quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

OPINIÃO DO DIA - Eros Roberto Grau

Quem concluiu que alguns descumpriram o dever de viver honestamente - e concluiu na e pela sua voz enquanto uma de suas porções, o Supremo Tribunal Federal - foi o Estado. Quem o afirmou, no processo judicial conhecido como "mensalão", foi o Estado brasileiro. Pois a autoridade do Estado é uma totalidade indivisível, sua organização em funções - legislativa, executiva e jurisdicional - prestando-se unicamente a aprimorar seu funcionamento.

Por isso causa espanto e estupor, horroriza mesmo o fato de um partido político, reunido em congresso nacional, desagravar "companheiros injustiçados", inusitada e desabridamente afrontando o Estado. O que vimos foi um partido político investindo não contra outro partido político (por isso são "partidos"), porém contra o próprio Estado. Contra o bom funcionamento do Estado, em benefício do qual deveriam concorrer.

O mais grave está em que essa agressão ao Estado - insista-se neste ponto: o Judiciário é uma face do Estado -, isto é, o mais grave é a circunstância de tal agressão ter sido perpetrada em presença do anterior presidente da República e de quem lhe sucedeu, sem que, ao que consta, nenhum deles se tenha oposto a essa desmedida afronta à própria soberania e ao regime democrático.

Eros Roberto Grau, “Partidos políticos e Estado”. O Estado de S. Paulo, 31/12/2013.

Copa, eleições e mais transtornos de obras prometem marcar 2014

Este ano, cidade do Rio começa a se preparar para celebrar os 450 anos em 2015 e receber as Olimpíadas no ano seguinte

RIO — Diante do caminhão de novidades que chega ao Rio com 2014, talvez o Rei dissesse “são tantas emoções...”: Copa do Mundo, eleições, possível volta das manifestações de rua, obras e mais obras pela cidade, que começa a se preparar para os festejos do seus 450 anos, em 2015, e caminha para os Jogos Olímpicos no ano seguinte. A astróloga Maína Mello diz que o ano será agitado na Cidade Maravilhosa:

— O Rio não está passando por um momento fácil nem do ponto de vista astrológico. Os astros sugerem que as feridas da cidade estão cada vez mais evidentes, escancaradas, abertas mesmo. Mas, como na astrologia nada é intrinsecamente bom ou ruim, a abertura dessas feridas é também o que pode estimular a cura. Quando os problemas estão assim evidentes, não há alternativa a não ser procurar soluções — diz Maína, referindo-se aos transtornos relacionados à Copa e à insatisfação da população com a política.

O cantor e compositor Moacyr Luz, de conhecido bom humor, é mais confiante:

— Eu preciso confiar nos eventos e transformações pelos quais a cidade vai passar em 2014! Não é possível que, depois de tanta poeira e implosão, não mude para melhor.

Luiz Antônio Simas, especialista em cultura popular, também vê um ano de fortes emoções:

— A Copa e a preparação para os Jogos Olímpicos vão alterar dramaticamente a cidade. E o que aconteceu em 2013 com a onda de protestos pode se afirmar em 2014. Mas para onde vai esse processo, ninguém em sã consciência pode dizer.

Para Simas, 2014 será um ano cheio de tensão, que pode tender para o criativo ou fugir do controle. O historiador defende a tese de que o personagem do Rio este ano será a rua, mais do que representou em 2013, e que o grande risco de calamidade na cidade tem a ver com a mobilidade urbana:

— Teremos os 450 anos do Rio em 2015, e isso vai começar a ser discutido agora em 2014. Este ano o carnaval é em março, aí em junho começa a Copa, e depois vêm as eleições em outubro. O carioca em 2014 não morre de tédio!

O cientista político da PUC-RJ Ricardo Ismael adianta que o Rio em 2014 estará dividido entre as tensões do futebol, da política e dos desdobramentos das manifestações.

— Não é todo dia que o Brasil sedia uma Copa. Para a minha geração, que não viveu a Copa de 50, realmente é um fato raro. E o Brasil tem chances de vencer essa Copa. Além disso, tem o fato de o país receber muitas seleções e turistas. Evidentemente, o Rio de Janeiro terá uma evidência enorme — afirma.

Da sua casa na Serra, o cartunista Lan também não duvida que 2014 será um ano bem movimentado. Ele revela alguns dos seus desejos:

— Uma coisa que desejo é que o eleitor pense muito em quem votar . Espero que o Rio esteja preparado para receber os jogos da Copa e que tudo corra na maior tranquilidade.

Fonte: O Globo

2014 - O ano que não vamos esquecer

Os próximos 365 dias ficarão na memória do brasileiro. Na política, a segunda etapa do julgamento do mensalão e as possíveis manifestações de rua serão a prévia das eleições, que poderão manter o ciclo do PT no poder ou alçar novos dirigentes ao Palácio do Planalto. Qualquer que seja o novo presidente, herdará desafios imensos na economia, como uma trajetória de inflação alta e baixo crescimento. Antes que se defina tal cenário, no entanto, os olhos do mundo estarão voltados para o esporte: a Copado Mundo será um teste para o país, que ainda engatinha nos quesitos planejamento e infraestrutura. Lá fora, também é tempo de turbulência, sobretudo para o líder da nação mais poderosa do mundo: Barack Obama, que enfrenta os mais baixos índices de popularidade. Em Brasília, a população alimenta a esperança por sonhos particulares, como casar-se, abrir uma empresa ou ganhar uma competição, mas também vive as expectativas coletivas com os grandes eventos. Se Neymar decepcionar, ainda restarão os super-heróis da ficção. Sim, eles serão protagonistas da cultura em 2014.

Turbilhão à vista na política nacional

O ano de 2014, que começou oficialmente à meia-noite de hoje, tem tudo para deixar os próximos 365 dias marcados na memória de todos os brasileiros. É ano de eleição presidencial, de Copa do Mundo no Brasil, de ruas repletas de manifestantes pedindo transporte público de qualidade, saúde, educação e dignidade na política. Tempo em que o Supremo Tribunal Federal (STF) poderá decretar o fim das doações de empresas para campanhas eleitorais, abrindo espaço para a reforma política. E que os ministros devem terminar de julgar o mensalão petista e iniciar o julgamento de outros casos políticos emblemáticos, mostrando que não compõem uma Corte que persegue os militantes do PT.

O ano será delicado para a economia. O país já não é tão robusto quanto tempos atrás e é visto com desconfiança por investidores estrangeiros. Mesmo assim, a inflação dá sinais de que seguirá sob controle, e a presidente aposta na manutenção do emprego e da renda para se reeleger. Caso consiga permanecer por mais quatro anos no Planalto, o feito levará o PT a completar um ciclo hegemônico de 16 anos à frente do Executivo federal. "Eles falavam tanto em 20 anos no poder e nós já estamos há 12 aqui (no governo)", declarou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante o 5º Congresso do PT, realizado no início de dezembro, em Brasília. "Eles", no caso, são os tucanos, que governaram o Brasil com Fernando Henrique Cardoso por oito anos e ressuscitaram o capital político do ex-presidente para alavancar a candidatura do senador mineiro Aécio Neves (PSDB).

Um dos adversários de Dilma que tentará impedir a permanência do PT no Planalto, Aécio subiu o tom das críticas ao governo nos últimos dias, acusando a presidente de viver em uma "ilha da fantasia". Para ele, durante o pronunciamento em cadeia de rádio e tevê que fez no domingo passado, Dilma errou ao não abordar questões que estiveram presentes na vida dos brasileiros em 2013. "Nenhuma menção à situação das empresas públicas, à inflação acima do centro de meta, à situação das estradas, à crise da segurança e à epidemia do crack", atacou o tucano, em nota.

Na briga pelas chaves do Palácio do Planato, há ainda Eduardo Campos (PSB), que rompeu a parceria de 10 anos com o PT para planejar o voo solo rumo à Presidência da República. Campos quer incorporar a imagem do novo, de opção à polarização PT-PSDB. Ele também criticou o Planalto nos últimos dias e direcionou a artilharia para as visitas que Dilma fez a Minas Gerais, em 27 de dezembro, e ao Espírito Santo, no dia 24, para vistoriar o estrago das chuvas nos dois estados. "Olha, eu sempre digo que não adianta colocar uma tranca na porta da sala depois que o ladrão já assaltou a casa. E esse é um dos maiores problemas da velha política do Brasil: só existem quando ocorrem. Não há a menor estratégia para tentar evitá-los ou reduzir o impacto antes que eles aconteçam", escreveu Eduardo, no domingo, em uma rede social.

As declarações do governador pernambucano levaram o Planalto a reagir, e a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, também utilizou a internet para rebater as críticas. "Lamentável o oportunismo político do governador Eduardo Campos em usar momentos de desgraça para tentar se promover. Tudo o que foi proposto pelo Ministério da Integração para agilizar socorro, reconstrução e prevenção a desastres naturais foi encaminhado", registrou a ministra, por meio da conta da Casa Civil em uma rede social.

Tanto Aécio quanto Campos têm um desafio em comum: conquistar a confiança do eleitorado. A presidente está em situação melhor do que os concorrentes, mas, mesmo assim, sofreu após junho. Antes das manifestações de rua, ela tinha 67% de aprovação do eleitorado. Hoje, está com 43%. A classe política anda desgastada perante a opinião pública. Nomes como o do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), que deixa o cargo em março para concorrer ao Senado, foram afetados com a redução de popularidade nas pesquisas de intenção de voto. Apresentado como alternativa aos quadros políticos tradicionais, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), também despencou na avaliação positiva em seu primeiro ano de mandato e torce por dias melhores a partir de hoje.

Copa do Mundo
Este será o ano da Copa do Mundo. Desde que o general Emílio Garrastazu Médici associou a própria imagem à equipe tricampeã em 1970, acredita-se que o êxito da Seleção Brasileira ajuda a obter sucesso na disputa presidencial. Ledo engano. Em 2002, o Brasil foi pentacampeão mundial e Lula derrotou os tucanos, no posto desde 1995. Em 2006 e em 2010, o Brasil voltou mais cedo para casa e os petistas mantiveram-se no Planalto. "O resultado será mais fora do campo do que dentro. Se a Copa der certo, do ponto de vista organizacional, o governo levará vantagem", aposta um aliado de Dilma.

Antes de saber se o resultado final será positivo — tanto para a Seleção quanto para a presidente —, contudo, espera-se novamente as ruas cheias de manifestantes. "Os movimentos sociais, com certeza, ditarão as regras neste ano. Tendo como estopim os gastos para a Copa do Mundo, as pessoas retomarão, com muito mais intensidade, os protestos iniciados em 2013 e que atordoaram os governantes, impondo uma nova ordem política ao país", acredita o cientista político Rafael Cortez.

Para o deputado Walter Feldmann (PSB-SP), que a Rede pressiona para concorrer ao governo de São Paulo, apesar de os socialistas torcerem para uma aliança com o governador Geraldo Alckmin (PSDB), este será o ano "que mudará os rumos do Brasil". Na opinião dele, o otimismo não é discurso vazio de político: "2013 foi uma preliminar para mostrar que o polo de mudança do país não está mais nas mãos da classe política, mas da população. Ainda existem pessoas que mantêm o pensamento antigo, mas elas perceberão que, daqui em diante, um novo pacto com a sociedade terá de ser firmado".

Fonte: Correio Braziliense

Quando a rua ameaça o poder do palácio

O fato político mais importante de 2013 foi, de longe, a série de manifestações de rua que irromperam por todo o País no mês de junho.

À margem de partidos e de organizações tradicionais, como sindicatos e grupos religiosos, elas deixaram à mostra um profundo estado de mal-estar da sociedade brasileira em relação aos serviços públicos, àforma como são empregados os recursos obtidos com impostos, à corrupção crônica, à violência policial e às entidades de representação política, entre tantas outras causas levadas à rua naqueles dias.

Centenas de artigos e vários livros já tentaram analisar as causas e os efeitos daquela movimentação de características praticamente inéditas, apesar das semelhanças com outros movimentos de massa na história recente do País, como a Passeata dos Cem Mil, contra a ditadura militar (1968); a campanha pelas Diretas Já (1984); e a ação dos caras- pintadas pelo impeachment do presidente Fernando Collor de Mello (1992).

Passados seis meses, a pergunta que se faz é o que restou daquela agitação e das respostas que os governos e partidos políticos tentaram dar às pressas ao movimento.

Pode-se afirmar que a face política do País mudou? Que a juventude quebrou de forma definitiva um estado de passividade, passando a se envolver mais com a política? Que as entidades de representação política foram transformadas? Os partidos se tornaram mais permeáveis à voz das ruas?

O Estado convidou dois analistas políticos para darem suas opiniões. Para um deles o efeito do fenômeno de junho é permanente. Para outro, ele já comecou a desmoronar. Leia abaixo.

DEBATE
As manifestações desencadeadas em junho por todo o País mudaram a política brasileira?

Aldo Fomazieri *

SIM• Os surpreendentes protestos que se desencadearam a partir de junho mudaram o cenário político brasileiro e produziram enorme impacto sobre governos e partidos. A brusca queda na avaliação dos governantes e o desprestígio das instituições configurando uma crise de representatividade, obrigaram políticos e partidos a pôr sobre a mesa pautas esquecidas nas gavetas do poder.

A questão do transporte e da mobilidade urbana ganhou status de problema nacional, pressionando os governos.

Na sequência das manifestações se especificaram outras pautas relevantes: a saúde, a educação de qualidade, a moradia e a segurança pública e também os temas da reforma política e o combate à corrupção. No segundo semestre, se destacaram os protestos por moradia e contra as desocupações violentas e os conflitos em torno da violência das polícias.

Se olharmos para esse panorama que parece difuso, mas não é notaremos que o seu núcleo está relacionado ao problema da falta de garantia de direitos a serviços públicos de qualidade. Nesse sentido, é possível dizer que os protestos de junho inauguraram um novo ciclo da luta social no Brasil.

Desde a década de 1970, o Brasil vinha lutando por direitos trabalhistas, pela renda e pela inclusão social, além das pautas políticas como Diretas, Constituinte, impeachment etc. Com os ganhos em renda e direitos trabalhistas e com a inclusão social, que se consolidaram nos últimos 20 anos, ocorreu uma espécie de absorção institucional das demandas que vinham dos movimentos sociais e dos sindicatos. Isto foi notório a partir dos governos petistas.

Mas, tanto os governos petistas quanto os governos tucanos deixaram para trás um grave déficit na garantia efetiva de serviços públicos de qualidade. Deixaram como herança uma estrutura estatal enferrujada, cara e ineficiente.

O Congresso, por sua vez, acomodado no seu sistema de autoproteção, não foi capaz de fazer reformas essenciais à modernização do País, ao avanço da democracia e à elevação do padrão de justiça: reformas política, tributária, judiciária etc. Essa é a síntese da crise atual. Crise que não será resolvida apenas na institu-cionalidade dos governos e dos parlamentos. Ela comporta uma batalha pela redefinição de prioridades e alocação de recursos. A satisfação das demandas sociais só será atendida se os movimen tos permanecerem ativos nas ruas.

É professor da Escola de Sociologia e Política de São Paulo

Marco Antonio Teixeira:
NÃO. As manifestações de julho explicitaram a indignação dos brasileiros com o padrão de comportamento da classe política. O que inicialmente parecia ser apenas um protesto contra o aumento das tarifas do transporte coletivo acabou se convertendo numa profusão de pautas. As ruas foram tomadas por bandeiras com críticas à forma de fazer política, por maior qualidade dos serviços e das políticas públicas e em defesa do bom uso do dinheiro público.

Respostas atônitas surgiram como efeito dos protestos. Dilma Rousseff propôs pactos nacionais em defesa da responsabilidade fiscal, qualidade das políticas públicas e reforma política com plebiscito. Deputados e senadores retomaram a reforma política e projetos de combate à corrupção. Criou-se a expectativa de uma rápida mudança no comportamento dos políticos.

De forma inédita, os manifestantes prescindiram de interlocutores, de lideranças políticas e dos partidos, num contexto em que líderes, partidos e organizações públicas são os que, de fato, fazem mudanças institucionais. Isso dificultou a abertura de diálogo com os órgãos governamentais.

Passados seis meses, a pressão social perdeu seu ímpeto. O debate da reforma política pouco avançou e caberá ao STF decidir sobre a possível proibição de financiamento de campanha por empresas. Por mais que o voto secreto para a cassação de parlamentares deprecição de vetos presidenciais tenham caído, isso so foi possível após a repercussão da manutenção do mandato do deputado federal Natan Donadon.

A Assembleia Legislativa paulista silencia sobre o suposto Cartel dos Trens da CPTM. A utilização de bens públicos para fins privados voltou a frequentar o noticiário de forma generalizada. Tudo isso sem que a indignação pública fosse novamente despertada.

E inegável que os protestos de junho representaram um avanço ao reafirmar que a pressão social é um caminho importante para que autoridades públicas se sensibilizem com questões que inquietam a sociedade. Porém, uma reforma política profunda, a melhoria dos serviços e das políticas públicas e maior transparência sobre os recursos públicos são construções institucionais em que a sociedade e o mundo da política não podem prescindir de um processo organizado de interação e onde a pressão social desempenha papel indispensável.

* Professor do curso de administração pública da Fundação Getúlio Vargas / São Paulo

Fonte: O Estado de S. Paulo

Brics chegam a 2014 ameaçados pelo risco de rebaixamento por agências de rating

Com indicadores piores, Brasil e Índia apresentam maior fragilidade

Martha Beck

BRASÍLIA - Um grupo de países com potencial para se tornarem economias dominantes no mundo em 2050. Foi assim que o ex-presidente do Goldman Sachs Asset Management Jim O’Neill, definiu Brasil, Rússia, Índia e China em 2001, quando cunhou o termo Bric. Mas uma análise dos principais indicadores dessas economias nos últimos cinco anos mostra que a maioria delas sofreu com a crise mundial iniciada em 2008 e hoje possui alguma fragilidade, seja no campo fiscal, monetário ou externo, o que aumenta o risco de rebaixamento pelas agências de rating em 2014.

— Na realidade, há um desencanto geral com os Brics. A China ainda é forte e parece ter conseguido fazer um pouso suave depois da crise. Mas o fato é que o resto do mundo começou a olhar para outros mercados emergentes com mais atenção — afirma o diretor de pesquisa da Brasil Investimentos e Negócios (Brain), André Sacconato, lembrando que o próprio Jim O’Neill agora vem destacando a sigla Mint, de México, Indonésia, Nigéria e Turquia.

Dados reunidos pela agência Austin Rating, a pedido do GLOBO, apontam Brasil e Índia como os candidatos com maior chance de terem o rating revisto para baixo pelas grandes agências, pois já estão com perspectiva negativa em pelo menos uma delas, a Standard & Poor’s (S&P).

 A situação de ambos só não é pior que a da África do Sul, país que foi agregado ao Bric posteriormente, mudando seu nome para Bricas. Neste caso, há perspectiva negativa com duas agências: a Moody’s e a S&P. Rússia e China, por sua vez, são os que possuem notas mais altas junto às agências e perspectiva estável em todas.

— Brasil e Índia têm um risco claro de downgrade em 2014, assim como a África do Sul. Os mais protegidos neste momento ainda são Rússia e China — afirma o economista-chefe da Austin, Alex Agostini.

Brasil: dificuldades com contas públicas
O diretor da S&P responsável pelo Brasil, Sebastian Briozzo, afirma que o país tem como maior ponto negativo hoje a dificuldades de gerir as contas públicas. Esse quadro se agrava pelo fraco desempenho da economia e pela baixa taxa de investimento. Nos últimos cinco anos, o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) brasileiro cresceu, em média, 3,2%, enquanto a taxa de investimento ficou em 18,8% do PIB. Já a Índia registrou um crescimento médio de 6,5% e o investimento, 35,6% do PIB.

— O Brasil tem que fazer algo crível do lado fiscal logo — destaca Briozzo.

O economista, observa, por outro lado, que um rebaixamento seria mais desfavorável para a Índia do que para o Brasil. Isso porque a economia indiana tem hoje uma nota um pouco mais baixa que a brasileira e, se fosse rebaixada pela S&P, perderia o grau de investimento, selo de garantia dado às economias consideradas mais seguras pelas agências. O Brasil, por sua vez, manteria o grau de investimento mesmo com o rebaixamento.

A avaliação mais desfavorável da Índia em relação ao Brasil hoje se explica por indicadores como inflação e endividamento. O país registrou a maior taxa de inflação dos Brics nos últimos cinco anos, 10,4%, assim como a maior dívida bruta, de 69,4% do PIB. O déficit em transações correntes também foi elevado, 3,3% do PIB, indicador melhor apenas que o da África do Sul, de 4,7%.

A Rússia também possui uma inflação elevada, de 8,7% nos últimos cinco anos e um crescimento baixo, de 1,9%. Por outro lado, a dívida bruta russa é baixa (10,8% em média) e o país tem um superávit em transações correntes de nada menos que 4,7% do PIB. Já a China, que tem o maior rating entre as agências de classificação de risco, registrou crescimento alto (9,3%), inflação baixa (2,9%) e uma taxa de investimento de 47,5% do PIB.

Para o ex-presidente do Banco Central e diretor do Centro de Economia Mundial da Fundação Getulio Vargas, Carlos Langoni, o Brasil precisa tomar cuidado para que a atual crise de credibilidade fiscal não se agrave em 2014, com o ano eleitoral e com as mudanças que os Estados Unidos farão em sua política monetária. O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) estuda retirar ainda mais os estímulos dados à economia durante a crise. Assim, poderia haver uma fuga de capitais de economias emergentes para o mercado americano em busca de investimentos mais seguros.

— Essa é uma ameaça real que é muito preocupante. O governo precisa agir logo para reverter a imagem negativa da política fiscal, anunciando uma meta para a dívida bruta nos próximos anos. É uma medida simples para resgatar a credibilidade e evitar um rebaixamento — destaca Langoni.
Segundo André Sacconato, a China é o integrante dos Brics que está mais preparado para enfrentar as turbulências que as mudanças nos Estados Unidos vão provocar. Isso porque o país tem reservas internacionais em torno de US$ 3,5 trilhões. Já os demais integrantes do grupo serão bastante afetados:

— Todo mundo tem que ficar de olho no possível aumento das taxas de juros nos Estados Unidos, pois, com exceção da China, que está um pouco mais protegida, todos vão sofrer.

Fonte: O Globo

Governo terá pouco espaço para estimular a economia

O governo não terá muito espaço para estimular a economia em 2014. Segundo economistas, essa situação ocorre por vários motivos: a inflação está próxima do teto da meta e o governo já usou artifícios para controlá-la, como segurar o reajuste dos combustíveis. Mudanças na economia dos EUA podem pressionar mais o câmbio e as agências de classificação de risco estão de olho no déficit das contas públicas brasileiras.

Em ano de eleição, governo terá pouco espaço para estimular a economia

Luiz Guilherme Gerhélli

O governo terá de lidar com diversas amarras em 2014, o que dará pouco espaço para estimular a economia brasileira. A expectativa é que o padrão econômico do País dos últimos anos se repita com baixo crescimento e inflação elevada.

Se o governo decidir por exemplo, aumentar os gastos para estimular a economia, a situação fiscal tende a piorar ainda mais, e aumenta o risco de o Brasil ser rebaixado pelas agências de risco num ano de disputa eleitoral - em junho, a agência Standard & Poor"s colocou a perspectiva de rating brasileiro de estável para negativo.

"O desejo do governo seria o de colocar o pé no acelerador porque 2014 é um ano eleitoral Mas existe uma restrição dada pelas agências de risco", afirma Juan Jensen, economista e sócio da Tendências Consultoria. A estimativa para 2014 é que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça 2,1% e inflação, medida pelo IPCA, fique em 6%.

A inflação, em particular, também tende a ser um incômodo neste ano por causa da pressão dos preços administrados. Em 2013, esse grupo foi beneficiado pelo congelamento das tarifas dos transportes e pelo baixo reajuste do combustível. Assim, os administrados devem subir apenas 1,5% em 2013, nível considerado baixo e que não deve se repetir em 2014.

"A economia está tão amarrada que desamarrá-la não vai ser fácil. A inflação reprimida está muito alta e, se o governo liberá-la, o BC terá de subir os juros para impedir um patamar mais alto da inflação", afirma Armando Castelar, coordenador da área de economia aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). Novas altas da taxa básica juros (Selic) podem esfriar ainda mais a economia brasileira. A expectativa do íbre é que o PIB cresça 1,8% em 2014, e a inflação fique em 6,1%.

O controle inflacionário também deve ser dificultado pela normatização da política monetária dos Estados Unidos, o que trará mais pressão para o câmbio - com a desvalorização do real - e um possível repasse para os preços. O Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) iniciou em dezembro a retirada dos estímulos da economia. Reduziu as compras mensais de ativos de US$ 85 bilhões para US$ 75 bilhões.

"O fim dos estímulos nos Estados Unidos diminui a liquidez internacional e complica um pouco o mercado brasileiro", afirma Jensen. Para ele, o BC está se aproximando do fim do ciclo de aumento da taxa básica de juros (Selic). Desde abril, os juros subiram de 7,25% ao ano para 10% ao ano.

Para especialistas, o governo também terá de trabalhar parra reduzir os desequilíbrios econômicos apresentados em 2013. Indicadores ruins levaram a uma piora da percepção sobre o Brasil, sobretudo desde o fim de outubro, quando foi divulgado o déficit de R$ 9 bilhões nas contas públicas de setembro. A queda de 0,5% no PIB do terceiro trimestre também piorou o cenário.

O problema é que o governo quer evitar ajustes que possam prejudicar o crescimento da economia em 2014, por causa da eleição. "Em 2015, o Brasil vai ter de fazer alguns ajustes na política econômica, independentemente de quem vença as eleições. Hoje, há incerteza da magnitude desse ajuste", diz o sócio da Tendências.

Para Castelar, as consequência de um eventual ajuste seriam redução no reajuste do salário mínimo e alta 110 desemprego. "Acho que o governo não quer tocar demais no bem-estar da população. O custo é tão grande que o governo deve empurrar com a barriga", diz. Embora afirme que o ajuste terá de ser feito algum dia, o economista acredita que as reservas internacionais podem ajudar a adiar mudanças pouco populares.

Bancos dizem que eleição reforçará cenário instável
A eleição deste ano deverá ser mais um elemento para turvar o cenário econômico do Brasil. Para saber como deve se comportar a economia em 2014. O "Estado" ouviu bancos que se destacaram no Ranking Broadcast Projeções Top 10 Geral, elaborado pelo AE Projeções, da "Agência Estado".

Na avaliação do economista-chefe do BNP Paribas, Marcelo Carvalho, o investimento vai sofrer. Deve passar dos 5,5% registrados em 2013 para uma pequena alta de 0,5% em 2014. "O investimento tende a crescer menos por vários fatores: aperto monetário, a percepção do lado real da economia que o Brasil tem uma política mais intervencionista e o quadro eleitoral", disse Carvalho.

A projeção do BNP Paribas é que 0 País poderá ter um crescimento de 1,5% e que a inflação oficial pode chegar a 6,5%.

O economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, também projeta uma redução do "ímpeto do investimento". "O primeiro ponto (para retomar a confiança) seria reforçar o tripé macroeconômico: uma política fiscal com meta crível, uma política monetária que persiga o centro da meta inflacionária e uma taxa de câmbio que seja flutuante", afirmou.

O Banco Fibra também prevê um 2014 marcado por uma piora no perfil da economia. Estima que o País vai crescer 1,5% e que inflação atinja os 0,3%.

O desejo seria colocar o pé no acelerador porque 2014 é um ano eleitoral Mas existe uma restrição dada pelas agências de risco.

Fonte: O Estado de S. Paulo

PSDB, de Aécio e PSB, de Eduardo se unem em Pernambuco para 2014

Filipe Barros

O PSDB pernambucano confirmou a tendência levantada nos últimos meses e oficializou, através de nota divulgada nesta segunda-feira (30), a entrada no governo Eduardo Campos (PSB). A expectativa é de que os tucanos ocupem as vagas deixadas pelo PTB, que deixou o governo socialista para disputar o comando do Palácio das Princesas em 2014, possivelmente ao lado do PT. A aliança mostra uma real aproximação entre as siglas PSB e PSDB, lideradas nacionalmente pelo governador Eduardo Campos e o senador Aécio Neves respectivamente, depois de vários encontros realizados nos últimos meses entre os dois presidenciáveis. A iniciativa abre a possibilidade da formação de um palanque duplo para presidente em Pernambuco

Eduardo teria se reunido com o deputado federal Sérgio Guerra (PSDB) nesta segunda-feira (30), onde teriam definido a aliança entre tucanos e socialistas integrariam a mesma administração. A junção deve ser concretizada na próxima segunda-feira (30), quando o governador anunciará a reforma de seu secretariado.

A nota divulgada relata como se dará a parceria daqui para frente.“Além de parceiros na gestão de Pernambuco, PSDB e PSB trabalham coligações para as eleições de 2014”. Os dois partidos devem lançar candidato próprio à Presidência, mas têm articulado alianças estaduais para a disputa do ano que vem. No início do mês, Campos e Aécio Neves (PSDB) se encontraram no Rio para discutir o assunto. Além de Pernambuco, os presidenciáveis avaliaram a possibilidade de dividir palanques em São Paulo, Minas, Paraíba e Rio Grande do Sul.

Fonte: Diário de Pernambuco

Eduardo cobra de Dilma humildade para reconhecer deficiências na política econômica

2014. Em resposta ao pronunciamento da presidente, governador diz que pior erro é não ter capacidade de enxergar os erros. "A gente não pode sair botando culpa nos outros"

Após passar 2013 inteiro criticando a política econômica do governo Dilma Rousseff (PT) - ou fazendo alertas, como preferia classificar -, o governador Eduardo Campos (PSB) cobrou, ontem, na última entrevista do ano em que consolidou seu projeto de disputar a Presidência da República, "humildade para reconhecer as coisas que precisam ser consertadas". Em mais uma alfinetada ao governo federal, ele avaliou que o "pior erro" de um País é não ter a capacidade de enxergar defeitos.

A declaração foi a resposta dada ao ser questionado sobre o pronunciamento de fim da ano da presidente Dilma Rousseff em cadeia nacional de TV, no domingo (29), quando ela acusou "alguns setores" de fazerem "guerra psicológica" com a economia, o que acabaria afastando investimentos no País. Com discurso focado na área econômica - uma das mais criticadas pela oposição -, a petista ainda reafirmou a promessa de manter o equilíbrio das contas públicas e da inflação.

Ao mencionar os problemas macroeconômicos vividos atualmente pela economia, Eduardo defendeu que as deficiências "não precisam ser escondidas". "A gente não pode sair botando culpa nos outros, a gente precisa ver qual a culpa de todos nós e como cada um pode ajudar o Brasil a reencontrar o crescimento", continuou o governador, em entrevista ao chegar na Igreja de Casa Forte, na Zona Norte do Recife, para Missa de Ação de Graças.

Ao lado do prefeito Geraldo Julio (PSB), Eduardo Campos foi "paparicado" pelo secretariado presente na cerimônia e até pelo padre responsável por conduzir a missa, Edwaldo Gomes. "Temos aqui dois governantes capazes de assumir as obrigações dos seus cargos", disse o religioso, ao longo da celebração. O pároco exaltou os governos dos socialistas e cravou que eles vão "fazer muito mais" no novo ano.

A missa acabou ganhando tom de campanha e o próprio padre cobrou do vice-governador João Lyra Neto (PSB) - sentado na primeira fila, ladeado por Eduardo Campos e Geraldo Julio - que não desfaça o legado do correligionário. Anteontem, o presidenciável avisou que renunciará ao cargo no dia 4 de abril, quando terá início automaticamente a gestão de João Lyra.

Eduardo apontou que nos três últimos anos a economia brasileira cresceu, em média, metade do que vinha progredindo no último governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A imagem do líder petista vem sendo preservada pelo presidenciável socialista nas críticas ao governo federal.

O governador ainda pregou que é preciso ter "mais tranquilidade" ao debater o Brasil, sem "afobamento", "rinha" nem "raiva". Ao ser questionado sobre a expectativa para 2014, ele defendeu que seja travado um debate democrático e sem autoritarismo. "O Brasil que sonhamos é melhor do que este em que vivemos".

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Campos: brasileiro quer nação mais justa e humana

'Milhões de brasileiros sonham, há muito tempo, em ver o Brasil voltar a crescer', disse o governador em sua conta no Facebook

Ricardo Della Coletta

O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), publicou nesta terça-feira, 31, uma mensagem de fim de ano em sua conta na rede social Facebook na qual diz que "milhões de brasileiros sonham, há muito tempo, em ver o Brasil voltar a crescer e se tornar uma nação mais justa e humana".

"E eu tenho certeza de que, em 2014, estes brasileiros darão o primeiro passo para ver este sonho se tornar realidade", acrescentou o governador, que articula sua candidatura ao Planalto no ano que vem e que, em 2013, coordenou o desembarque dos pessebistas do bloco de apoio do governo Dilma Rouseff.

"Eu e vocês vamos ganhar 2014 da mesma forma que vencemos 2013: com muito trabalho, ânimo e fé no futuro. E mantendo nossa cabeça erguida, acima das dificuldades pelas quais o Brasil está passando. Sem tentar tapar o sol com a peneira, sem fingir que problemas não existem", afirmou o governador, que não citou a presidente Dilma em seu texto.

Embora tampouco tenha feito menção à aliança costurada com a ex-ministra Marina Silva, o governador pernambucano já disse que o PSB e a Rede "ganharam 2013" para se referir ao acordo PSB-Rede, firmado em outubro. "Foi o início da construção de um novo projeto de País. Este foi o ano que o Brasil do futuro começou, finalmente, a tomar forma", escreveu há pouco o pessebista.

Pouco antes de a mensagem ser publicada, o perfil de Campos exibiu um texto que classificava a aliança Campos-Marina como "um momento histórico para a política brasileira". "A aliança de Eduardo Campos com Marina Silva representa a vontade popular de fazer uma nova política", afirmava a mensagem, que foi apagada minutos depois e substituída.

Em outubro, após a Justiça barrar a criação da sigla que Marina Silva tentava criar, Campos selou um acordo com a ex-ministra e albergou no PSB militantes da Rede Sustentabilidade. "Dois mil e treze foi um ano muito importante. Juntos, eu e vocês vamos fazer com que 2014 seja um ano histórico", concluiu o governador.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Vereadores criticam ação de empresas para forçar reajuste de tarifas

Paulo Pinheiro diz que sociedade mudou e empresas não podem mais definir sozinhas as planilhas de custos

Para vereadora Teresa Bergher, empresas ainda não cumpriram com a obrigação de melhorar qualidade dos serviços

Ação de donos de empresa pede indenização de R$ 137,5 milhões

Elenilce Bottari

RIO - Vereadores que compõem a chamada CPI paralela dos ônibus afirmaram estranhar a ação movida pelas empresas de ônibus para obrigar a prefeitura do Rio a reajustar as tarifas. Segundo eles, as empresas foram as primeiras a descumprir o acordo feito com o município e até hoje não apresentaram os dados necessários para a análise da planilha de custos que definiria o reajuste de passagens. Conforme O GLOBO revelou na edição desta terça-feira, as mais de 40 empresas que integram os consórcios Internorte, Intersul, Santa Cruz e Transcarioca entraram na Justiça reivindicando indenização que, em valores atuais, já chegaria a R$ 137,5 milhões. Com as tarifas congeladas em R$ 2,75 desde 1º de janeiro de 2012, os empresários de ônibus do Rio alegam que houve quebra do contrato firmado em 2010 para a primeira concessão pública dos serviços e pedem também que a prefeitura seja condenada a reajustar a passagem imediatamente, sob pena de multa diária de R$ 1 milhão.

O vereador Paulo Pinheiro (Psol) disse estranhar até mesmo o momento escolhido pelo sindicato das empresas para reagir contra a prefeitura:

— Se fosse em junho, quando havia sido suspenso o aumento, eu entenderia. Mas eles entraram em dezembro, quando o TCM ainda não havia se posicionado pelo adiamento e no momento em que o prefeito anunciava que faria reajuste em 2014 — lembrou o vereador.

Na ação que tramita na 8ª Vara de Fazenda Pública, os empresários alegam que o contrato prevê reajuste anual com base na planilha de custos e que tiveram perdas com dissídios coletivos e com o pagamento de 13º:

— Ninguém tem duvida que o contrato fala em reajuste, mas o reajuste só deve ser dado avaliando que diz a planilha e o que vimos nas primeiras informações dessa “caixa-preta” é que as informações ali não são fidedignas. O prefeito deixou agora a cargo do Tribunal de Contas do Município analisar esses valores. Mas o TCM diz que não concluiu a análise porque não havia informações suficientes.

Mas pelo visto, os valores estavam acima do necessário, até porque este ano não teve reajuste e até onde sabemos nenhuma empresa faliu. Ao contrário, todas prosperaram — afirmou o vereador, lembrando que “a sociedade mudou e acabou o tempo em que as empresas determinavam sozinhas os valores da planilha".

A vereadora Teresa Bergher (PSDB) afirmou que está na hora da prefeitura do Rio cobrar das empresas de ônibus a melhoria da qualidade do transporte oferecido à população.

— Eu estranhei que as empresas tenham entrado na Justiça alegando descumprimento de contrato quando nunca se discutiu a qualidade de serviços que elas entregam à população. As empresas foram as primeiras a descumprir os acordos. Tinham que colocar ar condicionado em um percentual da frota e não o fizeram. Tinham que garantir a acessibilidade de portadores de deficiência, e também não cumpriram. E estranho também o silêncio do prefeito.

O imbróglio sobre o reajuste teve início em dezembro de 2012, quando a prefeitura anunciou um reajuste das tarifas de R$ 2,75 para R$ 2,90, a partir de janeiro de 2013, com base no contrato de concessão. Mas o aumento foi suspenso a pedido da União. Em maio deste ano, Paes determinou que a passagem subiria para R$ 2,95 a partir do dia 1º de junho , mas o aumento foi revogado em meio às manifestações de rua que tomaram conta do país.

Este mês, o prefeito Eduardo Paes chegou a anunciar que haveria reajuste de tarifa — sem, no entanto, citar valores —, mas voltou atrás por recomendação do Tribunal de Contas do Município (TCM). O órgão sugeriu a suspensão do reajuste até o fim dos trabalhos da comissão criada em agosto deste ano para investigar a chamada caixa-preta das empresas de ônibus.

Já a CPI dos ônibus está suspensa desde setembro passado depois que a Justiça do Rio determinou a paralisação das atividades da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Ônibus na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, a um mandado de segurança impetrado pelos vereadores vereadores Teresa Bergher (PSDB), Reimont (PT), Eliomar Coelho, Paulo Pinheiro, Renato Cinco e Jefferson Moura (os quatro do PSOL).

Fonte: O Globo

Há alguém de parafuso solto na GM - Elio Gaspari

Demitir trabalhadores às vésperas do Ano Novo parece ser apenas malvadeza, mas o cheiro é de coisa pior

Alguém está com um parafuso solto na diretoria da GM brasileira. Ela é presidida por Jaime Ardila, um quadro da elite da empresa. Ainda assim, na véspera do Ano Novo, mandou um telegrama a centenas de funcionários de sua unidade de São José dos Campos, informando-os que estavam desempregados.

Podiam fazer isso na próxima semana, evitando o mal-estar nas famílias das vítimas. A medida não parece ter sido produto da pura malvadeza. Parece coisa pior. A montadora criou um fato social para pressionar o governo, que determinou o retorno gradativo da alíquota do IPI dos automóveis aos níveis de 2012. As empresas temem uma queda nas vendas. Segundo as montadoras, a volta do tributo poderá provocar um aumento médio de 2,2% no preço dos carros só com a mudança destes dias.

A coincidência de datas, com as demissões ocorrendo junto com a restauração gradativa do IPI, sugere que nela está embutida a estratégia da tensão: você encarece meu carro, eu demito trabalhadores. Nos próximos meses o retorno do imposto elevará a alíquota para 7%.

A GM está com um parafuso solto porque tem todos os argumentos para fechar uma de suas fábricas de São José dos Campos. Outras sete da região continuarão funcionando. A empresa investiu R$ 5,7 bilhões em quatro outras unidades e a carta das demissões estava no baralho desde janeiro de 2013.

Foram dadas férias coletivas e licença remunerada aos trabalhadores que agora perderam o emprego. Nenhuma empresa pode ser obrigada a manter uma linha de produção que se mostrou inviável. Ademais, segundo a montadora, suas fábricas de São José dos Campos têm um custo de produção elevado.

Até onde o sindicato dos trabalhadores finge surpresa, não se sabe. Já o Ministério da Fazenda entrou no lance com a parolagem típica do doutor Guido Mantega. Informou que um acordo com as empresas garantia que a elevação do IPI não provocaria alta nos preços, nem demissões de trabalhadores. Se alguém fez esse acordo, entrou nele achando que o outro era bobo. Ou ambos continuam tratando os consumidores como tolos. Numa época em que o governo da doutora Dilma faz mágicas fiscais, assiste-se à ressurreição da lorota dos acordos com empresários, coisa comum ao tempo em que se fabricava inflação.

As montadoras não querem que o retorno da alíquota do IPI reduza suas vendas. Os consumidores também não querem carros mais caros, mas Brasília quer arrecadar, para gastar sabe-se lá onde. Essa é a discussão verdadeira. Demitir funcionários nos últimos dias do ano é chutar o cachorro manso.

As manifestações de junho mostraram que houve uma mudança nos sentimentos do andar de baixo.

O próprio doutor Ardila expôs a questão com clareza: “Não pedem a derrocada do governo. Pedem melhores serviços públicos. O que pode ser mais razoável?”

A rua roncou contra governadores e prefeitos que subiram tarifas de transportes e mandaram a polícia cuidar do caso. (Geraldo Alckmin e Fernando Haddad foram para Paris, onde formaram uma dupla cantando “Trem das Onze” num ágape.)

Salvo a ação de baderneiros, ninguém se mobilizou contra empresas. A turma de parafuso solto da GM e a guilda das montadoras desafia um ato do governo desempregando trabalhadores às vésperas do Ano Novo. Má ideia.

Elio Gaspari é jornalista

Fonte: O Globo

Dias de cão no jardim das ilusões de Dilma - José Neumane

Sempre que se fala em Glauber Rocha a tendência é relembrar obras-primas do cinema nacional que dirigiu, como Deus e o Diabo na Terra do Sol, principalmente, e Terra em Transe, primoroso registro cinematográfico do subdesenvolvimento político nacional. Embora o documentário Maranhão 66 já circule há muito tempo no YouTube, poucos telespectadores o destacarão para o panteão em que figuram os dois grandes filmes citados. Afinal, trata-se de trabalho encomendado e pago e, portanto, suspeito de ser o registro hagiográfico de um político que sobreviveu ao cineasta e ainda atua com força e poder na gestão pública do seu Estado, onde seu clã reina até hoje, com raros interregnos insignificantes, e também na cena federal.

No entanto, Maranhão 66 é uma obra que só melhora com o tempo, sem ter sido necessária uma única mudança ou intervenção de seu diretor, o que seria impossível tanto tempo após sua morte precoce. Gomo é possível esse absurdo? Procure o filme e veja. O que assistirá é ao discurso competente, bem alinhavado e de certa forma barroco dojovem deputado federal do grupo rebelde da chamada banda de música da UDN nos anos 6o José Samey assumindo o governo do Maranhão. As imagens acompanham, de início, p povo na praça ouvindo o eloquente tribuno e, depois, fazem um mergulho profundo num abismo de miséria e sordidez que confirma as palavras ditas na praça denunciando a barbárie vivida por aquela gente sob o jugo do padrinho e, depois, principal adversário do novo governador, o pessedista Vitorino Freire. E, coerente comas ancestrais utopias políticas nordestinas, prometendo uma era de paz, bonançae prosperidade, similar às profecias de peregrinos como Antônio Conselheiro, protagonista do massacre de Canudos. Hoje, quase meio século depois, a miséria é a mesma, o discurso é igual e o filme de Glauber, que parecia laudató-rio, toma-se uma denúncia política coerente e forte.

Já não se fazem documentários em p8cb como antigamente e talentos como Glauber não existem mais. No entanto, o contraste brutal entre a retórica salvacionista e a horrenda realidade do subdesenvolvimento real manifesta-se de forma mais crua no cotidiano de informações e entretenimento da televisão colorida do dia a dia.

Ao começar o último fim de semana do ano passado, os telejornais diários exibiram de forma franca a atualidade ululante do documentário de Glauber no Maranhão de 1966. Câmeras e microfones registraram o drama de uma jovem mãe com seu bebê nos braços em peregrinação pelos hospitais públicos de " sua cidade para encontrar um pediatra para consultar. Ela não estava no Vale do Jequitinhonha nem no sertão do Piauí, mas em plena capital da República e seus arredores. A criança não foi examinada, mas o secretário da Saúde do governo distrital, sob comando petista, não teve pejo de registrar a ausência de pediatras em sua jurisdição e terminou com a promessa de hábito: em março serão contratados novos profissionais. A pobre mãe e seu bebê que os esperem.

Domingo, à noite, em horário nobre, com discurso dessemelhante ao de seu aliado Sarney pelo estilo, mas bastante similar pelo afastamento da realidade, a presidente Dilma Rousseff descreveu e deu números positivos sobre o que seu governo tem feito pela saúde de pobres mães e bebês como aqueles. Vieram médicos de Cuba e eles estão garantindo o atendimento nos ermos do sertão brasileiro.

Por falar em sertão, os telejornais também noticiaram a falta de água em Itapipoca, no interior do Ceará, porque uma adutora, que custou R$ 16 milhões ao contribuinte, se rompeu e a construtora que vencera a concorrência para construí-la faliu. Ninguém responde pela obra in-conclusa: os falidos sumiram e os que retomaram a obra nada têm a dizer. O governador Cid Gomes - que rompeu com o chefão de seu partido (PSB), Eduardo Campos, governador de Pernambuco, para ficar no palanque da presidente petista - tentou resolver o problema mergulhando num tanque buscando fechar um registro e evitar que a água vazasse. Enquanto isso, a população da cidade não tem água para lavar, cozinhar ou matar a sede de nenhum vivente.

Mas no Paraíso na Terra descrito por Dilma no domingo seguinte o País vive uma prosperidade não só inédita na própria História, como singular num planeta afundado em crise. E o único risco é provocado pela canalha oposicionista que maldiz a própria terra criando empecilhos para investimentos e prejudicando, assim, o pobre povo brasileiro. No discurso da presidente, de 15 minutos recheados de deselegantes gerúndios sem dês (estou fazeno, estou realizano, e por aí afora), os anjos dizem-lhe sempre amém, mas o diabo corre atrás para demolir sua fantástica obra de governo.

Só que no Maranhão governado por Roseana Samey ainda resta um exemplo de que o endereço de nosso infemo é mesmo do Éden de Dilma, embora o baiano Patinhas, que escreve seus discursos, não saiba. Na Penitenciária de Pedrinhas, em São Luís, os chefões do crime organizado, que à ausência de autoridade mandam e desmandam, matam com métodos cméis presos desassistidos pelo Estado cujas mulheres, irmãs e mães se neguem a lhes prestar favores sexuais. O Conselho Nacional de Justiça já contou 60 cadáveres e a Organização dos Estados Americanos cobrou reação imediata dos governos do Estado e da União. Ninguém apareceu para i responder. O ofício foipara o Ministério da Justiça, o causídico Cardozo negou ser assunto dele e o reencammhou para a Secretaria dos Direitos Humanos, cuja titular, Maria do Rosário, mandou de volta para o destinatário original. "Não é comigo" é o jeito gerentão com que Dilma modernizou o "não vi, não ouvi, não falei" dopadim Lula de Caetés.

Infelizmente, contudo, ninguém encontrou nos longos e tediosos votos presidenciais de boas-festas uma só referência à segurança do bem-aventurado cidadão do Brasil sob a égide do PT e do PMDB. A vida de seu súdito não é da conta dela, nunca foi, nunca será. Vade retro! E amém nós tudo.

*Jornalista, poeta e escritor

Fonte: O Estado de S. Paulo

Pernambuco e as eleições – Michel Zaidan Filho

No vocabulário político do estado de Pernambuco a palavra "futuro" significa eleição. Dizer "construir o futuro", "fazer o futuro" é o mesmo que afirmar: estamos construindo a nossa estratégia política e eleitoral para 2014, ano das eleições proporcionais e majoritárias (para presidência da República).

Naturalmente, a melhor propaganda de um gestor ou governante para a reeleição ou a eleição para outro mandato eletivo é o nível de satisfação alcançado pela gestão junto à população, que vota e paga os impostos. Quando maior for o grau de efetividade, eficiência e eficácia das ações governamentais perante os eleitores, mais chance terá o candidato de se eleger ou eleger os seus patrocinados.

Infelizmente, entre nós o referido índice é obtido através do nível (alto) da propaganda e do marketing político contratado pelo governante. Não se ouve ou se apura o grau de satisfação do cidadão-cliente ou usuário das políticas públicas governamentais e não-governamentais (como as do IMIP). Se ouve e su divulga aquilo que é previamente solicitado ao instituto de pesquisa para que seja feito ou apurado. Queremos tanto de aprovação, queremos tanto de satisfação. E, aí, pago, o cliente tem a imagem pública que desejar diante do espelho de suas conveniências eleitorais e políticas.

Qual o risco dessa operação "refletiva"? - O auto-engano, a auto-ilusão. Se a estratégia não foi concebida para engabelar a intenção dos votos dos indecisos e convencer aliados recalcitrantes ou possíveis doadores de fundos para a campanha eleitoral, essa estratégia é o caminho mais curto para a perdição ou a derrota.

Mas pode ser que a estratégia corresponda a outro cálculo político: posso não ganhar a eleição; mas posso eleger uma grande bancada, e como presidente do meu partido, me credencio a ser o chefe da oposição nacional. E aí, me credencio para disputar as eleições seguintes. No Brasil, se diz que há apenas dois partidos: o da situação e o da oposição. Os partidos do centro são geralmente agregação de interesses que buscam se maximizar procurando alianças com o possível vencedor. 

Para isto, as pesquisas têm alguma serventia. Como instantâneos eleitorais de cada momento da campanha, elas vão sinalizando para onde tende a manada dos indecisos, dos "maria-vai-com-as-outras" ou dos interesseiros. Os partidos que vencem as eleições não são necessariamente os melhores. São os que oferecem ao eleitor a miragem da maior satisfação de seus interesses ou necessidades. Num mercado de ilusões como esse, a chamada virtude cívica ou mesmo o conceito aristotélico de política (o bom e justo governo da cidade) passam longe. Não têm nada a ver.

Não defendo nem louvo esse modelo clientelístico de fazer política (também chamado de "escolha racional"). Mas sou obrigado a constatar que tanto os eleitores (indecisos) quanto os partidos que disputam o voto desses eleitoreis se comportam como negociantes num mercado político, não num fórum. E esse modelo nada tem de republicano. Que o diga uma das grandes pensadoras liberais do século passado, Hannah Arendt, que comparando a democracia grega com a democracia moderna, afirmou que os nossos parlamentos não passam de casas de negócios.

Michel Zaidan Filho, sociólogo e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

Utopia, política e cidadania - Murillo de Aragão

Cultivo uma utopia: a imposição exclusiva do financiamento cidadão de campanhas. Nada de recursos públicos nem doações de empresas. Partidos e políticos deveriam ir para as ruas e para a internet lutar por doações de indivíduos. Será assim, e apenas assim, que a política retomará o curso do bem e do interesse público. Nenhuma outra fórmula funcionará.

Com o financiamento cidadão de campanhas, partidos e políticos terão de convencer o cidadão a doar dinheiro para as suas campanhas. Serão obrigados a falar e a convencer, conforme fazem os “eletro-pastores”, que vendem seus produtos e pedem doações. Partidos teriam de se expor.

Alguns, como o valorizado PCO, têm uma militância minúscula, mas nem por isso deixam de recolher anualmente quase R$ 500 mil dos cofres públicos para existir. Assim, fica fácil. Pequenos partidos, grandes negócios.

O financiamento público exclusivo vai afastar ainda mais o político das ruas. Teremos políticos e partidos pendurados nas contas públicas e favorecidos por um precário esquema de controle e fiscalização. A cada ano, como fizeram em 2013, aumentarão as dotações orçamentárias e dependerão menos de militância. Filiados só serão importantes para a criação de partidos.

No Brasil, a campanha de Dilma Rousseff recebeu menos de R$ 3 milhões de pouco mais de 1.500 doadores. Já Barack Obama recebeu mais de US$ 200 milhões em doações de mais de 4 milhões de norte-americanos. É fácil ver onde a política interessa ao povo e onde não.

Na falta de vontade e coragem de se fazer uma reforma política, nós a estamos fazendo em fatias. Em 2014, o Supremo Tribunal Federal poderá declarar ilegais as doações de pessoas jurídicas às campanhas eleitorais. A medida é boa, mas está longe de ser a mais adequada, pois jogará a conta das eleições nos cofres públicos sem a devida contrapartida de empenho e exposição.

Já que a Justiça está fazendo a reforma política que o Congresso reluta em fazer, a solução – caso o financiamento público de campanha seja a única fonte de financiamento de partidos e candidatos – é que o critério de distribuição seja uma combinação de votos recebidos com o número de filiados. Que os recursos sejam exclusivamente geridos pelos partidos políticos e que as campanhas tenham limites de gastos claros.

Os recentes avanços – como a adoção da fidelidade partidária e a instituição da Lei do Ficha Limpa – foram extraídos a fórceps de suas circunstâncias. Novas circunstâncias terão de existir para que novos avanços, mais dramáticos e urgentes, se deem. As manifestações de junho passado nas ruas foram supervalorizadas no que tange à cidadania. Só que nos faltam interesse, educação e lideranças para que possam ocorrer avanços institucionais na esfera política e partidária.

Governos populares temem o embate com políticos. Preferem trair, a longo prazo, os interesses do povo a se indispor com a politicalha. Daí Lula, o mais popular e poderoso presidente da história do Brasil, não ter tido capacidade de encaminhar o tema. Faltou coragem de encarar o establishment político.

Sem povo e sem participação da sociedade, a política continuará a envelhecer rapidamente e a se desconectar ainda mais dos interesses do povo. Com lideranças sem disposição para olhar de frente questões críticas, como as mencionadas, continuaremos sendo menos do que poderíamos ser e sonegando, aos nossos descendentes, um futuro melhor.

Murillo de Aragão é cientista político.

Brasília-DF -Denise Rothenburg

Distância regulamentar
Ciente da inevitável confusão que acontecerá entre o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal por causa do debate sobre a forma de financiamento das campanhas eleitorais — público ou privado —, a presidente Dilma Rousseff determinou aos ministros que fiquem longe desse vespeiro ao longo de 2014.
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Já seriam suficientes, na visão da presidente, os problemas que o governo tem para além desse tema. Se houver alguma interferência, será muito sutil, restrita aos bastidores.
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Dilma sabe que o PT defende a bandeira do financiamento público. Ela própria, após as manifestações de junho, pregou a necessidade de uma reforma política. Poderia até capitalizar algo se o financiamento público for aprovado pelo STF. Mas para que arriscar?

Sempre ela
A presidente Dilma acompanhará com lupa os índices econômicos. Como em todas as eleições anteriores, ela sabe que são eles que definirão os rumos da disputa de outubro. Com renda e empregos garantidos, acredita ela, os brasileiros teriam poucas razões para mudança.

Medida preventiva
Piada maldosa que circula em Brasília: para evitar o rebaixamento do grau de investimento brasileiro pelas agências internacionais, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, planeja contratar o advogado do Fluminense, clube que se manteve na Série A após decisão do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD).

Eu?
Por falar em piada, dia desses, um senador ilustre foi provocado por um assessor, que deseja medir o nível de preocupação do parlamentar com a prisão da cafetina Jeane Mary Corner e um possível vazamento de nomes de clientes: "Pare com isso, você sabe que eu me regenerei", disse o político. Ah, bom!

Mamãe Noel
O presidente nacional do DEM, senador José Agripino Maia (RN), reclamou da decisão do governo de aumentar de 0,38% para 6,38% o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para os viajantes que sacarem moeda estrangeira ou usarem cartões de débito no exterior. "Esse foi o presente de Natal de Dilma para os brasileiros." Em tempo: Agripino passa o réveillon nos Estados Unidos.

Descabelado/ Até o momento, não há pressão de senadores para seguir o exemplo da Câmara e reajustar o valor do cotão — verba destinada a custear passagens aéreas, alimentação e escritórios de representação nos estados. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), não quer saber de mais dor de cabeça depois da saga aérea que protagonizou com dinheiro público para fazer um transplante capilar.

Só por uns tempos/ Eduardo Campos tem perguntado a pessoas próximas que moram em Brasília qual a opinião sobre a cidade. Ele reconhece que um dos maiores problemas da capital federal é a falta de praia. Questionado como fará se for eleito presidente e obrigado a morar no Palácio da Alvorada, ele diz: "É só por uns tempos".

Banzo/ Em 2005, no auge da crise do mensalão, o então ministro de Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, depunha no Conselho de Ética da Câmara como testemunha do governo no episódio. De repente, um grupo de parlamentares da oposição tumultuou a sessão para pedir a convocação do chefe da Casa Civil, José Dirceu. Jornalistas indagaram se Campos, deputado federal licenciado, estava com saudades do parlamento: "Saudades eu tenho é de Porto de Galinhas", famosa praia do litoral pernambucano.

Fonte Correio Braziliense

Política - Cláudio Humberto

Questão de prioridade
Apesar da crônica anunciada que é a tragédia com as chuvas de fim do ano, o governo do Espírito Santo gastou mais com publicidade do que com prevenção. Segundo Portal da Transparência, foram empenhados R$ 23,4 milhões, em 2013, ao programa Prevenção, Proteção e Socorro a Desastres, dos quais apenas R$ 7,7 milhões foram pagos. O valor equivale a 10% do que foi liberado para área de Comunicação Social. O governo capixaba empenhou R$ 114,8 milhões para Comunicação Social nas diversas áreas, sendo que R$ 74,8 milhões já foram pagos. Enquanto isso, destinou para a formação de profissionais da educação apenas R$ 753 mil, dos quais só foram desembolsados R$ 527 mil. As despesas com gestão de política sobre drogas também ficaram bem abaixo do valor gasto com publicidade: R$ 928 mil. Na sequência dos programas com menos verba estão o de redução de homicídios (R$ 1 milhão) e habitação de interesse social (R$8 milhões).

Equipe "tapeia"
Na tentativa de evitar aborrecimentos e arranca-rabos com a presidente Dilma Rousseff (foto), a equipe de apoio presidencial desenvolveu uma série de ações rotineiras para fingir obedecer suas ordens "sem noção". Segundo fontes palacianas, quando Dilma perde a paciência e decola antes dos assessores, pilotos já estão orientados a voar mais devagar, para dar tempo de a equipe chegar ao destino na frente e deixar tudo arrumado.

Jogo dos...
Certa vez, Dilma percebeu que o helicóptero dos assessores estava ultrapassando o seu. Irritada, logo soltou: "Mas que m** é essa."

.... sete erros
Como Dilma não tem paciência para esperar as malas, pilotos também enrolam o desembarque, para dar tempo de descarregar a bagagem.

Motivo de brigas
Segundo assessores, assim que desce do avião, Dilma nunca espera pela bagagem, mas cobra que tudo esteja lá assim que chega no hotel.

Isola o PSB
A cúpula nacional pressiona o PMDB de Pernambuco a se aliar ao senador petebista Armando Monteiro, que disputará o governo estadual em 2014, ou a lançar candidato próprio. O nome mais cotado é o do prefeito de Petrolina, Julio Lóssio.

A saga continua
Quase um ano após ter sido denunciado por assédio moral e sexual no Consulado do Brasil, o embaixador Américo Fontenelle continua em Brasília, morando em apartamento funcional e recebendo em dólares, como se ainda estivesse em Sidney (Austrália), onde foi acusado.

Copa
O inglês Daily Star alertou que bandidos armados, próximos ao estádio do Corinthians, ameaçam "arrastão" de torcedores ingleses na abertura em São Paulo, em junho. O chefão explicou ao jornal: "são ingênuos e têm mais grana." Eles pretendem "arrecadar" uns R$ 100 mil.

Honoris Jerico
Dilma sancionou lei proibindo venda de produtos imitando cigarros, para reduzir o número de fumantes. Ainda não se sabe o formato dos cigarrinhos de maconha, caso a droga seja liberada.

Frase
"Vamos entrar em 2014 para ganhar 2014"
Governador e presidenciável Eduardo Campos (PSB), otimista em relação a eleição

Falta dar...
Líder do PDT, André Figueiredo (CE) enviou requerimento de indicação à presidente Dilma sugerindo que ela estenda para cargos de confiança sua proposta de 20% de cotas para negros em concursos públicos.

... o exemplo
Para Figueiredo, a iniciativa também deveria partir do prefeito Fernando Haddad (PT-SP), que apressou-se em aprovar Lei municipal de cotas para negros antes mesmo de Dilma: "É uma questão de coerência."

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Panorama Político - Ilimar Franco

A cara da Dilma
Pesquisa qualitativa realizada pelo Planalto aponta que apenas três programas do governo são identificados como a marca da presidente Dilma: em primeiro lugar, aparece o Mais Médicos, seguido do Minha Casa, Minha Vida. Em terceiro lugar, vem o Pronatec, com foco na capacitação profissional, criado há dois anos. Todas as demais ações são relacionadas à gestão Lula.

Marketing pesado
Não foi coincidência entrar no ar nos últimos dias uma propaganda na TV sobre o Pronatec, explicando o programa ao seu público-alvo: os jovens que buscam qualificação para o mercado de trabalho e os trabalhadores, que querem aprimoramento. Herdado do governo Lula, o curioso do Minha Casa, Minha Vida, é que os entrevistados não o relacionam ao ex-presidente. Dilma virou a mãe do programa, em vez do PAC, bastante identificado com o governo anterior. À exceção destas três ações e do fim da inflação nos anos 90, todos os demais projetos desenvolvidos nos últimos 15 anos, foram atribuídos a Lula, inclusive o Bolsa Escola e o Vale-Gás, de FH.

“As oposições estão unidas contra o governo Dilma, mas seria grave erro se tivéssemos apenas um candidato de oposição no 1º turno.”

Roberto Freire
Presidente nacional do PPS

Barradas no baile
O governo federal fecha o ano não podendo contratar obras e serviços de 9.727 empresas. Elas passaram a ser proibidas de participar de pregões e licitações por improbidade, inidoneidade, burla à lei eleitoral ou decisão da Justiça.

Paz e amor
A aliança PT-PSB chegou ao fim, mas não acabou com a relação entre os governadores Jaques Wagner (BA) e Eduardo Campos (PE). Em Salvador para encontro do partido, Campos aproveitou para encontrar o petista e combinar as eleições na Bahia. Com candidatos distintos, Campos garantiu apoio ao PT no segundo turno.

Surfando na onda
O ministro Alexandre Padilha (Saúde) distribuiu mensagem de fim de ano aos funcionários do SUS. “Em 2013, fizemos história. Fizemos história ao ter coragem de implantar o Mais Médicos. Ele provocou debate que resgata a essência do SUS.”

Stress na Esplanada
No último dia para a liberação de emendas orçamentárias aos deputados, o que se viu foi uma guerra interna no governo entre a Secretaria de Relações Institucionais e os demais ministérios. Ministros telefonaram a parlamentares desfazendo compromisso de pagamento afiançado pela ministra Ideli Salvatti.

Quem manda?
Segundo relato do deputado Jerônimo Goergen (PP-RS), Antonio Andrade (Agricultura) ligou para dizer que não pagaria a verba prometida e que a Secretaria de Relações Institucionais “não manda nada e só joga para a torcida.”

#tamojunto
Os petistas, quem diria, passaram o dia ontem nas redes sociais derramando elogios ao ex-presidente FH. Foi só ele dizer que o presidente do STF, Joaquim Barbosa, não tem condições de ser Presidente da República.

Ser ou não ser? De um peemedebista sobre a indefinição de Renan Calheiros (PMDB) disputar em Alagoas. “Ele vive dilema shakespeariano”.

Fonte: O Globo

Passagem do Ano – Carlos Drummond de Andrade

O último dia do ano
não é o último dia do tempo.
Outros dias virão
e novas coxas e ventres te comunicarão o calor da vida.
Beijarás bocas, rasgarás papéis,
farás viagens e tantas celebrações
de aniversário, formatura, promoção, glória, doce morte com sinfonia
e coral,
que o tempo ficará repleto e não ouvirás o clamor,
os irreparáveis uivos
do lobo, na solidão.

O último dia do tempo
não é o último dia de tudo.
Fica sempre uma franja de vida
onde se sentam dois homens.
Um homem e seu contrário,
uma mulher e seu pé,
um corpo e sua memória,
um olho e seu brilho,
uma voz e seu eco,
e quem sabe até se Deus...

Recebe com simplicidade este presente do acaso.
Mereceste viver mais um ano.
Desejarias viver sempre e esgotar a borra dos séculos.
Teu pai morreu, teu avô também.
Em ti mesmo muita coisa já expirou, outras espreitam a morte,
mas estás vivo. Ainda uma vez estás vivo,
e de copo na mão
esperas amanhecer.

O recurso de se embriagar.
O recurso da dança e do grito,
o recurso da bola colorida,
o recurso de kant e da poesia,
todos eles... e nenhum resolve.

Surge a manhã de um novo ano.
As coisas estão limpas, ordenadas.
O corpo gesto renova-se em espuma.
Todos os sentidos alerta funcionam.
A boca está comendo vida.
A boca está entupida de vida.
A vida escorre da boca,
lambuza as mãos, a calçada.
A vida é gorda, oleosa, mortal, sub-reptícia.