quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Luiz Carlos Azedo: A herança em disputa

• O deputado Beto Albuquerque (RS) será o vice, depois de complicadas negociações no Recife. O político gaúcho enfrentou uma queda de braço com um mineiro e três pernambucano para entrar na chapa

- Correio Braziliense

Marina Silva tem luz própria. A rigor, precisa mais da legenda do PSB do que dos votos de Eduardo Campos, que herdou por gravidade, para se projetar como alternativa de poder. As pesquisas mostram isso. O problema é que o ex-governador de Pernambuco não tem um herdeiro político — vários caciques do PSB disputam a liderança da legenda e se digladiam. Isso ameaça travar a campanha de Marina na largada.

Ontem, no horário eleitoral, o que se viu foram os adversários de Marina se posicionando, cada qual a seu modo, para minimizar os estragos que a comoção causada pela morte precoce do líder pernambucano poderia provocar nas respectivas candidaturas. As homenagens a Eduardo Campos deram o tom dos programas. O tempo de Marina Silva, protagonizado por Eduardo Campos, porém, serviu para cacifar o PSB nas negociações com a aliada. A candidata pegou apenas uma carona.

Ponto para o candidato do PSDB, Aécio Neves, com 4 minutos e 35 segundos de tempo de televisão, que usou parte do programa da coligação Muda Brasil para lembrar Eduardo Campos. Ambos se conheceram na campanha das “Diretas Já!”, em companhia dos avós Tancredo Neves e Miguel Arraes, que governaram Minas Gerais e Pernambuco, respectivamente. O tucano destacou a convergência de propósitos entre ambos.

Com 11 minutos e 24 segundos, Dilma fez a mesma coisa, além de ressaltar a queda na taxa de desemprego e os resultados de programas sociais. A estrela de seu programa foi o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que homenageou Eduardo Campos. Além de falar que tinha uma relação de “pai e filho” com o ex-governador de Pernambuco, Lula pongou uma de suas últimas frases de efeito: “Não podemos desistir do Brasil”.

Marina Silva, até ontem, não tinha um companheiro de chapa nem fora oficializada como candidata a presidente da República porque a cúpula do PSB não se entendia, o que só deve ocorrer hoje. O deputado Beto Albuquerque (RS) será o vice, depois de complicadas negociações no Recife. O político gaúcho enfrentou uma queda de braço com o mineiro Júlio Delgado, outro nome que era aventado para a chapa.

Em Pernambuco, o deputado federal Danilo Cabral, o ex-deputado Maurício Rands e o ex-ministro Fernando Bezerra Coelho, candidato ao Senado, também disputavam a vice. No fim da tarde, o prefeito do Recife, Geraldo Julio, o candidato Paulo Câmara e a viúva Renata Campos, reunidos com Roberto Amaral e o secretário-geral Carlos Siqueira, bateram o martelo a favor de Albuquerque.

O impasse em Pernambuco motivou o cancelamento da reunião da cúpula do partido que estava marcada para ontem, em Brasília. A confusão no PSB preocupa os aliados. O presidente em exercício da legenda, Roberto Amaral, se digladia internamente com o deputado Márcio França, vice na chapa do governador Geraldo Alckmin (PSDB), palanque no qual, segundo o ex-deputado Walter Feldman, porta-voz da Rede nas articulações políticas, Marina não pretende subir.

Se está assim em São Paulo, onde o tucano é franco-favorito a vencer as eleições no primeiro turno, o que acontece entre o PSB e a Rede nos demais estados onde têm palanques separados pode ser ainda pior. Como no Rio de Janeiro, onde Marina também rejeita o palanque de Lindbergh Farias (PT) com Romário (PSB). Uma das exigências da cúpula do PSB é de que os acordos regionais fechados por Eduardo Campos sejam respeitados. É pouco provável.

Saúde vai mal
Apesar do entusiasmo da presidente Dilma Rousseff com o programa Mais Médicos, pesquisa do Instituto Datafolha feita a pedido do Conselho Federal de Medicina (CFM) e da Associação Paulista de Medicina (APM) mostra resultados muitos negativos para o governo. Filas de espera, falta de acesso aos serviços públicos e má gestão de recursos são os principais problemas apontados. A saúde é apontada como a área de maior importância para 87% dos brasileiros; 57% consideram uma prioridade para o governo federal.

Mais da metade dos entrevistados relataram ser difícil ou muito difícil cirurgias, atendimento domiciliar e procedimentos específicos, como hemodiálise e quimioterapia. Em relação à qualidade dos serviços, 70% dos que buscaram o SUS disseram estar insatisfeitos e atribuíram avaliações que variam de regular a péssimo. Urgências, emergências e pronto-socorros são amplamente reprovados.

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