terça-feira, 4 de junho de 2013

OPINIÃO DO DIA – Roberto Freire: a grande política

Não podemos jogar todas as fichas numa candidatura única das oposições no primeiro turno. É preciso ver quem tem mais potencial de crescimento. Para chegar ao 2º turno, cada um desses três candidatos vai disputar como puder, vai ter controvérsias, mas com o trato de que o que chegar lá vai ter o apoio dos outros (candidatos) do campo oposicionista ao campo do PT, de Lula e de Dilma.

Roberto Freire, deputado federal e presidente nacional de MD, in “Contra o PT, Marina, Aécio e Campos ensaiam aproximação” , O Globo, 2/6/2013.

Manchetes de alguns dos principais jornais em circulação

O GLOBO
O fim de uma era: Consumo menor e calote fazem banco frear crédito
País tem seu maior déficit comercial
Auxílio-alimentação: Liminar proíbe retroativo a juízes
Comissão da Verdade: Outro 'suicídio' é desmentido

FOLHA DE S. PAULO
Índios fecham 4 rodovias e invadem sede do PT no Sul
Funcionário é assassinado em frente a escola de Higienópolis
Apuração da PF no Bolsa Família foca mudança da Caixa
Balança comercial melhora, mas deficit no ano é recorde
Após condenação de Jersey, Maluf elogia Justiça brasileira

O ESTADO DE S. PAULO
Indústria faz pressão por mais acordos internacionais
Índios reagem após morte de terena em MS
PMDB cobra mais espaço no governo

VALOR ECONÔMICO
Forte expansão atrai novos grupos ao setor de cimento
Importados ganham mais espaço
Renan e Alves alertam para o risco PMDB

BRASIL ECONÔMICO
Eike venderá parte de exploração para fazer caixa na OGX
Celulose vai bem, e exportações, mal
Finanças: Brasil bate recorde em IPOs
Café: Supersafra gera prejuízo bilionário, com saca abaixo do custo de produção
OIT: Salários no Brasil estão crescendo bem acima da média mundial

ESTADO DE MINAS
Quanto custo o dólar das férias

O TEMPO (MG)
Após tomate, batata e mamão são os novos vilões da inflação
Brasil e mais 59 países assinam tratado sobre comércio de armas em Nova York
Base de Aécio se une, mas adia decisão sobre candidato

CORREIO BRAZILIENSE
Fraudes em concursos têm 1,7 mil denúncias investigadas
Lá se foi o aumento de 200%
Juízes perdem o tíquete

GAZETA DO POVO (PR)
MP cobra internação involuntária de usuários de drogas em Curitiba
Em pé de guerra contra o PT
Governo terá R$ 150 bi para a agricultura
Nova ferrovia desvia entraves ambientais
Juros em alta dão nova chance aos pós-fixados
Sem trégua

ZERO HORA (RS)
Frota velha põe em risco transporte escolar no RS
Mais atraso: Impasse da areia ameaça obras da Copa
Forças Armadas: Centro militar vai proteger as fronteiras

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Saiu edital do Sisu com vagas de graduação para o 2º semestre
Justiça cancela saída de índios de fazenda

O fim de uma era: Consumo menor e calote fazem banco frear crédito

Diante de um cenário de queda no consumo e inadimplência em alta, os bancos estão muito mais cautelosos na concessão de crédito. Levantamento feito pela consultoria Austin Rating, com base nos balanços de 126 instituições financeiras, mostra que elas aplicaram, no ano passado, R$ 2,1 trilhões em papéis no mercado, praticamente o mesmo que têm emprestado a clientes: R$ 2,2 trilhões. A diferença é que, enquanto o crédito cresceu 16,4% no ano passado, as operações com títulos tiveram alta muito mais expressiva: 33,5%. No primeiro trimestre, dados de 23 bancos mostram que operações de curto prazo saltaram 47,1%, contra 16,7% do crédito.

Dinheiro em caixa

Mais seletivos na concessão de crédito, bancos elevam aplicações em operações de curto prazo

Ronaldo D'Ercole

SÃO PAULO A maior cautela dos bancos privados na concessão de financiamentos - motivada pelos ainda elevados índices de inadimplência e pelas incertezas quanto à recuperação da economia - fez aumentar significativamente o volume de dinheiro no caixa das instituições. E, em vez de direcionar este montante ao crédito de pessoas e empresas, um enorme volume de recursos está sendo girado em aplicações de curto prazo entre os próprios bancos e o Banco Central. O enxugamento do dinheiro para crédito coincide com um momento de vendas fracas e queda no consumo.

Estudo da Austin Rating, com base nos balanços de 126 bancos, mostra que, enquanto o total das operações de crédito cresceu 16,4% no ano passado, totalizando R$ 2,23 trilhões, os recursos que os bancos tinham em operações de curto prazo, como aplicações interfinanceiras de liquidez (AIL) e em títulos mobiliários, avançaram 33,5%, atingindo R$ 2,14 trilhões. Ou seja, para cada real emprestado a clientes os bancos tinham quase a mesma quantia alocada no mercado aberto. Na prática, o crescimento menor dos empréstimos significa menos dinheiro para investimentos de empresa e consumo de pessoas físicas.

Para manter a rentabilidade, as instituições privadas têm buscado aumentar as receitas com serviços, como seguros e cartões. Os balanços do primeiro trimestre confirmam que a postura dos bancos pouco mudou em relação a 2012. Dados de 23 bancos analisados pela Austin mostram que as operações de liquidez saltaram 47,1%, contra 16,7% do crédito.

- A contrapartida da redução da taxa de crescimento do crédito, nos bancos privados principalmente, foi o crescimento do volume de ativos, da liquidez do sistema - afirma Luis Miguel Santacreu, analista de bancos da Austin.

Descompasso entre banco público e privado

Por trás desse aumento da liquidez no sistema bancário estão as próprias medidas do governo para estimular o crédito, como a redução dos depósitos compulsórios (que os bancos são obrigados a recolher no Banco Central) no ano passado. Os bancos também estão captando mais depósitos com o contínuo aumento do número de correntistas, decorrente do aumento da renda e da ascensão da chamada nova classe média.

As compras de dólares pelo Banco Central a fim de calibrar a taxa de câmbio, que o obriga a vender títulos da dívida pública para gerar reais, também são usadas pelos bancos para remunerar o excesso de caixa.

- Diferentemente do que desejava o governo, o dinheiro adicional que tem entrado no sistema bancário não tem ido para a economia real, na forma de mais investimentos para empresas ou renda ao consumo, mas está girando no mercado aberto - diz Santacreu.

O esforço dos bancos privados para "limpar" suas carteiras e baixar a inadimplência teve efeito direto no ritmo de contratação de novos financiamentos, observa Luiz Rabi, economista da Serasa Experian. Mais seletivos e exigentes, essas instituições encerraram 2012 com volume de créditos 7,6% maior que o do ano anterior. Porém, o calote (medido pela taxa de atrasos com mais de 90 dias em seus financiamentos) passou de 5,1%, em dezembro de 2011, para 5,4% no final do ano passado.

No mesmo período, a inadimplência dos bancos públicos (Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal) permaneceu estável em 1,8%, enquanto eles aumentaram em 27,9% os seus financiamentos. O descompasso se repete este ano. De janeiro a abril, o crédito nos bancos privados avançou 6% em relação a igual período de 2012, enquanto o calote recuou a 5,2%. Nos públicos, os empréstimos subiram 29% e a inadimplência foi a 2%.

- A inadimplência cai muito lentamente e isso faz com que os bancos privados reajam também lentamente. Daí essa montanha de dinheiro no mercado aberto. A torneira dos bancos privados está entupida - diz Rabi, acrescentando que os bancos tiveram R$ 92 bilhões em perdas com calote em 2012.

Se a inadimplência não contribui para destravar o crédito, tampouco a perspectiva de alta dos juros ajuda. O ciclo de aperto monetário, com a alta da Taxa Selic de 7,25% para 8% pelo Comitê de Política Monetária (Copom), encarece o crédito e dificulta a queda na inadimplência - condição que, em tese, tende a manter a oferta de crédito restrita.

Fonte: O Globo

OIT prevê 207 milhões sem trabalho em 2015

Déficit de vagas é estimada em 30 milhões este ano

Lucianne Carneiro

Cinco anos após o início da crise global, o mercado de trabalho ainda está longe de retornar ao nível de antes da turbulência. Relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), intitulado "Reparando o tecido econômico e social", estima que o número de desempregados no mundo chegue a 207,8 milhões em 2015, frente aos cerca de 200 milhões atuais. O déficit em relação ao número de empregos de antes da crise ainda é de 14 milhões de vagas. Se considerados os 16,7 milhões de jovens que chegarão ao mercado ainda este ano, a falta de postos de trabalho é estimada em 30,7 milhões em 2013.

O cenário da OIT traça uma situação desigual, em que economias emergentes e em desenvolvimento mostram uma recuperação bem mais rápida que a de economias avançadas.

A taxa de desemprego mundial está hoje em 5,9%, 0,5 ponto percentual acima dos 5,4% no período pré-crise. E o que preocupa, segundo a OIT, é que o desemprego continua a subir. Ao longo de 2012, foram três milhões de desempregados a mais no mundo. Já o nível de ocupação - que corresponde às pessoas empregadas com mais de 15 anos em relação ao total dessa faixa etária na população - estava em 55,7% no quarto trimestre de 2012, frente aos 56,6% do quarto trimestre de 2007.

O Brasil é um dos 19 países, entre as 65 nações do levantamento da OIT, em que o nível de ocupação avançou entre o quarto trimestre de 2007 e igual período de 2012. Ao lado do país, estão Chile, Rússia e Alemanha, entre outros. Em um segundo grupo, de 24 países, houve melhora, mas insuficiente para atingir os níveis de antes de 2007, e, no terceiro grupo, com 22 países, sobretudo da zona do euro, a taxa de ocupação atinge em média 2,8 pontos percentuais inferior ao do quarto trimestre de 2007.

Fonte: O Globo

PMDB cobra mais espaço no governo

A cúpula do PMDB se reuniu ontem com a presidente Dilma Rousseff para pedir maior autonomia nos ministérios sob comando do partido e também cargos no segundo escalão, entre eles diretorias da Infraero. Os peemedebistas se sentem desvalorizados no governo. A relação piorou recentemente, após a votação da MP dos Portos.

PMDB leva insatisfação a Dilma e pede espaço

Em encontro com presidente, líderes da sigla falam em mais autonomia nos ministérios.

Erich Becat, Luciana Nunes Leal

BRASÍLIA, NATAL - Em reunião com a presidente Dilma Rousseff na noite de ontem, integrantes da cúpula do PMDB colocaram na mesa as Insatisfações da base aliada afloradas desde a votação da MP dos Portos* no último dia 16. Os peemedebistas dizem que se sentem desvalorizados no governo Dilma e cobram mais espaço na Esplanada.

Na lista de demandas está uma maior autonomia dos ministérios que o partido já possui e cargos no segundo escalão -incluindo diretorias da Infraero, estatal subordinada à Secretaria de Aviação Civil, comandada pelo PMDB.

Da reunião com Dilma participaram o vice-presidente da República, Michel Temer, os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Antes do encontro, Alves disse a integrantes da bancada do PMDB, segundo o apurou o Estado, que não deixaria de expor para a presidente "a verdade" sobre as dificuldades da base no Congresso. O presidente da Câmara fez ma semana passada duras críticas à articulação do Planalto no Congresso.

Minuto de aplauso. Mais cedo, d irante a visita de Dilma a Natal, no Rio Grande do Norte, o presidente da Câmara fez rasgados elogios à presidente. E111 seu discurso, pediu à plateia um minuto de aplausos de pé para Dilma - e foi atendido. Alves também agradeceu "o apoio, a correção e a lealdade" de Dilma durante sua campanha pela presidência da Câmara. "A senhora foi muito correta comigo e com o PMDB. Não podemos esquecer disso nos momentos de embate, em nenhum momento", discursou. "Se depender do Rio Grande do Norte, a senhora aqui vai ter sempre nosso respeito, nosso apoio, nossa solidariedade, hoje e no futuro." Também a governadora Rosalba Ciarlini, do oposicionista DEM, elogiou "a lição de democracia" e agradeceu a Dilma "por ser esta presidenta sensível, dedicada, de todos os brasileiros".

Henrique Alves e Rosalba intercalaram os afagos com uma longa lista de pedidos para o Rio Grande do Norte, mas a grande maioria já estava contemplada nas iniciativas e obras que seriam anunciadas por Dilma em seguida um pacote de investimentos que somam cerca de R$ 2 bilhões.

A solenidade de entrega de 171 retroescavadeiras e motoniveladoras para municípios que estão em situação de emergência por causa da seca, reuniu os 149 prefeitos das cidades contempladas.

"Estamos acelerando o processo para tornar o Rio Grande do Norte mais competitivo, Isso não é uma ação contra os outros Estados, mas a favor do Rio Grande do Norte» Temos grandes investimentos em Pernambuco, no Ceará, na Bahia, mas temos também no Rio Grande do Norte", discursou a presidente, que, em determinado momento, chamou o Estado de Rio Grande do Sul, mas logo se desculpou. Pouco antes, Henrique Alves havia dito que "a Bahia nem parece mais Nordeste" e citado investimentos da União em outros Estados nordestinos.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Dilma deveria criar 'Bolsa Óleo de Peroba', diz Jarbas

Ricardo Brito

O senador pernambucano Jarbas Vasconcelos, da ala independente do PMDB, disse nesta segunda-feira que o Partido dos Trabalhadores deveria criar a "Bolsa Óleo de Peroba" por causa do que considera mentiras do governo no episódio da liberação de recursos do Bolsa Família. Boatos indicando que o programa iria acabar provocaram uma onda de saques há duas semanas, mas integrantes do PT e do governo insinuaram que a ação era obra da oposição.

"O PT deveria criar o Bolsa Óleo de Peroba e distribuir entre seus líderes e integrantes do governo, tamanha é a cara de pau e a irresponsabilidade que tem marcado todo os personagens envolvidos nesse escândalo do boato sobre o Bolsa Família", afirmou Jarbas, em discurso na tribuna do Senado.

Para o senador peemedebista, a presidente Dilma Rousseff é a "principal responsável pelo sofrimento das pessoas". Mesmo assim, observou ele, Dilma teve o "disparate" de falar que as suspeitas do fim do programa eram "algo absurdamente desumano e criminoso". Ele comparou a tentativa de atribuir à oposição os boatos a políticas de presidentes populistas e autoritários que "se valem da pobreza da população para continuar seu reinado de manipulações, como na Venezuela e na Argentina".

Jarbas Vasconcelos disse ser impossível acreditar na versão do Palácio do Planalto de que não sabia da antecipação dos pagamentos do Bolsa Família. "Todo esse episódio está cercado de mentiras em cima de mentiras, de falsidades e de recuos constrangidos do governo", disse.

O senador do PMDB lembrou que, nas eleições presidenciais de 2006 e 2010, o programa foi usado como arma de terrorismo eleitoral contra a oposição. Ele defendeu que, ao contrário dos muitos escândalos que terminaram "jogados para debaixo do tapete vermelho e cheio de estrelas", numa referência ao símbolo do PT, esse caso "não pode ser esquecido, não apenas pela oposição, mas por todos aqueles que querem um Brasil mais sério e transparente, no qual o governo tem a obrigação de prestar contas".

Fonte: O Estado de S. Paulo

O primeiro teste após ouvir o PMDB

Votação de MP na Câmara é a prova de fogo no Congresso, depois de a presidente Dilma se reunir com caciques peemedebistas para aparar as arestas na base aliada

Juliana Colares

O turbulento relacionamento do governo federal com o principal partido da base aliada, o PMDB, passará por novos testes nesta semana. Deve ser votada amanhã a medida provisória da cesta básica, que, além de desonerar produtos de primeira necessidade, absorveu outra MP, que reduz a tarifa de energia. O assunto é considerado estratégico pela presidente Dilma Rousseff, principalmente após o último atrito com o PMDB na última terça-feira, quando o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), decidiu não votar o texto de duas MPs para votação, alegando falta de tempo para a adequada apreciação da matéria.

Amanhã também termina o prazo para os vetos à MP dos Portos e pelo menos um deles já é dado como certo — o da emenda "tio Patinhas", do líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), que tensionou a votação da matéria na Câmara. Ontem, a cúpula peemedebista e Dilma resolveram discutir a relação e aparar as arestas. Em público, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), pediu um minuto de aplausos à presidente, em viagem a Natal. A portas fechadas, a cúpula do partido se reuniu com a chefe do Executivo para fazer resolver problemas do "casamento", principalmente no que diz respeito à articulação do Planalto com o Congresso. Na reunião, que terminou às 22h, discutiram ainda um novo rito para a tramitação das MPs e a possibilidade de recriação de um conselho político para tratar com a base, com a participação de Dilma.

O vice-presidente da República, Michel Temer, foi o responsável pela viabilização do encontro, no Palácio do Planalto, na noite de ontem. "Era preciso ter essa conversa. Essa é a linha sucessória do país e é preciso fazer ajustes nessa operação para não parecer que o PMDB está criando dificuldades. O PMDB não é autor da crise, é depositário da crise porque a bomba estoura no colo do presidente da Câmara ou no do Senado. A articulação do governo não funciona bem", disse um peemedebista.

"Como Gleisi (Hoffman, ministra da Casa Civil) e Ideli (Salvatti, ministra de Relações Institucionais) não operam bem a política, a tendência é cobrar de alguém. E Dilma cobra pesado. Parece uma desculpa e desculpas não resolvem o problema do governo. Só agravam o problema da política", complementou. Dentro do partido, as principais críticas são dirigidas a Gleisi. No episódio das MPs da conta de luz e da que tratava da desoneração nas folhas de pagamento de setores da construção civil e do varejo, a complicada relação com ministra da Casa Civil ficou ainda mais evidente. A ministra ligou para Renan para cobrar explicações e ouviu do peemedebista que é ele — e não ela — o presidente do Senado.

"Houve uma negociação para que fosse interpretado que o dia que as MPs chegaram ao Senado era o sétimo dia (para apreciação das matérias antes que elas perdessem a validade). Renan pensou em convocar reunião extraordinária para votar na segunda-feira. Mas depois que ela (Gleisi) disse que já tinha acertado tudo com uma assessora (a chefe da assessoria parlamentar do Ministério de Minas e Energia), ele desistiu", cutucou uma liderança. Na votação da MP dos Portos, Renan disse que não votaria mais medidas provisórias com menos de sete dias para o fim da validade.

A Secretaria de Relações Institucionais confirmou que houve uma tentativa de negociação para que fosse interpretado que a data de chegada das MPs ao Senado seria um dos sete dias, o que permitiria que a matéria fosse votada. A Casa Civil informou que a conversa da ministra com o presidente do Senado ocorreu à noite, depois que o presidente da Casa já havia dito que não leria as MPs. No plenário, no entanto, Renan ainda não havia posto um ponto final no assunto. No fim da sessão, disse que consultaria a Comissão de Constituição e Justiça para saber se o prazo feria o regimento interno da Casa. Na reunião da CCJ, no dia seguinte, o assunto não chegou a ser tratado.

Problemas

Mesmo com fortes críticas de peemedebistas à ministra Gleisi Hoffman, a decisão tomada pouco antes do encontro de Renan, Henrique Alves e Temer com Dilma foi de que, na reunião, o problema de articulação do governo não seria personificado. A ideia era tratar dos problemas sem apontar o dedo para ninguém, mostrando que o problema existente no Congresso não é culpa do PMDB, e que o descontentamento com o Planalto é de toda a base. Ontem, o primeiro-vice-presidente da Câmara, André Vargas (PT-PR), ajudou a tensionar ainda mais a corda ao dizer que vai promulgar a proposta de emenda à Constituição que cria quatro Tribunais Regionais Federais (TRFs). Ele assume a presidência do Congresso amanhã, na ausência de Renan, que viaja em missão oficial.

"A ideia do encontro (da noite de ontem) era diagnosticar a relação do Executivo com o Legislativo. Falar em determinados episódios e ver o que deu errado para tornar essa relação mais fluída, ter mais diálogo, mais participação, para encontrar formas de integrar mais a base aliada", disse um integrante do governo. "Na visão do governo, o PMDB cumpriu tudo o que prometeu. Na questão da MP dos Portos, ele foi fundamental. O PMDB é duro para negociar, mas não é uma separação, é uma briga de casal", disse outro governista. "A solução é afinar. O PMDB quer afinar a operação política e melhorar o relacionamento tanto do governo com o Congresso como para 2014. A decisão política futura é um somatório de pequenas ações políticas presentes. A sustentação tem que vir de cima para diminuir os atritos embaixo", disse um peemedebista, referindo-se às já polêmicas pré-candidaturas em estados como o Rio de Janeiro e o Rio Grande do Sul.

Colaborou Paulo de Tarso Lyra

Focos de tensão

Confira quais são os projetos de interesse do Palácio de Planalto em tramitação no Congresso

MP 606
Autoriza o pagamento o pagamento de convênios entre prefeituras e pré-escolas comunitárias, confessionais ou filantrópicas com recursos federais até 2016

MP 608
Implementa as regras de Basileia 3 no Sistema Financeiro Nacional. Tenta garantir que os bancos tenham recursos próprios para enfrentar crises, além de oferecer mais segurança aos clientes

MP 609
Isenta os itens da cesta básica do PIS/Pasep e Cofins. A parte que trata da redução na conta da energia elétrica foi incluída na MP da cesta básica

Projeto de lei complementar 266
Define novas regras de divisão do Fundo de Participação dos Estados (FPE). Foi aprovado no Senado e aguarda votação na Câmara

Fonte: Correio Braziliense

União para enfrentar o PT

Partidos que integram a base do governo Anastasia criam movimento para definir um nome à disputa ao Palácio da Liberdade que faça frente ao ministro e ex-prefeito Fernando Pimentel

Com cinco possíveis nomes para concorrer ao governo de Minas – quatro tucanos, além do vice-governador Alberto Pinto Coelho (PP) –, os partidos alinhados ao governo Antonio Anastasia (PSDB) se reuniram ontem para sinalizar com a “unidade” aos líderes políticos e prefeitos, elos importantes da sucessão estadual. Foi anunciada a formação de um movimento multipartidário, que trabalhará pela união das forças aliadas, em resposta à movimentação política de Fernando Pimentel (PT), ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e ex-prefeito de Belo Horizonte, que será candidato de oposição ao Palácio da Liberdade.

Ao mesmo tempo, o movimento multipartidário, ainda sem estratégia de atuação definida, empurrou para outubro a definição em torno do nome do candidato à sucessão do governador Antonio Anastasia (PSDB), dando tempo ao senador Aécio Neves, presidente nacional do PSDB e pré-candidato ao Palácio do Planalto, de articular palanques regionais pelo país. A expectativa é de que esses palanques se traduzam também em novos aliados dos tucanos para a disputa à Presidência da República. “Os condutores desse processo serão o senador Aécio Neves e o governador Antonio Anastasia”, disse ontem Alberto Pinto Coelho, que trabalha para fortalecer o seu nome em Minas e no PP nacional, pela neutralidade da legenda, que faz parte da base de sustentação da presidente Dilma Rousseff (PT) e detém o Ministério das Cidades.

Na base do governo Anastasia também são postulantes à indicação do PSDB o presidente da Assembleia Legislativa, Dinis Pinheiro; o presidente estadual do partido, o deputado federal Marcus Pestana; o secretário de Estado de Ciência e Tecnologia, Nárcio Rodrigues; e o deputado federal Rodrigo de Castro. Além de achar um candidato sem perder apoios, há outra dificuldade: muitos dos partidos políticos que dão sustentação ao PSDB em Minas são também base do governo Dilma. Essas siglas estarão sob pressão para engordar os apoios não só a Fernando Pimentel, também como à reeleição da presidente da República. É o caso do PSD, do PR e do PDT, todos com postos no primeiro escalão do governo federal, além do PTB, que está na base de Dilma. Diferente situação vivem o PPS – futuro MD – e o DEM, que são oposição no plano nacional e, em Minas, integram a sustentação do governo Anastasia e também aderiram ao movimento multipartidário de unidade da base tucana.

Representado por Alexandre Silveira, secretário de Estado de Gestão Metropolitana, o PSD tenta puxar o seu partido para o campo de Aécio Neves. “Intensificamos as conversas com Gilberto Kassab (presidente nacional da legenda), para liberar o diretório de Minas”, afirmou. Segundo Silveira, sete deputados estaduais estão dispostos a, junto com ele, deixar o partido, caso, em Minas, sustente a candidatura de Fernando Pimentel e de Dilma Rousseff.

Questão de sobrevivência

No PR, o presidente estadual da legenda, deputado federal Aelton Freitas, é cauteloso: “O PR conseguiu, nas três últimas eleições, ser base do governo em Minas e do governo federal. Essa eleição tem um diferencial, que é o fato de Aécio ser o candidato. Mas o PR não decidiu ainda quem apoiar. Precisamos buscar a nossa sobrevivência”, afirma o parlamentar, em referência às chapas proporcionais, principalmente para deputado federal, que precisa conquistar no mínimo seis cadeiras na Câmara dos Deputados para manter o mandato dos atuais parlamentares do PR. “Gostamos da administração Anastasia e estamos satisfeitos com o governo. Mas também gostamos e estamos satisfeitos com a Dilma. Vamos debater a questão à exaustão e participar de todas as reuniões dos dois lados”, disse Aelton.

Já o PDT, que tem o Ministério do Trabalho, pende para o PSDB em Minas. “Nosso direcionamento aqui é apoiar o grupo de Aécio, com quem estamos desde 2002”, afirma o deputado estadual Sargento Rodrigues. “Em relação à candidatura do grupo, somos unânimes em dizer que, no momento, o mais importante é a nossa unidade”, afirmou Rodrigues, lembrando que o presidente nacional do PDT, Carlos Luppi, tende a apoiar a candidatura de Aécio Neves. Também na base de Dilma Rousseff, o PTB em Minas estará ao lado de Aécio. Mas, segundo o deputado estadual Dilzon Mello, neste momento, como presidente da legenda, a maior preocupação é montar as chapas proporcionais do partido. “Integramos o governo Anastasia, o apoiamos e queremos ver a continuidade. Mas vamos pensar nisso em outubro”, disse durante o encontro dos partidos aliados.

Fonte: Estado de Minas

Ação tucana tenta segurar PSB em Minas

Marcelo Portela

BELO HORIZONTE - Líderes de oito dos cerca de 20 partidos que integram a base do governo do tucano Antonio Anastasia em Minas criaram ontem uma espécie de força-tarefa pluripartidária para trabalhar pela provável candidatura presidencial do senador Aécio Neves (PSDB) no Estado. Segundo o presidente do PSDB-MG, deputado federal Marcus Pestana, uma das "tarefas do movimento" será buscar o apoio do prefeito de Belo Horizonte? Mareio Lacerda (PSB),

O governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, se articula para participar da corrida presidencial do ano que vem mas os aliados do senador tuca no estão confiantes em conseguir o apoio do prefeito da capital mineira.

"O PSB tem uma série dê circunstâncias específicas. Todas as lideranças aqui presentes pretendem ter uma conversa com o prefeito Mareio Lacerda no momento próprio. Há uma construção a ser feita", afirmou Pestana. "O apoio dele nós queremos. A unidade em tomo de um projeto."

Apesar de participar do governo tucano em Minas, o PSB não foi convidado para o encontro de ontem para não melindrar Campos. "Seria uma descortesia convidá-lo (o partido) para integrar o movimento sendo que ele tem uma dinâmica própria nacional", disse Pestana. Parceria, aliança, pressupõem respeito à dinâmica própria de cada força. Eles (PSB) estão num processo de transição, de consolidação de um novo momento partidário. Nós temos que respeitar."

Sucessão. O nome do prefeito já foi cotado para a sucessão de Antonio Anastasia (PSDB), mas Lacerda nega que tenha intenção de deixar o cargo para se candidatar. A possível candidatura presidencial de Eduardo Campos atrapalhou os planos de Aécio em Minas uma das hipóteses seria apoiar Lacerda para o Palácio Tiradentes com o objetivo de arregimentar o PSB no plano nacional. Anastasia não pode ser reeleito e não há nome natural para a disputa pelo Executivo mineiro.

Atualmente, três nomes do PSDB - Marcus Pestana; o presidente da Assembleia Legislativa, Dinis Pinheiro; o secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Narcio Rodrigues - e o vice-governador Alberto Pinto Coelho (PP) são cotados para a disputa.

Aliados. Outra atribuição das lideranças reunidas ontem em Belo Horizonte é tentar convencer a direção nacional de seus partidos a aderirem à futura candidatura de Aécio Neves ou, pelo menos, deixar que os diretórios estaduais definam as coligações regionais.

Estavam presentes à reunião integrantes de legendas que integram a base da presidente Dilma Rousseff, como PSD, PR, PTB e PDT, além de partidos da oposição, como DEM e PPS.
"Não há exigência de verticalização. Mas todos trabalharão no sentido de trazer esses partidos, até em nível nacional, para a candidatura de Aécio Neves. (O senador) tem bom trânsito to n todos esses partidos e capacidade de aglutinação", observou Alberto Pinto Coelho, cuja legenda também apoia o governo federal.

Representantes do PV também foram convidados, mas alegaram "problema de última hora" e não compareceram.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Eduardo e FBC "cara a cara"

PSB Após ministro defender reeleição da presidente Dilma, os dois assinam, em Pesqueira, ordem de serviço da Adutora do Agreste

Débora Duque

Envoltos por rumores de que, em breve, poderão deixar de dividir o mesmo partido, o governador Eduardo Campos (PSB) e o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho (PSB), participam, hoje, de uma agenda pública conjunta no município de Pesqueira. A razão do encontro, que acontece uma semana após FBC ter defendido com ênfase o apoio da sigla à reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT), é a assinatura da ordem de serviço para a construção da primeira etapa da Adutora do Agreste, obra complementar à Transposição do São Francisco, que promete abastecer 88 cidades da região.

De um lado, Eduardo tentará grifar o "dedo" do Executivo estadual no projeto. Do outro, o ministro socialista reivindicará os investimentos majoritários do governo federal na obra, conforme reforçou ontem em conversa com o JC. De acordo com FBC, o ministério é responsável por "quase tudo" em termos de financiamento da obra. Aproximadamente R$ 1 bilhão do custo total de R$ 1,072 bilhão serão repassados pela União até 2015. A execução, no entanto, ficará a cargo da Compesa.

"Nós do Ministério da Integração temos acelerado os investimentos em obras que vão levar segurança hídrica para o Nordeste. O ano de 2013 será um ano farto do ponto de vista do ministério", frisou FBC.

Na véspera do encontro, Bezerra negou a tensão política com o governador e também seu descolamento do PSB.Porém, não deixou de repetir os sinais de "fidelidade" ao governo federal, comportamento que tem gerado incômodo na cúpula socialista e serviu para alimentar a versão, dentro do próprio partido, de que ele estaria selando seu processo de afastamento da sigla. "Não há nenhum tipo de dificuldade, nem isso (o afastamento) foi cogitado. O que temos procurado deixar claro é nossa leitura do cenário político de que seria melhor para o PSB manter a aliança (com o PT)", reforçou.

O ministro afirmou também que o partido ainda não definiu o rumo que tomará na eleição presidencial e que o debate precisa ser "aprofundado". "Não há consenso. Ainda tem muito chão pela frente", destacou.

Integrantes do PSB avaliam que por trás do discurso do ministro em favor da presidente Dilma está sua insatisfação com os rumos da articulação para a sucessão estadual. FBC teria notado que não consta na lista preferencial de Eduardo para concorrer ao governo, em 2014.

Ontem, o governador fez uma visita à fábrica contratada para construir a tubulação da Adutora, no Rio de Janeiro (leia em Economia). Ele foi acompanhado por uma extensa comitiva, formada por secretários estaduais, as deputadas Raquel Lira (PSB) e Luciana Santos (PCdoB) , além de prefeitos de cidades beneficiadas pela obra, como João Mendonça (Belo Jardim), Evandro Chacon (Pesqueira) e José Queiroz (Caruaru).

Fonte:Jornal do Commercio

Socialistas evitam embate com Cid

Juliane Menezes

Mesmo diante das declarações do governador do Ceará Cid Gomes (PSB) de que boa parte das manifestações de socialistas favoráveis à candidatura do governador Eduardo Campos (PSB) à presidência da República seriam "joguetes" para fazer "ciúmes", o presidente do PSB de Pernambuco Sileno Guedes negou a existência de um grupo dissidente no partido. "Quem é do PSB, que é da base, conhece o PSB por dentro e conhece a preocupação que o PSB tem com o Brasil está animado com a candidatura própria do PSB. Não tem grupo dissidente. O PSB está unido", desconversou o dirigente.

Cid Gomes, juntamente com o seu irmão, o ex-ministro Ciro Gomes (PSB), desde o ano passado tem se manifestado favoráveis à manutenção da aliança com a presidente Dilma Rousseff (PT). Na semana passada, o ministro Fernando Bezerra Coelho (PSB) defendeu publicamente que a legenda apoie a reeleição da presidente.

O prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB), indagado sobre a declaração do governador Cid Gomes, evitou comentar o posicionamento do colega de partido.

"Eu vou discutir esse assunto em 2014. Não há candidatura, o governador vai discutir isso em 2014 e quando chegar 2014", declarou o prefeito Geraldo Julio, ontem, após lançar edital para contratação de empresa para fornecimento, instalação e manutenção de 152 câmeras que ajudarão na engenharia de tráfego.

À tarde, o prefeito participou de uma audiência no Ministério Público em que o procurador-geral de Justiça, Aguinaldo Fenelon, declarou que ingressará com uma Ação Civil Pública pedindo que a Caixa Econômica Federal (CEF) pague auxílio-aluguel aos moradores que terão de deixar suas residências no Conjunto Residencial Eldorado, no Arruda, e no Edifício Emílio Santos, em Boa Viagem, ambos em situação de risco

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Brevíssima análise do governo Dilma - Cláudio de Oliveira

Creio que o problema fundamental do governo Dilma não está na economia, mas na política. Penso que dele decorrem os demais, inclusive as atuais dificuldades econômicas.

Qual é o problema? Minha hipótese: a incompreensão da questão democrática e, por consequência, do método democrático e das alianças políticas, com resultados negativos para a administração do país.

Base política heterogênea. Dilma herdou de Lula uma ampla coalizão cuja principal característica é a heterogeneidade. No governo estão representados setores sociais não só diversos, como antagônicos, caso do agronegócio e do MST. No Congresso, possui desde uma esquerda, como o PCdoB, até uma direita, como o PP de Maluf.

Lula conseguiu unir tal base. Para tanto, raramente contrariou interesses estabelecidos. Se tal ação permitiu governabilidade, levou a um baixo reformismo e, em vários casos, conservadorismo, em especial na esfera política.

Com uma situação econômica confortável, devido, entre outros fatores, ao crescimento mundial, Lula pôde contornar problemas estruturais da economia, cuja resolução acarretaria enfrentamentos.

A economia cresceu num nível aceitável, média de 4% do PIB ao ano, aumentando o emprego e a renda. Sem as crises orçamentárias agudas e a falta de dólares de seus antecessores, promoveu transferências de renda do Estado para setores da população.

Todavia, o quadro mudou. O governo Dilma enfrenta uma crise econômica e precisou agir para garantir o crescimento econômico.

O governo Lula manteve o padrão da baixa taxa de investimento público dos governos posteriores a Geisel, em torno de 1,5% do PIB. Com o crescimento econômico, problemas não enfrentados, como os da depauperada infraestrutura, logo apareceriam.

Reformas estruturais. Ao agir em questões estruturais, Dilma necessitou contrariar interesses. A despeito de os partidos governistas possuírem mais de 80% da representação da Câmara, o governo tem dificuldades em promover e aprovar um claro programa de reformas.

Nisso, vejo três ordens de fatores:

1. Oportunismo do governo, ao esquivar-se de patrocinar qualquer reforma que ponha em risco a popularidade da presidente e a ampla coalizão governista e, consequentemente, o projeto reeleitoral de 2014;

2. Base social e político-partidária heterogênea em que é difícil negociar consenso, especialmente se se considerar que o que os une não é uma adesão programática, mas fisiológica;

3. Talvez buscando contornar tais características de sua base, o governo opte por evitar discussões no Congresso e lance mão de instrumentos impositivos, como o uso abusivo de MPs.

Déficit do método democrático. Há críticas de que prevalecem no governo métodos tecnocráticos e autoritários em detrimento do democrático. O Executivo seria pouco disposto a negociações com a sociedade e com os partidos.

Há quem veja a questão como um traço da personalidade de Dilma. Mas talvez devêssemos refletir sobre a primeira crise política do governo Lula, ainda no primeiro ano de seu mandato, em 2003.

Três meses após a posse, o ex-governador Leonel Brizola rompeu com o governo. Acusou Lula de traidor e de submissão às diretrizes do FMI, ao realizar um drástico corte de gastos públicos e promover uma reforma da previdência do setor público.

O presidente do PDT reclamou da falta de discussão das medidas econômicas do governo com os aliados. Argumentação semelhante foi usado pela esquerda do PT, liderada pela senadora Heloísa Helena, que deixou o partido para fundar o PSOL.

Também se sentindo excluído do centro de decisões do governo, o PPS de Roberto Freire passou para a oposição em 2004. Com o tempo, a lista de políticos progressistas que deixaram o governo cresceu, entre eles nomes expressivos como os senadores Cristovam Buarque e Marina Silva.

Política de alianças. O estouro em 2005 do escândalo do chamado mensalão não seria revelador do método e do tipo de política de alianças então levados a cabo?

As denúncias eram do aliado Roberto Jefferson, presidente do PTB, de centro-direita, que reclamava das tentativas do PT de subtrair do seu partido uma diretoria dos Correios.

Após a instalação da CPI para investigar o caso, o PMDB, hoje predominantemente conservador, recebeu 4 ministérios e passou a apoiar em bloco o governo Lula, compartilhando com o PT a condição de principal partido de sustentação governista.

Quais as razões que levaram Lula e os líderes do PT a optarem por tais métodos e alianças com tais partidos em detrimento de outros?

Um argumento utilizado é o da governabilidade, vez que tais agremiações detêm força política parlamentar e sem o apoio delas seria impossível governar.

Mas, ao compartilhar a máquina do Estado com tais partidos, o PT não os estaria fortalecendo eleitoralmente em sua política de clientela, aumentando o círculo vicioso?Não seriam tais aliados mais dóceis a um política de hegemonia do PT? Seria possível estabelecer outro bloco de poder em que o PT exercesse sua hegemonia nos mesmos termos?

A concepção de fundo. Creio que aqui entra a concepção de fundo, o entendimento da questão democrática e da condução do processo político, em que estão inseridos o método democrático e a política de alianças.

A presidente Dilma e os principais quadros do PT se formaram em organizações marxistas-leninistas de extrema-esquerda dos anos 1960. E talvez aqui apareça uma diferença fundamental de visões de hegemonia em Lenin, fundador do socialismo soviético, e em Gramsci, o italiano que lançou as bases teóricas do eurocomunismo, de aceitação da democracia.

Enquanto para o primeiro, o poder de Estado seria sempre uma ditadura, uma coerção para a dominação de uma classe, o segundo via o exercício do poder como uma capacidade de liderança através da criação de consensos políticos, sociais e culturais.

Pode parecer uma fantasia sociológica, mas tal debate tem sérias consequências políticas, sociais e econômicas na vida prática dos cidadãos. E não é preciso combinar com os russos para saber disso.

Cláudio de Oliveira é jornalista e cartunista.

Fonte: Especial para Gramsci e o Brasil

Congresso Nacional: instituição imprescindível - Marcus Pestana

O título pode parecer provocação. Não é. Há poucos dias, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, criticou duramente o Congresso Nacional. Segundo o ministro, o Congresso é inteiramente dominado pelo Executivo e se caracteriza pela ineficiência em deliberar e exercer suas prerrogativas. Os partidos políticos seriam “de mentirinha”.

As reações vieram rápidas e indignadas. Mas, que Joaquim Barbosa tem lá suas razões, isso tem.

A sua percepção é coerente com as impressões da maioria dos brasileiros. Lembro-me do período em que eu fazia parte do conselho dos Correios. A empresa realizava pesquisa anual sobre credibilidade institucional, avaliando cerca de 40 instituições. Os resultados variavam sobre o mesmo eixo: nos primeiros lugares, os Correios, o Corpo de Bombeiros, a família e as igrejas; nos dois últimos, partidos políticos e Congresso Nacional.

É verdade que hoje o Congresso é uma extensão do Palácio do Planalto. Só se vota o que e como quer o Executivo. As medidas provisórias (MP) sufocam a agenda legislativa. A cooptação da ampla maioria se dá através de verbas orçamentárias e cargos no Governo. Daí os 39 ministérios e a chantagem da execução das emendas parlamentares.

Mas é preciso muito cuidado para não se jogar a criança fora junto com a água suja do banho. Democracia pressupõe eleições livres, partidos políticos representativos e Congresso Nacional forte. Se ainda não os temos, tratemos de construí-los.

Sete em cada dez pessoas não lembram sequer o nome dos parlamentares que ajudaram a eleger nas últimas eleições. É uma mistura de alienação política com as disfunções do sistema proporcional nominal sem delimitação territorial.

De qualquer forma, nem o assembleísmo, nem o poder ditatorial devem substituir o Congresso como espaço representativo da população para deliberar sobre o futuro do país.

Votamos nas últimas semanas questões essenciais. A modernização dos portos implicava em discussões complexas. Levamos 41 horas no plenário. A regulamentação do ato cooperativo, tão importante na saúde e no agronegócio, se encontra em pauta. A nova política nacional para a estruturação do combate às drogas envolve aspectos polêmicos, como a internação involuntária. Os trabalhadores foram beneficiados com a queda do IR sobre a participação nos lucros e resultados. Na MP 600, transações bilionárias foram autorizadas envolvendo o Tesouro, CEF, BNDES e Itaipu Binacional. O Banco do Brasil, de forma inusitada, ganhou o papel de construir aeroportos. Desonerações de diversas ordens foram concedidas na MP 601.

Cada decisão do Congresso pode provocar enormes transferências de renda, mexer no bolso dos brasileiros ou afetar o cotidiano da população. Portanto, não basta jogar pedras na “Geni” brasileira, o Congresso Nacional. Ele é o pilar da democracia e a voz da população. É um retrato fiel do nível de organização e consciência da sociedade. Se não vai bem, mãos à obra,vamos mudá-lo.

Marcus Pestana, deputado federal e presidente do PSDB-MG

Fonte: jornal O Tempo (MG) em 3 de junho de 2013

Medindo o vento - Merval Pereira

Essa confusão na base aliada, que só fez recrudescer nas últimas duas semanas, vai continuar até que se tenha definição do quadro econômico. O que está agitando muito a base é a formação de palanques e acordos estaduais para a eleição de 2014. Como a presidente Dilma antecipou muito a campanha eleitoral, problemas que só apareceriam ano que vem começaram a aparecer agora, com a companhia desagradável de problemas econômicos: PIB que não cresce, inflação precisando de controle e déficit recorde da balança comercial.

Então, todo mundo está querendo saber para que lado o vento soprará; os partidos para tomarem posição que possa lhes garantir a continuidade no poder, e a presidente Dilma para que possa contar com os apoios políticos de que precisa para a reeleição, sem ter que fazer concessões, que não é do seu estilo.

A inflação já está afetando sua popularidade, não em caráter definitivo, mas mostrando que tem potencial para atrapalhar os planos, caso não seja controlada. Está todo mundo inquieto, querendo interpretar as nuvens da política. Se a oposição entrar em 2014 com chances de interromper a sequência do PT no poder, de nada adiantará ter base formal de 80% do Congresso, que tudo irá pelos ares.

No fundo, no fundo, essa base aliada não é do governo, muito menos do PT. É de conveniência, inclusive o PMDB. E não será surpresa se o PMDB voltar a se dividir. A união do PMDB só aconteceu no momento em que parecia infindável a predominância petista no cenário político nacional. Se houver alguma indicação de que isso pode não acontecer, vários setores regionais importantes podem se desgarrar.

A sensação de que o modelo pode ter esgotado sua capacidade de atuação, decadente sem ter chegado ao apogeu, pode estimular traições. É impossível contar com uma lealdade da base se o que une a maioria dos partidos ao governo não é uma questão ideológica, mas interesses específicos, imediatos ou de longo prazo, mas sempre interesses políticos que independem da lealdade para se realizar. Às vezes, dependem até de uma traiçãozinha básica.

A culpa desse relacionamento esquizofrênico é do governo, que não perde a oportunidade para demonstrar desprezo por esses aliados de ocasião e, sobretudo, pela atuação do Congresso, que considera mero instrumento de seus desejos, e não um Poder em igualdade de condições.

O ex-presidente Lula, embora tenha saído de sua única experiência congressual na Constituinte de 1988 convencido de que havia 350 picaretas entre os deputados, logo entendeu que, além de cooptá-los através de favores diversos, teria também que fingir considerá-los honoráveis parceiros de jornada, dar-lhes espaço e apoio político para que atuassem sem serem incomodados.

Sua compreensão de como se dá esse jogo de toma lá dá cá faz muita falta hoje nesses dias em que, provavelmente reproduzindo o sentimento da presidente, os articuladores políticos do governo dão aos parlamentares a importância que julgam que têm, isto é, nenhuma.

No momento em que Renan Calheiros é o presidente do Senado, quem dá lições institucionais à chefe do Gabinete Civil, Gleisi Hoffmann, fica estabelecido que as relações entre Planalto e base não andam às mil maravilhas. E é só de uma desculpa que políticos precisam para saltar do barco se for prudente, diante não de uma honra atingida, mas da perspectiva de perda de poder. Nada funciona mais nesse mundo de relações tão superficiais do que a expectativa de poder ou, melhor dizendo, a expectativa de perda de poder.

Este mês faz 20 anos da morte de Carlos Castello Branco, o Castelinho, o mais importante jornalista político de uma geração. Junto com o aniversário de seu falecimento, os últimos dias trouxeram más notícias para o jornalismo, as mortes de Ruy Mesquita, do Estadão, e de Roberto Civita, da Abril. São marcos na história do jornalismo brasileiro que o tornam mais pobre.

Fonte: O Globo

Pingos no is - Dora Kramer

Ninguém precisa furar esse tumor, explicitar a questão. Até para que o debate saia do campo, da intriga e aconteça à luz do dia", diz o ex-ministro da Integração Nacional e atualmente um dos vice-presidentes da Caixa Econômica Federal, Geddel Vieira Lima, sobre sua decisão de falar publicamente e sem ambiguidades sobre os atritos entre governo, PT e PMDB.

E o que diz ele? Em resumo, que os conflitos se avolumam, cresce a tendência de os pemedebistas lançarem candidatos próprios nos Estados em 2014 e, se continuar nesse ritmo, mais adiante há o risco de a convenção do PMDB não aprovar a renovação da aliança com o PT.

"Não acho salutar esse jogo nebuloso em que prospera a rasteira em prejuízo do diálogo. É uma situação muito ruim para todo mundo. Administrativamente devo lealdade ao governo, mas não posso esquecer que politicamente milito no PMDB."

Não tem nada combinado com a direção do partido, Geddel não se intitula porta-voz dos insatisfeitos nem carrega a bandeira da ruptura. "Faço uma constatação, não uma pregação." Trata-se, segundo ele, de uma resolução unilateral com dois propósitos: sentir o "pulso" do PMDB sobre a consistência das crescentes reclamações e levar a uma solução do problema.

Para o bem ou para o mal ou se estabelece com transparência o entendimento ou se chega à conclusão de que em 2014 os dois maiores parceiros da aliança que sustentam o governo vão brincar separados. Uma terceira hipótese é a de essa manifestação cair no vazio e as coisas continuarem como estão - na base da intriga de bastidor em clima de tensão permanente.

Nesse terreno meio movediço ninguém sabe direito qual o tamanho real da encrenca nem se o que move os queixosos é a política ou o fisiologismo em estado bruto.

Se a opção for recorrer aos panos quentes, se a escolha for por "abafar o caso", isso vai significar que o partido prefere atuar na dinâmica do estresse para não se arriscar a perder algumas benesses que ainda lhe rende a condição de aliado preferencial, mas sem. abrir mão do gestual de protesto.

"Digo isso claramente porque as pessoas estão com medo de falar sobre os efeitos da antecipação do processo eleitoral, que antecipou também a explosão das angústias estaduais."

Em miúdos: o PMDB se vê alijado do centro do poder federal. Embora ocupe a vice-presidência da República, ministérios e um punhado de cargos, não participa das decisões de governo.

Com isso, fica regionalmente desguarnecido para montar palanques fortes, eleger governadores e formar grandes bancadas no Congresso de onde vem a força do partido desde que desistiu de construir seu próprio projeto nacional mediante a disputa da Presidência da República.

Na última eleição municipal o número de prefeituras do PMDB foi reduzido significativamente. Segundo avaliação interna, isso ocorreu muito em função de o partido ter-se colocado a reboque dos interesses eleitorais do PT.

A se repetir esse padrão em que aos pemedebistas fica sempre reservado o papel de coadjuvantes, a consequência pode ser a redução da representação do partido no Parlamento e daí a perda de influência em decorrência do esvaziamento do principal ativo do partido.

A proposta de Geddel Vieira Lima é que as cartas sejam postas na mesa com franqueza: o PMDB diga ao governo que precisa de instrumentos e autonomia para preservar sua condição de partido com presença importante no cenário nacional e o governo diga ao PMDB se há espaço para convivência ou se ao PT o que interessa mesmo e ser o dono absoluto da bola.

Postos os pingos nos is, cabe aos brigões decidir se vão, se racham ou se preferem continuar aos trancos para ver como é que na hora H ficam os barrancos.

Vice da Caixa convida governo e PMDB a decidir se vão ou se racham de vez.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Próxima batalha - Denise Rothenburg

O Orçamento promete ser a nova fonte de dores de cabeça do governo no Congresso, seja pela dificuldade de aprovar créditos suplementares para as mais diversas áreas, seja por causa do Orçamento impositivo, a proposta que pretende tornar automática a execução das obras que os deputados e os senadores indicam na previsão de gastos, as tais emendas. Estudos jurídicos do Ministério do Planejamento indicam inconstitucionalidades na proposta. Mas os deputados que elaboram as leis, inclusive a Constituição, não veem assim. Esse assunto, aliás, estava incluído na pauta de discussões ontem entre Dilma Rousseff, o vice-presidente Michel Temer e os presidentes do senado, Renan Calheiros, e da Câmara, Henrique Eduardo Alves.

Na visão dos parlamentares, o Orçamento é, hoje, a única lei feita para não ser cumprida. Deputados e senadores passam madrugadas no fim do ano votando a Lei Orçamentária, fechando números. Mas a maioria que faz esse trabalho tem a certeza de que, meses depois, o grosso das sugestões feitas por eles será tratado como lixo pelo governo. E em todos os ministérios.

Para você que não se lembra do decreto de reprogramação orçamentária, anunciado no mês passado pelo Ministério do Planejamento, vale lembrar que, do bloqueio de R$ 28 bilhões feito na previsão de gastos do governo, R$ 15,6 bilhões se referem a essas emendas de deputados, senadores, bancadas estaduais e comissões técnicas da Câmara e do Senado. Só no Ministério das Cidades, a represa, chamada de contingenciamento, foi de R$ 5,02 bilhões, sendo R$ 4,2 bilhões em emendas incluídas ali por parlamentares. Ou seja, os políticos que apresentaram emendas por ali vão passar o resto do ano à espera de um milagre econômico que permita ao governo retomar essas despesas. No Orçamento da União como um todo, de R$ 22 bilhões em emendas, apenas R$ 7 bilhões prosseguem com perspectiva da liberação até o fim do ano.

O anúncio desses números foi um dos motivos da série de tropeçadas da articulação política. Além disso, o decreto saiu publicado justamente num momento em que a presidente Dilma precisava de votos para aprovar as duas medidas provisórias que estavam em tramitação naquela semana. As medidas acabaram caindo, e a opção para garantir a redução das tarifas de energia foi a lambança de colocar os artigos da medida provisória original dentro de outra, o que, segundo alguns, arrisca virar objeto de alguma reclamação no Supremo Tribunal Federal.

Com a maioria das emendas contingenciadas, a base política do governo simplesmente perde o entusiasmo em ajudar o governo e parte para o chamado Orçamento impositivo. Afinal, o chamado "baixo clero", a maioria dos deputados, considera hoje que Dilma não lhes dá atenção, não chama para inaugurações de obras em suas bases eleitorais, não lhes deixa sequer apadrinhar projetos de lei. "Ela não me prestigia, por que raios eu devo votar com o governo?", é frase repetida no plenário como um refrão dessas músicas que grudam e o sujeito sai cantando dia e noite.

Se, além desse jeitão presidencial meio distante, o governo ainda decidir enfrentar os parlamentares no quesito Orçamento impositivo, certamente, os problemas na base vão se agravar. Uma reclamação ao STF, por exemplo, só tende a acirrar o clima ruim. Portanto, reza a prudência, é melhor negociar desde já uma saída para que a parte do Orçamento sujeita à liberação automática seja a menor possível. Afinal, seguro morreu de velho.

Enquanto isso, na Vice-Presidência da República...

Em nada vai adiantar a presidente Dilma pedir ao vice-presidente Michel Temer que negocie desde já essa proposta de emenda constitucional a respeito do Orçamento impositivo em estudo na Câmara. Neste mês, Temer viajará à Turquia, a Israel e, ainda, fará uma visita à Autoridade Palestina. Menos um anteparo para ajudar Dilma a cuidar da "Faixa de Gaza" congressual por aqui.

E no segundo andar do Planalto...

Reaberta a temporada de solenidades. Vem aí o Plano de Saneamento, o Plano Safra, o PAC do Turismo e o pacote de incentivo à indústria de eletrodomésticos. Desta vez, entretanto, a ideia é baixar a Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (Cofins). Essa é exclusiva da União. Tudo o que o governo não quer é dar mais motivos para os estados baterem à sua porta pedindo renegociação de dívidas por redução de receita.

Fonte: Correio Braziliense

Campanhas já tomam conta do país - Raymundo Costa

O ministro Moreira Franco (Aviação Civil) avalia que a antecipação da campanha eleitoral serviu apenas para criar "um ambiente político distorcido que é nocivo aos interesses do PMDB e do PT", os dois principais parceiros da aliança partidária que governa o país. A um ano e meio da eleição, a campanha foi antecipada não apenas no plano federal, apoderou-se também dos Estados, o que levou a exacerbação de conflitos regionais que normalmente seriam arbitrados no primeiro semestre de 2014. Isso tudo com reflexo nas votações do Congresso, evidentemente.

O ministro da Aviação Civil é do PMDB e, na média, expressa a opinião dos colegas de governo e do vice-presidente da República, Michel Temer. Pragmático, Moreira Franco argumenta que de nada adianta "se querer, no plano das expectativas, um ambiente que não muda o realizável". Ou seja, existe um calendário eleitoral dentro do qual serão finalizadas as negociações - começa em abril de 2014, com a desincompatibilização de candidatos com cargos no executivo, passa pelas convenções de junho, a campanha no rádio e televisão, em meados de agosto e termina em outubro, com a eleição.

Moreira Franco e a cúpula pemedebista têm por definida a reedição da aliança PT-PMDB para a reeleição da presidente Dilma Rousseff e do vice Michel Temer. Nessa perspectiva, o momento atual deveria ser o de acumulação das forças necessárias para ganhar a eleição: "É normal que PT e PMDB, sobretudo, se mobilizem para ocupar todos os espaços políticos e eleitorais para que nossos adversários vejam reduzidas suas chances". E o adversário está à vista, segundo Moreira Franco, é a oposição ao governo federal.

"Antecipação do calendário é nociva", diz Moreira

"Nesse momento é necessário e legítimo que todos os partidos lancem candidatos", diz o ministro da Aviação Civil, antecipando o que certamente seria também falado à noite em reunião institucional do PMDB com Dilma. "Quanto mais candidatos nós lançarmos nos Estados, mais pemedebistas contribuirão para a vitória da aliança e a obtenção da maioria para governar".

Seria assim natural que o PMDB lance um candidato à sucessão de Roseana Sarney no Maranhão, por exemplo, que Geddel Vieira Lima queira entrar na disputa na Bahia e que o governador Sérgio Cabral tenha em seu vice, Luiz Fernando Pezão, uma espécie de "candidato natural" à sucessão no Rio de Janeiro. "No momento oportuno se verá quem está em melhores condições".

Moreira chama a atenção: já foi assim em 2010. No Maranhão, o PT ficou com a vice de Roseana; não houve acordo e no Rio o senador Lindbergh Farias, que hoje reivindica a candidatura pelo PT, esteve no palanque de Sérgio Cabral e de Eduardo Paes, dois anos depois, na eleição para prefeito.

Incomoda o PMDB a pressa do PT em definir candidaturas nesses Estados e em outros como o Mato Grosso do Sul, onde o partido entende que o pré-candidato Delcídio Amaral (PT) não agiria como o esperado de um aliado do governador André Puccinelli (PMDB). A mesma queixa se dá em relação ao Rio de Moreira.

Por essas e por outras é que o presidente do PT, Rui Falcão, tem pensado em "segurar" a negociação dos palanques estaduais para Dilma.

Paralisada no Congresso, a reforma do ICMS continua viva no meio acadêmico. Ainda este mês, o Instituto de Estudos Política Econômica - Casa das Garças abrirá as portas para um debate sobre o tema. Um dos convidados, o ex-governador do Espírito Santo Paulo Hartung, já alinhavou ideias sobre o assunto. O Espírito Santo tem uma situação peculiar: embora situado no Sudeste, sua alíquota interestadual do ICMS é a mesma cobrada pelos Estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

Por que a discussão mobilizou tantos atores e, enfim, chegou a mais um impasse? Hartung vê um Congresso - onde a reforma travou - receptivo à rediscussão do sistema tributário, e que essa agenda é percebida como prioritária para aumentar a competitividade e a capacidade de crescer da economia.

"O Congresso nunca se negou a votar reformas de natureza fiscal ou tributária, mesmo as mais dolorosas, diferentemente do que se alardeia", diz. "Pelo contrário, muitas foram aprovadas, como as duas emendas da Previdência, as reformas do PIS e da Cofins, várias edições da CPMF e da DRU, o Simples, a Lei de Responsabilidade Fiscal e, mais recentemente, a criação do FUNPRESP e a desoneração da folha de salários".

Para Hartung, a "grande negativa" do Congresso com relação à proposta de reforma do ICMS enviada pelo governo federal "refere-se à evidente perda de autonomia dos Estados em razão da eliminação das possibilidades de se conceder incentivos". Mesmo diante da proposta de compensar perdas fiscais (de apuração complexa e duração temporária) e de criar fundos de desenvolvimento regional de "duvidosa efetividade", permanece a "certeza de que este seria mais um passo na direção de um aumento da concentração de poderes na União".

"Há uma clara percepção de que nos últimos dez anos o governo federal vem destilando iniciativas em diversas áreas rumo à maior concentração de poder decisório na União", diz. "Isso vai das políticas sociais, cada vez mais amarradas nos programas federais, até a infraestrutura capaz de conceder vantagens competitivas estruturais aos estados e municípios".

Hartung é do PMDB e aliado do governo. Mas acha que "desde o regime militar, governadores e prefeitos nunca se sentiram tão submetidos às agências federais. Cada vez mais cumprem o papel de meros executores de um conjunto de programas que, se somados, não parecem levar o país a uma estratégia clara, nem positiva, de desenvolvimento".

Até a MP dos Portos, "um avanço significativo para os ganhos de eficiência no setor", segundo Hartung "contém elementos de maior concentração de decisões nas agências federais". O ex-governador diz que, "de modo gradual, a atual política levará o Brasil a ser um País cada vez mais fechado para o resto do mundo, e uma Federação cada vez mais unitária".

Fonte: Valor Econômico

Ponto crítico - Tereza Cruvinel

O tema imediato da reunião de ontem entre a presidente Dilma Rousseff e os cardeais peemedebistas era a rebeldia da base governista, que tem seu maior foco na bancada do PMDB. Mas o problema candente e correlato, e que pode ter consequências mais danosas, é o esgarçamento da aliança PMDB-PT, que não se replicará na maioria dos estados. Quando isso começou a ficar evidente, os dois lados diziam não haver nada demais na existência de dois palanque pró-Dilma, situação já ocorrida em 2010. Mas agora surgem os primeiros sinais de que algumas seções peemedebistas flertam com o pré-candidato do PSB, Eduardo Campos. Preservar a aliança, para Dilma, tornou-se agora tão ou mais importante do que garantir o apoio parlamentar.

Em 2010, Dilma foi eleita pela maior coligação já construída nos tempos democráticos, composta por nove partidos. Nem Lula, que ajudou a costurá-la, contou com tal leque de apoios. A força e a amplitude de uma aliança não garantem nenhuma eleição, mas têm seu peso. Cada fragmento perdido tem seus custos eleitorais. Saindo candidato, e tirando o PSB da coligação, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, levará boa parte dos votos que Dilma teve no estado onde obteve a maior vantagem sobre Serra, em 2010, na Região Nordeste, que praticamente lhe assegurou a vitória. O outro concorrente, senador Aécio Neves, do PDSB, sem dúvida fará um arrastão de votos em Minas. Por isso, Dilma não pode se dar ao luxo de perder o apoio do PMDB em estados que devem compensar as prováveis perdas. O Rio é um deles. Ali, ela teve uma grande votação em 2010, subindo ao palanque do governdor, Sérgio Cabral (PMDB), que disputava a reeleição. Agora, o PT terá seu candidato, Lindbergh Farias, e o governador é um dos que ameaça não apoiar Dilma. Garotinho, do PR, também concorrerá. E, para completar, o ministro da Pesca, Marcelo Crivella (PRB), vem sendo incensado a se lançar também. Por ora, ele defende apenas o direito do PT à candidatura própria, num sinal de que pode apoiar Lindbergh.

No Rio Grande do Sul, o PMDB não apoiará a reeleição do governador, Tarso Genro (PT), e existe o flerte com Campos, situação que se repete também em Pernambuco, Rondônia e Bahia, onde o vice-presidente da CEF, Geddel Vieira Lima, articula uma chapa para disputar com o PT a sucessão do governador Jaques Wagner.

A costura da aliança vem sendo feita pelo presidente do PT, Rui Falcão, que passou a contar com a ajuda do ministro da Educação, Aloizio Mercadante. Estão praticamente fechados os entendimentos com o PP, o PSD, o PR e o PDT. O acordo com o PTB vem avançando. O PRB apoiará Dilma para presidente e Alckmin para governador. São apoios importantes, que agregarão tempo de televisão e palanques para a candidata. Mas é o PMDB, por sua força no Congresso, capilaridade no país, número de prefeituras e força eleitoral das lideranças locais, que fará o papel de pilar forte da coligação.

Os problemas no Congresso e a fragmentação da aliança não são coisas distintas. Um problema alimenta o outro. A cúpula do PMDB não tem a menor disposição para virar oposição ou romper com o governo. Ontem mesmo, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, brindou-a com o pedido de um minuto de palmas no evento de Natal. Mas Dilma precisa evitar que se repita com ela o que ocorreu com José Serra em 2002: o PMDB integrou a coligação tucana, mas boa parte das seções apoiou Lula. Essa, certamente, era sua maior preocupação ontem.

Dois mundos

Nos próximos dias, o governo começará a liberar R$ 2 bilhões em emendas parlamentares. Ajuda, mas não resolve. A chamada base governista quer também atenção e gentileza. Quer que o governo compreenda, por exemplo, a importância das audiências com autoridades para os deputados. Especialmente, para o chamado "deputado resolutivo", aquele que recebe um problema do prefeito que o apoia e vai em busca da solução federal, quando ela é possível. Ou, pelo menos, de uma resposta. O Planalto não compreende o mundo do Congresso, dizem eles. Por isso, parece inexorável a aprovação da execução obrigatória das emendas. Se o governo achar que isso é mesmo inconstitucional, baterá às portas do STF. Mas isso tornará as coisas ainda piores com os aliados.

Razões da baixa

Beto Vasconcelos está deixando a secretaria executiva do Gabinete Civil oficialmente para fazer capacitação no exterior. Em verdade, Beto pediu para sair, há quatro ou cinco meses, porque tentaram lhe atribuir responsabilidade por equívocos na elaboração da MP do Setor Elétrico. No governo Lula, ele foi o radar jurídico do Planalto, no cargo de secretário de Assuntos Jurídicos do Gabinete Civil. Trabalhando diretamente com Dilma, não teve problemas. No governo dela, passou a ser subordinado de Gleisi Hoffmann, e a química não foi boa. Dilma, que aprecia a competência de Beto, lamentou, mas nada pôde fazer.

Viés de baixa

A presidente não está com vontade de trocar ministros agora, mas é certo que Gleisi está com viés de baixa. Até o índios protestaram contra ela ontem. A cotação caiu forte perante os partidos da base aliada depois que eles souberam de críticas que ela teria lhes feito numa reunião petista, dizendo que são todos fisiológicos.

Fonte: Correio Braziliense

A má notícia nossa de cada dia - Eliane Cantanhêde

A presidente Dilma que vá nos perdoando, mas já virou rotina: todo dia é dia de má notícia, sobretudo na economia.

A de ontem veio da balança comercial, que voltou ao azul em maio, mas com um saldo positivo 74,3% menor do que há um ano e acumulando um resultado em 2013 que é simplesmente o pior da história.

É ou não é preocupante? Ainda mais dentro de um contexto em que tudo parece desandando. A previsão de crescimento do PIB de 2013 era de 4,5%, caiu para 3,5% e acaba de ser revista para 2,77%. Onde vai parar? Ou melhor, onde vamos parar?

Há convergência de crescimento baixo com inflação sempre no teto da meta, juros subindo, indústria acuada, famílias consumindo menos, superavit primário (economia para pagar juros) decepcionante e dólar disparando --a cotação da semana passada foi a mais alta desde 2009.

Tudo, então, fica assim: o pior desde não sei quando, o mais baixo da história, a maior queda em tantos anos... E o governo respondendo sempre com um mesmo dado: os altos níveis de emprego, o que é de fato muito bom e tem efeitos eleitorais certeiros, mas não é suficiente para salvar a lavoura.

(Aliás, a imagem não é adequada, porque, se há alguma coisa positiva, além do emprego, é a lavoura --que salva o PIB e mantém a balança comercial ainda positiva.)

Em meio às más notícias na economia, uma atrás da outra, a presidente agora está à volta com duas tabas em pé de guerra. Uma é literal, a dos índios, que se rebelam de norte a sul. Outra é o Congresso, onde índio quer apito e os caciques exigem muito mais.

Não bastasse, setores conservadores articulam-se em torno de temas como aborto e união gay para passeatas em Brasília e demonstrações de força em todo o país, mirando as urnas de 2014. Estão crescendo.

Esse cenário e o clima não são bons para a imagem de Dilma hoje e não ajudam a reeleição amanhã.

Fonte: Folha de S. Paulo

Virtudes e vícios da democracia - Hélio Schwartsman

Reportagem de Valdo Cruz e Natuza Nery publicada no domingo na Folha sugere que uma queda na popularidade de Dilma Rousseff por causa da inflação foi decisiva para fazer a presidente mudar de posição e apoiar um aumento mais agressivo nos juros.

É meio assustador descobrir que a política econômica do país é definida por pesquisas de opinião, e não por um projeto de governo. Receio, porém, que lidemos aqui com uma limitação intrínseca da democracia.

Por um lado, é desejável que dirigentes estejam em sintonia com a população e respondam a seus anseios. A ideia mestra da democracia é que ela constitua uma espécie de autogestão coletiva --o tal do governo do povo, para o povo e pelo povo.

Não se pode, por outro lado, desprezar os riscos de um entrosamento muito profundo entre governantes e a população. O mais óbvio é o populismo, no qual se sacrificam objetivos de longo prazo em troca de aprovações momentâneas, geralmente programadas para coincidir com eleições. Embarcar nesse tipo de lógica compromete a racionalidade econômica de um governo, que se torna incapaz de definir prioridades e passa a perseguir metas inconciliáveis, gerando pequenos e grandes desastres.

Isso significa que a democracia é uma miragem? A pergunta é capciosa. Penso que ela funciona, mas não porque maiorias sejam portadoras da verdade. A democracia vem dando certo porque consegue canalizar os conflitos sociais para formas não violentas de disputa. Tem ainda o dom de fazer com que as visões mais extremadas do espectro político se anulem pelo voto, deixando a decisão para os setores moderados.

Ela também transforma a sociedade num grande experimento em que os atores podem aprender com seus erros. Até há pouco, a inflação era o resultado de políticas populistas que, hoje, para manter-se efetivas precisam incluir o controle da aceleração dos preços.

Fonte: Folha de S. Paulo

O peso do dólar - Miriam Leitão

Um evento isolado não é detonador de inflação. Normalmente, os preços sobem como resultado de um conjunto de problemas. A alta do dólar agora é um complicador porque se soma a todos os fatores que têm mantido a inflação alta, apesar do baixo crescimento do PIB. O trabalho do Banco Central ficará um pouco mais difícil a partir do salto de 7% que o câmbio deu no mês de maio.

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, disse no fim de semana em Istambul que a alta do dólar é um fenômeno mundial e que o "repasse do dólar para a economia brasileira é limitado".

O fato de ser um fenômeno mundial, ou seja, a moeda americana estar subindo no mundo inteiro, não significa que não nos afeta. Complica mais um pouco. Mas o Banco Central nem por isso tem que tentar intervir para derrubar o dólar; pode fazê-lo - como explicou o presidente do BC - para evitar o excesso de volatilidade.

O câmbio é uma relação delicada. Se sobe muito, encarece o endividamento externo dos países e das empresas; se cai muito, prejudica a balança comercial. Quando o governo decide defender uma dada taxa de câmbio acaba enfrentando corridas contra a moeda local. O dólar incomoda quando sobe, incomoda quando cai. Basta ver as declarações das autoridades a cada movimento mais acentuado.

Desde o final do ano passado houve vários desses momentos assim. O dólar subiu bastante no ano passado, e o ministro da Fazenda sempre comemorou o fato como um sinal de que isso ajudaria os exportadores. Chegou a dizer, em novembro, que o câmbio acima de R$ 2 tinha vindo para ficar. A ideia geral que passou foi de que se tentaria desvalorizar mais o real. Quando o dólar se aproximou de R$ 2,15, o Banco Central entrou derrubando e isso inverteu totalmente a curva. E o entendimento geral foi que o BC estava tentando derrubar o dólar para melhorar a inflação.

Quando, no final de janeiro, chegou a ameaçar ficar abaixo de R$ 2,00, o ministro Guido Mantega disse que o governo não estava mudando a política cambial e que não permitiria a "valorização especulativa" da moeda. Na época, Mantega disse: "É verdade que no passado tivemos elevação do dólar e nós apoiamos. Tivemos 20% de desvalorização do real e isso afeta a inflação", disse.

O "apoio" dado à alta do dólar quando ele estava fraco no resto do mundo foi dado na convicção de que isso afetaria favoravelmente a balança comercial e não teria maior impacto na inflação. Ocorre que o Brasil está com déficit na balança comercial e inflação alta.

O resultado da balança comercial de maio foi o melhor número do ano, mas foram magros US$ 760 milhões de superávit. No ano, o déficit está em US$ 5,4 bilhões. A Associação do Comércio Exterior do Brasil (AEB) vai rever a projeção da balança comercial só em julho, mas o presidente da associação, José Augusto de Castro, disse que dá para explicar esse resultado pelas exportações de soja, minério de ferro e petróleo. Só de petróleo, em quantidade, a queda é de 45%, em grande parte pela produção menor da Petrobras.

O real mais fraco é uma das causas da inflação mais alta. Desde 2011, nossa moeda vem perdendo valor ano a ano. Em janeiro de 2011, o dólar valia R$ 1,65. Chegou a cair para R$ 1,55 em abril daquele ano, mas fechou em R$ 1,87, numa valorização de 13% no período. No ano seguinte, nova alta do dólar, que fechou em R$ 2,04, ganhando 9%. Na sexta-feira, fechou em R$ 2,14, com valorização de 5% desde janeiro e alta de 7% em maio. Ao todo, a moeda americana ficou 30% mais forte desde que a presidente Dilma tomou posse e escolheu a política de uma moeda mais desvalorizada.

Fonte: O Globo