quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Painel :: Bernardo Mello Franco

- Folha de S. Paulo

A hora de Marina
Abalada com a morte de Eduardo Campos, Marina Silva atendeu ligações de amigos e parentes, mas se recolheu durante boa parte do dia para fazer orações e meditar. Antes do breve pronunciamento em Santos, avisou a aliados, a portas fechadas: "Não é hora de discutir política". Mais tarde, disse o mesmo a integrantes da Rede Sustentabilidade que buscavam orientação sobre o futuro da chapa. "Nem as pessoas mais íntimas conseguiriam arrancar algo dela agora", disse um deputado.

Choque Marina estava em seu apartamento em São Paulo quando soube do acidente. Após a confirmação da tragédia, chorou muito.

Tempo O governador Geraldo Alckmin disse à ex-senadora que a liberação dos corpos pelo IML pode levar até cinco dias. Só após o enterro ela deve falar do futuro.

Família À noite, após se despedir dos assessores, Marina ficou em casa na companhia da filha caçula, de uma irmã e de um sobrinho.

Roda Dirigentes do PSB terão hoje as primeiras conversas sobre o destino da candidatura. O ex-ministro Roberto Amaral viajou para São Paulo. Primeiro vice-presidente do partido, ele é o substituto imediato de Campos.

Tensão Amaral e Marina já tiveram fortes atritos. Em 2013, ele declarou que a Rede seria um partido "fundamentalista, religioso e preconceituoso". Marineiros temem que ele agora defenda uma adesão a Dilma Rousseff (PT).

Silêncio O ex-ministro disse ontem que não tinha condições de pensar no futuro da chapa. "Estou com a cabeça em outro lugar."

Desunião Um deputado próximo à vice espera novos conflitos. "Vai ter muita resistência, a começar pelo Amaral. O único consenso no PSB é a antipatia à Marina."

Moderadora Marineiros torcem para que a viúva Renata Campos tenha voz ativa na definição do rumo do partido. As duas ficaram muito amigas nos últimos meses.

Futuro Boa parte do PSB já defende a manutenção de uma terceira via. "Temos consciência da nossa responsabilidade", diz a senadora Lídice da Mata (PSB-BA).

É ela A maioria dos integrantes da campanha de Dilma Rousseff acredita que Marina será candidata. O PT está cauteloso sobre a nova configuração do xadrez eleitoral.

Potencial Em princípio, a ex-senadora é considerada uma adversária mais forte do que Campos. No entanto, os petistas acreditam que ela se enfraquecerá caso não escolha um vice que controle a máquina do PSB.

Descolados Nesse cenário, governadores do PSB como Renato Casagrande (Espírito Santo) e Camilo Capiberibe (Amapá), que resistiram a se desvincular do PT, não entrariam com força na disputa.

Prorrogação A estimativa de dilmistas é que Marina agregue eleitores que hoje votam em branco ou nulo, o que impulsionaria a realização de um segundo turno.

Última impressão Antes de decolar no Rio, Campos estava entusiasmado com sua entrevista ao "Jornal Nacional". "Ele estava vibrando no telefone", diz Cláudio Valverde, secretário paulista de Turismo, que o aguardava na base aérea de Guarujá.

Na linha Fernando Henrique Cardoso estava em casa quando soube da tragédia em Santos. Quem o avisou por telefone foi José Roberto Marinho, vice-presidente das Organizações Globo.

Borracha O site Muda Mais, da campanha de Dilma, apagou texto que atacava a participação de Campos no "JN". O Blog da Dilma, mantido por militantes petistas, não seguiu o exemplo.

Esperança Nascido em 1965, Campos repetia a aliados que seria o primeiro presidente da geração pós-64. Dilma e Aécio Neves (PSDB) nasceram antes do golpe.
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Tiroteio
"Eduardo Campos acendeu uma chama e nós não vamos deixar que ela se apague. A melhor forma de homenageá-lo é ir adiante."
DO DEPUTADO BETO ALBUQUERQUE (PSB-RS), líder da bancada na Câmara, sobre a continuidade da terceira via na corrida presidencial deste ano.
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Contraponto
Nos braços do povo
Eduardo Campos adorava fazer campanha de rua. Em visita a Campina Grande, o ex-deputado Pedro Valadares, que também morreu no trágico acidente de ontem, chamou atenção para sua desenvoltura ao ser assediado por populares.
--Esse cabra é o cão chupando manga. Viu como o povo ama ele? --observou, a uma repórter da revista "Piauí" que registrou a cena em perfil do candidato.
--Não tem palestra para intelectual, não tem encontro com empresário, não tem é nada. O negócio dele é o povo!

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