terça-feira, 22 de julho de 2014

Raymundo Costa: PSDB de São Paulo se rende a Aécio

• Tucanos passam por um momento de contida euforia

- Valor Econômico

Depois de disputar e perder dividido as últimas três eleições presidenciais, desde 2002, o PSDB de São Paulo se engajou efetivamente na cruzada do senador mineiro Aécio Neves para despejar o PT do Palácio do Planalto. Pode ser temporário, mas no momento José Serra, Fernando Henrique Cardoso e até o governador Geraldo Alckmin, entre outros tucanos bons de voto na capital, estão juntos com o candidato do partido, algo impensável há pouco mais de um ano. O governador paulista é um potencial candidato em 2018 e tem alianças regionais que colidem com o projeto de Aécio Neves, mas hoje atrapalha menos que semanas atrás, quando vislumbrava uma reeleição bem mais difícil para o Palácio dos Bandeirantes.

Vários fatores contribuíram para a boa convivência de Aécio com o PSDB de São Paulo, o maior e mais influente do país, e com o qual atravessou às turras as eleições presidenciais de 2002, 2006 e 2010. O perfil do candidato, um político formado na melhor escola mineira do diálogo entre adversários, foi decisivo. Mas o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também teve um papel fundamental para que Aécio chegasse à esta altura da campanha numa zona de conforto partidário, o que não aconteceu com José Serra nem com Geraldo Alckmin, os candidatos que antes dele tentaram desalojar o PT.

Em maio do ano passado, quando já dispunha da maioria para receber a indicação do PSDB à sucessão, Aécio teve uma reunião em São Paulo com o ex-presidente Fernando Henrique e o ex-ministro e hoje vereador em São Paulo Andrea Matarazzo. Na conversa o vereador tucano mostrou para Aécio o modelo das campanhas presidenciais de FHC, assentadas sobre uma estrutura própria nos Estados, especialmente em São Paulo.

Concebido por Sérgio Mota, homem forte do primeiro mandato de FHC, falecido em 1998, a chave do modelo é a separação das campanhas nacional e estadual. A campanha presidencial não atrapalha a do candidato a aliado a governador, por mais diferente que sejam as suas coligações. Matarazzo pode constatar a praticidade do modelo, sobretudo, na campanha da reeleição de FHC, quando o presidente era apoiado, em São Paulo, por Mário Covas e Paulo Maluf, adversários inconciliáveis. E atribui ao apoio de Maluf boa parte dos votos que fizeram FHC levar no primeiro turno a eleição de 1998.

É o modelo atualmente em prática em São Paulo. Cada um faz sua campanha, normalmente, e juntos onde não há nenhum conflito de coligação. A estrutura própria da campanha presidencial rende mais e elimina eventuais atritos. Desde a conversa com FHC e Matarazzo, que virou coordenador da campanha na capital, Aécio circulou muito no interior e fez mais de 15 eventos com o grupo de prefeitos que conheceu na época e que hoje fazem a coordenação regional da campanha. Pegou o jeito e as peculiaridades do lugar, segundo os paulistas.

Além de potencial candidato em 2018, logo um concorrente de Aécio dentro do PSDB, Alckmin tem coligação com partidos com outros candidatos a presidente da República, como é o caso do PSB do ex-governador Eduardo Campos. Entre os integrantes da estrutura de campanha de Aécio entende-se que de nada adianta pressionar o governador: Alckmin até poderia não fazer campanha para Campos, nos municípios onde está associado ao PSB, mas poderia hostilizar o candidato do PSDB. Esse tipo de atrito diminuiu com a existência de uma estrutura própria para cobrir tais situações.

A estrutura de Aécio em São Paulo é integrada por Alberto Goldman, ex-governador, o candidato a vice, senador Aloysio Nunes Ferreira, Matarazzo, que tem a memória do modelo concebido por Sergio Mota, e José Aníbal, adversário figadal de Serra, mas que concordou em ficar na primeira suplência no chapão do PSDB. O simples fato de Geraldo Alckmin "estar junto" já é considerado de grande ajuda para a campanha. Não foi fácil para os tucanos desenhar essa configuração de forças.

Quando José Serra desistiu formalmente de uma nova candidatura presidencial, em dezembro do ano passado, se prontificou a concorrer à Câmara ou ao Senado. Sempre esteve evidente que o ex-governador paulista preferia o Senado, mas estava isolado no partido. Primeiro, Serra pressionou por um acordo para o ex-prefeito Gilberto Kassab ser o vice na chapa de Alckmin à reeleição, pois isso o levaria naturalmente à indicação para a vaga em disputa no Senado.

Alckmin boicotou o acordo com o PSD de Kassab, de todas as formas, e ao fim compôs com o PSB de Eduardo Campos. Serra ficou solto no ar. Durante um tempo Aécio sugeria seu nome para candidato ao Senado, enquanto Alckmin sugeria que Serra fosse o vice de Aécio. Parecia jogo de empurra. Aécio, viu-se mais tarde, estava sinceramente empenhado em ter a seu lado um candidato com "recall" de disputas passadas e que já derrotara o PT em eleições para a prefeitura e o governo do Estado. Nesse momento interveio FHC. O ex-presidente teve uma conversa dura com Alckmin. A união é questão de sobrevivência para o PSDB.

Se Aécio ganhar a eleição de 5 de outubro, é provável que José Aníbal assuma a cadeira no Senado, porque o titular José Serra pode ser chamado para um ministério. Nos bastidores do PSDB fala-se no Ministério das Relações Exteriores. Aécio vende bem a expectativa de que em seu governo, se ganhar a eleição, haverá espaço para todo o PSDB, especialmente o de São Paulo.

Quem participou de todo o processo testemunha que Aécio teve um papel vital nas negociações. A imagem que se faz hoje de Aécio Neves, entre os tucanos de São Paulo, é de um político que "cisca para dentro", ou seja, agrega ao invés de dividir, como ocorreu nas últimas campanhas do PSDB. Nesse aspecto, ajudou muito a identidade com FHC, o ideólogo da reorganização tucana.

Com os bons números observados nas pesquisas, nas quais Aécio já aparece empatado com a presidente Dilma Rousseff em eventual segundo turno, os tucanos atravessam um momento de contida euforia, justamente quando o PT reconhece que passa por um mau bocado em São Paulo.

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