quinta-feira, 31 de julho de 2014

Brasília-DF :: Denise Rothenburg

- Correio Braziliense

Moral da história
O diálogo dos empresários com os candidatos à Presidência da República soou mais como um alerta sobre a necessidade de mudanças, que certamente virão com os oposicionistas Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), os dois que hoje mais concentram votos no seleto clube da indústria nacional.
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Da parte da presidente candidata, Dilma Rousseff, a viagem, entretanto, não foi de todo perdida. Ela pôde dizer o que fez em relação a empréstimos e subsídios ao setor da indústria e, de quebra, jogar para o seu público ao ressaltar que há pontos irreversíveis da legislação trabalhista, como horas extras e o 13° salário.

Recreio prolongado
O Poder Executivo aposta na ausência de quórum qualificado (mais de 308 parlamentares) na semana que vem, temporada de esforço concentrado no Congresso. Assim, reduz-se o risco de aprovar aquelas propostas de emendas constitucionais consideradas indigestas para o Planalto, caso do texto que aumenta em 2% os repasses do Fundo de Participação dos Municípios. O governo trabalha com a perspectiva de que essa emenda só chegue a plenário em 2015.

Férias do barulho
O governo já fez as contas e considera que, até o fim do ano, nada deve incomodar muito o Planalto no Congresso. Nem mesmo a CPI da Petrobras, que reúne deputados e senadores. É que, por ali, transitam hoje as grandes empresas, principais financiadoras das campanhas. Logo, ninguém vai querer mexer muito nesse tema em ano eleitoral.

Melhor de três
O restante será mesmo para cuidar de André Vargas (ex-PT-PR), Luiz Argôlo (SDD-BA) e Rodrigo Bethlem (PMDB-RJ), o mais novo enrolado. Vargas e Bethlem só desejam mesmo cumprir tabela. Daí, a aposta é a de que os holofotes se voltarão para Argôlo, o único que concorre à reeleição.

Questão de status
Dilma irá ao Templo de Salomão, da igreja Universal, na qualidade de presidente da República, e não de candidata à reeleição — papel que exercerá apenas no evento da CUT. Tudo para dar aquela aura de solenidade, que a deixa acima dos demais. Aliás, a ordem da campanha é, sempre que possível, tratar uma solenidade como presidencial. E não se espante, leitor, se essas viagens presidenciais se concentrarem em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Minas Gerais. A estratégia é recuperar terreno ali.

Enquanto isso, em Nova York...
Em palestra para mais de 100 investidores sobre o cenário eleitoral, na Câmara Brasil—Estados Unidos, o cientista político Murillo de Aragão expôs as chances de cada um e o favoritismo da presidente Dilma Rousseff diante das pesquisas de intenção de voto. Ouviu, porém, muitas queixas e preocupações a respeito da condução da política econômica, do ambiente de negócios e da falta de um horizonte de mudança nesse clima. Ou seja, se aqui a economia corre o risco de não deslanchar diante do cenário de incertezas, lá de fora é que não virá o socorro.

Corpo a corpo/ Houve quem explicasse assim a presença de tantos ministros acompanhando a presidente Dilma na CNI: "Eles vieram cabalar alguns votos. O problema é que Guido Mantega e nada, nessa seara, é quase a mesma coisa".

Nem vem I/ Na plateia da CNI, o ex-deputado Paulo Delgado não titubeou na hora em que a mestre de cerimônias, Cristina Lemos, explicou que as cobranças de tempo dos empresários na hora das perguntas e as regras combinadas com as assessorias dos candidatos eram fiscalizadas pelo Tribunal Superior Eleitoral. "E quem é o TSE para vir mandar n a CNI? Ora, quer dizer que, se eu faço um debate na minha casa, eles vão mandar? Era só o que faltava!"

Nem vem II/ Na saída, Delgado completou: "O TSE está com tanto medo de dados oficiais interferirem na campanha que vai proibir hemograma completo".

Herói/ Paulo Afonso Ferreira, diretor do Instituto Euvaldo Lodi, da CNI, ganhou o título de melhor pergunta ao abordar a questão trabalhista, um dos pontos que mais preocupa e incomoda o empresariado. Especialmente num país em que o número de ações na Justiça do Trabalho superou a marca dos 3 milhões em 2013. Nos Estados Unidos, foram 100 mil.

Au passant/ Entre os empresários, houve quem notasse que Dilma, pelo menos ali, tratou de demonstrar uma certa distância do ex-presidente Lula. Citou apenas uma vez o antecessor pelo nome e, em algumas ocasiões, fez referência ao governo anterior. Sinal de que ela hoje dança conforme a música.

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