sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Fiéis resistem a seguir a igreja e repetir o voto na presidente

Letícia Casado - Valor Econômico

SÃO PAULO - A pulseirinha que dava acesso à inauguração do Templo de Salomão foi um dos objetos mais desejados durante a semana. Fiéis, jornalistas e curiosos queriam estar no culto celebrado pelo bispo Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus, e cuja inauguração, ontem, contou com a presença da presidente Dilma Rousseff (PT), do governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) e do prefeito da capital paulista Fernando Haddad (PT).

Os entrevistados foram unânimes em dizer que a recomendação da igreja não é decisiva na hora de votar. Entre dez entrevistados ouvidos pela reportagem - sendo dois evangélicos de outra igreja e um católico - que assistiam o culto na rua em frente ao templo, apenas três disseram já ter decidido o voto para presidente, e que será em Dilma. Os outros disseram ainda não saber. Apenas um conhecia Aécio Neves e nenhum conhecia Eduardo Campos.

Manuel Santos, 58, dono de uma empresa de construção, diz que votou em Dilma em 2010 e que "de jeito nenhum" vai votar nela de novo porque "está tudo ruim, de hospitais ao futebol". "Ela está atrás de votos porque sabe que a Igreja Universal é a mais forte entre evangélicos", diz, acrescentando que Alckmin é o pior político e São Paulo está impossível, do trânsito à criminalidade. "Eu preferia o [ex-governador Paulo] Maluf", diz Santos. Sua mulher, uma "obreira" (funcionária voluntária) da Universal, que pediu para não ter o nome revelado, disse que também votou em Dilma em 2010 e não vai votar agora, "mesmo que a igreja a apoie". A Universal é ligada ao PRB, da base da presidente.

O casal diz não ter percebido nenhuma diferença no tratamento dado por Dilma aos evangélicos e a outros religiosos. Mas Santos não gostou da aprovação da união estável entre homossexuais pelo Supremo: "Foi Dilma ganhar e agora pode casar homem com homem e mulher com mulher". Mesmo assim, ele não apoia Marina Silva, vice de Eduardo Campos (PSB). Para ele, Marina é "traíra" porque "recebeu cargo de confiança do [ex presidente Luiz Inácio] Lula [da Silva] e depois virou as costas para ele". Marina foi ministra de Lula.

As 10 mil cadeiras do templo estavam ocupadas durante o culto. "Nada pode dar errado amanhã", disse, na quarta-feira, o pastor Igor. "Nem eu consegui acesso". Para a celebração de ontem foram convidadas apenas autoridades, personalidades, como o apresentador Silvio Santos, e bispos e lideranças da Universal no Brasil e no mundo. Há mais de 7,5 mil igrejas da Universal, segundo o site da congregação.

O Templo de Salomão pode ser uma aposta de Edir Macedo para recuperar fiéis. A Universal foi fundada em julho de 1977 por Edir Macedo. De lá para cá, sua importância caiu entre os evangélicos.

Em 1991, 14 anos depois de ter sido fundada, a Universal somava 269 mil fiéis - 2% do total de evangélicos do país, que segundo o IBGE era de 13,189 milhões. Em 2000, o Censo apontou crescimento significativo no número de evangélicos - 26,185 milhões - e expressivo aumento no total de fiéis da Universal, que passou para 2,1 milhões (8% do total). Mas o Censo de 2010 registrou queda no rebanho da Universal, com 1,873 milhão (4%). O número de evangélicos continuou a crescer, em ritmo menor, e atingiu 42,2 milhões de pessoas. A igreja com mais fiéis, 12,3 milhões (29%), é a Assembleia de Deus.

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