sábado, 10 de maio de 2014

Para cientistas políticos, momento é favorável a pré-candidatos de oposição

• Pesquisa Datafolha revela que chance de Dilma vencer no primeiro turno diminuiu

Demétrio Weber e Adriana Mendes – O Globo

BRASÍLIA – O resultado da pesquisa Datafolha foi analisado por cientistas políticos a pedido do GLOBO. A pesquisa revela que a chance da presidente Dilma Rousseff vencer no primeiro turno em outubro diminui. A petista teria hoje 37% dos votos contra 38% dos outros candidatos.]

David Fleischer , professor emérito da Universidade de Brasília (UnB), disse nesta sexta-feira que a subida de 4 pontos percentuais do pré-candidato Aécio Neves (PSDB) está ligada à maior exposição do tucano nos telejornais, nas últimas semanas, devido à disputa pela instalação da CPI da Petrobras no Congresso

- A exibição do programa do PSDB estrelado por Aécio pode ter ajudado. Mas o mais importante é o espaço que ele ganha nos telejornais nacionais, pegando carona na Petrobras - diz o cientista político.

Para Fleischer, a ascensão de Aécio coincide com um mau momento da presidente Dilma Rousseff e sinaliza que é alta a possibilidade de haver segundo turno na eleição. Ele chama a atenção para o fato de que Dilma perde ponto e seus adversários sobem na simulação de segundo turno seja contra Aécio ou Eduardo Campos, do PSB.

- Os dois sobem no segundo turno. Isso significa que a presidente está cada vez mais enfraquecida e vulnerável. E há indícios de que vamos ter apagão, com rodízio, em junho. Ela tem algumas nuvens bem escuras no horizonte.

Fleischer afirma que Campos ainda não decolou, porque não consegue a mesma exposição nacional que Aécio. Ele aposta também que as intenções de voto no ex-governador de Pernambuco subiriam, se a pergunta feita aos entrevistados pelo Datafolha incluísse o nome do candidato a vice - no caso de Campos, a ex-senadora e ex-ministra Marina Silva.

Para o cientista político, já está em 90% a probabilidade haver segundo turno, dada a queda de Dilma nos últimos levantamentos. Ele diz que esse índice chegará a 100% de certeza se Dilma cair abaixo de 34% das intenções de voto. Na pesquisa divulgada hoje, a presidente aparece com 37%.
Fleischer observa que a presidente está na vitrine e, em que pese a força da caneta, acaba mais exposta a críticas e cobranças. Mais cedo ou mais tarde, porém, isso acabará ocorrendo também com Aécio e Campos, já que os dois foram governadores e também responderão pelos erros e acertos de seus governos.

- O Aécio tem um esqueleto muito pesado no armário, porque ele se vangloria muito do choque de gestão. E o choque foi contratar 98 mil funcionários sem concurso no governo de Minas Gerais. Faz duas semanas que o Supremo Tribunal Federal mandou demitir todo mundo. Isso o torna muito vulnerável às críticas - diz o cientista político da UnB.

Para o cientista político Ricardo Caldas, da Universidade de Brasília(UnB), Aécio Neves pode crescer mais nas pesquisas de opinião por ser o principal candidato da oposição. Mas a dúvida ainda é se vai crescer o bastante para competir com chances reais de vitória. Já Eduardo Campos (PSB) deve subir menos.

- A partir de julho, com mais exposição e com os programas eleitorais Dilma pode recuperar os pontos perdidos e a tendência dela é estabilizar. Ela tem mais tempo de TV que os outros candidatos e pode estancar a sangria – avaliou Caldas.

Na avaliação de Leonardo Barreto, doutor em Ciências Políticas pela UnB, o dado mais importante da pesquisa é a aprovação de 35% do governo de Dilma Rousseff, que ele considera um limite mínimo para a presidente. Há um mês a aprovação era de 36%.

- Existe a criação de um cenário que é favorável para oposição. Mas a pesquisa tem uma importância relativa porque a eleição não está na agenda na maior parte dos brasileiros – disse Barreto, destacando que tudo depende mesmo quando a campanha começar pra valer com maior exposição dos candidatos no horário eleitoral gratuito.

Barreto aposta em um crescimento do tucano Aécio Neves.

- Existe uma área de crescimento do PSDB que seria independente se fosse o Aécio o candidato. Ainda se fala muito pouco do Aécio, que é conhecido apenas pela metade da população. Quem tem a memória do PSDB começa a se posicionar – avalia.

No entanto ele destaca que Dilma ainda tem uma base muito sólida, tem crédito de um governo de 12 anos do PT mesmo com os atuais problemas enfrentados. Na pesquisa 58% do entrevistados declararam que Lula deveria ser o candidato.

Barreto acredita que o pré-candidato Eduardo Campos deve ficar estagnado já que o partido, na avaliação dele, não tem muita densidade eleitoral mesmo tendo Marina Silva como vice na chapa.

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