• Presidente lembrou ‘tempos difíceis’, criticou opositores e destacou amizade com governador fluminense
Marcelo Remígio e Cássio Bruno – O Globo
SÃO JOÃO DE MERITI (RJ) — A presidente Dilma Rousseff (PT) participou na noite desta quinta-feira de seu primeiro ato de campanha à reeleição no Rio de Janeiro, um jantar com prefeitos e ex-prefeitos promovido em uma churrascaria em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, acompanhada do vice-presidente Michel Temer e do governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, que concorre à reeleição pelo PMDB. O evento faz parte do chamado “Dilmão”, com o objetivo de mostrar ter força entre os prefeitos flumineses, já que, no início de junho o “Aezão”, reuniu 60 prefeitos em um almoço no Rio com 1.800 convidados.
Para garantir a participação do maior número possível de presenças, o próprio Pezão e o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), que esteve no encontro, ligaram para os prefeitos fluminenses. A lista com o total de prefeitos presentes, no entanto, não foi divulgada. Foram anunciados pelo locutor os nomes de apenas três prefeitos, quatro deputados federais e seis estaduais. Já Pezão afirmou, ao discursar, estarem ali 62 prefeitos e 46 ex-prefeitos. Dez dos 11 prefeitos do PT no estado estiveram presentes, segundo o prefeito de Niterói, Rodrigo Neves (PT). Apenas o de Maricá, Washington Quaquá, presidente estadual do PT e coordenador da campanha petista ao governo do estado, faltou.
Tentando inibir a presença de prefeitos no jantar do “Dilmão”, o líder do movimento “Aezão” e presidente estadual do PMDB, Jorge Picciani, ligou para aliados e simpatizantes à candidatura de Aécio e pediu para que não comparecessem ao encontro. O mesmo foi feito por outros integrantes do “Aezão”.
O tom dos discursos foram as parcerias firmadas por Dilma, Pezão, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-governador Sérgio Cabral.
Dilma chegou acompanhada de Pezão e do senador senador Carlos Lupi (PDT). Ao discursar, destacou a amizade com o governador e a importância da parceria:
— Conheci o Pezão e, ao longo do tempo, descobri uma grande humanidade. Ele olha as pessoas com carinho e vê seres humanos. Ele olha para os mais pobres — destacou Dilma, que depois ressaltou a parceria realizada entre ela, Lula, Cabral e Pezão:
— Fizemos uma escolha consciente pela parceria, uma parceria consolidada. Fomos parceiros nas horas fáceis e nas difícieis — disse Dilma, lembrando da tragédia na Região Serrana em 2011.
Sem citar nomes, Dilma criticou os opositores e o pessimismo:
— A campanha do Lula foi marcada pela esperança, que venceu o medo. Esperamos vencer as eleições com a verdade vencendo o pessimismo. A Copa foi um momento especial . Diziam que nós não tínhamos capacidade de realizar a Copa, que seria um inferno com as manifestações. Mas tivemos a capacidade de provar que o Brasil tinha a capacidade.
A presidente disse ainda “estar entre amigos” no evento:
— Eu olho para as pessoas e sinto que estamos numa luta do bem. Não respondemos as agressões com agressões. Respondemos com a verdade de nossas convicções — afirmou fazendo um balanço de seu governo.
Na saída do evento, Dilma disse apenas que está “muito animada” para a campanha e que vai participar dos quatro palanques no estado.
Pezão, que integra uma aliança de 17 partidos e que também apoia os candidatos a presidente Aécio Neves e Pastor Everaldo (PSC), reafirmou que vai pedir votos para Dilma e que questões partidárias não vão interferir em sua boa relação com a presidente. Nacionalmente, o PMDB apoia a reeleição da petista.
— Nossa aliança está acima dessas questões partidárias — afirmou Pezão a Dilma, numa referência às candidaturas ao Palácio Guanabara de Lindbergh Farias (PT), Marcelo Crivella (PRB) e Anthony Garotinho (PR). — A senhora (Dilma) foi uma das maiores amizades que eu fiz na política e nada vai nos separar — acrescentou.
Paes reforça apoio a Lupi no senado
Ao discursar, o prefeito do Rio Eduardo Paes declarou voto ao candidato Carlos Lupi ao Senado, lembrou de parcerias entre os governos federal, estadual e municipal, além de ironizar as alianças feitas por candidaturas no estado. Na chapa de Pezão, a vaga para o Senado é ocupada pelo vereador e desafeto de Paes, o ex-prefeito Cesar Maia.
— É a única química, a única mistura que pode dar certo.
Já o prefeito de Duque de Caxias, Alexandre Cardoso (sem partido), um dos articuladores do movimento "Dilmão", lembrou da parceria firmada entre Dilma, Lula, Cabral e Pezão em programas e obras no estado. Antes da chegada da presidente, Alexandre ressaltou que Dilma conta com o apoio de nove dos dez prefeitos que governam as maiores cidades fluminenses em população. Cardoso desconversou quando foi indagado se a campanha petista não via problemas em Pezão ter anunciado que também abrirá seu palanque para Aécio Neves.
— O Pezão me disse que vota em Dilma — disse Cardoso que, depois afirmou que alguns prefeitos das regiões Norte e Noroeste (reduto eleitoral do ex-governador e candidato ao Palácio Guanabara Anthony Garotinho) justificaram a ausência no jantar em função da distância do mau tempo, que dificultaram o deslocamento.
Prefeito petista declara apoio a pezão
Prefeito petista de Niterói, Rodrigo Neves, ao discursar, fez comparações dos 12 anos dos governos Dilma e Lula com oito anos da gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Rodrigo ainda chamou Pezão de “nosso governador”. O prefeito foi um dos petistas que não abraçaram a campanha do senador Lindbergh Farias, candidato do PT ao governo do Rio.
Um dos prefeitos aguardados, Nelson Bornier (PMDB), de Nova Iguaçu, não compareceu. Ele alegou outro compromisso. Bornier, que esteve no lançamento da candidatura de Aécio no Rio, tem afirmado que apoia Dilma a pedido de Pezão e que aguarda uma contrapartida de Dilma para se manter na campanha. O prefeito cobra liberação de verbas e convênios por parte do governo federal.
Lupi, ex-ministro do Trabalho do governo Dilma que foi afastado do governo em meio a denúncias de irregularidades em sua pasta, foi o causador da mudança na composição da chapa de Pezão. Com o lançamento de sua candidatura independente, o PDT deixou a aliança e o senador Francisco Dornelles (PP) assumiu a vaga de vice, no lugar do pedetista Felipe Peixoto. Dilma, que demitiu Lupi, fez elogios ao candidato ao Senado durante seu discurso.
Crise no PT fluminense
O lançamento da campanha de Dilma no Rio, ao lado do peemedebista Pezão, provocou uma crise no PT fluminense, que tem como candidato ao Palácio Guanabara o senador Lindbergh Farias. Além de Pezão e Lindbergh, a base aliada da presidente ainda possui como candidatos o deputado federal Anthony Garotinho (PR) e o senador Marcelo Crivella (PRB).
— No caso de Lindbergh, Garotinho e Crivella, propomos eventos públicos. Aqui (no jantar), de todas as propostas, foi o mais rápido para ser organizado. Eu diria que, se eu fosse candidato a governador, optaria por fazer o último evento, que talvez aconteça em um momento mais intenso da campanha. Temos que saber administrar. Uma campanha no estado em que a presidenta tem quatro candidatos, sempre vai ter algum tipo de reclamação. Faz parte do processo — afirmou o coordenador de campanha de Dilma no Estado do Rio, o vice-prefeito do Rio Adilson Pires (PT).
Para conter o mal-estar provocado pelo primeiro ato de campanha da petistas e por agendas frequentes com Pezão, o núcleo político de Dilma acertou a realização de eventos de rua com os três aliados. Nesta sexta-feira, o presidente nacional do PT e coordenador nacional da campanha de Dilma, Rui Falcão, se encontrará com Lindbergh, Garotinho e Crivella. No entanto, a prioridade de Lindbergh é pedir votos na rua ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O evento de Dilma com os prefeitos aconteceu no município governado pelo prefeito Sandro Mattos (PDT), principal aliado de Lindbergh e onde fica o maior comitê eleitoral do petista. Para receber o jantar do movimento “Dilmão”, a churrascaria foi isolada por um forte esquema de segurança da Presidência da República. No interior do salão da churrascaria foram colocados painéis de Dilma com Pezão. Na trilha sonora, jingles de Dilma e Pezão e um samba criado por compositores da escola de samba Grande Rio sobre o Arco Rodoviário, inaugurado pela presidente. Na tentativa de ver Dilma, moradores da região se concentraram em um posto de gasolina próximo à entrada da churrascaria, assim como cabos eleitorais do candidato Pezão. O jantar custou cerca de R$ 15 mil — sem incluir a bebida — e foi pago pelos prefeitos Cardoso, Paes e Rodrigo Neves, de Niterói.
Pezão sempre falou que apoiaria Dilma até o final até o PT lançar a candidatura de Lindbergh. É claro que a relação do PT com o PMDB ia ficar abalada, mas mesmo assim Pezão sempre falou que ficaria do lado da Dilma.
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