terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

OPINIÃO DO DIA – Vital do Rêgo: miopia

"Quem não trabalha com a hipótese de uma candidatura competitiva de Eduardo Campos a presidência é politicamente míope

Vital do Rêgo, senador (PMDB-PB), em O Globo, 26/2/2013

Manchetes de alguns dos principais jornais do país

O GLOBO
Calor de 42 graus sem refresco - Falhas em série cortam água de 9 milhões no Rio
Comissão da Verdade: Agentes da repressão identificados
Pacificação da Maré começa a ganhar forma
PSB racha com crítica de Ciro

FOLHA DE S. PAULO
Dilma é 'ingrata', diz FHC, em ataque ao PT
Governo eleva lucro de concessões para até 15%
Após denúncia, cardeal do Reino Unido sai do conclave
Dividida na urna, Itália deve ter impasse político
Violência em SP aumenta pelo sexto mês consecutivo
Delegada na Bolívia diz que corintiano pode ser 'laranja'

O ESTADO DE S. PAULO
Papa afasta cardeal suspeito de assédio e adianta conclave
Resultado ruim de empresas derruba lucro do BNDES
Planalto corteja Cid Gomes contra Campos
Dilma é 'ingrata' diz FHC
Comissão da Verdade quer ajuda dos EUA

VALOR ECONÔMICO
Leilões contestados devem paralisar ferrovias da Valec
Emenda muda regras para a cabotagem
Mercado prevê Vale com perda no trimestre
Nova crise da dívida ameaça a Argentina

BRASIL ECONÔMICO
Governo debate com os sindicatos novas mudanças na MP dos Portos
Pesquisa Focus reduz previsão de inflação a 5,69%

CORREIO BRAZILIENSE
Cai o primeiro barão dos ônibus. GDF assume frota
Voto digital: 1,8 milhão de eleitores do DF terão que se recadastrar
TJ julga se reajuste de marajás é legal
FHC reforça candidatura de Aécio

ESTADO DE MINAS
Traficantes de órgãos torturavam vítimas
PSDB quer pôr a campanha na estrada

O TEMPO (MG)
FHC vai para o ataque e chama a presidente Dilma de ingrata
Eduardo Campos desautoriza Ciro a falar pelo PSB
Brasil corre risco de racionamento
Cada vez mais, o centro de Belo Horizonte fala chinês

GAZETA DO POVO (PR)
Sobram vagas em cursos técnicos gratuitos no Paraná
Casos de dengue triplicam no país em 2013
Lula vem a Curitiba em março para costurar aliança eleitoral
Leão fisga bolso de metade dos contribuintes
Bersani vence eleições italianas para Câmara e Senado

ZERO HORA ( RS)
Fim de polo de pedágio terá festa e foguetório
2012 violento: Homicídios crescem 17% no Estado

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Dengue cai 93% no Estado
Porto do Recife também pode perder autonomia
Blogueira cubana deixa o Brasil e vai para a Europa

FHC sobe o tom contra o PT e chama Dilma de 'ingrata'

Ex-presidente acusa petistas de terem 'usurpado' projeto tucano no governo

Fernando Henrique diz que Dilma 'cospe no prato que comeu' ao rejeitar herança de administrações tucanas

Paulo Peixoto e Daniela Lima

BELO HORIZONTE - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso chamou ontem de "ingrata" a presidente petista Dilma Rousseff, disse que ela "cospe no prato que comeu" e acusou o PT de ter "usurpado" propostas tucanas após chegar ao poder em 2003.

As declarações foram feitas ao lado do senador Aécio Neves (MG), virtual candidato do PSDB à Presidência em 2014, durante seminário para discutir os rumos do partido, em Belo Horizonte.

O ataque de FHC sobe o tom das provocações que petistas e tucanos iniciaram na semana passada, quando Dilma foi lançada à reeleição pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na festa em que o PT comemorou os 10 anos de sua chegada ao poder.

Questionado sobre o discurso de Dilma no evento, em que a presidente afirmou não ter herdado "nada" da gestão tucana, Fernando Henrique afirmou: "O que é que a gente pode fazer quando a pessoa é ingrata? Nada. Cospe no prato que comeu. Meu Deus".

No início de seu governo, há dois anos, Dilma reconheceu avanços nos governos tucanos e fez demonstrações públicas de apreço pelo ex-presidente, que retribuiu fazendo elogios à sucessora.

A antecipação das discussões sobre a sucessão presidencial fez os dois adotarem tom diferente agora. Petistas e tucanos veem a polarização entre eles como uma arma eficaz para mobilizar as bases de seus partidos.

Aécio Neves ainda não assumiu publicamente sua intenção de se candidatar à Presidência, mas trabalha para assumir a presidência do PSDB em maio. Ontem, FHC disse que os dois irão percorrer o Brasil "rumo à vitória".

O ex-presidente acusou o PT de se apropriar de ideias tucanas após chegar ao poder. "Quem não tem projeto é quem está no governo, porque eles pegaram o nosso. O que aconteceu no Brasil foi uma usurpação de projeto."

"Eles tinham duas grandes metas, uma ligada ao socialismo e outra ligada à ética. De socialismo nunca mais ninguém falou. E de ética? Meu Deus, não sou eu quem vai falar a respeito do que está acontecendo", ironizou.

FHC disse que o PSDB deveria recorrer novamente ao discurso da ética para combater os petistas, uma estratégia adotada sem sucesso pelo partido em 2006, quando Lula se reelegeu.

"Vocês [petistas] que subiram falando tanto de ética, o que vocês fizeram com esse país?", disse, numa referência velada ao mensalão. "Já pedi ao presidente Lula que de público explicasse que não tem nada a ver com isso."

O ex-presidente finalizou as referências ao julgamento dizendo que o PT precisa ser cobrado pelo que fez. "Temos que ser duros nessa matéria. [...] Nós fizemos outras coisas. Nós não roubamos, não."

O deputado Eduardo Azeredo (PSDB-MG) é reu no processo do chamado mensalão mineiro, acusado de participar de um esquema semelhante ao que levou à condenação de ex-dirigentes petistas no ano passado.

No final da reunião de ontem, FHC foi explícito ao falar da candidatura de Aécio. "Vamos percorrer o Brasil, senador. Vamos plantar a semente do PSDB, a semente da vitória. Nós vamos ganhar."

Questionado sobre as críticas do ex-deputado Ciro Gomes (PSB-CE) ao seu nome e aos de Eduardo Campos (PSB) e Marina Silva, Aécio disse que gostaria de falar com Ciro: "Talvez ele se surpreenda com o conjunto de boas ideias que temos".

Fonte: Folha de S. Paulo

'Vamos apresentar um projeto para 20 anos', diz Aécio

Paulo Peixoto e Daniela Lima

BELO HORIZONTE - Terminou em clima e com discurso de campanha o seminário que o PSDB promoveu ontem, em Belo Horizonte, com FHC e o senador Aécio Neves (PSDB-MG).

O senador, que tem sido econômico nas menções a uma possível candidatura à Presidência, deixou o auditório dizendo que vai apresentar "um projeto para os próximos 20 anos do Brasil".

"O PT optou por comemorar seus dez anos no governo olhando pelo retrovisor. Nós vamos apresentar um projeto para os próximos 20 anos do Brasil", declarou, cercado por militantes aos gritos de "Aécio presidente".

Na semana passada, ele criticou o que chamou de "antecipação da campanha" -no evento de comemoração dos 10 anos do PT no poder, Lula lançou Dilma à reeleição.

O mineiro disse ainda que seria portador de "novas ideias". Antes do início do evento, FHC havia reafirmado à imprensa sua predileção pela candidatura de Aécio. "Temos que sacudir o país. Acho que é o momento de uma renovação. Até mesmo do estilo de falar, do estilo de pessoa."

Questionado por um militante se haveria risco de Aécio perder a vaga na disputa, a exemplo do que houve em 2010, FHC usou uma metáfora. "No fim do tropicalismo, eles tinham apenas uma palavra de ordem. Eles diziam: 'vocês fracassaram, deixem o espaço para nós'. Quero que vocês digam outra coisa: digam 'chegou a nossa hora.'"

Fonte: Folha de S. Paulo

Dilma é 'ingrata' diz FHC

Aécio Neves com FHC em seminário; ex-presidente disse que, na economia, Dilma "cospe no prato em que comeu".

FHC afirma que presidente é "ingrata"

Marcelo Portela, Ricardo Brito

BELO HORIZONTE, BRASÍLIA - Fernando Henrique Cardoso afirmou ontem, em entrevista antes do seminário tucano realizado em Belo Horizonte, que a presidente Dilma Rousseff "é ingrata e cospe no prato em que comeu". O ex-presidente deu a declaração ao lado do senador Aécio Neves, pré-candidato do PSDB à disputa do Palácio do Planalto em 2014.

O ataque de FHC é uma resposta ao discurso de Dilma feito na semana passada, no evento de comemoração, em São Paulo, dos dez anos de governo petista no País. Na ocasião, além de ter sua reeleição lançada pelo antecessor e padrinho político, Luiz Inácio Lula da Silva, a presidente afirmou que os petistas não receberam herança alguma das gestões tucanas. "Nós construímos", disse Dilma à militância.

A condução da economia do País vem ditando o debate entre os pré-candidatos à Presidência. No mesmo dia da festa petista em São Paulo, Aécio discursou na tribuna do Senado e exaltou a gestão econômica do correligionário FHC, cujo governo foi de 1995 a 2002. Enquanto tucanos dizem ser os responsáveis pelas bases macroeconômicas ainda em vigor, petistas afirmam ter mudado os rumos do desenvolvimento do País, chamado os adversários de neoliberais.

Na entrevista de ontem, FHC afirmou que o PT fez "uma usurpação" do projeto tucano. Aécio também falou antes do seminário, criado pelo PSDB para discutir justamente a conjuntura econômica. Não quis comentar as declarações do ex-ministro Ciro Gomes, segundo quem os possíveis adversários de Dilma em 2014, incluindo ele, Marina Silva e Eduardo Campos, "não têm visão" nem "projeto" para o País.

No Congresso. Ainda ontem, o vice-líder tucano no Senado, Álvaro Dias (PR), apresentou requerimento de convite para que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, explique apolítica econômica adotada pelo governo.

A intenção dos tucanos é usar a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) como palanque para, ao provocar o ministro, mirar no Planalto. Dias criticou as constantes previsões frustradas de Mantega em relação aos rumos da economia que, na opinião dele, têm levado o País à perda de credibilidade. Os tucanos querem ainda explicações sobre a "mágica contábil" feita no final do ano passado pelo governo para fechar as contas da área fiscal.
"Por seu otimismo delirante e muitas vezes irresponsável, o ministro da Fazenda já virou motivo de pilhéria em salões internacionais. A imprensa estrangeira especializada já lhe tachou a pecha de rei do "jeitinho", em alusão a manobras contábeis de que o governo petista lançou mão para fechar as contas públicas."

O tucano disse que as "declarações erráticas" de Mantega tem mostrado um "governo desnorteado" na condução da economia. Ele disse que há um "problema sério à vista", a inflação.

Os indicadores da economia têm lastreado o discurso do PSDB. No mês passado, o IPCA, um dos principais indicadores da inflação, fechou em alta de 0,86%, maior índice em dez anos. Em 12 meses, o indicador acumulou alta de 6,15%, próximo do teto da meta de inflação, de 6,5%. Por outro lado, a prévia do Produto Interno Bruto de 2012, divulgada semana passada pelo Banco Central, apontou uma expansão de 1,64% da economia em 2012. O dado oficial deve sair nos próximos dias.

O líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), afirmou que a base aliada não deve criar qualquer empecilho para a aprovação vinda de Mantega. "O convite, eu acho absolutamente pertinente e não há nenhuma conotação de que o governo não queira atender as demandas do Senado para debater algo importante: a situação econômica", disse.

"Teremos tempo para debater a matéria com essa tranquilidade, de quem quer debater com absoluta transparência essa questão."

Para Braga, contudo, é necessário antes conversar com o próprio ministro para saber se aceita o convite. Mesmo que o requerimento seja aprovado pela comissão, o convidado pode recusar a ida ao Congresso. Apenas no caso de convocação é que o comparecimento se torna obrigatório. O líder do governo admite que o assunto só deve ser apreciado pela comissão daqui a duas semanas, uma vez que o colegiado deve eleger seu presidente e demais integrantes hoje. O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) será o futuro presidente da comissão.

Fonte: O Estado de S. Paulo

FH afirma que Dilma é ingrata: 'Ela cospe no prato em que comeu'

Ex-presidente diz que só vê Aécio como candidato tucano à Presidência em 2014

Ezequiel Fagundes

BELO HORIZONTE - Em novo ataque ao PT, a quem acusou de não reconhecer os avanços dos governos tucanos, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso criticou a presidente Dilma Roussef (PT), que, segundo ele, demonstra ingratidão e "cospe no prato em que comeu".

- O que podemos dizer de uma pessoa ingrata? A presidente cospe no prato em que comeu - disse ontem Fernando Henrique, antes de participar em Belo Horizonte de um seminário promovido por seu partido.

Na última quinta-feira, durante a festa pelos dez anos do PT no poder, Dilma foi lançada candidata à reeleição pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ela rejeitou a herança de Fernando Henrique Cardoso ao dizer que "nós não herdamos nada. Construímos".

Ao lado do senador Aécio Neves (MG), pré-candidato tucano à Presidência, e do governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia, Fernando Henrique afirmou que o PT "usurpou" os programas do PSDB, mas não conseguiu colocá-los em prática:

- O país requer outra voz. Há um cansaço, eles criaram o monopólio da palavra. Corremos o risco de nos transformarmos em uma democracia deformada. O que aconteceu no Brasil foi uma usurpação de projetos. Quem não tem projeto está no governo.

Embora tenha evitado falar em nomes, FH afirmou que chegou a hora de Aécio e que sua indicação para disputar a Presidência é consenso na ala paulista do partido.

- O passado já passou. Vamos ver a condição que nos leve à vitória. Neste momento, a pessoa que tem maiores condições, a meu ver, é o senador Aécio Neves - declarou.

O ex-presidente defendeu o estilo comedido do tucano mineiro e rechaçou a necessidade de prévias para escolher o candidato a presidente.

- Nós devemos estar preparados para ventos novos. O Aécio tem a leveza na hora de falar. Estamos construindo uma candidatura. Só haverá prévias se houver mais de um candidato. Por enquanto, não vejo outros.

Cobrança a Lula

Mais cedo, Fernando Henrique voltou a cobrar um posicionamento público de Lula em relação às acusações do operador do mensalão Marcos Valério. Em depoimento à Procuradoria Geral da República após ser condenado a 40 anos de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Valério afirmou que o mensalão pagou despesas pessoais de Lula e que o petista sabia do esquema de corrupção para cooptar apoio no Congresso. Segundo Fernando Henrique, Lula entrou em ritmo de campanha para fugir de temas espinhosos. O petista disse apenas se tratar de uma mentira.

- Acho que ele está tentando entrar em fase de campanha. Pode ser uma razão para evitar falar de outros problemas - alfinetou Fernando Henrique.

Fonte: O Globo

Entrevista Fernando Henrique Cardoso

Bertha Maakaroun

“Chegou a hora de percorrer o país”

BELO HORIZONTE — O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso (PSDB) disse ontem, em entrevista exclusiva ao Estado de Minas/Correio, que o PSDB se inclina, neste momento, para indicar a candidatura do senador Aécio Neves à Presidência da República. Segundo ele, qualquer que seja o candidato, precisará, desde já, percorrer o Brasil e assumir uma posição clara. Sem bater o martelo, entretanto, o ex-presidente afirma que, antes de falar em nomes, o partido precisará afinar o discurso e apresentar uma proposta para o país. FHC criticou a presidente Dilma Rousseff (PT) ao considerar que o PT antecipou o lançamento da candidatura dela à reeleição. “Não sei por que o governo precipitou o lançamento formal e já está usando aquele símbolo. Até ficou feio na foto que vi, me pareceu uma coisa meio soviética, o lado pior do sovietismo, de um personalismo muito forte”, afirmou, acrescentando em seguida que tudo o que Dilma fizer daqui para frente será percebido como eleitoreiro, o que levará também os demais candidatos a precipitarem as suas candidaturas.

Como está dentro do PSDB a escolha do candidato ao Planalto?

Por enquanto, não há discussão. A sensação que tenho é de que o partido se inclina neste momento pelo nome do senador Aécio Neves. Agora, é um processo. A gente não pode antes da hora bater o martelo, porque pode haver outros candidatos. Defendo o partido aberto, democrático. Se for por consenso, não precisa de nada. Se alguém quiser ser candidato, tem direito de ser. Mas acho que é preciso, antes de falar em candidaturas, afinar o discurso. Tão importante quanto a pessoa é o que vai dizer. Isso é o que vai mobilizar. Eventos como o de hoje (ontem) são para afinar o discurso.

Qual é a possibilidade hoje de Aécio ser o indicado?

O nome mais citado é o do Aécio e nenhum outro está postulando a inclusão. Agora, o partido tem gente importante que temos de levar em consideração. Os governadores, não só de São Paulo e de Minas, mas outros. O José Serra, que teve votação enorme, faz parte do grupo de pessoas que pesam. A militância tem de se entusiasmar e a liderança tem de ter sensibilidade de ver se o candidato vai entusiasmar.

O PSDB terá eleições para a presidência nacional. Aécio seria um nome para ganhar visibilidade para uma futura candidatura ao Planalto?

Não acho que isso venha a ser uma questão de divisor do partido. Qualquer que seja o nome, ele tem de ter habilidade para unir.

Na hipótese de ser Aécio o candidato, haveria problema para trabalhar o eleitorado paulista?

São Paulo é grande demais para se ter essa ideia que tem de ser sempre só paulistas. O problema é o da mensagem. Se o candidato se apresentar em sintonia com que o povo está pensando, ele ganha. Então, tem de ouvir o povo. Não adianta ficar a discussão entre nós. Tem de sentir o que a população deseja. Fui candidato, ganhei em primeiro turno nas duas vezes, com votação em todo o Brasil. Ninguém questionou se eu era de São Paulo. Aliás, os últimos presidentes não nasceram em São Paulo. Eu não nasci lá, o Lula não nasceu lá, o Jânio Quadros não nasceu lá, o Washington Luís não nasceu lá. O último que nasceu lá foi Rodrigues Alves. Faz mais de 100 anos. Mostra que São Paulo é um estado aberto. Acho que o candidato tem de ganhar a população paulista.

E qual seria o discurso? As últimas candidaturas a presidente do PSDB não defenderam o seu governo.

Você não pode centrar uma campanha no passado. Tem de centrar no futuro. Essa que é a minha preocupação e a de todos os que têm responsabilidade no PSDB: o que vamos propor. A crítica já está sendo feita e vai ser acirrada, porque o governo está indo mal em muitos setores. Isso vai suscitar críticas, mas não só do PSDB. Basta ler na imprensa que há muitas restrições sobre o modo como o governo está resolvendo problemas de infraestrutura, questões orçamentárias, uma espécie de perda de rumo diante das circunstâncias internacionais. Mas, mais do que isso, temos de apresentar o lado positivo, o que vamos oferecer. Agora e, finalmente, de quem vier a ser candidato. Não podemos colocar na boca de alguém algo que não sente.

Qual é o cenário político que o senhor considera para o ano que vem?

Como está posto o quadro hoje, o PSDB terá candidato, a presidente Dilma será candidata. A Marina Silva explicitamente se coloca como postulante ao cargo. Eduardo Campos não assumiu, mas as ações são nessa direção. Eu sei lá se outros vão aparecer. De repente, o Fernando Gabeira vai ser candidato também. Não sei por que o governo precipitou o lançamento formal quase, já está usando aquele símbolo, até ficou feio na foto que vi, me pareceu uma coisa meio soviética, o lado pior do sovietismo, de um personalismo muito forte. Mas lançou. E normalmente quem está no governo não quer que lance candidatura porque atrapalha. Tudo o que a presidente Dilma fizer vão dizer: é eleitoreiro. Mas eles lançaram. Isso faz com que os outros comecem também a funcionar com muita antecipação.

O senhor acha que Aécio, como potencial candidato, deve começar a percorrer o Brasil?

Acho que um líder de expressão nacional precisa percorrer o Brasil. Qualquer líder que queira ter peso tem de percorrer e tem de falar. Pode escrever o que quiser que a influência é menor do que a fala e a presença, multiplicadas pela televisão e pelo rádio. O maior engano que pode incorrer o candidato é imaginar que, ao falar no Congresso ou no partido, está fazendo muita coisa por sua candidatura. Não está. As pessoas só se popularizam quando assumem risco, tomam posição e essa posição é visível.

Fonte: Correio Braziliense

Eduardo vê governo sem "plano regional"

Governador volta a criticar "rinha" política PT-PSDB e faz novos "alertas" ao governo Dilma. Em sua avaliação, falta ao País uma política de desenvolvimento regional

Na terceira oportunidade que lhe foi dada, em menos de cinco dias, para reforçar seu discurso nacional, o governador Eduardo Campos (PSB) voltou ontem a soltar "alertas" ao governo federal sobre os rumos da economia do País e também a criticar o que tem chamado de "antecipação do debate eleitoral". O socialista aproveitou o mote do seminário "Nordeste: como enfrentar as dores do crescimento?", promovido pela revista Carta Capital, em hotel de Boa Viagem, para afirmar que a presidente Dilma Rousseff (PT) não adota uma política de desenvolvimento regional.

"2011 foi pior que 2010 e 2012 pior que 2011. Este ano também não será melhor se apequenarmos a discussão política do País. Não precisamos discutir o Brasil da próxima eleição, mas o Brasil da próxima década", disse Eduardo, em recado ao PT e PSDB. É do PSB, seu partido, o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho.

Na sexta (22), no encontro com prefeitos em Gravatá, o governador havia condenado a polarização do debate político entre petistas e tucano. Disse, na ocasião, que a população está cansada do que chamou "velha rinha política". Ontem, insistiu na tecla ao afirmar que o debate sobre o futuro do País não pode ser "chato, uma discussão do Brasil contra o Brasil". Buscando mostrar-se como um meio termo na rivalidade PT-PSDB, elogiou, novamente, iniciativas das gestões de ambos os partidos à frente do País. Enalteceu as políticas de inclusão social iniciadas pelo ex-presidente Lula (PT) assim como o controle da inflação, atribuído a Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Ao governo Dilma, coube a cobrança pela adoção de políticas para diminuir as desigualdades regionais, fator fundamental, segundo Eduardo, para a retomada do crescimento do País. "O desenvolvimento regional deve ser uma política de Estado. Não pode ser visto como uma ameaça, mas como uma oportunidade para o País". Na avaliação do socialista, existem apenas iniciativas isoladas do governo federal. "Faltam investimentos, falta uma política de desenvolvimento regional que possa garantir um sistema que vença as desigualdades que estão não só no Nordeste, mas no próprio Sudeste".

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Ciro ataca Eduardo Campos e racha PSB

Ex-ministro diz que presidente do seu partido, assim como Aécio e Marina, não tem proposta para o país

Letícia Lins

RECIFE e BRASÍLIA - O PSB vive um clima de racha interno desde o último fim de semana, quando o ex-ministro Ciro Gomes criticou as pré-candidaturas ao Palácio do Planalto do presidente do seu partido, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do senador Aécio Neves (PSDB-MG) e da ex-senadora Marina Silva, que está estruturando uma nova sigla, a REDE. Na entrevista, Ciro disse que a presidente Dilma Rousseff é a favorita em 2014. Ontem, em resposta, Campos desautorizou Ciro e afirmou que, no PSB, assuntos como esse devem ser debatidos internamente e nas instâncias adequadas.

- Os pré-candidatos Eduardo Campos, Aécio Neves e Marina Silva não têm nenhuma proposta, nenhuma visão para o Brasil. Isso é o que preocupa - afirmou Ciro, em entrevista no último domingo à Rádio Verdes Mares, do Ceará. - O meu presidente, Eduardo Campos, não tem estrada ainda. Não conhece o Brasil. Aécio Neves não conhece o Brasil. Marina Silva não representa rigorosamente nada

Ontem, o vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, emitiu nota rebatendo Ciro. "Eduardo Campos sintetiza o pensamento acumulado pelo PSB, que, desde 1985, data de sua reorganização, vem estudando o país e formulando programas de governo. Pelo menos teoricamente, Ciro Gomes conhece os documentos do seu partido".

Relações azedas

Campos, por sua vez, tentou minimizar as declarações de Ciro. Mas enviou um recado ao companheiro de partido:

- Eu discordo da opinião dele. A opinião é de Ciro, não a do partido. Respeito o direito de ter sua opinião, mas discordo do que diz e não vou polemizar com ele. O partido é democrático, todas as pessoas têm o direito ao debate. Mas, sobre o que o PSB deve fazer ou deixar de fazer, esse debate deve ser travado no tempo certo e nas instâncias que verdadeiramente decidem.

Campos comentou as declarações de Ciro após o final de um evento promovido pela revista "Carta Capital" em Recife. O governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), irmão de Ciro, era esperado para o encontro, mas não compareceu. Roberto Amaral, em nota oficial no site do PSB, reagiu às declarações de Ciro. "Se verdadeira a versão, há que aplaudir as opiniões formuladas sobre Aécio e Marina (declarações que subscrevo) e lamentar profundamente a opinião desinformada sobre a visão de Eduardo Campos, seja sobre a crise econômica, que tanto tem denunciado, seja relativamente à sua visão de Brasil, que não é só dele, mas do partido".

Setores do governo e do PT apostam na estratégia de azedar a relação dos irmãos Ciro e Cid Gomes com Eduardo Campos, a ponto de forçar a saída deles do PSB, uma vez que o governador de Pernambuco é majoritário no partido. A presidente Dilma deve receber Cid hoje em audiência, em mais uma tentativa de estreitar a relação com a ala dissidente do PSB. No cálculo governista, a principal região-fonte de votos para Campos ainda é o Nordeste. Sem base no Ceará, avalia o Planalto, Campos ficaria enfraquecido em sua área de influência e poderia cogitar adiar suas pretensões eleitorais.

Fonte: O Globo

Um chega para lá em Ciro

Eduardo Campos diz que as críticas do ex-presidenciável não vão mudar o cronograma para 2014. PSB fará consulta aos filiados para definir voo solo ao Planalto

Paulo de Tarso Lyra, João Valadares

As declarações dadas por Ciro Gomes de que o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PE) não tem visão do país nem estrada para se candidatar a presidente da República são insuficientes para alterar o cronograma do PSB de definir, até o fim do ano, se terá ou não candidatura própria a presidente em 2014. A legenda começará a partir do mês que vem a fazer consultas aos governadores, aos prefeitos e às bancadas do partido, além de procurar outras legendas para avaliar a viabilidade um voo solo do governador de Pernambuco.

Ontem, Eduardo Campos expressou com clareza que as críticas feitas por Ciro, que disputou as eleições presidenciais de 1998 e de 2002, não afetarão as discussões internas do PSB. “Isso é uma opinião que ele vem dando há algum tempo. Não é nenhuma novidade. Discordo da opinião dele e essa também não é a opinião do partido”, declarou o governador pernambucano.

Aliados de Eduardo Campos rejeitam também uma crise interna. “Esse é o jeito do Ciro fazer política, ele fala o que vem à cabeça. Quando a gente passa dos 40 anos, fica difícil mudar de estilo. Nunca o PSB esteve tão unido como está hoje”, garantiu o secretário-geral do PSB, Carlos Siqueira.

Mas existem outras negociações que precisarão ser amarradas em busca dessa unidade. Em Minas Gerais, por exemplo, o PSB está sendo puxado em três direções distintas. O atual prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, é próximo do provável candidato do PSDB, Aécio Neves. O presidente estadual do PSB, Walfrido dos Mares Guia, estimulado por Lula, defende uma aliança com o PT em 2014. E o deputado federal Júlio Delgado está com Eduardo Campos. “Chegou a hora de termos candidato próprio”, declarou.

Dificuldades

Depois das conversas com os integrantes do partido e com os possíveis aliados, será convocada uma Executiva Nacional e, até dezembro, o Diretório Nacional do partido dará uma posição a ser ratificada no Congresso Nacional do partido, provavelmente no início do ano que vem. “Se a decisão do Diretório for por amplamente majoritária, o Congresso será apenas uma instância formal”, garantiu um integrante da cúpula partidária.

Uma dificuldade que Eduardo Campos enfrentará ao longo do ano é buscar aliados para a candidatura presidencial. O PSB já iniciou conversas com algumas legendas que estão na base de apoio da presidente Dilma Rousseff, mas demonstram sinais de insatisfação. Os dois alvos preferenciais são o PTB e o PDT. No caso do primeiro partido, existe a sinalização de apoio à candidatura de Armando Monteiro para o governo de Pernambuco no ano que vem.

Lula vai aos 30 anos da CUT

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai participar amanhã das comemorações dos 30 anos da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Um dos fundadores da central sindical, Lula comparecerá ao ato ao lado de mais de 130 sindicalistas da atual gestão da CUT de todo o Brasil, além dos ex-presidentes Jair Meneguelli, Vicente Paulo da Silva (o Vicentinho), Kjeld Jakobsen, João Felício, Luiz Marinho e Artur Henrique da Silva Santos.

Fonte: Correio Braziliense

Planalto corteja Cid Gomes contra Campos

A presidente Dilma Rousseff tenta neutralizar as pretensões do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), para 2014. Dilma recebe o governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), dois dias após críticas de Ciro Gomes a Campos.

Planalto corteja os irmãos Gomes para minar pretensão presidencial de Campos

Vera Rosa e Tânia Monteiro

BRASÍLIA - Em estratégia articulada com seu padrinho político, Luiz Inácio Lula da Silva, a presidente Dilma Rousseff começa a atuar para neutralizar as pretensões do governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, de se tomar seu possível adversário na disputa de 2014. Em meio aos confrontos explícitos de duas alas do PSB, Dilma recebe hoje o governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), no Palácio do Planalto.

O encontro ocorre quarenta e oito horas depois das declarações do ex-ministro Ciro Gomes, que é irmão de Cid e criticou Campos (PSB), dizendo não ver nele um político preparado para comandar o Brasil. O ex-presidente Lula também se encontrará com Cid, na quinta-feira, e poderá ter uma conversa com o próprio Ciro.

Apesar de a direção do PSB tentar classificar a crítica de Ciro Gomes como uma "voz isolada no partido", há uma ala da legenda dominada pelos irmãos Gomes. A ação de Lula e Dilma dá força política a Cid e Ciro Gomes num momento de confronto com Eduardo Campos.

Uma das estratégias do PT para garantir a reeleição de Dilma é reorganizar a força do partido no Nordeste. Essa foi uma avaliação feita por Lula. Nesse cenário, o apoio de Cid Gomes é considerado fundamental, sobretudo se Eduardo Campos realmente decidir se lançar.

Lula é grato a Cid Gomes pelo fato de o governador ter prestado solidariedade ao petista assim que surgiram denúncias de Marcos Valério, o operador do mensalão, de que o ex-presidente sabia do esquema de corrupção e teria se beneficiado dele. Já Ciro Gomes, o irmão do governador, foi ministro da Integração Nacional de Lula de 2003 a 2006.

Na eleição presidencial de 2010, Ciro Gomes abandonou o projeto político presidencial e apoiou a eleição de Dilma Rousseff.

No Planalto, porém, auxiliares de Dilma consideram arriscada a estratégia de prestigiar politicamente os irmãos Gomes como um contraponto a Eduardo Campos. Acham que Lula e Dilma vão agir "no fio da navalha" para não melindrar nenhum dos lados do PSB, que integra a base aliada da presidente.

"Eduardo Campos, Aécio e Marina não têm nenhuma proposta, nenhuma visão", afirmou Ciro na polêmica entrevista do último domingo à rádio "Verdes Mares" desqualificando também o senador Aécio Neves (PSDB- MG) e a ex-ministra Marina Silva (Rede Sustentabilidade), outros possíveis adversários de Dilma em 2014.

O vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, divulgou nota na qual lamentou o que definiu como "opinião desinformada" de Ciro sobre Eduardo Campos.

Embora à primeira vista os ataques de Ciro na direção de Campos pareçam sob medida para beneficiar Dilma, a avaliação no Palácio do Planalto é que um racha no PSB neste momento pode trazer prejuízos à governabilidade, ameaçando a fidelidade do partido no Congresso.

Um dia após ser recebido por Dilma, o governador do Ceará acompanhará Lula à cidade de Redenção, onde o ex-presidente receberá o título de Doutor Honoris Causa concedido pela Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab).

Ministério. O PSB controla hoje dois ministérios (Integração Nacional e Portos) e não deve perder nem ganhar espaço na reforma que Dilma fará na equipe, em março. Petistas perderam as eleições para o PSB em Fortaleza, Recife, Belo Horizonte e Campinas. Nos bastidores, muitos deles afirmam que, se Campos sair mesmo do barco governista, o PSB deveria entregar os cargos.

"Nós nunca reivindicamos nada. Só estamos no ministério por muita insistência da presidente", disse Cid ao Estado.

Lula deverá se reunir com Campos em março. A portas fechadas, ele chegou a sugerir que o governador substituísse o atual vice Michel Temer (PMDB) na chapa da reeleição, mas a ideia não foi adiante. Hoje, Lula defende a manutenção da dobradinha Dilma-Temer.

Fonte: O Estado de S. Paulo

PMDB do Rio afirma que só apoia Dilma se Lindbergh desistir

Com aval do governador Sérgio Cabral, o PMDB do Rio partiu para o ataque contra a pré-candidatura do senador Lindbergh Farias (PT) ao governo do Estado e insinuou que poderá não apoiar a reeleição de Dilma Rousseff se o petista não desistir da disputa. Em nota divulgada ontem, o PMDB-RJ cobrou do PT o apoio ao vice-governador Luiz Fernando Pezão, escolhido por Cabral para disputar a sucessão.

Embora aponte como "fundamental para o Brasil a reeleição da presidenta", o PMDB fluminense diz que a candidatura do vice- governador é "inegociável". "Não há hipótese de ele (Pezão) não ser candidato. Por tudo isso, o cenário de palanque duplo para a presidenta Dilma não se sustenta. Trata-se de uma equação que não fecha e cujo resultado não será a soma, mas a subtração", diz a nota, assinada pelo presidente regional do partido, Jorge Picciani. Uma versão mais contundente da nota cobrava diretamente da executiva nacional petista uma atitude para "equacionar a questão com o PT do Rio". Mas optou-se por uma versão mais branda do texto.

"O diretório do PT aprovou por unanimidade minha pré-candidatura. Na convenção do PMDB, eles podem decidir sobre os candidatos deles, mas não podem escolher ou vetar os nossos", disse Lindbergh.

Fonte: O Estado de S. Paulo

PMDB ameaça PT e diz que Dilma não terá palanque duplo no Rio

Em nota, partido impõe candidatura de Pezão ao governo do estado

Cássio Bruno

O PMDB e o PT decretaram guerra ontem no Rio. Em nota divulgada pela manhã, os peemedebistas afirmaram ser contra um palanque duplo para a presidente Dilma Rousseff e deixaram claro o tom de ameaça caso os petistas não apoiem o nome do vice-governador Luiz Fernando Pezão para o governo. A nota ressalta que "não há hipótese de ele não ser candidato". O senador Lindbergh Farias, que não abre mão de disputar pelo PT a sucessão do governador Sérgio Cabral, do PMDB, reagiu e partiu para o ataque.

PT e PMDB são aliados nos governos federal e estadual. O presidente regional do PMDB, Jorge Picciani, deixou claro que, para o comando do partido no estado, as duas alianças estão ligadas:

- Apoiamos Dilma há quatro anos porque reconhecemos que ela seria a continuidade do bom governo do ex-presidente Lula. Queremos que o PT compreenda e apoie Pezão porque ele é a continuidade do bom governo do Cabral. Hoje, apoiamos a chapa Dilma e (Michel) Temer. Mas, se não tivermos o apoio a Pezão do PMDB e do PT nacional, não conte com a gente do PMDB do Rio - disse Picciani em entrevista ao GLOBO.

Ofensiva pública

Foi a primeira vez que o PMDB fluminense fez uma ofensiva pública a Lindbergh, ex-aliado de Cabral e Pezão. A nota, assinada por Picciani, será lida no próximo sábado na convenção nacional do PMDB.

Para os peemedebistas, "o palanque duplo para a presidente Dilma no Rio não se sustenta" já que "trata-se de uma equação que não fecha e cujo resultado não será a soma, mas a subtração".

Lindbergh contra-atacou:

- O diretório regional do PT deliberou, por unanimidade, a minha pré-candidatura. Também é do meu entendimento liderar a coalizão de toda a base aliada. Mas, se o PMDB entender diferente, reconhecemos o direito e a autonomia de lançarem a candidatura (do Pezão). Essa convenção é do PMDB. Eles devem escolher o candidato do PMDB. Só não podem escolher o nosso candidato.

Segundo a nota do PMDB do Rio, Luiz Fernando Pezão representa "a bem-sucedida política de Segurança implementada no estado".

Procurado pelo GLOBO, Pezão desconversou sobre a polêmica:

- Tenho tanta coisa para fazer. Só falo de eleição em 2014. Tenho que trabalhar e muita obra para entregar. Deixa o partido (PMDB) cuidar disso.

Lula estará no Rio amanhã. Vai participar da abertura do XVI Encontro Nacional do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan). O ex-presidente vai jantar com Cabral e Pezão. A briga entre PT e PMDB no Rio será o prato principal do cardápio. Já Lindbergh, neste dia, estará em Brasília.

- O PMDB quer condicionar uma aliança nacional com uma chantagem regional. Estão querendo impor quem vai ser o governador sem dar liberdade de escolha ao eleitor. Querem ganhar por W.O. - afirmou o deputado federal Alessandro Molon (PT-RJ).

O presidente nacional do PT, Rui Falcão, não quis comentar o caso.

Fonte: O Globo

PMDB do Rio pressiona PT a desistir de Lindbergh

Paola de Moura

RIO - Pressionado pelo início da pré-campanha do senador Lindbergh Farias (PT) ao governo do Estado do Rio, o PMDB, que faz planos de se manter no Palácio Guanabara pelo menos até 2026, resolveu pressionar o PT a desistir da candidatura própria regional. Ontem, conforme antecipou o Valor PRO, serviço de tempo real do Valor, a executiva pemedebista do Rio divulgou nota em que ameaça não dar espaço à campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT) em 2014, caso o senador continue candidato ao governo estadual.

Para o PMDB, que pretende eleger o atual vice-governador Luiz Fernando Pezão, por um ou dois mandatos e ainda o atual prefeito Eduardo Paes posteriormente, a pré-campanha de Lindbergh lançada na televisão no fim de semana antecipa uma disputa em que Pezão sai perdendo. O vice-governador ainda não é reconhecido pela população de uma forma geral.

No fim de semana, a executiva do PMDB local reuniu-se e, com o apoio do governador Sérgio Cabral (PMDB), decidiu enviar um texto para ser lido na convenção nacional a ser realizada no sábado.

O texto lembra que apesar de considerar fundamental a reeleição da presidente Dilma, o partido não abrirá mão de ter como candidato único no Estado para 2014, unindo PMDB e PT, o atual vice-governador Luiz Fernando Pezão. "Sua candidatura é inegociável", afirma o texto, justificando que só ela garantirá a continuidade da política de segurança, que cria o ambiente necessário para o desenvolvimento sustentável do Estado.

O PMDB acrescenta ainda que o partido não aceitará o palanque duplo, ou seja, que Dilma esteja presente tanto na campanha de Pezão, quanto na de Lindbergh. "O cenário de palanque duplo para a presidenta Dilma não se sustenta. Trata-se de uma equação que não fecha e cujo resultado não será a soma, mas a subtração", afirma a nota assinada pelo presidente regional do partido Jorge Picciani.

O PMDB lembra que foi fiel durante todos os anos em que apoiou o PT na Presidência. "Garantimos a governabilidade e somos fiéis aos nossos aliados", acrescenta o texto. O partido também pressiona o PT a decidir em que lado quer ficar. "Cabe ao PT que a desejada aliança se mantenha coesa, forte e uníssona". E lembra ao partido da presidente que, "em 2010, no primeiro turno o povo do Rio deu 67% dos votos ao governador Sérgio Cabral. E no segundo turno 70% dos votos à presidente Dilma". E conclui que o PMDB é o responsável pela mudança da história do Rio e que com isso também contribui para as transformações do país.

Lindbergh evitou atacar diretamente a nota, mas reagiu dizendo que continua em campanha. "A direção do PT tirou por unanimidade a pré-candidatura em novembro. Vamos lançar uma grande frente na eleição", afirmou. "Se o PMDB quiser lançar um pré-candidato, que o faça. Não pode é dizer o que nós temos que fazer", completou Lindbergh. Na sexta-feira, o senador inicia oficialmente sua campanha pelos municípios fluminenses. Ele fará uma caravana em que visitará todos as 92 cidades, começando por Japeri.

Já o deputado federal Alessandro Molon (PT-RJ) foi mais enfático. "Querem escolher o novo governador. Querem ganhar no W.O. eliminando qualquer candidatura que possa ameaçar", reagiu. "Os termos da nota são inaceitáveis. Condicionar a candidatura à aliança nacional é uma chantagem", afirmou.

Para tentar alavancar a candidatura de Pezão, que nas pesquisas do ano passado não conseguia ultrapassar os 10%, enquanto o deputado federal Anthony Garotinho (PR-RJ) obtinha mais de 30% e Lindbergh chegava perto de 20%, o PMDB tenta escalar o secretário de Segurança do Estado, José Mariano Beltrame. Ele seria candidato a vice-governador na chapa de Pezão. O objetivo, segundo Picciani, é garantir a continuidade da política de segurança pública, que tem como principal alicerce as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP).

Mas a estratégia esbarra na resistência do secretário, que afirma constantemente não querer se transformar em um político. Beltrame também vem sendo assediado por outros estados e até países onde a violência é motivo de preocupação crescente.

Fonte: Valor Econômico

Raupp afirma que iniciativa peemedebista é legítima

Senador reforça candidatura de Pezão; Lindbergh inicia caravana

O senador Valdir Raupp, primeiro vice-presidente da Executiva Nacional do PMDB, disse ontem que o candidato do partido no Rio ao governo do estado será o vice-governador Luiz Fernando Pezão. Segundo ele, a intenção é ter candidatura própria, em 2014, em quase todos os estados.

- Atualmente, o PMDB já tem 20 pré-candidatos aos governos estaduais. No Rio, teremos candidatos próprios, independente se o PT terá um candidato ou não. Agora, se PMDB quer o Pezão, será ele o candidato - disse Raupp, lembrando que a nota do PMDB é "legítima".
O documento foi divulgado na semana em que o senador Lindbergh Farias inicia a "Caravana da Cidadania", projeto em que ele percorrerá municípios do estado do Rio para participar de encontros com moradores, assim como fez Lula na década de 1990 pelo país. O primeiro local será Japeri, na Baixada Fluminense, nesta sexta-feira.

Na semana passada, Lindbergh também foi a estrela da propaganda política do PT na televisão, assinada pelo marqueteiro João Santana, o mesmo que elegeu Lula em 2006 e Dilma Rousseff em 2010. O fato irritou os peemedebistas.

Já Pezão fará agenda de visitas e inaugurações de obras ao lado de Cabral, incluindo Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) na Baixada e no interior do estado. (Cássio Bruno)

Fonte: O Globo

Guerra interna - Merval Pereira

A antecipação da campanha presidencial trouxe consigo questões políticas regionais fundamentais para a consolidação das alianças que sustentarão as candidaturas em 2014. O intuito do governo ao antecipar tanto o início da campanha é justamente pressionar os aliados a assumir o apoio à reeleição da presidente Dilma sem que tenham mais informações do que acontecerá no governo em 2013. Estrategistas do governo estão convencidos de que a reeleição de Dilma só está ameaçada por uma divisão interna dos aliados.

O trabalho do governo, sob a orientação do ex-presidente Lula, será tentar agrupar antecipadamente sua tropa política, fechando o apoio à reeleição de Dilma, para com isso dificultar a situação dos eventuais candidatos que só terão viabilidade se conseguirem apoios dentro da própria área governista. O PSB, por exemplo, faz parte da base governista, mas se prepara para lançar seu presidente, o governador Eduardo Campos (PE), à Presidência da República. Não quer, no entanto, antecipar uma decisão que ainda não está sedimentada, e, a depender do que acontecer este ano na economia e nas relações internas dos partidos aliados, poderá nem mesmo ser concretizada. Mas o Planalto já está atuando para incentivar as divergências internas do PSB, reforçando a posição do governador do Ceará, Cid Gomes. A declaração de seu irmão Ciro, de que Eduardo Campos não está preparado para presidir o país, deve ser entendida dentro dessa negociação com os Gomes.

No mesmo caso estão alguns partidos como o PDT, que quer permanecer na base governista, mas não se sente representado pelo ministro do Trabalho, Brizola Neto. Quem comanda realmente o partido é o ex-ministro Carlos Lupi, que pode vir a ter papel importante tanto na candidatura de Marina Silva quanto na de Eduardo Campos.

Também o PMDB está inquieto, tanto com o "namoro" de ala do governo com o PSB, mas também por questões regionais. A direção do Rio de Janeiro exige em nota oficial nada menos que uma intervenção da direção nacional do PT para cortar a candidatura do senador Lindbergh Farias à sucessão do governador Sérgio Cabral. A ameaça velada de romper com a unidade do apoio do PMDB ao governo Dilma caso a candidatura do vice Pezão não seja a oficial da base governista traz embutida a ideia de uma possível dissidência para apoiar uma candidatura alternativa, que tanto pode ser a de Aécio Neves como a de Campos.

Também em Minas o PMDB pressiona para ganhar um ministério em troca de não aderir à candidatura Aécio. Outros partidos da base governista estão na mesma situação. Para o governo, diante do futuro incerto especialmente na economia, tirar um compromisso agora é o melhor cenário, pois garantiria o tempo de propaganda eleitoral em rádio e TV que inviabilizaria outras candidaturas. Quanto mais candidatos, menos tempo de TV para o PT e mais chance de a disputa ir a segundo turno.

Muitos leitores ficaram curiosos sobre a relação dos 30 presidentes, de 1890 até 2014, que o economista Reinaldo Gonçalves, da UFRJ, listou em seu trabalho sobre os dez anos de governo petista, sobre o qual escrevi no fim de semana. Aí vai a lista, com a média anual de crescimento do PIB.

Fonte: O Globo

Aécio Neves chega a ponto de não retorno - Raymundo Costa

Muito embora evite se declarar candidato a presidente em 2014, como recomenda a boa lógica política, quando ainda faltam quase dois anos para as eleições, o PSDB e o senador mineiro Aécio Neves atingiram um ponto de não retorno, quando aceitaram ser os "convidados de honra" da festa de aniversário dos dez anos do PT no governo. Um recuo, a partir de agora, é cada vez mais difícil e pode comprometer inclusive uma nova empreitada do PSDB com Aécio em 2018.

A conjuntura é desfavorável ao tucano. Como costuma dizer o cientista político Cristiano Noronha, só o acontecimento de "algo sobrenatural" pode evitar a reeleição de um presidente ou governador de Estado com mais de 50% de aprovação popular, retratada pelas pesquisas de opinião.

Este é o caso da presidente Dilma Rousseff. Ela se mantém numa faixa superior aos 60%, nas sondagens de opinião pública, apesar de alguns percalços como o pífio crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), em 2012, e a inflação batendo no teto da meta. A 20 meses da eleição, Dilma ainda tem muito combustível para queimar.

Antecipação da campanha atropela cronograma tucano

Para a presidente virou importante antecipar a campanha. O lançamento de seu nome à reeleição, na festa de aniversário dos dez anos de governo do PT, serve para conter as especulações sobre a volta de Luiz Inácio Lula da Silva. A sombra de um ex-presidente forte, como Lula, é ruim para o governo.

Já no caso de Aécio Neves a antecipação do debate eleitoral é um mau negócio. O senador hoje o favorito da maioria dos tucanos, tinha um cronograma menos adiantado, pois precisa de tempo para desatar nós os mais diversos. O tucano terá de matar alguns leões, interna e externamente, para viabilizar uma candidatura competitiva.

Pelo andar da carruagem, Dilma pode vencer a eleição no primeiro turno, feito que nem Lula conseguiu nesses 10 anos de PT no Palácio do Planalto. Tanto José Serra, em 2002 e 2010, quanto Geraldo Alckmin, em 2006 conseguiram levar a eleição para o segundo turno. É o mínimo que o PSDB pode esperar de Aécio em 2014.

Os tucanos, inclusive o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra, estão inquietos com as reticências de Aécio. Mas o pré-candidato tucano sabe como ninguém que antes de tudo precisa costurar uma unidade partidária que seja efetiva. Apoios da boca para fora são comuns no PSDB.
Nas três eleições perdidas para o PT, depois que Fernando Henrique Cardoso deixou o Palácio do Planalto, houve até um presidente do partido que declarou publicamente apoio a candidato de outra de outra legendas, caso do cearense Tasso Jereissati, em 2002.

Aécio já conversou com José Serra, talvez o principal adversário interno do tucano. Depois de perder três eleições para o PT (duas presidenciais e uma para prefeito de São Paulo, ano passado), Serra está mais isolado no PSDB do que recomendaria a boa prática política. Unidade partidária não se faz com a segregação dos adversários, mas com sua incorporação ao projeto maior.

Supreendentemente, Serra tem se mantido quieto em seu isolamento. É evidente que acompanha os assuntos pertinentes ao partido. Quem conversou com ele nos últimos dias ouviu do tucano avaliações preocupadas sobre os acontecimentos de quarta-feira, quando o PT comemorou seus dez anos de governo e Aécio Neves subiu à tribuna do Senado para falar dos "13 fracassos do PT".

Serra acredita que o PT faturou barbaramente o episódio e que a presidente Dilma Rousseff é hoje uma oradora muito mais fluente e à vontade na interação com o público que em 2010, quando o derrotou na eleição presidencial. O tucano também viu o dedo não tão invisível assim do jornalista João Santana. "É pra lá de competente", disse a um interlocutor habitual, após assistir, à noite, os telejornais com a notícia sobre o primeiro embate tucano-petista tendo 2014 como pano de fundo.

Feita a costura interna, o passo seguinte de Aécio deve ser necessariamente a busca de apoios de outros partidos. Se Dilma fizer uma coligação com os partidos que hoje integram a base do governo no Congresso, terá a metade do tempo de rádio e televisão no horário eleitoral gratuito, uma eternidade, se comparado com o que tem hoje a oposição, algo em torno de três minutos - cerca de um quatro do tempo da coligação governista.

Se conseguir ampliar os apoios na área partidária, Aécio ainda precisará sedimentar um discurso capaz de seduzir uma parcela de novos eleitores para o PSDB. Ao PT interessa manter a polarização com o PSDB, um terreno que já percorreu por três vezes, com sucesso. Aécio ainda fala no resgate da "herança bendita" de Fernando Henrique Cardoso. É pouco para fazer frente à maquina de fazer votos em que se transformou o PT.

São muitas as dificuldades à espreita de Aécio Neves, mas em 30 anos de atividade pública o tucano já deu demonstrações de coragem política. Em 2001, ele construiu uma candidatura vitoriosa à presidência da Câmara dos Deputados contrariando os interesses do Palácio do Planalto e da coligação PSDB-PFL, no poder desde 1994. No ano seguinte, em 2002, Serra foi o candidato tendo como vice na chapa a deputada Rita Camata (PMDB).

Além disso, o neto de Tancredo Neves parte de uma base política forte, Minas Gerais. Na eleição de 2002 para o governo do Estado, ele venceu no primeiro turno com 58% dos votos válidos; na reeleição, quatro anos mais tarde, atingiu o equivalente a 77% do votos válidos dos mineiros. Saiu do governo com uma aprovação "lulista", superior a 82%.

A diferença, agora, é que Dilma pode e pretende montar um palanque competitivo em Minas Gerais. Em 2006, o candidato do PT foi o ex-deputado e ex-secretário nacional de Direitos Humanos Nilmário Miranda, numa chapa que tinha como candidato ao Senado o atual deputado Newton Cardoso. Não havia risco de dar certo. Agora o PT conta com pelo menos dois nomes fortes para o governo, o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio) e o ex-ministro do Desenvolvimento Social Patrus Ananias.

Fonte: Valor Econômico

Conflitos antecipados - Tereza Cruvinel

A madrugada eleitoral no plano nacional está expondo muito cedo, nos estados, as contradições internas de cada partido e de cada coligação na montagem dos palanques

Deflagrado prematuramente o processo eleitoral de 2014, até agora não está claro o que ganharão com isso Dilma Rousseff e Aécio Neves, e mesmo Eduardo Campos, que se antecipa fingindo condenar a antecipação alheia. Afora outros efeitos nefastos para o país, a madrugada eleitoral no plano nacional está expondo também muito cedo, nos estados, as contradições internas de cada partido e de cada coligação na montagem dos palanques. Com mais tempo, elas poderiam ser mais bem administradas. O caso do Rio de Janeiro foi o que mais reverberou nas últimas horas, mas não é o único no âmbito da aliança PT-PMDB. No PSB, vieram à tona a dissidência do ex-ministro Ciro Gomes em relação à candidatura de Campos e a dupla fissura na seção mineira. O conflito interno no PSDB está silenciado pelo mergulho do ex-governador José Serra em águas insondáveis, e já surgem problemas na eventual aliança com o DEM. Na Bahia, por exemplo, o prefeito ACM Neto tende a apoiar o peemedebista Geddel Vieira Lima e não o tucano Antônio Imbassahy.

Agora entraram para valer na agenda de Dilma os conflitos PT-PMDB. O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, que desde o início de seu segundo mandato cultiva e divulga a candidatura de seu vice, Luiz Fernando Pezão, foi avisado há pelo menos três meses de que o PT lançaria a candidatura do senador Lindbergh Farias ao governo estadual. Cabral inicialmente disse compreender, considerando legítima a pretensão do PT, que o apoiou em duas eleições. Talvez acreditasse que, na hora H, o senador fosse demovido. Mas tudo mudou de figura diante das evidências de que Lindbergh tem o apoio da cúpula petista, da presidente Dilma e do ex-presidente Lula, que foi o grande cabo eleitoral de Cabral em 2006 e em 2010. Sinal inequívoco, o fato de João Santana, marqueteiro oficial do poder petista, ter se encarregado da produção dos comerciais de TV que lançaram a candidatura Lindbergh na semana passada.

O PMDB do Rio tem mesmo razões para se preocupar. Primeiro, porque Pezão não é Cabral, que vinha de uma longa trajetória política. Tem déficit de conhecimento no estado. É um candidato quase poste, que precisará de guindastes, e o mais potente deles, Lula, estará do outro lado. E, com isso, Cabral perde ainda o discurso da "parceria estratégica com o governo federal", que o ajudou nas campanhas e nas duas gestões.

Os cardeais peemedebistas guardam cópia de um documento assinado pelos presidentes do PMDB e do PT em 2010, no início da campanha de Dilma, estabelecendo que, nos estados onde os dois partidos tivessem palanques distintos, ela iria a comícios dos dois candidatos ou não iria a nenhum. Mas, no fim, ela acabou indo apenas a eventos dos candidatos petistas. Então, a paúra peemedebista não é despropositada. Cabral, que inicialmente pensava num vice petista, já se fixou no nome de seu secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, que é bem-visto por ter reduzido a violência mas nunca pisou num palanque.

Conflitos semelhantes ao do Rio começam a pipocar no Rio Grande do Sul, no Paraná, em Mato Grosso e outros estados. E, para completar, diz um cardeal, existe o desequilíbrio entre as duas siglas no governo federal. O PT tem 14 pastas, o PMDB apenas cinco, nenhuma delas com poder efetivo para executar políticas públicas de grande impacto. Tudo isso vai desaguar na convenção do fim de semana. É claro que o PMDB, mesmo estrilando, não vai largar a garupa de um cavalo com pinta de vencedor. Mas Dilma e Lula vão ter que saltitar. Quem mandou antecipar?

Ministro mineiro

Dilma já foi convencida de que precisa aumentar a representação do PMDB no governo, para além da pasta prometida a Gabriel Chalita, em retribuição ao apoio dado a Fernando Haddad na disputa municipal do ano passado em São Paulo. Já concordou com a entrega de uma pasta à seção mineira, que o governador tucano Antonio Anastasia tenta atrair oferecendo gordas secretarias estaduais. O ministro deve ser Antônio (Toninho) Andrade, presidente regional do partido. A pasta deve ser Transportes. E com isso Dilma se livra de ter que devolvê-la ao PR, o que faria parecer que sua faxina foi de mentirinha.

Pela primeira vez

Os que moram em Brasília desde os primeiros tempos sabem porque viveram. As empresas de transporte coletivo da capital sempre vivem no paraíso do capitalismo selvagem: serviços péssimos, tarifas altas e fiscalização ausente. Algumas das atuais já estavam aqui na inauguração ou descendem das pioneiras. De lucro, nunca puderam se queixar. Tanto que uma delas é "mãe" da segunda maior companhia aérea do país. A intervenção em três empresas de um mesmo grupo, decretada ontem pelo governador Agnelo Queiroz, constitui ato inédito e corajoso em favor dos usuários que sacolejam entre o Plano Piloto e as cidades do Distrito Federal. As empresas tiveram chances de melhorar o serviço, assinaram termos de ajuste de conduta e não cumpriram. A TCB, empresa estatal do GDF, assumiu as linhas, mas essa solução tem que ser provisória. O Estado deve regular e fiscalizar, mas a prestação desse tipo de serviço não é seu forte. Isso também já foi vivido.

Fonte: Correio Braziliense

Indecentes úteis - Dora Kramer

Aqueles que não conseguem convencer, quando fanáticos agridem, constrangem e, se lhes for dada a oportunidade, prendem e arrebentam.

Foi a nítida impressão deixada pela ação orquestrada a partir da Embaixada de Cuba com pequenos, barulhentos e virulentos grupos defensores da ditadura Castro, contra a presença da jornalista Yoani Sanchez por uma semana no Brasil.

Tirante a violência, nada de mais grave haveria no patrulhamento não fossem dois fatos: a presença de um assessor com assento no Palácio do Planalto na reunião em que a representação de Havana distribuiu a missão aos chefes dos tarefeiros e o mutismo do PT diante dos atentados à liberdade de uma pessoa dizer o que quer a quem estiver disposto a ouvir.

De onde fica plenamente autorizada a constatação de que esse tipo de intolerância não é episódio isolado nem nascido por geração espontânea. Foi apenas a manifestação mais histérica e malsucedida do modo petista (e área de influência) de lidar com as diferenças de ação e pensamento.

Numa expressão já meio gasta: o exercício do contraditório. Este enlouquece o PT. E aqui se fala do partido como um todo não na intenção maldosa de generalizar, mas porque a direção deixou o senador Eduardo Suplicy literalmente falando sozinho no enfrentamento da barbárie. Do partido como um todo não se ouviu palavra, nenhum reparo, apenas ressalvas aqui e ali à "deselegância" dos indecentes úteis.

A falta de cerimônia com que se dedicaram à selvageria é fruto do exemplo. Isso se vê quando o governo desqualifica de maneira desonesta (para não dizer mentirosa) as ações de seus antecessores - até mesmo os que hoje são seus aliados quando autoridades confundem crítica com falta de apreço à pátria, quando o dever de informar é classificado com desejo de conspirar, quando o exercício da oposição é "vendido" à população como uma atividade quase criminosa.

No caso da cubana ocorreu um monumental tiro no pé: o que seria uma visita tratada com destaque, mas sem maiores consequências nem celebrações - até porque Yoani Sanchez não diz nada que já não seja de conhecimento publico sobre as agruras da vida em Cuba -, no lugar da visita de uma jornalista que reclama pela adaptação de seu país à contemporaneidade, o que se teve foi uma repercussão monumental.

Ao se tornar alvo (fácil) da rebeldia ; sem causa, virou capa da revista de maior circulação no Brasil, falou no Congresso Nacional e foi convidada de honra em programas de entrevistas no rádio e na televisão. Bom para ela, melhor ainda para a exposição das patrulhas ao ridículo. E tem gente que ainda apoia o direito da Embaixada de Cuba de pôr os patrulheiros na rua argumentando que o fez em legítima defesa.

Imagine o prezado leitor e a cara leitora se a Embaixada dos Estados Unidos resolvesse organizar manifestações no mesmo tom para revidar, a pretexto de proteger a moça dos ataques. O mundo viria abaixo e certamente o governo brasileiro protestaria contra a indevida intromissão.

Expurgo. A exposição de fotos no Senado, organizada pelo PT em comemoração aos 33 anos de vida e 10 do partido no poder, simplesmente suprimiu o ano de 2005. O período em que veio a público o esquema do mensalão também desapareceu das festividades partidárias.

Uma incoerência em relação aos protestos de injustiça e acusações de farsa que o PT faz sobre o julgamento. Acreditasse mesmo em suas alegações, o natural seria o partido aproveitar a passagem dos aniversários para ressaltar o que, na sua versão, seria algo nunca antes ocorrido no País em matéria de atentado à Justiça, aos direitos individuais e, sobretudo, à verdade.

Preferiu nada falar. De onde, se conclui, consentiu.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Entre propaganda e crítica - Eliane Cantanhêde

Qual a diferença decisiva entre o vencedor "Argo" e o derrotado "Lincoln", que concorreu a 12 prêmios do Oscar e só levou dois?

"Argo" tem todos os componentes hollywoodianos da alma norte-americana: um herói bonitão e corajoso, o "bem" contra o "mal", uma trama de conteúdo épico e o velho oba-oba de como eles são mais justos e mais espertos do que todo mundo.

"Lincoln", ao contrário, é mais realista, menos ufanista. A emenda que aboliu a escravatura foi aprovada por um triz, por dois votos, e graças aos truques sujos de ontem, hoje e sempre: chantagens, ameaças, compra de votos. Os republicanos eram a favor; os democratas, contra.

Não foi por acaso que Michelle Obama foi escolhida e aceitou estrelar o grande momento: "E o Oscar vai para...". Democrata, chique e mulher do primeiro presidente negro do país, estava perfeita no papel ao anunciar o propagandístico "Argo". Já se fosse o crítico "Lincoln"...

E não é sem razão que o Irã reclama do resultado. Quanto mais espertos são os americanos em "Argo", mais os iranianos parecem idiotas, como jogadores que deixam a bola passar entre as pernas. O regime tem culpa no cartório, mas estou doida para ver a versão -ou réplica- deles.

No mais, não é preciso ser nenhum gênio em cinema para aplaudir a estatueta de melhor ator para Daniel Day-Lewis, mas é preciso se render à psicologia de Hollywood e do próprio país para entender como Jennifer Lawrence bate Emmanuelle Riva como melhor atriz.

Jennifer é talentosa, jovem e bonita, mas, convenhamos, sua adversária era imbatível. Hollywood, conservadora até na solenidade de premiação -todo ano antecedida de promessas de renovação e sempre mais do mesmo-, vive de sangue fresco. Riva é uma velha francesa. Lawrence, a cara nova dos EUA para o mundo.

Modestamente, pois conheço um pouquinho de política, mas cinema não é minha praia, preferia "Lincoln" e Riva. Se o critério fosse justiça.

Fonte: Folha de S. Paulo

Anos de chumbo - Comissão da Verdade: Agentes da repressão identificados

A Comissão da Verdade anunciou ter identificado "várias dezenas" de agentes da repressão, entre militares, policiais e civis. Muitos já foram ouvidos, e todos serão convocados a depor. Segundo a Comissão, em 1964 foram presas cerca de 50 mil pessoas em apenas cinco estados, num esquema que incluía detenções em massa.

Repressão com nome e RG

Comissão da Verdade diz que identificou "várias dúzias" de agentes da ditadura; 15 foram ouvidos

Evandro Éboli

BRASÍLIA - A menos de três meses de completar seu primeiro ano de funcionamento, a Comissão Nacional da Verdade apresentou balanço de seus trabalhos e anunciou ter identificado "várias dúzias" de integrantes da repressão. São militares, policiais e até civis que atuaram durante a ditadura. Segundo a comissão, algumas dessas pessoas já foram ouvidas e outras ainda serão convocadas. Quem se recusar a comparecer poderá ser processado por desobediência.

Até agora, já foram tomados 40 depoimentos pela Comissão da Verdade. Desses, 15 eram de agentes da repressão. A comissão não detalhou a atuação desses agentes durante a ditadura.

O balanço dos trabalhos ocorreu durante um encontro com representantes de comitês da verdade, memória e justiça dos estados.

- Já identificamos várias dúzias, não foram duas ou três, de membros da repressão. Com nome, RG e endereço - disse Guaracy Mingardi, que assessora o grupo coordenado pelo advogado José Paulo Cavalcante, um dos integrantes da comissão.

Pelo entendimento do Supremo Tribunal Federal, agentes que torturaram durante a ditadura não podem mais ser alvo de processo, porque foram beneficiados pela Lei da Anistia.

O novo coordenador da Comissão da Verdade, Paulo Sérgio Pinheiro, confirmou que o grupo já recorreu ao expediente de convocar depoentes, mas não revelou nomes.

- Já fizemos várias convocações, mas não fazemos alarde. Não dá para sair por aí dizendo vamos ouvir fulano, beltrano ou sicrano. Até porque esse pessoal (militares) já vivia naquela época em rede e continua vivendo assim, como se vê por aí - disse Pinheiro, numa referência aos sites de militares daquele período, criticando ações da Comissão da Verdade.

Coordenadora do grupo "Golpe Civil Militar de 1964", na comissão, Rosa Maria Cardoso da Cunha, ex-advogada da presidente Dilma Rousseff durante os anos de chumbo, afirmou que os primeiros levantamentos sugerem que cerca de 50 mil pessoas foram presas em 1964, no Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, São Paulo e Pernambuco.

Rosa contou que a comissão investiga o uso de manobras de detenção em massa naquele período, como padrão de repressão, em operações chamadas pente-fino e arrastão. São prisões que se deram com bloqueio de ruas, buscas de casa em casa e checagem individual. Era necessário localizar pessoas em listas previamente preparadas.

- O uso dessa violência permitiu ao regime militar construir o estatuto de um Estado sem limite repressivos. Com três consequências: inoculou a tortura como forma de interrogatório nos quartéis militares, a partir de 1964; fez da tortura força motriz da repressão praticada pelo Estado brasileiro até pelo menos 1976; possibilitou ao Estado executar atos considerados inéditos em nossa história política: a materialização de atos de tortura, assassinato, desaparecimento e sequestro - disse Rosa.

Segundo levantamento preliminar feito por ela, entre 1964 e 1967, foram registrados pelo menos 27 mortes e 403 casos de tortura no país.

Presente à reunião, Gilney Viana, ex-preso político e atual coordenador do projeto Memória e Verdade da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, foi preso em 1964 e lembra que as prisões naquele ano se davam de forma indiscriminada. Ela atuava no movimento estudantil, em Belo Horizonte (MG).

- Para justificar o golpe, os militares saíam prendendo todo mundo. A cadeia era um cadeião. Prendiam cem, duzentas pessoas numa leva só - lembrou Gilney, que ficou quinze dias preso em Belo Horizonte. Depois, passou dez anos preso no Rio.

Rosa Cardoso afirmou ainda que os opositores do regime militar também eram presos em navios e estádios de futebol. Nos navios "Raul Soares" e "Almirante Alexandrino", cerca de 600 pessoas foram mantidas presas. Em sua maioria, sargentos e lideranças sindicais. Rose citou o estádio Caio Martins, em Niterói, como um dos centros de detenção da ditadura.

"promiscuidade entre estado e fazendeiros"

A psicanalista e escritora Maria Rita Kehl, que cuida das violações no campo e dos direitos indígenas durante a ditadura, disse que a aproximação dos militares com os grandes proprietários de terra era intensa.

- O que havia era uma promiscuidade entre o Estado e os grandes fazendeiros. A violação de direitos humanos dos trabalhadores ocorria até mesmo por simples questões trabalhistas, imagina quanto o assunto era luta pela terra - afirmou Maria Rita. - Com a vitória do Estado militar na Guerrilha do Araguaia, a terra era distribuída de forma aleatória a amigos do Curió (Sebastião Curió, militar que atuou contra guerrilheiros). É o que buscamos comprovar - disse.

Ex-ministro da Justiça de Fernando Henrique Cardoso, José Carlos Dias é o responsável pelo grupo que trata da violações de direitos humanos. Dias alertou que aqueles que forem convocados e descumprirem a ordem, podem ser criminalizados:

- Vamos convocar. Quem não aceitar, vai responder por crime de desobediência. É uma escolha.

José Paulo Cavalcante minimizou a necessidade de convocar pessoas e citou a idade avançada dos que atuaram naquele período:

- Não será fácil. Muitas dessas pessoas tinham 50 anos naquela época. Agora, quem está vivo, está com 100 anos. Temos que falar com os mais jovens daquele período. E vamos convidar. Não será uma caça às bruxas.

Incômodo com exposição desnecessária

Paulo Sérgio Pinheiro demonstrou-se incomodado com uma exposição desnecessária da Comissão da Verdade e afirmou que não está em busca de notoriedade.

- É fundamental mantermos uma postura de sobriedade e de estrita cautela com o que dizemos e divulgamos, até por respeito às vítimas e investigações em curso. Não dá para sermos aquele que abre a porta da geladeira, vê luz e começa a dar entrevista - disse o coordenador da Comissão da Verdade. 

- Muitas vezes, o açodamento em divulgar um documento, um depoimento, uma suspeita põe por terra o trabalho cuidadoso de investigação, de coleta de indícios e identificação dos depoentes. Nunca esqueçamos que, afinal, seremos julgados não apenas por mobilização imediatista das atenções muitas vezes efêmeras no presente, mas pelo relatório final. É isso que interessa. É isso que conta.

O grupo tratou também dos militares perseguidos pela ditadura e citou que centenas de praças, opositores do regime, foram alvos dos oficiais. O entendimento da comissão é que a história deles não ganhou visibilidade. Apenas alguns deles, como Carlos Lamarca, ficaram conhecidos.

Fonte: O Globo

Resultado ruim de empresas derruba lucro do BNDES

Ganhos menores com investimentos em empresas levaram a BNDESPar - que administra as participações acionárias do BNDES - a registrar queda de 93,1% no lucro líquido. O ganho foi de R$ 298 milhões no ano passado, ante R$ 4,308 bilhões em 2011. O resultado foi determinante na queda de 9,55% no lucro total do BNDES, que registrou R$ 8,183 bilhões em 2012, ante R$ 9 bilhões em 2011.

Perdas com estatais e "campeãs nacionais" derrubam lucro do BNDES

Vinícius Nader

RIO - O lucro do BNDESPar - que administra as participações em empresas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) - caiu 93,1% no ano passado. Essa queda se deve aos problemas enfrentados pelas companhias que receberam investimentos do banco.

Em 2012, o BNDESPar lucrou R$ 298 milhões. Em 2011, o resultado chegou a R$ 4,308 bilhões. Essa queda foi determinante para o resultado geral do BNDES.

O lucro do BNDES caiu 9,55%. O resultado de 2012 ficou em R$ 8,183bilhões em 2012, em comparação aos R$ 9 bilhões de 2011.

A carteira de ações do BNDES, que inclui 142 empresas, caiu de R$ 89,694 bilhões, em 2011, para R$ 78,215 bilhões, no ano passado. Mas o lucro foi menor também porque as principais fontes de dividendos - parte do lucro que as empresas negociadas em Bolsa repassam para os acionistas - tiveram um ano marcado por dificuldades. O principal tripé dos dividendos repassados ao banco é formado pelas gigantes Vale, Petrobrás e Eletrobrás.

O superintendente da Área Financeira do BNDES, Selmo Aronovich, aposta na recuperação. "Quando o mundo passapor dificuldades, é inevitável que o ciclo de negócios das empresas seja afetado, e isso afeta nosso fluxo de rendimentos. Mas contamos com esses ativos. A perspectiva para o futuro é bem favorável."

Além disso, a BNDESPar registrou baixa contábil de R$ 3,325 bilhões, numa provisão para perda de valor de ativos cuja recuperação a empresa admite ser difícil. O BNDES confirmou que R$ 865 milhões dessa provisão deve-se ao investimento na LBR-Lácteos, que entrou com pedido de recuperação judicial neste mês.

O banco se tornou sócio da companhia, com 30,28%, quando ela foi criada, com a fusão entre Bom Gosto, do empresário Wilson Zanatta, e Leitbom, com um faturamento de R$ 3 bilhões. A BNDESPar aportou R$ 700 milhões numa empresa : escolhida para ser uma "campeã nacional", líder do mercado de leite. Especula-se no mercado que uma parte importante do restante da provisão para perdas deve-se à Eletrobrás, cujo valor na bolsa encolheu em R$ 8,3 bilhões, 46% apenas no quarto trimestre de 2012.

O recuo no lucro seria ainda maior não fosse a Resolução 4.175, editada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em 27 de dezembro. Com ela, o BNDES não precisa fazer a baixa contábil em ações transferidas pela União. Segundo Aronovicn, ações de Petrobrás, Eletrobrás e da ex-estatal Vale são a grande parte dos ativos nesse caso - e respondem por 3% a4% da carteira de ações.

Lucro em queda. Para Maurício Canêdo, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas, a queda no lucro chama a atenção para os investimentos em ações do banco. Mas o fundamental é questionar se as operações beneficiam a economia como um todo. "Ainda que a Petrobrás estivesse bombando de dar dinheiro, por que investir na empresa?", questionou Canêdo. Para o economista, somente operações que não se viabilizariam de outra forma, cujo retorno social é maior do que o privado, deveriam receber apoio do BNDES. Vale e Petrobrás podem financiar-se no mercado, destacou.

O mau desempenho da empresa de participações foi compensado pelo resultado das operações de crédito e repasse, de R$ 9,5 bilhões, alta de 26% em relação a 2011. A carteira de crédito expandiu-se 15,5%, turbinada pelo número recorde de 990 mil operações no ano passado.

Apesar da redução no lucro, Aronovich destacou que a situação financeira do banco é sólida, com inadimplência (0,06%) em níveis historicamente baixos: "Estamos com índice de Basiléia superior a 15%". O índice mede a relação no capital de um banco com o total de recursos que ele empresta. Quanto maior, mais sólida a instituição. Embora os 15,4% de 2012 estejam acima dos _ 11% exigidos pelo Banco Centrai, o índice encerrou 2011 em 20,6%.

Mesmo enfatizando a solidez, ele revelou que o BNDES discute um plano para reforçar o capital no longo prazo.

Parte da queda no lucro global deveu-se também a um efeito estatístico. Em 2011, houve receita extraordinária de R$ 717 milhões, em recuperação de créditos, que não houve em 2012.

Fonte: O Estado de S. Paulo