terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Eliane Cantanhêde: Ajoelhando no milho

Alexandre Tombini, do BC, fez enorme esforço para convencer o G20 financeiro de que a retirada de estímulos americanos é positiva e o Brasil não só faz o dever de casa como está ótimo, firme e forte.

Tombini tem um jeitão sereno e convincente e o BC tem até saído ileso, mas não é à toa que nem Lula está satisfeito com o rumo geral das coisas, conforme reportagem de Valdo Cruz e Andréia Sadi na Folha.

O BC faz sua parte, mas a lista dos erros na economia é grande --e a das reclamações do setor privado é enorme. Como as de Lula, elas não são dirigidas a Tombini e nem só a Mantega, mas, sim, a Dilma.

Como caldo de cultura, vieram os relatórios do Fed (banco central dos EUA) e do Morgan Stanley (banco de investimento), incluindo o Brasil entre os "emergentes vulneráveis" e entre os "cinco frágeis". Justo ou injusto, é um carimbo forte.

BC e Fazenda estão umas feras, particularmente, com o Fed. Dizem que seu relatório é tecnicamente "raso" e lembram, com ironia, que o banco não previu nem a crise dos EUA. (Gente do FMI, aliás, concorda plenamente com BC e Fazenda.)

Com ou sem relatórios malvados, porém, o fato é que o Brasil vem perdendo muito em projeção e em confiança porque tropeça nas próprias pernas --além de não andar em boas companhias: os emergentes não estão com essa bola toda, e o que falar da América do Sul com a Argentina quente e a Venezuela fervendo?

Tombini admite "alguma volatilidade" depois que os EUA passaram a fechar a torneira, mas diz que o Brasil se antecipou à seca e tem recebido bom volume de capitais.

Mas o problema não é só técnico, é de percepção. Dilma não teve estratégia, cometeu sucessivos erros e está deixando bombas para estourar em 2015: remuneração das termelétricas, tarifas represadas...

Além de Tombini convencer governos e mercado, Dilma vai ter de convencer o próprio padrinho.

Fonte: Folha Online

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