• Se piscar, pemedebista perde a cadeira
- Valor Econômico
Há uma semana, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) esteve no Palácio da Alvorada para uma conversa reservada com a presidente Dilma Rousseff. A pauta não foi revelada, mas com certeza falaram da composição do ministério e da sucessão nas presidências das duas Casas do Congresso, entre outras coisas. Assunto é o que não falta entre os dois, que estão mais próximos após as eleições.
Um precisa do outro. A presidente, que aos poucos vai se descolando do PT, será mais dependente do PMDB no Congresso no novo mandato. Em especial no Senado, onde a oposição promete ser mais forte e qualificada a partir de 2015. Renan, por sua vez, encontra no apoio de Dilma reforço importante para sua reeleição em fevereiro no comando do Senado.
O pemedebista é, sim, candidatíssimo à recondução na Presidência do Senado, embora recentemente tenha dito o contrário. Só não disputará a reeleição se perder as condições políticas, como, por exemplo, em razão de eventuais desdobramentos das delações premiadas do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Yousseff, envolvidos no esquema de corrupção da estatal.
Mesmo sendo considerada remota pelos colegas, a perspectiva de desistência de Renan estimula movimentação nos bastidores do Senado. Vários nomes já circulam na própria bancada pemedebista, cuja ala independente do governo deverá ser reforçada. Em parte pelos senadores ressentidos com o resultado eleitoral e em parte por novatos que assumirão em 2015.
Entre os senadores do PMDB citados como potenciais pré-candidatos à Presidência do Senado, se Renan estiver fora, estão o líder da bancada, Eunício Oliveira (CE), o ex-governador e ex-presidente nacional do partido Luiz Henrique (SC) e Waldemir Moka (MS), que tem habilidade política e bom trânsito em todos os setores da Casa. Outra alternativa considerada boa para o perfil de Moka seria a liderança da bancada, caso Eunício fosse o candidato à sucessão de Renan.
O presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e das Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) que investigam operações da Petrobras, Vital do Rêgo (PB), está sendo mais cotado para ocupar a vaga do ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) José Jorge, que está se aposentando. Por sua ligação com Renan, Vital também está cogitado para comandar um dos ministérios do PMDB. O preferido é o de Integração Nacional.
Um dado novo da bancada do PMDB explorado nas negociações de coxia é o fato de os Estados de Santa Catarina, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul e Paraíba terem dois senadores (dos três de suas bancadas) do PMDB. Desse conjunto de oito parlamentares, seis têm um perfil mais independente do Planalto - Luiz Henrique (SC), Dário Berger (SC), Ricardo Ferraço (ES), Rose de Freitas (ES), Waldemir Moka (MS) e Simone Tebet (MS).
Da Paraíba, Vital é ligado a Renan, mas foi prejudicado pelo PT na eleição para o governo do Estado. O ex-governador José Maranhão (PB), eleito agora, é dúvida. Há integrantes da bancada que votaram com a oposição na eleição presidencial, como Romero Jucá (RR), ou que se sentem prejudicados pelo governo, como Eunício Oliveira (CE).
Ao contrário do que acontece na Câmara dos Deputados, onde o PT continuará com a maior bancada (tem 88 e terá 70 deputados) e articula uma candidatura para barrar a eleição do líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), no Senado o direito do PMDB ao comando da Casa não é contestado pelos petistas.
O que acontece nas eleições da mesa diretora, em geral, é a apresentação de candidatura alternativa, que aglutina uma minoria insatisfeita com a hegemonia pemedebista. O PMDB passará de 19 para 18 senadores em 2015, mas continuará com o maior número de parlamentares na Casa.
Enquanto Eduardo Cunha já lançou sua pré-candidatura a presidente da Câmara e já está sendo bombardeado pelo PT e pelo governo, Renan deve anunciar sua decisão apenas dias antes da eleição, que ocorre no início da legislatura, em fevereiro. Argumenta que a discussão é prematura e que há necessidade de aguardar a chegada dos calouros da bancada (cinco).
Enquanto adia a revelação sobre ser ou não candidato à reeleição, o pemedebista mantém as pretensões dos demais integrantes da bancada represadas às conversas de bastidores. Além disso, procura se preservar de tentativas de negociação de apoio em troca de qualquer tipo de benefício, como espaço no governo.
Para alguns parlamentares do próprio partido, no entanto, o mergulho de Renan é necessário, para aguardar as revelações dos depoimentos de Paulo Roberto Costa e Alberto Yousseff sobre o esquema de corrupção na Petrobras.
Há poucos dias, Sergio Machado - aliado de Renan e considerado seu afilhado político no governo - licenciou-se da presidência da Transpetro, subsidiária de logística da estatal, por pressão da empresa PwC, que condicionou a auditoria nas demonstrações financeiras da Petrobras ao afastamento.
A interlocutores, Renan diz que tem "preocupação zero" com eventuais revelações de Paulo Roberto ou Youssef.
Essas aparentes dificuldades que Dilma poderá enfrentar no Senado valorizam o papel de Renan para o Planalto. Ele já está trabalhando para aproximar do governo alguns dos potenciais "rebeldes".
A indicação de Romero Jucá, ex-líder do governo que votou em Aécio Neves, para relatar o projeto de lei que permite o descumprimento do superávit fiscal chamou a atenção. Há quem especule também que cogitar a ida de Vital para o TCU, contrariando a intenção da presidente de indicar a ministra Ideli Salvatti para a vaga, uma forma de negociar o que o senador da Paraíba realmente quer: um ministério forte. Para adversários, no entanto, o presidente do Senado quer um homem forte no TCU, para ajudá-lo em eventuais problemas. O fato é que, enquanto nega, Renan trabalhando a todo vapor para consolidar sua candidatura.
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