sábado, 20 de setembro de 2014

Fernando Rodrigues: Dilma, JK e o lago Paranoá

- Folha de S. Paulo

A campanha de Dilma Rousseff comemorou muito o resultado da pesquisa Datafolha que coloca a petista com 37% das intenções de voto, contra 30% de Marina Silva (PSB). Sem contar o quase "fora do jogo" Aécio Neves (PSDB), com 17%.

Logo cedo ontem (19), às 7h38, chegou ao meu celular uma mensagem do QG dilmista. Reescrevo e traduzo o conteúdo: "Lembra-se do telegrama de Juscelino Kubitschek ao escritor Gustavo Corção sobre o lago Paranoá? Encheu, viu". Adaptando esse episódio para a estratégia de Dilma atacar Marina: funcionou, né"?".

Trata-se de um caso pitoresco a respeito da construção de Brasília. Corção era um crítico da mudança da capital do Rio para o interior de Goiás. Engenheiro, dizia que a represa em torno da nova cidade não encheria nunca. O solo daqui seria muito poroso. Mas a água foi subindo e formou-se o lago Paranoá. Foi a razão de JK enviar o sucinto telegrama.

É mais ou menos o que teria se passado com Dilma e Marina. Há cerca de 20 dias, a petista iniciou a pancadaria contra a adversária direta. Houve dúvidas no PT sobre a eficácia da estratégia. Quando saiu a pesquisa Datafolha realizada nesta semana, os defensores da "narrativa do medo" para desconstruir a pessebista comemoraram: "Funcionou, né?".

A propaganda dilmista estimulou nos eleitores um dos sentimentos fundamentais no dia a dia das pessoas: o medo do desconhecido. Em certa medida, essa foi a força motriz que levou a Escócia a rejeitar a separação do Reino Unido --ninguém sabia ao certo como funcionaria na prática essa nova divisão política.

No caso de Dilma e Marina, faltam ainda cinco semanas até o segundo turno. É tempo suficiente para Dilma encher seu "lago Paranoá de votos" na base do medo das pessoas. E há também condições de Marina explicar para os eleitores como seria seu eventual governo, dissipando o temor do desconhecido que a impede, hoje, de fixar-se como favorita.

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