moscou, fizeram os contratos futuros de juros subir. É possível uma alta de juros antes do previsto?

De dezembro para cá, muito pelo que fizeram as autoridades econômicas, criou-se uma enorme dúvida sobre o que o BC vai usar: deixar valorizar o real de novo para segurar a inflação ou voltar a aumentar os juros? Até esse momento, a aparência era de que seria a primeira opção. O ministro Mantega tem manifestado a ideia de que não se deve valorizar muito o real e a declaração de hoje (ontem) é nesse contexto. Se for preciso fazer algo mais enfático em relação à inflação, que seja o juro e não deixar o câmbio ir abaixo de R$ 1,90. Nossa impressão é que, na realidade, se a inflação azedar e encorpar muito nos próximos meses, o Banco Central até pode aumentar juros, mas não acho que vai ser tão já. O BC deve protelar ao máximo na expectativa de que vai haver algum alívio no primeiro semestre na questão agrícola.

Mas só deixar desvalorizar de R$ 2,14 para R$ 1,95 já faz uma diferença na inflação?

Eu acho que tem pouco efeito na inflação, tem mais um efeito ruim nas expectativas. Antes de R$ 2,14, estava em R$ 2,05. Subiu e depois caiu, o que acho ruim. É uma volatilidade que não ajuda a ninguém, dá insegurança a agentes e analistas, que ficam em dúvida de para onde vai o câmbio. O repasse nunca é imediato por causa disso. Esses movimentos no câmbio mais atrapalham que ajudam. É preciso uma certa estabilidade em relação a essas variáveis, e não essa oscilação violenta.

Qual é a perspectiva para a inflação em 2013?

Trabalhamos com inflação de 6%. Não estamos otimistas porque a inflação não depende só de uma coisa. Quando 75% dos diferentes tipos de preços aumentam, é porque ela está mais generalizada do que parece. Isso é um problema.

Há algo que o governo possa fazer ou essas intervenções acabam só postergando novos picos na inflação?

Essas intervenções só postergam. Veja a gasolina e o diesel: o governo segurou, atrapalhou as contas da Petrobrás e o seu desempenho, mas uma hora teve que dar. E foi pouco, ainda tem que fazer mais se formos olhar o fluxo de caixa da Petrobrás e o que ela precisa investir. O postergar não ajuda. Uma vez, uma coisa pontual, tudo bem. Mas isso com regularidade não ajuda em nada.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Tarde no Recife – Joaquim Cardoso

Tarde no Recife.
Da ponta Maurício o céu e a cidade.
Fachada verde do Café Máxime.
Cais do Abacaxi. Gameleiras.
Da torre do Telégrafo Ótico
A voz colorida das bandeiras anuncia
Que vapores entraram no horizonte.

Tanta gente apressada, tanta mulher bonita.
A tagarelice dos bondes e dos automóveis.
Um carreto gritando — alerta!
Algazarra, Seis horas. Os sinos.

Recife romântico dos crepúsculos das pontes.
Dos longos crepúsculos que assistiram à passagem
[dos fidalgos holandeses.
Que assistem agora ao mar, inerte das ruas tumultuosas,
Que assistirão mais tarde à passagem de aviões para as costas
[do Pacífico.
Recife romântico dos crepúsculos das pontes.
E da beleza católica do rio.